Um olhar para o bem que há no mal

Como um animal se torna um símbolo

Como um animal se torna um símbolo

Lobos são ágeis, fortes, rápidos, inteligentes, de faro apurado e caçadores natos. São os animais que mais se aproximam de uma formação militar, em sua composição de alcateia, com estabelecida hierarquia entre os membros, porém, com respeito e amor. Afinal, até mesmo em esquadrões, o sentimento de família entre seus componentes está presente. Com os lupinos essa relação é ainda mais forte. 

Lobo preto olhando para a câmera num cenário congelado sarapintado de troncos de árvores congelados.
Conrad Tan

Para diferentes culturas, lobos são animais simbólicos. Nas culturas indígenas e de outros povos, e mesmo na heráldica, na mitologia e cultura popular, estes animais possuem diversos significados. Podem representar o que é sagrado, místico, ou mesmo o que é demoníaco. Não existe consenso sobre o que um lobo pode representar culturalmente; menos ainda um lobo preto, em paralelo ao racismo.

Para a ciência, o lobo preto é uma variação do lobo-cinzento; uma mutação que ocorreu ao longo dos anos, através do cruzamento entre o lobo-cinzento e cães domésticos, possivelmente de pelagem preta. E justamente por serem mutantes, são animais raros e de difícil encontro com seres-humanos. 

Para o senso-comum, lobos pretos preenchem o imaginário popular com inúmeras interpretações; nem todas positivas. Basta uma simples pesquisa na internet para observar como a agressividade, a violência, o profano e tantas outras características negativas e obscuras são associadas à cor preta, em especial, atribuídas aos animais carnívoros, que se alimentam do cadáver de outros animais para sobreviver.

Desde muito novo me entendo como uma pessoa dualista, vivendo eternos dilemas, como a mestiçagem racial. Afinal, pertencer a duas famílias, com matrizes culturais, políticas, étnicas e religiosas tão diferentes, gera a sensação de não-pertencimento total em nenhum ambiente; mesmo em casa. Nesse sentido sou tão mestiço, tão mutante quanto os lobos pretos; nem totalmente lobo, nem totalmente cão.

Para mim, lobos pretos são um guia espiritual. Enxergo neles, tudo aquilo que encanta aos olhos infantis, que restaura o imaginário que se perde na vida adulta. São exemplos de como nem toda associação à nossa imagem social são verdades absolutas. Podendo ser, simplesmente, reflexo da estupidez humana e de sua própria sede por sangue e violência, refletidas no outro pela aparência, não pela essência.

Ainda para mim, lobos representam a liderança. Diferentes dos cães, os lobos demandam a liberdade de viverem isolados, ainda que, próximos daqueles que compõem suas matrizes familiares e exércitos pessoais. Um contraste de como a nossa relação com os cães domésticos, também pode ser associada com a necessidade de liderança humana.

Os líderes mais representativos para seres humanos são os políticos que, muitas vezes, são pejorativamente chamados de lobos; como se isso fosse algo ruim. A sociedade contemporânea, está repleta de homens gananciosos, maldosos, mentalidades corruptas e bolsos cheios: a essência mais realista do que é demoníaco e violento no mundo real e que é praticada na política e não na esfera selvagem.

É com os políticos, com seus pés envoltos em sapatos lustrosos, debaixo do teto de edifícios luxuosos, em encontros secretos com pessoas que se fizeram importantes sujando as mãos de terceiros com sangue, que, justamente, se originam a maioria dos problemas sociais que o mundo enfrenta atualmente, como: a fome, a miséria, o aquecimento global, a intolerância, a ignorância, o preconceito e tantos outros.

Lupus est homo homini lupus, como dito por Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, retrata bem essa mentalidade. Mas discordo dele quando nomeia  homens como lobos na frase supracitada em latim. Eu os nomearia não como animais, mas como o que são, de fato: homens. Homini est homo homini homo, ou, o homem é o HOMEM do próprio homem, faz mais sentido perante os meus olhos. 

Políticos brasileiros têm se colocado como prioridade. Estão estrategicamente posicionados na sociedade em benefício próprio, nas posições mais seguras. Como poderiam os líderes de nossa sociedade serem chamados de lobos, se numa alcateia, a composição de uma matilha é compartilhada e coletiva pelo significado verdadeiro do que é equidade?! 

Numa alcateia os lobos mais velhos ditam o compasso da caminhada, pois são os mais frágeis. Atrás deles, os lobos mais fortes constituem a linha de frente. No meio, os lobos mais jovens e menores constituem um pelotão. E por último, o casal de lobos alfa, protege e assegura a integridade da matilha. Eles se colocam em uma posição arriscada, para o bem da matilha.

Chega a ser irônico, então, como essas associações negativas atreladas aos lobos são. Irônicas, para não serem chamadas de injustas. Lobos talvez sejam os animais com o maior significado de humanidade que tentamos tanto dar para nós mesmos, quando somos nós que possuímos o significado demoníaco de senso-comum, associado aos lobos devido a uma parcela realisticamente demoníaca da sociedade.

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BRITO, C. S. O mal que há no bem. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/um-olhar-para-o-bem-que-ha-no-mal/>. Publicado em: 04 de maio de 2023. Acessado em: [informar data].

Um olhar para o mal que há no bem

Como um animal se torna um símbolo

Como um animal se torna um símbolo

O animismo explica a essência do pensamento de povos originários, compostos por pessoas que mantêm sua cultura, juízo de valores e crenças num mundo que se encaminha mais e mais fortemente para uma realidade de senso-comum fortalecido. Senso-comum que não é agora, e nem nunca foi antes, sinônimo de inteligência social, mas de uma arbitrariedade, que pode, e muitas vezes é, de fato, desinteligente.

 Lobo branco do ártico olhando para a câmera de cima de um tronco de árvore num cenário arbóreo e escuro.
Jef Wodniack

Para a cultura, a cor branca sempre esteve associada com a pureza, a dignidade, ou ao que é sagrado. É a cor que também representa a pureza. Para muitas culturas, e inclusive, para o senso-comum é o branco que melhor representa a bondade. Um paralelo com uma sociedade que por tanto tempo valoriza a pele clara de homens caucasianos.

Para a ciência, a cor branca é a junção das luzes de todas as outras cores. Assim como, em paralelo ao racismo, geralmente é o homem branco que é a voz representante de todas as outras etnias; falando por todos os grupos de pessoas o quanto eles devem se submeter à sua liderança.

Entretanto, a pele de muitos caucasianos não é branca. A cor real se aproxima muito mais de um tom rosado ou alaranjado muito claro. Nem mesmo a pele negra é verdadeiramente preta, e se aproxima muito mais do marrom. Entretanto, com as cores sendo associadas à características culturais como o sagrado e o profano, acabamos nos chamando, por senso-comum, de brancos e negros.

Para mim, a cor branca é a cor da injustiça. É a cor que tenta reger o caos que é a vida em sociedade e que tenta estabelecer padrões de harmonia irreais e inalcançáveis. É a cor da ignorância, do papel em branco, onde qualquer associação que se faça estará escrita em realidade. É a cor das sentenças de morte, por onde o espectro da luz vermelha respinga e goteja nas peles escuras, nos pêlos escuros. 

Na realidade, ao que concerne à cultura, lobos significam muitas coisas, entre elas a sabedoria. Para a ciência, o lobo do ártico é um animal que vive em ambientes gelados e se camufla para caçar com ajuda dos pêlos alvos na neve. Já para mim, esses animais são símbolos da verdadeira pureza, como é qualquer outro animal que consome do planeta apenas o necessário para sobreviver.

O lobo branco possui muitos paralelos com os homens num mundo moldado em tons de cinza, como certamente também possuem os lobos pretos. São o que enxergamos em nós mesmos. A culpa que atribuímos aos outros. São amor e ódio. O encontro de dois amantes e a traição de alguém. São yin e yang. Água e vinho. São harmonia e são caos. São a lealdade. A inocência e a culpa que cada um de nós carrega em seus olhos.

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BRITO, C. S. O mal que há no bem. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/um-olhar-para-o-mal-que-ha-no-bem/. Publicado em: 25 de abr. 2023. Acessado em: [informar data].

Suren Manvelyan

Intimista, fotógrafo expõe a beleza dos olhares.

Intimista, fotógrafo expõe a beleza dos olhares.

Armênio, nascido em 1976, começou a fotografar com dezesseis anos e em 2006 se profissionalizou na área, tendo desde então publicado seu trabalho mundo afora. Suren Manvelyan fotografa desde retratos, projetos criativos, paisagens, até capturas macroscópicas de olhares, e muito mais. Além da fotografia, ele também é PhD em Física Teórica e professor na Yerevan Waldorf School.

 Imagem macroscópica de olho humano castanho.
Suren Manvelyan

As fotografias mais famosas de Manvelyan são as que compõem as suas séries Your Beautiful Eyes (seus belos olhos) e Animal Eyes (olhos animais); tendo ambas as séries alcançado milhões de visualizações na internet. A segunda série referenciada teve uma segunda edição intitulada Animal Eyes 2, cuja temática era a mesma: fotografar olhos de animais.

É interessante como todas as fotografias, desta série, demonstram quase que misticamente como os olhos são, genuinamente, a janela da alma. São lentes orgânicas que fotografam o universo externo aos seus portadores – seres vivos -, dotados de seus próprios universos internos – e particulares -, e, que captam e processam imagens e significados e os transmitem na forma de tantos outros.

 Fotografia macroscópica de olho de peixe Acará-disco.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de coruja-0relhuda.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de Crocodilo-do-nilo.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de Husky Siberiano.
Suren Manvelyan
Fotografia macroscópica de olho de Corvo-comum.
Suren Manvelyan

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BRITO, C. S. Suren Manvelyan. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/suren-manvelyan/. Publicado em: 18 de abr. de 2023. Acessado em: [informar data].

Olhares sensíveis, não delicados

De todos os olhares complexos, o de James Dean é um modelo exemplar.

De todos os olhares complexos, o de James Dean é um modelo exemplar.

James Dean foi um astro dos anos 50 e um ícone da cultura pop para qualquer tempo posterior. Famoso pela atuação, beleza e comportamento, o falecido ator, morto num acidente de carro no ano de 1955, aos 24 anos de idade, se tornou postumamente o eterno padroeiro da rebeldia e referência quando se trata de juventude. Características essas que foram muito bem captadas pela fotografia de Dennis Stock.

Dennis Stock

O ator era conhecido pela irreverência, detalhe de sua personalidade que utilizava na atuação metódica de seus personagens, também muito semelhantes ao próprio ator, como o personagem Jim Stark de Juventude Transviada, o filme mais famoso em que atuou.

Apesar da fama ascendente, na época, James Dean levantou algumas questões polêmicas. Uma delas, referia-se a vida amorosa e sexual do ator. E anos após a sua morte, muitas especulações e boatos foram levantados, em especial sobre a sua relação com Marlon Brando, outro ator consagrado e famoso pelo papel de Don Vito Corleone em O Poderoso Chefão.

Em sua biografia não autorizada, intitulada James Dean: Tomorrow Never Come (O amanhã nunca chega), escrito pelos escritores Darwin Porter e Danforth Prince, foi afirmado que Marlon Brando se apaixonou pelo olhar de James Dean, que o fizera “arder”. É afirmado também que os dois foram um casal.

Independente da veracidade dessas afirmações, a vida pública de astros do cinema, assim como a de artistas no geral, sempre estimularam o imaginário do público e sempre serviram como exemplos de vidas anônimas e privadas, mundo afora. Ao olhar para James Dean, ciente da sua suposta homossexualidade, noto que algo sempre escapa em sua discrição gritante e silêncio embriagado.

Seus olhos são sensíveis, e, não de forma rasa; seus olhos são profundamente sensibilizados. São dotados de uma sedução que quase sempre seduzem sem querer. Entretanto, seu olhar não é frágil e nem delicado. Pelo contrário, são olhos afrontosos, rebeldes, como o próprio ator fora em vida.

Para mim, James Dean é o melhor exemplo de como homens gays não são, em vias de fato, sinônimos do que é feminino ou da ausência de uma masculinidade; ainda que a escolha e a natureza de cada um não seja limitada a não ser ou ser como tal – afinal cada um possui a liberdade de se identificar como bem entende e como se reconhece intimamente.

A liberdade de escolha, expressão e identificação é justamente o cerne desta questão, pois, socialmente, existe uma pressão silenciosa de rotular determinados grupos de pessoas de forma inflexível e totalitária, que nunca condiz com a realidade individual.

James Dean é um brasão para os seus semelhantes; que é – e deveria ser visto socialmente como – a naturalidade do desejo de um homem para com outros homens. E seu olhar sedutor e penetrante – ainda que quase ingênuo – não o torna desprovido de qualidades tipicamente masculinas, como: a postura, a voz, o comportamento, a mentalidade, as roupas que veste, seus gostos pessoais e trejeitos.

Hoje a liberdade, a orientação sexual e a identidade de gênero são questões defendidas por lei. Entretanto, olhando para a época em que essa foto foi fotografada, acaba sendo muito contraditório como a virilidade de homossexuais atualmente parece ser um tabu e um incômodo a nível social.

Um exemplo muito claro disso é como, majoritariamente, o conteúdo cultural voltado para homossexuais é sempre tão feminino, tão delicado e tão limitado a estereótipos e raramente deixam de ser falocêntricos. O que faz parecer com que a orientação sexual de um indivíduo o torne incapaz de ter individualidade de escolhas, pensamentos, gostos e preferências que perpassam suas preferências sexuais.

Em outras palavras, James Dean é um totem para todos os homens gays que não se identificam com voguing, roupas femininas, saltos altos, divas pop e todas as associações culturais que lhes são atreladas. São tão pejorativas como afirmar que todo homem heterossexual gosta de futebol, por exemplo.

Sim, há muita sensibilidade em olhos como os de James Dean, mas nem sempre há delicadeza por trás desses olhares. Alguns desses olhares miram em corridas de carros, esportes, literatura, no mercado de Wall Street, em gravatas-borboleta, ou nos corpos musculosos que as vestem, com alguma malícia, com muito desejo ou com nenhuma intenção.

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BRITO, C.S. Olhares sensíveis, não delicados. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/olhares-sensiveis-nao-delicados/>. Publicado em: 09 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Escudeiros de Sempre e a lealdade de nunca

Num mundo onde muitos valores estão sendo perdidos, a lealdade paterna é uma dádiva

Num mundo onde muitos valores estão sendo perdidos, a lealdade paterna é uma dádiva

De uma forma geral, acabamos passando a maior parcela de nossas horas almejando usufruir da companhia de quem nos é caro, mas executando as ações que podem fortalecer nosso poder de compra, nossa segurança, nossa saúde e afins, mas não passamos, de fato, acompanhados dessas pessoas nem lhes deitamos um olhar por tanto tempo quanto deveríamos.

Foto em preto e branco de um pai de mãos dadas a suas filhas na beira da praia. Uma das crianças carrega um apanhador de peixes, e a outra aparentemente pediu para o pai levar para ela.
Danny Van Vuuren

Me recordo da minha infância; como era boa a sensação de ir até a praia com os meus pais. Me lembro de pensar, ainda menino, em como queria que aqueles dias nunca chegassem ao fim. Sorrio ao recordar das ilhotas próximas da costa, de como as enxergava com olhos de criança: continentes repletos de aventura. Os peixes eram criaturas fantásticas, tão interessantes quanto aquelas criaturas que nos dias de hoje são tão mais aparentemente interessantes na televisão.

De todas as coisas que me lembro, a presença do meu pai é a que mais me traz alegria. Aqueles momentos que hoje tento encaixar na memória, como peças de um quebra cabeças, como quando surfei nos ombros do meu velho nadador, a conquistar um daqueles continentes. Consigo sentir a mesma sensação nesta fotografia de Danny Van Vuuren. Para essas crianças, a menor das ondulações da água é algo novo, ainda que não seja inédito.

Porém, conforme a vida avança, o tempo se torna um inimigo. Precisamos nos estabelecer no mundo, profissionalmente, academicamente, socialmente, e temos que dividir nossa atenção com outras pessoas, outras causas, outras coisas. Até que, quando nos damos conta, já não temos um pai ou uma mãe, e tudo o que nos resta são as lembranças de quando estávamos protegidos pela lealdade dos laços familiares e pelo amor mais honesto que se possa existir.

Penso que, como num ciclo – para aqueles que possuem essas memórias intactas, resguardadas e vistas com bons olhos -, desejamos tanto retornar para aquele cenário de proteção familiar, que queremos assumir os papéis de nossos progenitores ou criadores. E é isso o que sinto olhando esta foto. Uma mistura de saudade da proteção do meu pai e um desejo de ser eu mesmo um pai.

A lealdade desses laços não se enfraquece seja qual for a situação. O amor existe, basta olhar para a fotografia; o cuidado singelo, o medo protetivo, a união. E lealdade seria o quê se não fosse o amor? Afinal, lealdade é a fidelidade e a responsabilidade que se tem mesmo na ausência, mesmo na morte. E a figura paterna será sempre a associação-mór disto.

São como os escudeiros da idade média, sempre prontos para cumprir seus votos e agir como os homens juramentados que são. Pais são isto: leais. E para todo filho que teve a sorte de ter um pai juramentado em seu desenvolvimento e felicidade, existe também o voto de lealdade de poder refletir seus valores, honrar os ensinamentos e seguir as pegadas na beira da praia que um dia foram daquele que nos antecedeu.

Afinal, neste mundo não estamos tão sozinhos quanto nos fazem crer. Se existem aqueles que nos ajudam tanto, mesmo quando não podem, nos doam a sua própria vida, de bom grado, para nos deixar viver melhor e com mais do que eles mesmos tiveram. A abnegação de um pai, a lealdade, é um dos valores que sei que jamais se perderão, quando tantos outros se perderam, como tantas pegadas engolidas pelas ondas do mar.

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BRITO, C. S. Escudeiros de sempre e a lealdade de nunca. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://tinyurl.com/bdzzbyra. Publicado em: 23 fev. 2023. Acessado em: [informar data].

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Paul Freeman

A essência da masculinidade tem nuances de erotismo e sensibilidade.

A essência da masculinidade tem nuances de erotismo e sensibilidade

O australiano, Paul Freeman, é formado em literatura inglesa e história. O trabalho atual do fotógrafo é notoriamente reconhecido pelos traços autorais em suas fotografias. De forma geral, os elementos principais das fotografias de Freeman são homens nus e seminus.

Dois homens nus e sujos de lama brincando de lutinha em cima de um tronco de árvore num pântano.
Paul Freeman

As fotografias de Freeman exibem a beleza de corpos masculinos de forma irreverente e sofisticada. Posando-os em cenários rústicos, sujos e ásperos, os modelos fotografados transmitem a sensibilidade e a vulnerabilidade que quase nunca é associada à masculinidade.

Enquanto muitos homens são temidos pelos músculos e pela aparência austera, nas fotografias de Paul Freeman, a beleza quase escultural desses corpos provam que ainda existe meninice por debaixo dos músculos e pelos corporais; e não somente isso, como também a arte, a sensibilidade e sentimentos que nem sempre são vistos sob olhares superficiais.

Dois homens nus ancorando um barquinho num lago.
Paul Freeman
Três homens nus brincam na lama.
Paul Freeman
Homem posando nu ao lado de um cavalo nu celeiro escuro.
Paul Freeman
Um homem nu sorri dentro de uma banheira. Está usando botas e suas roupas estão na borda da banheira.
Paul Freeman
Três mergulhadores estão submersos numa piscina na fotografia em preto e branco e parecem buscar por algo embaixo d’água.
Paul Freeman
Dois roqueiros parecem cantar ao microfone. Enquanto um está nu o outro está vestindo calças e um colete enquanto toca guitarra num cenário sujo e enferrujado.
Paul Freeman 
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BRITO, C. S. Paul Freeman. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://tinyurl.com/t7pen2me>. Publicado em: 21 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

José Luis Barcia Fernandez

O fotógrafo que captura a essência do mistério

O espanhol José Luis Barcia Fernandez, de Astúrias, é formado em química e trabalha como gerente de logística. Entusiasta da fotografia urbana e da arquitetura,  realiza suas fotos somente com telefones celulares.

Fotografia que capta os raios de luzes e a sombra projetada de dois vãos. Na penumbra um homem com um chapéu está caminhando.
José Luis Barcia Fernandez

As fotografias do espanhol são dignas de uma montagem teatral, dado alguns elementos muito peculiares de seus cliques, dos quais o mais evidente é o contraste entre preto e branco e a composição dos elementos na fotografia. É comum encontrar silhuetas de pessoas em suas fotografias, geralmente caminhando para a escuridão.

Luis chama atenção pela composição. De alguma forma, a grande maioria de suas fotografias parece datar de um tempo no passado, ainda que sejam bastante atuais. A luz é sempre forte, e a escuridão, sempre muito intensa. Isso causa uma impressão artística muito forte e uma assinatura muito peculiar nas capturas visuais de Fernandez.

Fotografia foi tirada num ângulo de cima para baixo e é dividida em terços. No terceiro terço há um homem caminhando e nos outros apenas a sombra de alguma coisa projetada sob uma rua ladrilhada. A luz é forte e projeta sombra.
José Luis Barcia Fernandez
Um homem com chapéu caminha num ambiente escuro e esfumaçado. A fotografia possui muitos elementos misteriosos e um jogo de luz e sombras.
José Luis Barcia Fernandez
Fotografia preta e branca de um homem de chapéu está de costas aparentemente olhando para um céu onde pássaros vão entre as nuvens.
José Luis Barcia Fernandez
Fotografia em preto e branco do reflexo de uma mulher caminhando no terço iluminado de uma rua onde uma sombra está projetada logo ao lado.
José Luis Barcia Fernandez

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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BRITO, C. S. José Luis Barcia Fernandez. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/jose-luis-barcia-fernandez/ Publicado em: 07 de Fev. de 2023. Acessado em: [informar data].
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A dualidade existencial de muitos de nós

O preconceito silencioso contra os mestiços

O preconceito silencioso contra os mestiços

Que o Brasil é o país mais diversificado do mundo, muita gente já suspeitava. Essa miscigenação é datada do período colonial, quando diversos grupos de pessoas de etnias diferentes migraram para cá. Desde então, os pardos e seus olhos castanhos, azuis, esverdeados, puxados ou não, ocupam qualquer espaço. A raça “parda”, aliás, só existe neste país. Lá fora, são chamados de mixed, mixed-race, ou em tradução literal, misturados ou mestiços.

Mulher mestiça, de origem italiana e paquistanesa, vestindo calças jeans e blusa estampada com tons de verde. Utiliza um cinto de couro com fivela dourada. Está posicionada de frente a um fundo totalmente verde.
Tenee Attoh

Vivo me perguntando, enquanto mestiço, como se tornou tão complicado falar do racismo contra pardos num país que normalizou a cor da pele como indicativo exclusivo de ancestralidade racial e origem étnica. É tão normal encontrar uma pessoa mestiça nas ruas brasileiras que isso sequer é falado, é cotidiano; mas, o fato de ser comum não deveria tornar a existência de problemáticas associadas à raça invisíveis, intocáveis e indiscutíveis.

Esses problemas são justamente o que tornam importante o trabalho de Tenee Attoh: as associações cotidianas com algo que passa despercebido aos olhos eurocêntricos, mesmo daqueles que não são caucasianos, inclusive os pardos: a diversidade.

A cultura do preconceito racial está tão enviesada no tom da pele, que é constrangedor até mesmo ter orgulho de suas raízes neste país. Afinal, se você não é negro retinto o suficiente para ter origens senegalesas, ou caucasiano o suficiente para ter descendência alemã, aos olhos de pessoas preconceituosas, você é visto com estranhamento e isso demanda explicações e afirmações. Sendo assim, se torna cansativo fazer das suas origens étnicas motivo de orgulho; é uma luta constante por auto-afirmação.

Para a modelo da fotografia, a dualidade cultural (italiana e paquistanesa) faz parte de sua essência. O fato de ter herdado culturas diferentes de seu pai e de sua mãe moldou a forma como ela enxerga política, por exemplo. Entretanto, em entrevista concedida para o site do projeto de Tenee Attoh (Disponível em: https://mixedracefaces.com/) ela alegou que por muito tempo teve questões delicadas a respeito de seu não-pertencimento.

Afinal, mestiços, seja em Londres, onde ela reside, ou no Brasil, são uma minoria desrespeitada cuja cultura lhes é desassociada. É aí onde a xenofobia e o racismo se unem para remover de toda uma parcela crescente, em nível global, suas heranças culturais.

Desde pequeno me vi não pertencendo às minhas origens de forma total, e sei que este é o caso da modelo da foto. Ela não possui traços que imediatamente são associados com o povo italiano, nem tampouco com o povo paquistanês, ainda que os fenótipos estejam lá parcialmente, em ambos os casos. É como misturar tinta vermelha em tinta branca: você só consegue compreender que o rosa é uma mistura depois de aprender sobre teoria das cores, mas não é algo instintivo.

Fica claro, para qualquer pessoa escura, que o racismo se esconde em qualquer penumbra, principalmente onde os comentários e olhares não podem ser vistos ou escutados. Assim fica mais fácil de acobertar a tentativa social de atribuir aos mestiços os duplos, ou triplos, ou sejam lá quantas forem as matrizes originárias destes povos do qual preconceitos são atribuídos, sem que algum crime seja cometido.

Na Itália, por exemplo, muitas pessoas possuem o que é chamado de “olive skin” no exterior e que aqui no Brasil é conhecido como moreno-claro, ou, surpreendentemente, pardo. No século 19, com um número alto de imigrantes italianos nos EUA, o preconceito afetou muito aquele povo. A miséria e a fome fortaleceram as atribuições a eles, como o odor fétido de peixe, que pejorativamente era associado à cor dos mesmos. Aqueles imigrantes ficaram conhecidos como pele-de-peixe, que recentemente se tornou um easter-egg em filmes como “Luca” e “A Praia”.

A Itália é a nação de um povo miscigenado, não uma etnia. E já passou da hora do Brasil e o restante do mundo compreender isto. Bem como já estamos num ponto em que a pureza racial deveria ser uma mentalidade extinta por completo. Ou será que as pessoas se esqueceram que foi essa mentalidade que levou aos acontecimentos do holocausto? Ou será que os brasileiros caucasianos nunca se olharam no espelho e notaram que o tom de suas peles, quase nunca é tão claro, quanto o tom da pele de um caucasiano purista da velha Europa? O que é branco aqui, lá seria preto.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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BRITO, C. S. A dualidade que existe em muitos de nós. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/a-dualidade-existencial-de-muitos-de-nos/ Publicado em: 12 de jan. de 2022. Acessado em: [informar data].

Roberto Bettini

Fotógrafo especializado em corridas de ciclismo.

Com um acervo estimado de mais de 5 mil fotografias, Roberto Bettini atua no cenário competitivo do ciclismo desde 1975. Participou de várias competições importantes, como: o campeonato mundial de Montello, Tours da Itália, Paris Roubaix e Tours da Lombardia. É também editor da Sprint Cycling Magazine desde 2001.

Ciclistas pedalando no plano de fundo desfocado em uma rodovia rodeada por árvores. E no primeiro plano um grupo de caracóis.
Roberto Bettini

Seu olhar certeiro para os acontecimentos breves em corridas é destaque em seu trabalho. Em cada fotografia é possível perceber muito bem as expressões dos corredores e os movimentos que estão executando. As obras de Bettini são pausas peculiares de eventos que ocorrem em frenesi.

Fotografia em preto e branco da linha de chegada de uma corrida. O público ao lado assiste a corrida com atenção e o vencedor ergue os braços em comemoração ao cruzar a chegada.
Roberto Bettini
Ciclista pedalando em meio a um campo florido.
Roberto Bettini
ciclistas competindo numa pista nevada. Nos arredores da pista, sarapintada por árvores temperadas, alguns observadores assistem a competição.
Roberto Bettini
Ciclistas competindo numa pista sob um céu avermelhado e nublado.
Roberto Bettini

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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