Um olhar para o mal que há no bem

Como um animal se torna um símbolo

Lobo branco do ártico olhando para a câmera de cima de um tronco de árvore num cenário arbóreo e escuro.

Como um animal se torna um símbolo

O animismo explica a essência do pensamento de povos originários, compostos por pessoas que mantêm sua cultura, juízo de valores e crenças num mundo que se encaminha mais e mais fortemente para uma realidade de senso-comum fortalecido. Senso-comum que não é agora, e nem nunca foi antes, sinônimo de inteligência social, mas de uma arbitrariedade, que pode, e muitas vezes é, de fato, desinteligente.

 Lobo branco do ártico olhando para a câmera de cima de um tronco de árvore num cenário arbóreo e escuro.
Jef Wodniack

Para a cultura, a cor branca sempre esteve associada com a pureza, a dignidade, ou ao que é sagrado. É a cor que também representa a pureza. Para muitas culturas, e inclusive, para o senso-comum é o branco que melhor representa a bondade. Um paralelo com uma sociedade que por tanto tempo valoriza a pele clara de homens caucasianos.

Para a ciência, a cor branca é a junção das luzes de todas as outras cores. Assim como, em paralelo ao racismo, geralmente é o homem branco que é a voz representante de todas as outras etnias; falando por todos os grupos de pessoas o quanto eles devem se submeter à sua liderança.

Entretanto, a pele de muitos caucasianos não é branca. A cor real se aproxima muito mais de um tom rosado ou alaranjado muito claro. Nem mesmo a pele negra é verdadeiramente preta, e se aproxima muito mais do marrom. Entretanto, com as cores sendo associadas à características culturais como o sagrado e o profano, acabamos nos chamando, por senso-comum, de brancos e negros.

Para mim, a cor branca é a cor da injustiça. É a cor que tenta reger o caos que é a vida em sociedade e que tenta estabelecer padrões de harmonia irreais e inalcançáveis. É a cor da ignorância, do papel em branco, onde qualquer associação que se faça estará escrita em realidade. É a cor das sentenças de morte, por onde o espectro da luz vermelha respinga e goteja nas peles escuras, nos pêlos escuros. 

Na realidade, ao que concerne à cultura, lobos significam muitas coisas, entre elas a sabedoria. Para a ciência, o lobo do ártico é um animal que vive em ambientes gelados e se camufla para caçar com ajuda dos pêlos alvos na neve. Já para mim, esses animais são símbolos da verdadeira pureza, como é qualquer outro animal que consome do planeta apenas o necessário para sobreviver.

O lobo branco possui muitos paralelos com os homens num mundo moldado em tons de cinza, como certamente também possuem os lobos pretos. São o que enxergamos em nós mesmos. A culpa que atribuímos aos outros. São amor e ódio. O encontro de dois amantes e a traição de alguém. São yin e yang. Água e vinho. São harmonia e são caos. São a lealdade. A inocência e a culpa que cada um de nós carrega em seus olhos.

Como citar este artigo

BRITO, C. S. O mal que há no bem. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/um-olhar-para-o-mal-que-ha-no-bem/. Publicado em: 25 de abr. 2023. Acessado em: [informar data].

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