A Prisão da Alma

Quando uma fotografia expressa a simbologia do condicionamento feminino às grades da coerção patriarcal.

Quando uma fotografia expressa a simbologia do condicionamento feminino às grades da coerção patriarcal.

Lola Álvarez Bravo foi um dos grandes nomes da fotografia mexicana do século XX, sendo a primeira mulher a sair pelas ruas com uma câmera, capturando momentos importantes da pós-revolução mexicana e evidenciando questões sociais que marcaram sua trajetória. Entretanto, também é possível notar em algumas de suas fotografias, janelas para sua própria realidade onde o machismo se manifesta em suas mais diferentes versões.

Imagem, em preto e branco, mostrando uma mulher apoiada na janela, olhando seu exterior.
Lola Álvarez Bravo

Um desses casos é a fotografia “Em Sua Própria Cela”. Seguindo sua estética marcada pelo P&B, a imagem evidencia o busto de uma mulher escorado em uma janela alta. Seu olhar distante pode ser interpretado como uma fuga subliminar do espaço geográfico que ocupa, marcado pela sobreposição de sombras que remetem às grades de uma prisão. Datada em um México de 1950, o ato de ser mulher cabia apenas dentro das suas próprias casas construídas sob uma sociedade patriarcal. 

Todavia, essa fotografia é capaz de carregar uma interpretação que, assim como eu vejo, poderia ser vista por outras mulheres em diferentes lugares do mundo. Tenho para mim que tornar-se mulher é universal. Compreende tantos significados compartilhados que tornam-se incalculáveis. Entre eles, o aprisionamento a partir de um patriarcado que, além de condicionar o corpo, também condiciona a alma.

Se partimos para o sociólogo Michel Foucault, o ser humano pode ser compreendido como “corpo” e “alma”, sendo esta não uma representação divina, mas o resultado dos poderes (sociais, econômicos, políticos e culturais) que estão ligados intrinsecamente ao corpo. Portanto, para ele: “a alma, prisão do corpo” (1975) ou seja, aquilo que interfere na “alma”, no inconsciente do ser humano é aquilo que condiciona também o corpo, sendo impossível modificar as estruturas de um homem ou uma mulher com ações apenas físicas. 

Dentro do patriarcado vigente em grande parte do mundo, percebo que esse modelo de coerção social contra as mulheres atinge seu objetivo de interferir na alma. Seus métodos não se limitam a violências físicas, mas também a violências verbais, econômicas e principalmente estruturais. A partir da fotografia analisada, compreendo aquelas referências às grades como o aprisionamento do próprio inconsciente feminino. Junto a isso, a representação da janela aberta apenas enfatiza que, mesmo livre para sair daquele local, as sombras das grades que aprisionam sua mente também aprisionam o seu corpo.

Ser mulher não está condicionado apenas pelas violências sofridas historicamente, mas para entender sua existência e a partir disso lutar, é necessário entender o machismo estrutural. A partir disso, chego a uma das conclusões possíveis de que, a fim de subverter esses discursos coercivos, é necessário revolucionar a alma. É necessário se desintoxicar de compreensões que aprisionam a mente. Assim, teremos  a liberdade do corpo.

O sufrágio feminino surge do inconsciente individual para atingir o consciente coletivo. Ir contra o patriarcado que violenta não apenas mulheres, mas toda a humanidade, é o caminho para isso. A mulher fotografada por Lola, apesar de estar situada por trás das grades da alma, tem um olhar de viajante. Esses olhos utópicos miram a liberdade que tem sido conquistada as passos curtos e importantes pelos movimentos feministas. 

Links, Referências e Créditos

  • FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 12ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.

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GANDRA, Nikolle. A Prisão da Alma. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-prisao-da-alma/>. Publicado em: 18 de maio de 2023. Acessado em: [informar data].

Tudo torna-se político

A fotografia em regimes ditatoriais fascistas

A fotografia em regimes ditatoriais fascistas

Nem tudo é político, porém tudo pode se tornar político a depender da narrativa e do cenário no qual está inserido. A foto abaixo é de autoria de Álvaro Hoppe, um artista famoso por sua série de fotografias da capital chilena, Santiago, tiradas na década de 1980.

A fotografia em preto e branco mostra uma placa de trânsito da cidade de Santiago na qual está escrito: “Não virar à esquerda". Além desta há outras duas placas com nomes de ruas da capital chilena.

Álvaro Hoppe, 1982

A imagem acima, sem narrativa ou contextualização, nada mais é que uma foto de uma placa sinalizando o sentido da rua. Entretanto, dentro dum regime ditatorial de extrema direita a frase “Não virar a esquerda” ganha teor político.

Nesse período, mais especificamente entre 1973 a 1990, o Chile era conduzido por um governo totalitário, comandado pelo general Augusto Pinochet, após a deposição do então presidente Salvador Allende.

Dentre as diversas imagens produzidas por Hoppe na capital chilena, algumas são bastante literais, mostrando os constantes embates entre os apoiadores e opositores do governo. Por outro lado, algumas das imagens, como a acima, são um tanto mais sutis, sendo as minhas favoritas, dentre toda a narrativa fotográfica de Álvaro Hoppe.

Nem tudo é político, uma placa de trânsito, um folheto rasgado, um muro pintado podem ser apenas elementos do dia a dia. Mesmo não deixando de ser comuns, estes podem se tornar políticos quando inseridos em cenários e ambientes onde a política não é uma opção, mas sim algo imposto à sociedade.

Deixo algumas das imagens mais “sutis” de Hoppe, imagens que, não sabendo a história, podem não ser inteiramente compreendidas pelo público.

 
A fotografia em preto e branco mostra um folheto rasgado no chão, nele se pode ler as palavras “donde están?" (onde estão?).

Álvaro Hoppe, 1980

No lado direito da fotografia em preto e branco há um muro no qual pode-se ver uma pichação com a palavra “unidade e” e um punho cerrado, não é possível ver a continuação da frase. Do lado esquerdo vemos um homem vestindo uma camisa branca e com a face coberta pelas mãos e um pano, como se esse secasse suor ou lágrimas do rosto.

Álvaro Hoppe, 1983

A fotografia em preto e branco mostra um grande muro no qual há pintada a palavra “YO”, “EU” em tradução para o portugues. A frente do muro há um garoto de costas para a câmera o que dá ao leitor uma maior noção de perspectiva acerca do tamanho da pintura no muro.

Álvaro Hoppe, 1983

 

#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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COUTO, Sarah. Tudo torna-se político. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/tudo-torna-se-politico/>. Publicado em: 11 de mai. de 2023. Acessado em: [informar data].

Um olhar para o bem que há no mal

Como um animal se torna um símbolo

Como um animal se torna um símbolo

Lobos são ágeis, fortes, rápidos, inteligentes, de faro apurado e caçadores natos. São os animais que mais se aproximam de uma formação militar, em sua composição de alcateia, com estabelecida hierarquia entre os membros, porém, com respeito e amor. Afinal, até mesmo em esquadrões, o sentimento de família entre seus componentes está presente. Com os lupinos essa relação é ainda mais forte. 

Lobo preto olhando para a câmera num cenário congelado sarapintado de troncos de árvores congelados.
Conrad Tan

Para diferentes culturas, lobos são animais simbólicos. Nas culturas indígenas e de outros povos, e mesmo na heráldica, na mitologia e cultura popular, estes animais possuem diversos significados. Podem representar o que é sagrado, místico, ou mesmo o que é demoníaco. Não existe consenso sobre o que um lobo pode representar culturalmente; menos ainda um lobo preto, em paralelo ao racismo.

Para a ciência, o lobo preto é uma variação do lobo-cinzento; uma mutação que ocorreu ao longo dos anos, através do cruzamento entre o lobo-cinzento e cães domésticos, possivelmente de pelagem preta. E justamente por serem mutantes, são animais raros e de difícil encontro com seres-humanos. 

Para o senso-comum, lobos pretos preenchem o imaginário popular com inúmeras interpretações; nem todas positivas. Basta uma simples pesquisa na internet para observar como a agressividade, a violência, o profano e tantas outras características negativas e obscuras são associadas à cor preta, em especial, atribuídas aos animais carnívoros, que se alimentam do cadáver de outros animais para sobreviver.

Desde muito novo me entendo como uma pessoa dualista, vivendo eternos dilemas, como a mestiçagem racial. Afinal, pertencer a duas famílias, com matrizes culturais, políticas, étnicas e religiosas tão diferentes, gera a sensação de não-pertencimento total em nenhum ambiente; mesmo em casa. Nesse sentido sou tão mestiço, tão mutante quanto os lobos pretos; nem totalmente lobo, nem totalmente cão.

Para mim, lobos pretos são um guia espiritual. Enxergo neles, tudo aquilo que encanta aos olhos infantis, que restaura o imaginário que se perde na vida adulta. São exemplos de como nem toda associação à nossa imagem social são verdades absolutas. Podendo ser, simplesmente, reflexo da estupidez humana e de sua própria sede por sangue e violência, refletidas no outro pela aparência, não pela essência.

Ainda para mim, lobos representam a liderança. Diferentes dos cães, os lobos demandam a liberdade de viverem isolados, ainda que, próximos daqueles que compõem suas matrizes familiares e exércitos pessoais. Um contraste de como a nossa relação com os cães domésticos, também pode ser associada com a necessidade de liderança humana.

Os líderes mais representativos para seres humanos são os políticos que, muitas vezes, são pejorativamente chamados de lobos; como se isso fosse algo ruim. A sociedade contemporânea, está repleta de homens gananciosos, maldosos, mentalidades corruptas e bolsos cheios: a essência mais realista do que é demoníaco e violento no mundo real e que é praticada na política e não na esfera selvagem.

É com os políticos, com seus pés envoltos em sapatos lustrosos, debaixo do teto de edifícios luxuosos, em encontros secretos com pessoas que se fizeram importantes sujando as mãos de terceiros com sangue, que, justamente, se originam a maioria dos problemas sociais que o mundo enfrenta atualmente, como: a fome, a miséria, o aquecimento global, a intolerância, a ignorância, o preconceito e tantos outros.

Lupus est homo homini lupus, como dito por Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, retrata bem essa mentalidade. Mas discordo dele quando nomeia  homens como lobos na frase supracitada em latim. Eu os nomearia não como animais, mas como o que são, de fato: homens. Homini est homo homini homo, ou, o homem é o HOMEM do próprio homem, faz mais sentido perante os meus olhos. 

Políticos brasileiros têm se colocado como prioridade. Estão estrategicamente posicionados na sociedade em benefício próprio, nas posições mais seguras. Como poderiam os líderes de nossa sociedade serem chamados de lobos, se numa alcateia, a composição de uma matilha é compartilhada e coletiva pelo significado verdadeiro do que é equidade?! 

Numa alcateia os lobos mais velhos ditam o compasso da caminhada, pois são os mais frágeis. Atrás deles, os lobos mais fortes constituem a linha de frente. No meio, os lobos mais jovens e menores constituem um pelotão. E por último, o casal de lobos alfa, protege e assegura a integridade da matilha. Eles se colocam em uma posição arriscada, para o bem da matilha.

Chega a ser irônico, então, como essas associações negativas atreladas aos lobos são. Irônicas, para não serem chamadas de injustas. Lobos talvez sejam os animais com o maior significado de humanidade que tentamos tanto dar para nós mesmos, quando somos nós que possuímos o significado demoníaco de senso-comum, associado aos lobos devido a uma parcela realisticamente demoníaca da sociedade.

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BRITO, C. S. O mal que há no bem. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/um-olhar-para-o-bem-que-ha-no-mal/>. Publicado em: 04 de maio de 2023. Acessado em: [informar data].

Um olhar para o mal que há no bem

Como um animal se torna um símbolo

Como um animal se torna um símbolo

O animismo explica a essência do pensamento de povos originários, compostos por pessoas que mantêm sua cultura, juízo de valores e crenças num mundo que se encaminha mais e mais fortemente para uma realidade de senso-comum fortalecido. Senso-comum que não é agora, e nem nunca foi antes, sinônimo de inteligência social, mas de uma arbitrariedade, que pode, e muitas vezes é, de fato, desinteligente.

 Lobo branco do ártico olhando para a câmera de cima de um tronco de árvore num cenário arbóreo e escuro.
Jef Wodniack

Para a cultura, a cor branca sempre esteve associada com a pureza, a dignidade, ou ao que é sagrado. É a cor que também representa a pureza. Para muitas culturas, e inclusive, para o senso-comum é o branco que melhor representa a bondade. Um paralelo com uma sociedade que por tanto tempo valoriza a pele clara de homens caucasianos.

Para a ciência, a cor branca é a junção das luzes de todas as outras cores. Assim como, em paralelo ao racismo, geralmente é o homem branco que é a voz representante de todas as outras etnias; falando por todos os grupos de pessoas o quanto eles devem se submeter à sua liderança.

Entretanto, a pele de muitos caucasianos não é branca. A cor real se aproxima muito mais de um tom rosado ou alaranjado muito claro. Nem mesmo a pele negra é verdadeiramente preta, e se aproxima muito mais do marrom. Entretanto, com as cores sendo associadas à características culturais como o sagrado e o profano, acabamos nos chamando, por senso-comum, de brancos e negros.

Para mim, a cor branca é a cor da injustiça. É a cor que tenta reger o caos que é a vida em sociedade e que tenta estabelecer padrões de harmonia irreais e inalcançáveis. É a cor da ignorância, do papel em branco, onde qualquer associação que se faça estará escrita em realidade. É a cor das sentenças de morte, por onde o espectro da luz vermelha respinga e goteja nas peles escuras, nos pêlos escuros. 

Na realidade, ao que concerne à cultura, lobos significam muitas coisas, entre elas a sabedoria. Para a ciência, o lobo do ártico é um animal que vive em ambientes gelados e se camufla para caçar com ajuda dos pêlos alvos na neve. Já para mim, esses animais são símbolos da verdadeira pureza, como é qualquer outro animal que consome do planeta apenas o necessário para sobreviver.

O lobo branco possui muitos paralelos com os homens num mundo moldado em tons de cinza, como certamente também possuem os lobos pretos. São o que enxergamos em nós mesmos. A culpa que atribuímos aos outros. São amor e ódio. O encontro de dois amantes e a traição de alguém. São yin e yang. Água e vinho. São harmonia e são caos. São a lealdade. A inocência e a culpa que cada um de nós carrega em seus olhos.

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BRITO, C. S. O mal que há no bem. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/um-olhar-para-o-mal-que-ha-no-bem/. Publicado em: 25 de abr. 2023. Acessado em: [informar data].

Em seus olhos, o amor

Fotografia que representa a união afetiva entre duas mulheres

Fotografia que representa a união afetiva entre duas mulheres

A foto, tirada pela brasileira Catharine Sant’ana – especialista em registros de casais LGBTQIA+ -, retrata um dos momentos mais especiais da vida de Meg e Clarisse: seu casamento.

Há três mulheres na foto, duas estão se casando, ambas de vestido branco. Mais no fundo da foto, há a celebrante do casamento, vestida de rosa. O ambiente parece ser um sítio, repleto de árvores e decorações rosadas.
Catharine Sant’ana

Unidas inicialmente pelo trabalho – ambas comissárias de bordo -, Meg e Clarisse escolheram perpetuar esse amor por meio da união estável. Ao olhar essa imagem, me sinto encantada com a quantidade de detalhes do retrato: as árvores em primeiro plano com mais foco e escurecidas e, o cenário ao fundo, levemente desfocado. As flores ornamentadas em tons de rosa e creme, combinando com as tonalidades dos buquês das noivas e do vestido da celebrante.

Se eu pudesse escolher uma única palavra para descrever essa foto, seria “delicadeza”. Pego-me pensando no quanto essas duas mulheres planejaram este dia, para que tudo saísse perfeito – até os mínimos detalhes – e no quanto pensaram e desejaram que tudo ocorresse da melhor maneira, em um dia que seria tão marcante para ambas.

Ambas, por um lado, correspondem ao estereótipo de feminilidade atribuído às mulheres, e, por outro, refutam a imagem pré-estabelecida de que casais lésbicos são constituídos majoritariamente por mulheres que performam masculinidade. O famoso estereótipo de “sapatão”, termo utilizado, muitas vezes, de forma pejorativa para caracterizar a lesbiandade. Ou seja, Meg e Clarisse, como muitos casais homoafetivos, além de representarem resistência por lutarem contra o preconceito da sociedade, ainda rompem com um estereótipo que visa limitar a identificação individual e classificar as pessoas por grupos.

Quando pesquisei sobre a imagem, lembro que achei interessante a maneira como fizeram o “First Look”. Ambas viradas de costas uma para outra no altar, de modo que não se vissem. Só foram se olhar no momento exato do casamento. Olhando para a expressão de felicidade de ambas, imagino o “friozinho na barriga” que elas podem ter sentido quando se viram. O pensamento que pode ter passado na cabeça de cada uma sobre a certeza de que aquela mulher ali em frente era a pessoa certa para passar o resto da vida ao lado.

Como mulher lésbica, inevitavelmente, me vejo nessa situação. Me questiono se amaria tanto alguém a ponto de desejar passar a vida inteira com ela. Se um dia alguém conseguirá me tirar tantas risadas que, em meio às gargalhadas, eu pensaria: é Ela.

Visualizar cenas de tanto amor como essa, em tempos de ódio, rancor e homofobia, como o que estamos vivendo é reconfortante. Ver um amor que é carinho, luta e resistência me aquece o coração. Principalmente num cenário em que um governo é repressivo, como o do Bolsonaro, no qual temos medo de amar. Hoje – outubro de 2022 – quando escrevo esse texto, este é o cenário. Mas, espero que, quando for publicado – início de 2023 – a esperança e o respeito retornem ao Brasil.

Esta leitura é um agradecimento à Cacá, pela representatividade a casais como esse. É muito importante para a comunidade LGBTQIA+ se enxergar em um ambiente seguro e feliz.

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Soares, Maria Clara. Em seus olhos, o amor. Cultura Fotográfica (blog).
Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/em-seus-olhos-o-amor/>. Publicado em: 20 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Cores da Pátria

A fotografia é do fotógrafo Lucas Landau, ela faz parte da série “Bolsonarismo”.

A fotografia é do fotógrafo Lucas Landau, ela faz parte da série “Bolsonarismo”.

Nessa série, o fotógrafo captura momentos em que os apoiadores de Jair Bolsonaro,  manifestam-se a favor do atual presidente e, em algumas cenas, contra instituições essenciais para o funcionamento do Estado democrático de Direito. 

Em primeiro plano a imagem mostra uma idosa de cerca de 60 anos de idade. Ela usa uma camiseta amarela da Seleção Brasileira de Futebol e uma bandeira do Brasil em suas costas. Ela está com a cabeça um pouco inclinada para cima e gesticulando um sinal de oração.
Lucas Landau

A personagem de maior evidência na fotografia é uma senhora branca, de cabelos grisalhos, que aparenta ter cerca de 60 anos de idade. Ela veste uma camiseta da seleção brasileira de futebol e usa, amarrada em seu corpo, uma bandeira do Brasil. No momento fotografado, ela olha para cima e gesticula as mãos em sinal de oração.

O semblante sério da senhora acompanhado da gesticulação em sinal de oração, me faz pensar a mobilização do posicionamento político dela com o que ela considera sagrado. A união desses dois campos, que sou guiado a pensar a partir do que vejo na fotografia, me desperta um sentimento de preocupação. 

O sentimento de preocupação se dá acerca de como pode ser imprudente misturar duas esferas tão diferentes quanto a política e a religião, a ponto que essa mistura pode se tornar algo deturpado por violência e fanatismo, deixando inexistentes os espaços para diálogos saudáveis quando algum dos indivíduos é enxergado como “enviado de Deus”.  

Além disso, atualmente, os símbolos presentes nas roupas usadas pela senhora têm seus significados sequestrados. O verde, o amarelo, o azul anil e o branco deixa de ocupar um espaço em parte do imaginário popular que simbolizava as cores de uma nação e passa a configurar uma simbologia política excludente, cujo aqueles que acreditam serem donos das cores da pátria desrespeitam o que vem escrito no meio da bandeira.

No plano de fundo da imagem há um banner onde se lê “Não à ditadura do STF e Congresso!”. Não há ordem e nem progresso quando parcelas de bolsonaristas acusam  parte da tríplice dos poderes, o legislativo e o judiciário, que são essenciais para o funcionamento do Estado, de serem poderes ditatoriais. 

E também não há o pleno funcionamento da democracia quando essas pessoas obstruem rodovias em movimentos pós-eleição de caráter golpista e anti democrático pedindo por intervenção militar em seus gritos de ordem.

Essa imagem me mobiliza um grande incômodo, pois com a usurpação dos símbolos nacionais, tentam passar um falso discurso patriótico que não é democrático e nem abrangente, pois defendem a existência de um Brasil excludente, polarizado e carregado de violência. O bolsonarismo precisa ser enfrentado e nossas cores precisam voltar a ser nossas!

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SILVA, Vinicius. Cores da Pátria . Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/cores-da-patria/>. Publicado em: 13 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

A cultura dentro de cada um

A cultura é elemento fundamental para todos. Por meio da cultura, nos tornamos quem somos.

A cultura é elemento fundamental para todos. Por meio da cultura, nos tornamos quem somos.


A imagem a seguir pertence à série “Cultura Popular” do fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos. Ele revela, em grande parte de suas fotografias, um olhar atento ao movimento e captura o momento de forma que a estaticidade não se faz presente. Em suas séries fotográficas, o fotógrafo transparece seu apreço à cultura, principalmente aquelas presentes nas regiões norte e nordeste do Brasil.

A fotografia apresenta em primeiro plano um homem e uma mulher, ambos negros e de aparência que sugere possuirem mais de 50 anos. O homem usa um chapéu de palha, uma camisa colorida, calça azul e toca tambor. À frente do homem está a mulher que sorri e usa um turbante branco, uma camiseta branca com rendas e uma saia colorida.
Márcio Vasconcelos

A fotografia registra momentos da festividade maranhense Tambor de Crioula. Essa celebração afro-brasileira é feita em espaços públicos ou religiosos e sem data definida. Durante a festividade há músicas ritmadas por tambores, canto e danças que louvam à São Benedito.

Pelo momento em que a fotografia foi registrada, os rastros deixados na imagem indicam a movimentação presente na cena. O homem está com ambas as mãos levantadas, mas está a milésimos de segundos de levá-las ao encontro do tambor e emitir o som que possibilitará o enfervecimento dos corpos no espaço, que dançarão, abraçarão e sorrirão e que, apesar de suas individualidades, se reconhecerão como um grupo único, dedicados a celebrarem sua fé.

O homem olha para a mulher com um semblante que entrega o quão imerso ele está na ação que pratica. A mulher o olha de volta, como se confirmasse a conexão que os unem no momento. O sorriso que ela trás no rosto mostra parte subjetiva de si, a paixão pelo que celebra junto de seus.

Apesar do homem e a mulher serem os personagens principais da composição da cena, há outras pessoas que a completam. Essas pessoas presentes em campos mais fundos usam roupas semelhantes que indicam que são praticantes da cultura ali representada.  

A cultura é um aspecto fundamental para todas as sociedades. Para o antropólogo Clifford Geertz, a cultura é a própria condição de existência dos seres humanos, produto das ações por um processo contínuo, através do qual, os indivíduos dão sentido às suas ações.

Nesse sentido, podemos compreender a cena como uma tradução imagética de um dos traços que um povo carrega de mais precioso: sua cultura. Celebrar a cultura, além de mantê-la viva, possibilita um cosmos de sentimentos a surgirem. A euforia, a felicidade, ou um simples sorriso que entrega a cumplicidade que nasce no momento. Através da cultura aprendemos a sentir, a amar, a ter empatia e outros valores que nos tornam humanos. 

Essa fotografia me faz pensar sobre como somos permeados pelo mundo que acontece ao nosso redor. Sinto que quando a olho, sou atraído pela cena que vejo, me cativa e me faz ter vontade de estar naquela roda cheia de pessoas celebrando e manifestando suas fés e convicções.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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SILVA, Vinícius Augusto. A Cultura dentro de cada um. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-cultura-dentro-de-cada-um/>. Publicado em: 06 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

A Solidão de Bolsonaro

Em clima de eleições de 2022, Bolsonaro se vê cada vez mais solitário em sua bolha autoritária.

Em clima de eleições de 2022, Bolsonaro se vê cada vez mais solitário em sua bolha autoritária.

Gabriela Biló

A escolha do filtro P&B não é por acaso. Com uma técnica de edição simples, é possível salientar ainda mais a semiótica do isolamento que a fotografia representa. Enquanto os demais políticos caminham e interagem próximos uns dos outros, o presidente da república Jair Messias Bolsonaro se encontra sozinho no canto direito da imagem. Apesar da utilização da máscara, é possível notar uma expressão de descontentamento em seu rosto. Esse é o reflexo de seu governo durante a gestão da pandemia de 2020-2022.

Esse isolamento iniciou-se em um processo lento desde sua eleição em 2018. Em promessa a seus eleitores – que, em grande parte se mantêm fiéis a sua figura e, igualmente solitários -, Bolsonaro afirmou que não buscaria acordos com políticos conhecidos como “centrão” e muito menos com partidos de viés esquerdista. A partir disso, iniciava seu processo de isolamento político. Não demorou muito para que suas próprias alianças entrassem em crise, com trocas incessantes de ministros e saída do próprio partido que o elegeu, o PSL.

A fotografia de Gabriela Biló mostra com precisão a face de nosso país. Dividido conceitualmente por uma pilastra, a figura do presidente estressado e solitário no canto da imagem não é uma representação apenas dele, mas de seu eleitorado que se vê, assim como ele, lutando contra inimigos imaginários da pátria. Apesar da solidão em viver uma luta fictícia, sua quantidade é densa. Em meio às eleições de 2022, percebe-se que a maior qualidade do presidente, tanto  quanto de seus eleitores, é a fidelidade entre eles. Fidelidade que supera o número de mortos, o quadro da fome e a desigualdade crescente. Excluídos em suas próprias bolhas autoritárias, se vêem também fortes.

É a partir desse contexto que, mesmo sendo perceptível o isolamento de Bolsonaro e seus eleitores no jogo político, os meus sentimentos de medo e apreensão não se vão. O grito do autoritarismo que ecoa de discursos e manifestações de ódio, por menores que sejam, me colocam em um estado de alerta constante. Após nascer e crescer sob governos que tinham como princípio o respeito às normas da política, passar os últimos 4 anos sob a constante incerteza de segurança constitucional apenas serviu para mostrar que a estrutura da nossa democracia está mal projetada.

Vejo que, mesmo diante de um fim – talvez temporário – na trajetória política, Bolsonaro não acabou por aqui. Apesar do visível afastamento de outros políticos, não está só. E aqueles que ainda se mantêm unidos a ele também tem outra característica: não se dão por vencidos. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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GANDRA, Nikolle. A Solidão de Bolsonaro. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/?p=3281>. Publicado em: 30 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Contos de fadas

Campos floridos em nós mesmos.

A imagem abaixo foi fotografada pelo artista Steven Klein para a revista Vogue em 2020. Em um ensaio com a atriz Mia Goth chamado de Fantasy and Fashion. Com cores inexistentes no mundo real e cenários deslumbrantes, Steven faz uma mistura entre a moda e os contos de fadas.

A imagem mostra uma mulher de cabelos pretos e pele muito branca trajando um vestido rosa claro, ela está sentada em uma poltrona vermelha, enquanto ilumina com uma lanterna um canto do ambiente. O cenário mostra o cômodo de uma casa, com as paredes em um tom de azul, e o chão coberto por flores rosa, amarelo e laranja.
Steven Klein

Vestidos esvoaçantes, flores de diversas cores, exuberantes florestas, tons saturados, ainda que sejam ao mesmo tempo suaves; disso são feitos os sonhos e os contos de fadas. Entrelaçados, eles quase se confundem, sendo um necessário a existência do outro. Sem a habilidade de sonhar, histórias não seriam criadas, e sem histórias os sonhos não passariam de uma breve reprise de nossa memória.

Sempre fui uma criança muito solitária, que cresceu em uma roça sem o contato de outras pessoas da mesma idade. Para passar os meus dias e para poder suprir a falta de companhia, o melhor que eu podia fazer era criar histórias.

Eu via nas flores vestidos de fadas, que se camuflavam enquanto houvessem humanos por perto. Nos galhos das árvores que se juntavam, formando um arco, enxergava um portal que poderia levar para diferentes mundos. Nas frutas, via dádivas que quando ingeridas eram capazes de conceder superpoderes. 

Ao crescer, eu converti essa minha imaginação em necessidade de livros; me apoiando neles quando precisava fugir do mundo real. Ainda é assim. É na fantasia onde posso ser outra pessoa, e, não preciso ser ninguém, ou apenas acompanhar a vida de outra pessoa enquanto me esqueço de mim mesma. Mesmo que os finais não sejam felizes para sempre, eles me confortam das dificuldades do mundo.

Ainda continuo procurando por fadas e reinos encantados. E nas horas vagas, caço borboletas coloridas. Porque sem essas histórias o mundo seria somente cinzento, sem nenhum sonho. Não haveria motivo para continuar tentando, não haveria um refúgio para se esquecer dos problemas.

Links, Referências e Créditos

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PAES, Nathália Paes. Contos de fadas. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<{colar link da postagem}>. Publicado em: {colar data de publicação}. Acessado em: [informar data]. 

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