Fotografia que representa a união afetiva entre duas mulheres
A foto, tirada pela brasileira Catharine Sant’ana – especialista em registros de casais LGBTQIA+ -, retrata um dos momentos mais especiais da vida de Meg e Clarisse: seu casamento.
Unidas inicialmente pelo trabalho – ambas comissárias de bordo -, Meg e Clarisse escolheram perpetuar esse amor por meio da união estável. Ao olhar essa imagem, me sinto encantada com a quantidade de detalhes do retrato: as árvores em primeiro plano com mais foco e escurecidas e, o cenário ao fundo, levemente desfocado. As flores ornamentadas em tons de rosa e creme, combinando com as tonalidades dos buquês das noivas e do vestido da celebrante.
Se eu pudesse escolher uma única palavra para descrever essa foto, seria “delicadeza”. Pego-me pensando no quanto essas duas mulheres planejaram este dia, para que tudo saísse perfeito – até os mínimos detalhes – e no quanto pensaram e desejaram que tudo ocorresse da melhor maneira, em um dia que seria tão marcante para ambas.
Ambas, por um lado, correspondem ao estereótipo de feminilidade atribuído às mulheres, e, por outro, refutam a imagem pré-estabelecida de que casais lésbicos são constituídos majoritariamente por mulheres que performam masculinidade. O famoso estereótipo de “sapatão”, termo utilizado, muitas vezes, de forma pejorativa para caracterizar a lesbiandade. Ou seja, Meg e Clarisse, como muitos casais homoafetivos, além de representarem resistência por lutarem contra o preconceito da sociedade, ainda rompem com um estereótipo que visa limitar a identificação individual e classificar as pessoas por grupos.
Quando pesquisei sobre a imagem, lembro que achei interessante a maneira como fizeram o “First Look”. Ambas viradas de costas uma para outra no altar, de modo que não se vissem. Só foram se olhar no momento exato do casamento. Olhando para a expressão de felicidade de ambas, imagino o “friozinho na barriga” que elas podem ter sentido quando se viram. O pensamento que pode ter passado na cabeça de cada uma sobre a certeza de que aquela mulher ali em frente era a pessoa certa para passar o resto da vida ao lado.
Como mulher lésbica, inevitavelmente, me vejo nessa situação. Me questiono se amaria tanto alguém a ponto de desejar passar a vida inteira com ela. Se um dia alguém conseguirá me tirar tantas risadas que, em meio às gargalhadas, eu pensaria: é Ela.
Visualizar cenas de tanto amor como essa, em tempos de ódio, rancor e homofobia, como o que estamos vivendo é reconfortante. Ver um amor que é carinho, luta e resistência me aquece o coração. Principalmente num cenário em que um governo é repressivo, como o do Bolsonaro, no qual temos medo de amar. Hoje – outubro de 2022 – quando escrevo esse texto, este é o cenário. Mas, espero que, quando for publicado – início de 2023 – a esperança e o respeito retornem ao Brasil.
Esta leitura é um agradecimento à Cacá, pela representatividade a casais como esse. É muito importante para a comunidade LGBTQIA+ se enxergar em um ambiente seguro e feliz.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
Links, Referências e Créditos
Como citar este artigo
Soares, Maria Clara. Em seus olhos, o amor. Cultura Fotográfica (blog).
Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/em-seus-olhos-o-amor/>. Publicado em: 20 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].