Um olhar para o mal que há no bem

Como um animal se torna um símbolo

Como um animal se torna um símbolo

O animismo explica a essência do pensamento de povos originários, compostos por pessoas que mantêm sua cultura, juízo de valores e crenças num mundo que se encaminha mais e mais fortemente para uma realidade de senso-comum fortalecido. Senso-comum que não é agora, e nem nunca foi antes, sinônimo de inteligência social, mas de uma arbitrariedade, que pode, e muitas vezes é, de fato, desinteligente.

 Lobo branco do ártico olhando para a câmera de cima de um tronco de árvore num cenário arbóreo e escuro.
Jef Wodniack

Para a cultura, a cor branca sempre esteve associada com a pureza, a dignidade, ou ao que é sagrado. É a cor que também representa a pureza. Para muitas culturas, e inclusive, para o senso-comum é o branco que melhor representa a bondade. Um paralelo com uma sociedade que por tanto tempo valoriza a pele clara de homens caucasianos.

Para a ciência, a cor branca é a junção das luzes de todas as outras cores. Assim como, em paralelo ao racismo, geralmente é o homem branco que é a voz representante de todas as outras etnias; falando por todos os grupos de pessoas o quanto eles devem se submeter à sua liderança.

Entretanto, a pele de muitos caucasianos não é branca. A cor real se aproxima muito mais de um tom rosado ou alaranjado muito claro. Nem mesmo a pele negra é verdadeiramente preta, e se aproxima muito mais do marrom. Entretanto, com as cores sendo associadas à características culturais como o sagrado e o profano, acabamos nos chamando, por senso-comum, de brancos e negros.

Para mim, a cor branca é a cor da injustiça. É a cor que tenta reger o caos que é a vida em sociedade e que tenta estabelecer padrões de harmonia irreais e inalcançáveis. É a cor da ignorância, do papel em branco, onde qualquer associação que se faça estará escrita em realidade. É a cor das sentenças de morte, por onde o espectro da luz vermelha respinga e goteja nas peles escuras, nos pêlos escuros. 

Na realidade, ao que concerne à cultura, lobos significam muitas coisas, entre elas a sabedoria. Para a ciência, o lobo do ártico é um animal que vive em ambientes gelados e se camufla para caçar com ajuda dos pêlos alvos na neve. Já para mim, esses animais são símbolos da verdadeira pureza, como é qualquer outro animal que consome do planeta apenas o necessário para sobreviver.

O lobo branco possui muitos paralelos com os homens num mundo moldado em tons de cinza, como certamente também possuem os lobos pretos. São o que enxergamos em nós mesmos. A culpa que atribuímos aos outros. São amor e ódio. O encontro de dois amantes e a traição de alguém. São yin e yang. Água e vinho. São harmonia e são caos. São a lealdade. A inocência e a culpa que cada um de nós carrega em seus olhos.

Como citar este artigo

BRITO, C. S. O mal que há no bem. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/um-olhar-para-o-mal-que-ha-no-bem/. Publicado em: 25 de abr. 2023. Acessado em: [informar data].

Paulo Vainer

Fotógrafo de moda e diretor de filmes publicitários

Fotógrafo de moda e diretor de filmes publicitários

Paulo Vainer é reconhecido como um profissional de multimídia, que trabalha tanto com fotografia quanto com direção de filmagens. Começou sua carreira em estúdios como os de Steve Bronstein e de Andreas Heiniger, e fotografando para empresas como a Editora Abril. Ele também atuou para marcas como Itaú, Volkswagen, Nike, Nestlé e Renault.

A imagem mostra um quarto com uma iluminação azul. Nele há três pessoas, duas sentadas na beirada de uma cama de casal e a outra sentada em uma cadeira no canto. A pessoa que está na cadeira é destacada por um círculo de luz.
Paulo Vainer

O fotógrafo iniciou sua carreira em 1978, como assistente do fotógrafo Bob Wolfenson.  Em 1981, viajou para Nova Iorque para trabalhar com Steve Bronstein. Já em 1990, Paulo Vainer volta ao Brasil para abrir seu próprio estúdio, tornando-se um dos mais importantes fotógrafos de moda e publicidade brasileiro. Com o contato de profissionais como Ricardo Van Steen, Walter Salles, Andrucha Wadingtton e Fernando Meirelles, o artista adentrou no ramo da direção. Lançou, em 2004, seu primeiro longa-metragem, intitulado de  “Noel, o Poeta da Vila”, que foi indicado ao prêmio da Associação Brasileira de Cinematografia.

Através da fotografia, Vainer conta histórias. Por meio de apenas uma imagem é possível ir além da cena. Ele faz esse movimento mesclando técnicas de fotografia e de edição gráfica. Abusando de cores saturadas – que passam a ideia de um mundo fantasioso -, da iluminação e da composição da imagem.

Mulher, em um fundo azul, por trás de barras de led.
Paulo Vainer
Imagem em preto e branco e desfocada mostrando um espaço cheio de pessoas.
Paulo Vainer
Imagem de uma mulher usando uma roupa dourada e um acessório na cabeça de pelo preto. Ela não olha em direção a câmera.
Paulo Vainer
Imagem de uma mulher em chamas. Ela usa um véu e segura uma rosa branca.
Paulo Vainer
A imagem mostra uma mulher, vestida toda de preto e com o cabelo bagunçado, posando para a fotografia.
Paulo Vainer

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PAES, Nathália. Paulo Vainer. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/paulo-vainer/>. Publicado em: 25 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Em seus olhos, o amor

Fotografia que representa a união afetiva entre duas mulheres

Fotografia que representa a união afetiva entre duas mulheres

A foto, tirada pela brasileira Catharine Sant’ana – especialista em registros de casais LGBTQIA+ -, retrata um dos momentos mais especiais da vida de Meg e Clarisse: seu casamento.

Há três mulheres na foto, duas estão se casando, ambas de vestido branco. Mais no fundo da foto, há a celebrante do casamento, vestida de rosa. O ambiente parece ser um sítio, repleto de árvores e decorações rosadas.
Catharine Sant’ana

Unidas inicialmente pelo trabalho – ambas comissárias de bordo -, Meg e Clarisse escolheram perpetuar esse amor por meio da união estável. Ao olhar essa imagem, me sinto encantada com a quantidade de detalhes do retrato: as árvores em primeiro plano com mais foco e escurecidas e, o cenário ao fundo, levemente desfocado. As flores ornamentadas em tons de rosa e creme, combinando com as tonalidades dos buquês das noivas e do vestido da celebrante.

Se eu pudesse escolher uma única palavra para descrever essa foto, seria “delicadeza”. Pego-me pensando no quanto essas duas mulheres planejaram este dia, para que tudo saísse perfeito – até os mínimos detalhes – e no quanto pensaram e desejaram que tudo ocorresse da melhor maneira, em um dia que seria tão marcante para ambas.

Ambas, por um lado, correspondem ao estereótipo de feminilidade atribuído às mulheres, e, por outro, refutam a imagem pré-estabelecida de que casais lésbicos são constituídos majoritariamente por mulheres que performam masculinidade. O famoso estereótipo de “sapatão”, termo utilizado, muitas vezes, de forma pejorativa para caracterizar a lesbiandade. Ou seja, Meg e Clarisse, como muitos casais homoafetivos, além de representarem resistência por lutarem contra o preconceito da sociedade, ainda rompem com um estereótipo que visa limitar a identificação individual e classificar as pessoas por grupos.

Quando pesquisei sobre a imagem, lembro que achei interessante a maneira como fizeram o “First Look”. Ambas viradas de costas uma para outra no altar, de modo que não se vissem. Só foram se olhar no momento exato do casamento. Olhando para a expressão de felicidade de ambas, imagino o “friozinho na barriga” que elas podem ter sentido quando se viram. O pensamento que pode ter passado na cabeça de cada uma sobre a certeza de que aquela mulher ali em frente era a pessoa certa para passar o resto da vida ao lado.

Como mulher lésbica, inevitavelmente, me vejo nessa situação. Me questiono se amaria tanto alguém a ponto de desejar passar a vida inteira com ela. Se um dia alguém conseguirá me tirar tantas risadas que, em meio às gargalhadas, eu pensaria: é Ela.

Visualizar cenas de tanto amor como essa, em tempos de ódio, rancor e homofobia, como o que estamos vivendo é reconfortante. Ver um amor que é carinho, luta e resistência me aquece o coração. Principalmente num cenário em que um governo é repressivo, como o do Bolsonaro, no qual temos medo de amar. Hoje – outubro de 2022 – quando escrevo esse texto, este é o cenário. Mas, espero que, quando for publicado – início de 2023 – a esperança e o respeito retornem ao Brasil.

Esta leitura é um agradecimento à Cacá, pela representatividade a casais como esse. É muito importante para a comunidade LGBTQIA+ se enxergar em um ambiente seguro e feliz.

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Soares, Maria Clara. Em seus olhos, o amor. Cultura Fotográfica (blog).
Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/em-seus-olhos-o-amor/>. Publicado em: 20 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Suren Manvelyan

Intimista, fotógrafo expõe a beleza dos olhares.

Intimista, fotógrafo expõe a beleza dos olhares.

Armênio, nascido em 1976, começou a fotografar com dezesseis anos e em 2006 se profissionalizou na área, tendo desde então publicado seu trabalho mundo afora. Suren Manvelyan fotografa desde retratos, projetos criativos, paisagens, até capturas macroscópicas de olhares, e muito mais. Além da fotografia, ele também é PhD em Física Teórica e professor na Yerevan Waldorf School.

 Imagem macroscópica de olho humano castanho.
Suren Manvelyan

As fotografias mais famosas de Manvelyan são as que compõem as suas séries Your Beautiful Eyes (seus belos olhos) e Animal Eyes (olhos animais); tendo ambas as séries alcançado milhões de visualizações na internet. A segunda série referenciada teve uma segunda edição intitulada Animal Eyes 2, cuja temática era a mesma: fotografar olhos de animais.

É interessante como todas as fotografias, desta série, demonstram quase que misticamente como os olhos são, genuinamente, a janela da alma. São lentes orgânicas que fotografam o universo externo aos seus portadores – seres vivos -, dotados de seus próprios universos internos – e particulares -, e, que captam e processam imagens e significados e os transmitem na forma de tantos outros.

 Fotografia macroscópica de olho de peixe Acará-disco.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de coruja-0relhuda.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de Crocodilo-do-nilo.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de Husky Siberiano.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de Corvo-comum.
Suren Manvelyan

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BRITO, C. S. Suren Manvelyan. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/suren-manvelyan/. Publicado em: 18 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Cores da Pátria

A fotografia é do fotógrafo Lucas Landau, ela faz parte da série “Bolsonarismo”.

A fotografia é do fotógrafo Lucas Landau, ela faz parte da série “Bolsonarismo”.

Nessa série, o fotógrafo captura momentos em que os apoiadores de Jair Bolsonaro,  manifestam-se a favor do atual presidente e, em algumas cenas, contra instituições essenciais para o funcionamento do Estado democrático de Direito. 

Em primeiro plano a imagem mostra uma idosa de cerca de 60 anos de idade. Ela usa uma camiseta amarela da Seleção Brasileira de Futebol e uma bandeira do Brasil em suas costas. Ela está com a cabeça um pouco inclinada para cima e gesticulando um sinal de oração.
Lucas Landau

A personagem de maior evidência na fotografia é uma senhora branca, de cabelos grisalhos, que aparenta ter cerca de 60 anos de idade. Ela veste uma camiseta da seleção brasileira de futebol e usa, amarrada em seu corpo, uma bandeira do Brasil. No momento fotografado, ela olha para cima e gesticula as mãos em sinal de oração.

O semblante sério da senhora acompanhado da gesticulação em sinal de oração, me faz pensar a mobilização do posicionamento político dela com o que ela considera sagrado. A união desses dois campos, que sou guiado a pensar a partir do que vejo na fotografia, me desperta um sentimento de preocupação. 

O sentimento de preocupação se dá acerca de como pode ser imprudente misturar duas esferas tão diferentes quanto a política e a religião, a ponto que essa mistura pode se tornar algo deturpado por violência e fanatismo, deixando inexistentes os espaços para diálogos saudáveis quando algum dos indivíduos é enxergado como “enviado de Deus”.  

Além disso, atualmente, os símbolos presentes nas roupas usadas pela senhora têm seus significados sequestrados. O verde, o amarelo, o azul anil e o branco deixa de ocupar um espaço em parte do imaginário popular que simbolizava as cores de uma nação e passa a configurar uma simbologia política excludente, cujo aqueles que acreditam serem donos das cores da pátria desrespeitam o que vem escrito no meio da bandeira.

No plano de fundo da imagem há um banner onde se lê “Não à ditadura do STF e Congresso!”. Não há ordem e nem progresso quando parcelas de bolsonaristas acusam  parte da tríplice dos poderes, o legislativo e o judiciário, que são essenciais para o funcionamento do Estado, de serem poderes ditatoriais. 

E também não há o pleno funcionamento da democracia quando essas pessoas obstruem rodovias em movimentos pós-eleição de caráter golpista e anti democrático pedindo por intervenção militar em seus gritos de ordem.

Essa imagem me mobiliza um grande incômodo, pois com a usurpação dos símbolos nacionais, tentam passar um falso discurso patriótico que não é democrático e nem abrangente, pois defendem a existência de um Brasil excludente, polarizado e carregado de violência. O bolsonarismo precisa ser enfrentado e nossas cores precisam voltar a ser nossas!

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SILVA, Vinicius. Cores da Pátria . Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/cores-da-patria/>. Publicado em: 13 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Luisa Dörr

O protagonismo feminino representado na fotografia.

O protagonismo feminino representado na fotografia.

Luisa Dörr é uma fotógrafa brasileira, natural do Rio Grande do Sul, formada em design gráfico. Sua história com a fotografia surgiu cedo; quando criança ela pedia câmeras fotográficas de presente de natal, mas foi aos seus 22 anos que começou a fotografar no estúdio de sua tia e se profissionalizou na área.

Auto retrato da fotógrafa Luisa Dorr. A imagem contém seu rosto enquadrado que se posiciona na diagonal, ela usa um óculos de grau e seus cabelos loiros se encontram trançados ao redor de sua cabeça.
Luiza Dörr

Luisa publica suas imagens em sua conta no instagram, onde monta seu portfólio. Ela já teve suas fotografias publicadas na capa da revista Time e também já fotografou para o jornal El País. Em seus projetos, Luisa captura a força da presença feminina, demonstrando através dos ângulos e enquadramentos, o protagonismo e a força destas personagens. 

Suas imagens transmitem a beleza natural do modelo fotografado, com cores leves e muita luz que passam a ideia de simplicidade. Suas obras também carregam um simbolismo etéreo, por meio da combinação da iluminação com as paisagens, que são, em sua maioria, lugares com uma natureza exuberante. 

Uma mulher roda com sua saia rosa e cheia de babados, ela usa também uma blusa toda coberta de rendas amarelas, na cabeça um chapéu e tranças. No fundo, bem distante, há várias montanhas e o céu azul com algumas nuvens.
Luiza Dörr
Duas crianças vestidas com vestidos na cor azul enfeitados. Uma das meninas, que aparentemente é mais velha, passa alguma coisa no rosto da mais jovem, como um gesto de cuidado, ela também está sentada para alcançar o rosto da outra que é menor. As duas, uma de frente para a outra, se olham, enquanto se arrumam.
Luiza Dörr
Uma mulher boiando em uma água verde com roupas típicas do Chile, uma blusa branca rendada e uma saia cumprida preta, ela usa tranças que flutuam ao seu redor. Na água também há pétalas de flores circundando seu corpo.
Luiza Dörr
Mulher sentada na beirada da carroceria de uma camionete, ela olha para longe da câmera e em suas mãos há luvas de boxe.
Luiza Dörr

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PAES, Nathália. Luisa Dorr. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/luisa-dorr-2/>. Publicado em: 11 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

A cultura dentro de cada um

A cultura é elemento fundamental para todos. Por meio da cultura, nos tornamos quem somos.

A cultura é elemento fundamental para todos. Por meio da cultura, nos tornamos quem somos.


A imagem a seguir pertence à série “Cultura Popular” do fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos. Ele revela, em grande parte de suas fotografias, um olhar atento ao movimento e captura o momento de forma que a estaticidade não se faz presente. Em suas séries fotográficas, o fotógrafo transparece seu apreço à cultura, principalmente aquelas presentes nas regiões norte e nordeste do Brasil.

A fotografia apresenta em primeiro plano um homem e uma mulher, ambos negros e de aparência que sugere possuirem mais de 50 anos. O homem usa um chapéu de palha, uma camisa colorida, calça azul e toca tambor. À frente do homem está a mulher que sorri e usa um turbante branco, uma camiseta branca com rendas e uma saia colorida.
Márcio Vasconcelos

A fotografia registra momentos da festividade maranhense Tambor de Crioula. Essa celebração afro-brasileira é feita em espaços públicos ou religiosos e sem data definida. Durante a festividade há músicas ritmadas por tambores, canto e danças que louvam à São Benedito.

Pelo momento em que a fotografia foi registrada, os rastros deixados na imagem indicam a movimentação presente na cena. O homem está com ambas as mãos levantadas, mas está a milésimos de segundos de levá-las ao encontro do tambor e emitir o som que possibilitará o enfervecimento dos corpos no espaço, que dançarão, abraçarão e sorrirão e que, apesar de suas individualidades, se reconhecerão como um grupo único, dedicados a celebrarem sua fé.

O homem olha para a mulher com um semblante que entrega o quão imerso ele está na ação que pratica. A mulher o olha de volta, como se confirmasse a conexão que os unem no momento. O sorriso que ela trás no rosto mostra parte subjetiva de si, a paixão pelo que celebra junto de seus.

Apesar do homem e a mulher serem os personagens principais da composição da cena, há outras pessoas que a completam. Essas pessoas presentes em campos mais fundos usam roupas semelhantes que indicam que são praticantes da cultura ali representada.  

A cultura é um aspecto fundamental para todas as sociedades. Para o antropólogo Clifford Geertz, a cultura é a própria condição de existência dos seres humanos, produto das ações por um processo contínuo, através do qual, os indivíduos dão sentido às suas ações.

Nesse sentido, podemos compreender a cena como uma tradução imagética de um dos traços que um povo carrega de mais precioso: sua cultura. Celebrar a cultura, além de mantê-la viva, possibilita um cosmos de sentimentos a surgirem. A euforia, a felicidade, ou um simples sorriso que entrega a cumplicidade que nasce no momento. Através da cultura aprendemos a sentir, a amar, a ter empatia e outros valores que nos tornam humanos. 

Essa fotografia me faz pensar sobre como somos permeados pelo mundo que acontece ao nosso redor. Sinto que quando a olho, sou atraído pela cena que vejo, me cativa e me faz ter vontade de estar naquela roda cheia de pessoas celebrando e manifestando suas fés e convicções.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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SILVA, Vinícius Augusto. A Cultura dentro de cada um. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-cultura-dentro-de-cada-um/>. Publicado em: 06 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Catharine Sant’ana

Bissexual, ativista e especializada em fotografar casais LGBTQIA+

Bissexual, ativista e especializada em fotografar casais LGBTQIA+ 

Nascida no Rio de Janeiro, “Cacá”, como gosta de ser chamada, trabalha com fotografia desde os 19 anos. Na época, fotografava festinhas de adolescentes, e foi neste período que percebeu sua grande paixão: retratar afetos, em todas as suas formas e variações.

A imagem mostra a fotografa Catharine Sant'ana encostada em uma janela enquanto sorri. Ela veste um casaco branco com uma blusa e calça preta por baixo, seu cabelo está arrumado com dreads com a ponta rosa.
Catharine Sant’ana

Conversando com a profissional, me encantei por seu carisma. Logo de imediato, é possível perceber seu ativismo e o quanto isso reflete no seu trabalho, que representa a luta, o amor e a resistência LGBTQIA+. 

“Meu objetivo é trazer referência e representatividade para pessoas LGBTQIA+. É fazê-las acreditar que são dignas e merecedoras de amar, serem amadas e viver esse amor”. Eu, como mulher lésbica e constituinte desse grupo, fiquei emocionada com esse relato e com as obras de Cacá.

Trazer essa representatividade do amor é de muita urgência, uma vez que, constantemente, o grupo LGBTQIA+ é retratado com pejoratividade e com um sentido de libertinagem. Então, essa abordagem mais romântica, que Cacá traz, também colabora para romper com esse estereótipo preconceituoso. E isso se torna mais necessário ainda quando o assunto é Brasil: país que mais mata homossexuais no mundo.

Criadora do site Alma Afetiva, Catharine é contra toda e qualquer forma de repressão, principalmente a do amor. “Infelizmente, fomos ensinados a disfarçar o nosso amor”, afirma ela na descrição de seu site.

Mulher preta, LGBT, umbandista e periférica, ela conta o quanto teve que superar dificuldades para se tornar essa profissional tão necessária em tempos de ódio como o que vivemos. Não tinha recursos financeiros para arcar com um curso de fotografia, então, lia o conteúdo de blogs, revistas e sites para aprender a fotografar. Mas, atualmente, com muito orgulho, ela diz o quanto ficou feliz por ter concedido entrevista à revista Fotografe, a maior da América Latina.

“Acho de suma importância uma mulher de várias minorias sociais ter voz em uma revista tão grande”. E eu concordo com ela! Meus sinceros parabéns a esse trabalho tão lindo, que, com certeza, merece muitos aplausos e reconhecimentos.

Há três mulheres na foto, duas estão se casando, ambas de vestido branco. Mais no fundo da foto, há a celebrante do casamento, vestida de rosa. O ambiente parece ser um sítio, repleto de árvores e decorações rosadas.
Catharine Sant’ana
Dois homens abraçados, se entreolhando, em um cenário que parece ser o Rio de Janeiro. Um deles é um homem negro, que usa tranças e veste uma camisa amarela listrada. O outro é um homem branco, de cabelo curto e veste uma camisa preta floral.
Catharine Sant’ana
Duas mulheres se casando. Uma delas usa um vestido de noiva, véu e tiara. A outra, usa um terninho branco. Ambas têm o cabelo cacheado e estão em frente a um caminhão antigo decorado para o cenário.
Catharine Sant’ana

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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Soares, Maria Clara. Catharine Sant’ana. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/catharine-santana/>. Publicado em: 04 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

A Solidão de Bolsonaro

Em clima de eleições de 2022, Bolsonaro se vê cada vez mais solitário em sua bolha autoritária.

Em clima de eleições de 2022, Bolsonaro se vê cada vez mais solitário em sua bolha autoritária.

Gabriela Biló

A escolha do filtro P&B não é por acaso. Com uma técnica de edição simples, é possível salientar ainda mais a semiótica do isolamento que a fotografia representa. Enquanto os demais políticos caminham e interagem próximos uns dos outros, o presidente da república Jair Messias Bolsonaro se encontra sozinho no canto direito da imagem. Apesar da utilização da máscara, é possível notar uma expressão de descontentamento em seu rosto. Esse é o reflexo de seu governo durante a gestão da pandemia de 2020-2022.

Esse isolamento iniciou-se em um processo lento desde sua eleição em 2018. Em promessa a seus eleitores – que, em grande parte se mantêm fiéis a sua figura e, igualmente solitários -, Bolsonaro afirmou que não buscaria acordos com políticos conhecidos como “centrão” e muito menos com partidos de viés esquerdista. A partir disso, iniciava seu processo de isolamento político. Não demorou muito para que suas próprias alianças entrassem em crise, com trocas incessantes de ministros e saída do próprio partido que o elegeu, o PSL.

A fotografia de Gabriela Biló mostra com precisão a face de nosso país. Dividido conceitualmente por uma pilastra, a figura do presidente estressado e solitário no canto da imagem não é uma representação apenas dele, mas de seu eleitorado que se vê, assim como ele, lutando contra inimigos imaginários da pátria. Apesar da solidão em viver uma luta fictícia, sua quantidade é densa. Em meio às eleições de 2022, percebe-se que a maior qualidade do presidente, tanto  quanto de seus eleitores, é a fidelidade entre eles. Fidelidade que supera o número de mortos, o quadro da fome e a desigualdade crescente. Excluídos em suas próprias bolhas autoritárias, se vêem também fortes.

É a partir desse contexto que, mesmo sendo perceptível o isolamento de Bolsonaro e seus eleitores no jogo político, os meus sentimentos de medo e apreensão não se vão. O grito do autoritarismo que ecoa de discursos e manifestações de ódio, por menores que sejam, me colocam em um estado de alerta constante. Após nascer e crescer sob governos que tinham como princípio o respeito às normas da política, passar os últimos 4 anos sob a constante incerteza de segurança constitucional apenas serviu para mostrar que a estrutura da nossa democracia está mal projetada.

Vejo que, mesmo diante de um fim – talvez temporário – na trajetória política, Bolsonaro não acabou por aqui. Apesar do visível afastamento de outros políticos, não está só. E aqueles que ainda se mantêm unidos a ele também tem outra característica: não se dão por vencidos. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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GANDRA, Nikolle. A Solidão de Bolsonaro. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/?p=3281>. Publicado em: 30 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

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