A Solidão de Bolsonaro

Em clima de eleições de 2022, Bolsonaro se vê cada vez mais solitário em sua bolha autoritária.

Fotografia em preto e branco na qual Bolsonaro está solitário no lado direito, enquanto os demais políticos estão próximos no lado esquerdo.

Em clima de eleições de 2022, Bolsonaro se vê cada vez mais solitário em sua bolha autoritária.

Fotografia em preto e branco na qual Bolsonaro está solitário no lado direito, enquanto os demais políticos estão próximos no lado esquerdo.
Gabriela Biló

A escolha do filtro P&B não é por acaso. Com uma técnica de edição simples, é possível salientar ainda mais a semiótica do isolamento que a fotografia representa. Enquanto os demais políticos caminham e interagem próximos uns dos outros, o presidente da república Jair Messias Bolsonaro se encontra sozinho no canto direito da imagem. Apesar da utilização da máscara, é possível notar uma expressão de descontentamento em seu rosto. Esse é o reflexo de seu governo durante a gestão da pandemia de 2020-2022.

Esse isolamento iniciou-se em um processo lento desde sua eleição em 2018. Em promessa a seus eleitores – que, em grande parte se mantêm fiéis a sua figura e, igualmente solitários -, Bolsonaro afirmou que não buscaria acordos com políticos conhecidos como “centrão” e muito menos com partidos de viés esquerdista. A partir disso, iniciava seu processo de isolamento político. Não demorou muito para que suas próprias alianças entrassem em crise, com trocas incessantes de ministros e saída do próprio partido que o elegeu, o PSL.

A fotografia de Gabriela Biló mostra com precisão a face de nosso país. Dividido conceitualmente por uma pilastra, a figura do presidente estressado e solitário no canto da imagem não é uma representação apenas dele, mas de seu eleitorado que se vê, assim como ele, lutando contra inimigos imaginários da pátria. Apesar da solidão em viver uma luta fictícia, sua quantidade é densa. Em meio às eleições de 2022, percebe-se que a maior qualidade do presidente, tanto  quanto de seus eleitores, é a fidelidade entre eles. Fidelidade que supera o número de mortos, o quadro da fome e a desigualdade crescente. Excluídos em suas próprias bolhas autoritárias, se vêem também fortes.

É a partir desse contexto que, mesmo sendo perceptível o isolamento de Bolsonaro e seus eleitores no jogo político, os meus sentimentos de medo e apreensão não se vão. O grito do autoritarismo que ecoa de discursos e manifestações de ódio, por menores que sejam, me colocam em um estado de alerta constante. Após nascer e crescer sob governos que tinham como princípio o respeito às normas da política, passar os últimos 4 anos sob a constante incerteza de segurança constitucional apenas serviu para mostrar que a estrutura da nossa democracia está mal projetada.

Vejo que, mesmo diante de um fim – talvez temporário – na trajetória política, Bolsonaro não acabou por aqui. Apesar do visível afastamento de outros políticos, não está só. E aqueles que ainda se mantêm unidos a ele também tem outra característica: não se dão por vencidos. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar este artigo

GANDRA, Nikolle. A Solidão de Bolsonaro. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/?p=3281>. Publicado em: 30 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

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