Fotografe todo dia: um percurso de aprendizagem¹

Uma série de conteúdos elaborados para desenvolver suas habilidades em relação aos princípios básicos da fotografia e às técnicas avançadas.

Uma série de conteúdos elaborados para desenvolver suas habilidades em relação aos princípios básicos da fotografia e às técnicas avançadas.
A automação dos equipamentos fotográficos promoveu o acesso tecnológico de um enorme número de pessoas à produção fotográfica. Se, por um lado, é verdade que para tirar fotos basta apontar para um alvo, apertar o botão de disparo da máquina e deixar que a câmera faça o resto. Por outro, também é verdade que para produzir fotografias que se destaquem no universo das imagens é preciso muito estudo, muita prática e um pouquinho de sorte. Afinal, a sorte só aparece para quem está preparado para aproveitá-la.

Tanto para produzir um registro espontâneo, quanto para produzir uma composição planejada, é necessário mobilizar um grande número de ferramentas conceituais e técnicas. Por isso, assim como um atleta, um desenhista ou um músico, o fotógrafo também precisa criar uma memória corporal que lhe auxilie na execução de uma série de movimentos sem que para isso seja necessário pensar na maneira como irá realizá-los.

Não se trata de fotografar de maneira automática, como se fosse um autômato. Pelo contrário, trata-se de desenvolver um conjunto de hábitos mentais que liberem o fotógrafo de pensar em como manejar o aparelho fotográfico e lhe permitam dedicar toda a sua atenção e intenção à cena que ele pretende registrar. Disso decorre que para se tornar uma boa fotógrafa ou um bom fotógrafo é preciso treino.
2 câmeras fotográficas, marca Olympus, modelo Trip 35.
Flávio Valle

Fotografe todo dia

Nessa perspectiva, pensando que poderíamos contribuir para a formação técnica de nossos leitores, desenvolvemos o Fotografe todo dia, um percurso de aprendizagem autodirigida elaborado para subsidiar o desenvolvimento de suas habilidades fotográficas básicas e avançadas. Este é um programa de estudos para a vida toda. Não importa quão habilidoso você seja, a prática regular das competências aqui reunidas contribuirá para consolidação das bases de sua atividade como fotógrafo.
Periodicamente, publicamos, aqui no blog do Cultura Fotográfica, conteúdos que abordam algum princípio básico da fotografia ou alguma técnica avançada. No Fotografe todo dia, organizamos esses conteúdos em unidades de aprendizagem, como câmera, objetiva, iluminação, composição, tempo, espaço, cor e outras tantas. Dessa maneira, diferentes áreas da fotografia poderão ser desenvolvidas de maneira sistematizada.

Composição

Enquadramento

Espaço e Tempo

Iluminação

Sugestões para o percurso

Tal como em uma viagem, em uma jornada de aprendizagem partimos daquilo que conhecemos para avançarmos em direção àquilo que desconhecemos. Neste deslocamento, expandimos nossos conhecimentos e desenvolvemos nossas habilidades.
 
Como um percurso de aprendizagem autodirigida, o Fotografe todo dia oferece diversos caminhos possíveis. Dessa maneira, reconhecemos sua autonomia: você é livre para percorrê-los como quiser e é responsável pelas trilhas que escolher cursar. Contudo, se nos permite, gostaríamos de apresentar algumas orientações que acreditamos que poderão ajudar você a seguir em sua trajetória.
Organize sua jornada em etapas. Escolha um dos temas listados acima e dedique-se a praticar apenas ele durante uma semana. Sugerimos que cada estágio tenha a duração de uma semana porque este ritmo nos parece tão desafiador quanto possível de ser mantido.
Para aproveitar melhor cada parte do caminho, é importante percorrê-lo com atenção, intenção e contemplatividade. Por isso, recomendamos a realização de 3 sessões de prática em cada uma das etapas de sua jornada. Dessa maneira, você terá oportunidade de conhecer o tema, de praticá-lo e de refletir sobre ele.
Para nós, parece que 30 minutos é a duração ideal de uma sessão de exercícios. Menos tempo pode não ser suficiente e mais pode ser cansativo. Se tiver condições, após a realização de cada sessão, dedique mais alguns minutos para refletir sobre sua prática e analisar as fotografias que foram produzidas.
Talvez, em um primeiro momento, você pense que alguns temas sejam muito simples ou que seu conhecimento acerca deles já esteja muito consolidado para você desejar praticá-los. De fato, dedicar-se ao exercício das técnicas mais complexas é uma excelente estratégia para dominá-las. Contudo, recomendamos que também pratique os assuntos mais simples, pois quanto mais fácil o exercício de uma técnica, mais desafiador será utilizá-la para produzir uma fotografia que se destaque das demais.
Lembre-se que fazer fotografias é diferente de tirar fotos². Por isso, para que o Fotografe todo dia se constitua como uma ferramenta útil em sua jornada de aprendizagem, acreditamos que é importante que você se esforce para que todas as fotografias produzidas em uma sessão expressem claramente a competência que está sendo praticada e apresente as seguintes características:
  • um ponto de interesse evidente;
  • uma boa nitidez, com enfoque adequado e sem vibrações indesejadas;
  • uma exposição correta;
  • uma boa composição, mesmo quando este não for o tema da sessão de prática.
Por fim, arquive as fotografias que você produzir em cada sessão de prática para poder observar seu progresso ao longo de sua jornada. Uma boa estratégia para consolidar o aprendizado de cada etapa do caminho é produzir algo a partir dele. Por isso, sugerimos que semanalmente você produza e compartilhe um pequeno álbum com as fotografias que melhor ilustrem o tema que você praticou. Se quiser, você pode marcar a gente no Instagram, nosso perfil é @cultura.fotografica.

¹ Esta publicação foi atualizada em 21 de maio de 2021.
² Para saber mais sobre a diferença entre fazer fotografias e tirar fotos, recomendamos a leitura do livro Como criar uma fotografia. Neste link, você poderá ler a resenha que escrevemos sobre o livro do fotógrafo e professor Mike Simmons.
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Edição e Apresentação

 Terminar de fazer as fotografias não significa que seu projeto já esteja pronto, veja o que vem depois.

Terminar de fazer as fotografias não significa que seu projeto já esteja pronto, veja o que vem depois.

Layout de fotos da fotorreportagem “Hands Across the Water: Sea-watch Tries to Save the Migrants Europe Ignores”, de Daniel Elter, publicada na “Al Jazeera America”.
Descrição: Sequência de fotografias coloridas. A primeira está acima das outras duas, é maior que as demais e retrata dois homens em um barco içando uma vela. A segunda retrata homens em um barco carregando um barril. A terceira, que está ao lado da segunda, retrata, através de uma janela do barco, homens examinando um mapa que está em cima de uma mesa.
A palavra edição pode se referir a diversos processos diferentes que levam a um mesmo objetivo, a finalização e apresentação do seu projeto. Entre eles estão, por exemplo, a escolha das fotos que integrarão o projeto, o tratamento das imagens para correção ou efeitos estéticos e a produção da apresentação do projeto, o que pode se referir a organização de um layout para uma publicação impressa a transformações das fotografias em um produto audiovisual, entre tantas outras formas de se apresentar um projeto. Cada projeto pode requerer tipos específicos de edições, mas é possível dizer que todo projeto passará por uma edição do fotógrafo (a escolha e edição das fotos) e pela edição do designer (a construção do layout), sendo algumas vezes o fotógrafo o encarregado de ambas. Mesmo se não for o encarregado da edição do designer, o fotógrafo deve estar consciente do que concerne a essa atividade para que a escolha das fotografias seja feita com clareza.
A apuração das imagens pelo fotógrafo pode seguir certos critérios como beleza, adequação ao tema ou à narrativa e praticidade, ou seja, a conveniência de certa foto dentro da apresentação, como quando uma foto é escolhida para preencher um espaço faltante ou fazer contraste com a foto anterior ou posterior. Sendo assim, para decidir quais fotos integrarão o projeto, o fotógrafo pode executar um processo análogo ao de peneirar. Primeiro se escolhe as fotos preferidas pelo visual e depois elimina entre essas as que não parecem fazer parte da narrativa. As demais podem ser classificadas de acordo com a necessidade do designer. Na dúvida entre duas fotografias, às vezes a mais bonita pode ser preterida por algum aspecto prático, como ser uma fotografia vertical quando na apresentação ficaria melhor uma horizontal.
Em momentos como esse, a escolha das fotografias e a produção da apresentação parecem ser uma única coisa, com a segunda ditando a primeira. A apresentação define, por exemplo, se as fotografias serão agrupadas por justaposição ou em sequência e cada maneira demanda o seu próprio processo para a apuração das imagens. É possível dizer que a “edição do designer” possui um grande peso dentro do projeto, pois as imagens são extremamente afetadas pelo modo como são apresentadas. É a apresentação um dos poucos recursos para ganhar controle sobre o modo que a leitura das imagens será feita.
É claro que o produto final pretendido terá maior ou menor participação nesse controle. Em um livro de fotografias, por exemplo, há a possibilidade de colocar várias fotografias por página, afetando umas às outras, e cada sequência pode ser lida como uma história à parte. Nesse caso, também é possível deixar uma fotografia em destaque colocando-a em um tamanho maior. Por outro lado, uma apresentação em slide pode ser limitante por manter todas as imagens do mesmo tamanho e em sequência, mas traz recursos de transições e a possibilidade de utilizar áudio, o que pode ser interessante.
Daniel Elter – Abertura da fotorreportagem “Hands Across the Water: Sea-watch Tries to Save the Migrants Europe Ignores”, publicada na “Al Jazeera America”. A fotografia traz todos os elementos presentes no tema da reportagem: os imigrantes e a ONG Sea-Watch.
Descrição: Fotografia colorida que mostra dois garotos em um cais observando um barco cuja lateral é pintada com as palavras “Sea-Watch”.
Para entender como a apresentação do projeto afeta o entendimento sobre ele, sugiro visitar a fotorreportagem “Hands Across the Water: Sea-watch Tries to Save the Migrants Europe Ignores”, de Daniel Elter, publicada na “Al Jazeera America”. A reportagem, que conta como a ONG alemã Sea-Watch trabalha resgatando barcos com refugiados no Mar Mediterrâneo, foi escrita em inglês, mas para o exercício de interpretação de imagem a seguir o conteúdo escrito não é importante.
A primeira observação acerca da escolha das fotografias e do design, pode ser feita já no título. Nem toda fotorreportagem opta por inserir o título na imagem de abertura, mas observe como é impactante e como a própria fotografia explica o título melhor do que as palavras. Também deve ser destacado como todos os elementos que a reportagem tratará estão presentes nessa fotografia, com os refugiados olhando para a embarcação da Sea-Watch. Em seguida, após o texto de introdução, há uma fotografia também puramente introdutória, a imagem do barco da Sea-Watch. O texto desenvolve-se explicando o trabalho da ONG no barco e as fotografias o acompanham ilustrando-o. Através de um layout com três fotos, a questão de tornar imagens dependentes, mas sem deixar ter uma em evidência, citado aqui no artigo, é posto em prática. A partir de então, a reportagem começa a apresentar as fotografias de destaque, evidenciadas também em relação ao texto, aparecendo em slides que cobrem a tela inteira. Esses slides interferem bastante na importância que o leitor dará a essas imagens, pois eles seguem o fluxo natural das leituras em páginas da web, passando de uma para outra conforme a página é rolada para baixo, mantendo o leitor em contato com essas fotografias por um tempo maior. As transições, por sua vez, introduzem lentamente a próxima imagem, estabelecendo uma conexão entre as duas, no momento em que se sobrepõem. É importante citar que a forma como os slides foram separados garante que fotografias que fazem parte do mesmo segmento narrativo fiquem juntas, seguindo a lógica das páginas seguidas e de mais de uma fotografia na mesma página.
Tais artifícios foram provavelmente elaborados para se encaixar com esse modelo de fotorreportagem, mas são fatores que ajudam a refletir sobre como um projeto fotográfico implica em transcender as noções sobre fotografias e aplicá-las a outros mecanismos. Ou seja, um verdadeiro exercício de criatividade!
Tem alguma fotorreportagem ou ensaio cuja apresentação te impactou? Divida ela conosco aqui nos comentários, explicando, como nos parágrafos acima, de que forma ela narra através da apresentação. Para saber sobre as nossas postagens, nos siga no Instagram.
Outras postagens da série sobre ensaios e projetos fotográficos:

Referências:

  • FOX, Anna, CARUANA, Natasha. Por trás da imagem. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
  • FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
  • SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.

Texto e Fotografia

 Será que uma fotografia bem feita suprime a necessidade de palavras?

 Será que uma fotografia bem feita suprime a necessidade de palavras?

Pedro Kok – The Baths Of Viareggio, Italy
Descrição: Fotografia colorida de uma fachada com um arco com um letreiro em que se pode ler “Nuova Italia”.

“Uma imagem vale mais que mil palavras”. A frase de Confúcio, difundida ao nível de ditado popular, definitivamente não foi criada para julgar a relação entre fotografias, que estavam bem longe de existir, e textos, mas se encaixa muito bem com o pensamento recorrente de que o bom fotógrafo faz com que suas fotografias falem por si, a ponto de ser até questão de orgulho para alguns fotógrafos que suas fotos não necessitem de legendas. A verdade é que as fotografias, quando comparadas às palavras, realmente comunicam muito mais rapidamente e têm o poder de comunicar ações e características que em um texto necessitariam de muitas e muitas palavras para serem explicados.

As imagens, todavia, possuem limites quanto a contextualização. Elas não contam, por exemplo, qual foi o acontecimento que gerou o momento retratado ou em que lugar e ocasião a ação se passa. As imagens comunicam um presente congelado no tempo, mas não fornecem explicações sobre ele e isso, às vezes, é limitador. Supondo que a sua narrativa tenha um objetivo político como alertar para violações de direitos humanos, por exemplo, as fotografias serão chocantes mesmo sem texto que as acompanhem, mas certamente a presença de dados sobre a frequência que tais violações ocorrem ou de declarações sobre as vítimas serão um reforço inestimável na construção de empatia do leitor e da capacidade informativa das suas fotografias. E, nesse caso, alcançar o leitor e espalhar conhecimento sobre o assunto é mais relevante do que a capacidade do fotógrafo de transmitir mensagens apenas através de imagens.

Outra questão a ser levada em consideração ao pensar a relação entre o texto, principalmente como legenda, e a fotografia é se existe o risco que a não contextualização da imagem faça com que outros valores sejam atribuídos a ela. Quando a filósofa Susan Sontag discute, em seu livro “Sobre a Fotografia”, os valores que os “moralistas” esperam das fotografias, ela descreve que retirar as legendas das fotos jornalísticas expostas em museus e galerias é o que as torna obras de arte puramente estéticas, como se a falta de contexto sobre o que está retratado retirasse o valor documental da foto. Entretanto, a própria autora certifica que “nenhuma legenda consegue restringir, ou fixar, de forma permanente, o significado de uma imagem” e que “mesmo uma legenda inteiramente acurada não passa de uma interpretação, necessariamente limitadora, da foto à qual está ligada. E a legenda é uma luva que se veste e se retira muito facilmente”.
Pedro Kok – The Baths Of Viareggio, Italy
Descrição: Fotografia de uma fachada com uma moldura com um letreiro onde se pode ler “Primavera”.
Conclui-se, então, que é preciso estabelecer uma relação de equilíbrio entre texto e fotografia, o que pode ser parcialmente afetado pelo caráter das fotografias ou do projeto que está sendo elaborado. Será que é necessário que o texto acompanhe as fotografias ou que as fotografias acompanhem o texto?
Para te ajudar a refletir sobre a questão foi escolhido o ensaio “The Baths Of Viareggio, Italy”. Pedro Kok, o autor das fotografias, é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e sua graduação influencia na escolha de suas fotografias que contemplam arquiteturas e espaços urbanos. Em “The Baths Of Viareggio, Itália”, Pedro retratou as casas de banho que existem na costa do Mar de Ligúria desde o começo do século XX, onde até o acesso à praia é pago. Com a ênfase na arquitetura e na tipografia das placas das casas de banho, toda informação sobre o lugar é conseguida em um texto muito curto e extremamente simples. As fotos, por sua vez, dispensam legenda.
O ensaio de Pedro faz um segundo uso de palavras, mas também muito significativo: as palavras aparecem na própria fotografia como o objeto retratado. A possibilidade de usar palavras como o próprio tema da fotografia abranda a noção existente de ruptura entre texto e imagem e fornece novas formas de transmitir a mensagem, mostrando que um projeto fotográfico não precisa ser fechado e dependente apenas das fotografias. Também é interessante considerar outros tipos de textos e palavras que não sejam apenas os escritos, como os sons que podem ser adicionados à apresentação virtual de um projeto.
Pedro Kok – The Baths Of Viareggio, Italy
Descrição: Fotografia colorida de uma fachada onde, ao fundo, por cima de uma cerca viva há um letreiro onde se pode ler “Narcisa”.
Apropriar-se das palavras é, de todas as maneiras, agregar conteúdo de forma positiva ao projeto fotográfico, seja para contextualizar, para reforçar um ideal ou para compor a apresentação. Pensando nisso, crie legendas para fotografias famosas sugerindo contextos políticos e artísticos diferentes do que o atual e comente aqui para discutirmos o valor das legendas.
Outras postagens da série sobre ensaios e projetos fotográficos:

Referências:

  • FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
  • SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.

Roteiro Fotográfico

 Em um Roteiro Fotográfico o fotógrafo planeja quais fotografias são essenciais para o seu projeto e quais as condições em que devem ser feitas.

Em um Roteiro Fotográfico o fotógrafo planeja quais fotografias são essenciais para o seu projeto e quais as condições em que devem ser feitas. 
Já falamos aqui sobre como o planejamento de um projeto fotográfico pode ajudar a definir como a sua história deve ser contada. Seguindo essa linha de raciocínio o roteiro fotográfico é a própria história, já que são as instruções de quais fotografias devem ser produzidas para que a narrativa faça sentido. Mesmo que pareça fazer parte do planejamento, para que o roteiro seja elaborado, questões como assunto, recorte e equipamento disponível já devem ter sido resolvidas.
Assim como o planejar, elaborar o roteiro é um processo pessoal e que depende também das singularidades do projeto em questão. Fica ao encargo do fotógrafo decidir se o roteiro será um simples guia ou instruções detalhadas do que deve ser realizado; relativo ao próprio projeto, porém, estão aspectos como a data e o horário que as fotografias serão feitas, de acordo com a disponibilidade das pessoas e do local fotografado e de como a luz daquele momento afetará a fotografia. Ou seja, não é possível saber o que será necessário no roteiro até que o projeto já esteja planejado.
Julio Bittencourt – Ramos – Ramos 06
Descrição: Fotografia colorida de um homem fazendo exercício de barras em uma praia.
Em alguns casos, tem-se a impressão de que apenas o mínimo planejamento é suficiente, como, por exemplo, nas ocasiões em que o conteúdo das fotografias dependem de reações momentâneas. Contudo, existem formas de se planejar para obter as fotografias mais espontâneas. Para isso, basta produzir o roteiro com base nas descobertas realizadas nas pesquisas. Se o projeto for sobre um lugar, por exemplo, pode-se tomar notas de quais momentos e espaços são mais frequentados, quais as principais atrações e o que caracteriza a cultura local e ir preparado para fazer fotos desses momentos, em vez de fotografar inadvertidamente.
Tome como exemplo o ensaio Ramos, do renomado fotógrafo Júlio Bittencourt, que retrata um dia normal no Piscinão de Ramos. Nele, a espontaneidade das fotografias não é sacrificada para mostrar aspectos relevantes da cultura local, que, apesar de serem fáceis, de perceber podem ser difíceis de serem captados por um fotógrafo que não tenha um conhecimento prévio do local. Assim, vemos fotografias de mulheres descolorindo os pelos do corpo, pessoas fazendo exercícios em barras e uma comidas que são populares na área.
Julio Bittencourt – Ramos – Ramos 51
Descrição: Fotografia colorida de um carrinho de pipoca.
O momento de produzir o roteiro é quando se tem a oportunidade de pensar na relevância dos detalhes e se é possível entender o uso das fotografias dentro do tema, ou seja, se elas se parecerão com partes de um todo. Às vezes é possível voltar atrás durante o processo, mas o ideal é que todas as adversidades sejam consideradas para que isso não ocorra. Por isso, quando fizer seu roteiro mantenha em mente que, sendo simples ou extremamente regrado, ele pode ser um imprescindível facilitador para a execução do seu projeto.
Para descobrir a sua própria maneira de fazer roteiro tente o seguinte exercício: reimagine um roteiro fotográfico para Ramos, utilizando uma abordagem diferente para o ensaio. Depois leia o seu próprio roteiro com uma visão crítica e pense em quais problemas poderiam surgir durante a sua execução. Refaça o roteiro e compartilhe com a gente aqui nos comentários ou no nosso instagram.
Outras postagens da série sobre ensaios e projetos fotográficos:

Referências:

  • FOX, Anna, CARUANA, Natasha. Por trás da imagem. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
  • FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
  • SIMMONS, Mike. Como Criar uma Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.
  • SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.

Planejamento e Pesquisa

 Ter uma ideia interessante e descobrir como desenvolvê-la são, às vezes, etapas mais importantes em um projeto fotográfico do que fotografar.

Ter uma ideia interessante e descobrir como desenvolvê-la são, às vezes, etapas mais importantes em um projeto fotográfico do que fotografar.

Pedro David – 360 Metros Quadrados – Libélula, 2012
Descrição: Fotografia em preto e branco de uma libélula em cima de um caderno.
Todo projeto começa com uma ideia. Essa noção pode parecer óbvia, mas o ato de idealizar antes de pôr em prática é tão naturalizado que perde a sua real importância diante da execução do projeto, arrastando para o esquecimento outras etapas que também concernem o momento de idealizar, como, por exemplo, pesquisar. Em um mundo saturado de fotografias, destinar um tempo para conceber a ideia do projeto fotográfico é essencial para evitar a repetição de um assunto ou de visões sobre um assunto que já foram abordadas à exaustão.
O autor de “A Narrativa Fotográfica”, Michael Freeman, sugere “encontrar um assunto que ninguém tenha usado (ou se lembre de ter usado); ou fazer uma foto que  mostre um assunto já utilizado mas de uma maneira que ninguém tenha feito antes” (p.55). É preciso ter em mente, porém, que nenhum assunto é completamente novo, o que não significa que para o público a que se destina seu projeto o assunto que deseja abordar não seja uma novidade. Estabelecer o objetivo do projeto, em termos de onde se deseja chegar com ele, portanto, pode ser um ponto de partida para decidir qual será o seu tema e como ele será abordado. Assim como um assunto inusual pode chamar a atenção, gerar identificação através do tema também é uma opção. Nesse caso, o fator de novidade vai depender apenas da interpretação do fotógrafo.
Pedro David – 360 Metros Quadrados – Torre, 2012
Descrição: Fotografia em preto e branco de blocos de brinquedo empilhados em cima da mesa formando um pirâmide. A parede no fundo da imagem está rabiscada.
O ensaio que ilustra este artigo é um exemplo de como uma abordagem inédita pode ser usada para tratar de um assunto simples e muito cotidiano. “360 Metros Quadrados”, do artista visual mineiro Pedro David, propõe mostrar os mundos possíveis dentro de um ambiente territorialmente limitado, como essa casa de 360 metros quadrados em um periferia brasileira. O autor atinge o seu objetivo enfatizando detalhes tão casuais que é surpreendente que se transformem em uma obra de arte com grande destaque estético. Dessa forma, o fotógrafo realizou um projeto que chama a atenção por sua própria acepção dos temas casa e espaço.
Tendo isso em vista, é importante entender que não é possível abordar um assunto em toda a sua dimensão e que um projeto sempre será um recorte. Estando sem ideias, tente, portanto, pensar em um assunto amplo e, em seguida, nos assuntos mais específicos que existem dentro dele. Por fim, verifique quais são mais prováveis de serem realizados com o seu tempo, dinheiro, equipamento e conhecimento técnico. Essas condições, aliás, devem ser levadas em consideração desde o início, afinal seria horrível perceber durante a execução que, dados os recursos disponíveis, não é possível pôr o seu plano em prática.
Tão crucial para um projeto quanto ter um assunto que se encaixe nas suas possibilidades e que seja atraente é conhecer sobre esse assunto. Pesquisar está, portanto, indissociavelmente atrelado a planejar. Alguns assuntos podem parecer universais, ou seja, assuntos que as pessoas supõem que existe uma única maneira de representar e que, por conseguinte, não parece relevante que sejam pesquisados. Entretanto, é nessa etapa que se descobre o que já foi abordado sobre o tema, o que, portanto, possibilita buscar novas interpretações. Além disso, enxergar o tema pelo ponto de vista alheio fará sua visão sobre ele transcender estereótipos culturais, especialmente quando mídias diferentes são consultadas, como livros de ficção, livros acadêmicos, filmes, etc.
Pedro David – 360 Metros Quadrados – Planisfério, 2012
Descrição: Fotografia em preto e branco de favos de mel com formato de continentes equilibrados no chão.
Se possível, planejar quais os equipamentos e técnicas serão utilizados não deve ser apenas uma questão de conveniência, mas um aspecto fundamental da narrativa. Em “360 metros quadrados”, por exemplo, a escolha da Polaroid 55 é mais um limitador do espaço, acentuando a ideia de um microuniverso em cada fotografia. O material, a técnica e a composição devem ser planejados como parte da narrativa, a maneira que a história será contada pode ser irremediavelmente afetada caso esses elementos sejam deixados de lado no planejamento.
Por último, uma etapa imprescindível para o começo de um projeto é o título, que deve ser curto e não precisa ser definitivo. Se necessário, escreva também um subtítulo que explique o que o título não deixou claro. Tome como exemplo o ensaio de Pedro David e como o seu título é literalmente o seu objeto de fotografia, enquanto o subtítulo o contextualiza: “Uma viagem minúscula em proporções geográficas, mas profunda em significados, dentro dos limites de um terreno residencial na periferia de uma grande cidade brasileira”.
O planejamento é muito pessoal e todos os componentes citados aqui como forma de auxiliar no processo podem ser utilizados na ordem que você desejar, o mais importante é manter o foco para não tratar de aspectos demais do assunto, tornando as fotografias desconexas. Porém, ao mesmo tempo, manter uma visão muito fechada da obra pode limitar o projeto. O ideal, portanto, é fazer projeções a partir das suas possibilidades. E por que não começar a treinar agora? Escolha um dos nossos posts do #fotografetododia e pense em um tema para conciliar com a técnica do post, anote como você transformaria a combinação em um ensaio fotográfico, dentro das suas possibilidades, é claro. Se quiser, compartilhe conosco aqui nos comentários.
Outras postagens da série sobre ensaios e projetos fotográficos:

Referências:

  • FOX, Anna, CARUANA, Natasha. Por trás da imagem. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
  • FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
  • SIMMONS, Mike. Como Criar uma Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.
  • SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
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Narrativas Fotográficas

Como contar histórias através das fotografias.

 Narrativa, de modo geral e amplo, implica a reunião de signos cujo sentido será afetado por um contexto histórico, social e cultural particular. Signo, por sua vez, dizemos de um elemento que estará representando outro. Uma operação matemática, por exemplo, é a reunião de signos (pois os números estarão representando quantidades), mas não possui significado particular, muito menos é afetada por um contexto histórico, social e cultural e, portanto, não configura uma narrativa. As imagens, porém, estão suscetíveis a essas nuances de interpretação. Basta pensar em como a forma de ler textos da esquerda para a direita e de cima para baixo afeta a nossa forma de interpretar imagens, de forma que aqueles acostumados a outro tipo de leitura de textos, como os japoneses, por exemplo, leriam imagens de outra maneira, expondo o aspecto cultural dessa interpretação espacial.
Christian Cravo – “Mariana” – Sem Nome
Narrativa, de modo geral e amplo, implica a reunião de signos cujo sentido será afetado por um contexto histórico, social e cultural particular. Signo, por sua vez, dizemos de um elemento que estará representando outro. Uma operação matemática, por exemplo, é a reunião de signos (pois os números estarão representando quantidades), mas não possui significado particular, muito menos é afetada por um contexto histórico, social e cultural e, portanto, não configura uma narrativa. As imagens, porém, estão suscetíveis a essas nuances de interpretação. Basta pensar em como a forma de ler textos da esquerda para a direita e de cima para baixo afeta a nossa forma de interpretar imagens, de forma que aqueles acostumados a outro tipo de leitura de textos, como os japoneses, por exemplo, leriam imagens de outra maneira, expondo o aspecto cultural dessa interpretação espacial.
Na fotografia, a ideia de narrativa é geralmente associada a projetos como ensaios fotográficos ou fotorreportagens, o que não quer dizer que não esteja presente em fotografias individuais. Aliás, se considerado o conceito de narrativa do parágrafo anterior, toda fotografia seria uma narrativa, mas é preciso destacar que nem todas as fotografias são criadas para terem um significado histórico, social e cultural particular e é exatamente essa tentativa de manipular a significação, ou seja, de propositalmente contar algo que marca a narrativa fotográfica.
A noção que parece ser a mais reforçada sobre as narrativas fotográficas é a presença de um começo, de um meio e de um fim. A proposta de uma rota temporal é fácil de  imaginar em ensaios e reportagens, em que um começo pode se tratar de fotografias que introduzem o espaço e os personagens, o meio pode ser o aprofundamento do que foi apresentado no começo e o fim pode ser um desfecho para o que se desenvolveu. Michael Freeman, autor de “A Narrativa Fotográfica”, acrescenta também a necessidade de um clímax, que seria um momento em que o desenvolvimento começa a aumentar e aumentar o ritmo até chegar no ponto alto da história, aquela fotografia mais impactante que prende a atenção, talvez contendo um problema a ser resolvido no encerramento.
Christian Cravo – Fotos do ensaio “Nos Jardins do Éden”
O ensaio “Nos Jardins do Éden”, de Christian Cravo, é um ótimo exemplo de um ensaio com um tema que pode ser disposto em ordem cronológica. Christian é um dos mais importantes nomes da fotografia brasileira contemporânea e “Nos Jardins do Éden”, evidencia esse prestígio. O ensaio retrata rituais de vodu no Haiti, um contexto em que o fotógrafo poderia documentar o ambiente, as preparações, o ritual em si (clímax) e o que acontece depois do ritual, apresentando as fotografias na ordem dos acontecimentos reais. Ou seja, é uma situação em que a narrativa já vem pronta. É preciso lembrar, entretanto, que o fotográfo impõe a sua visão à fotografia, portanto, mesmo que a narrativa venha pronta, ela nunca contará exatamente ou apenas o que aconteceu. A narrativa individual de cada fotografia de “Nos Jardins do Éden” conta também sobre a sujeição dos corpos à fé, além de passar uma mensagem de exotismo, sempre repetindo elementos como o fogo, a nudez e as galinhas, e de fascínio, nas luzes que emanam em feixes sobre as pessoas.
Construir uma narrativa em ordem cronológica é o meio mais fácil, mas não é a única maneira que existe de contar histórias por meio da fotografia. As narrativas podem ser cíclicas ou o antes e o depois de um acontecimento podem estar implícitos na fotografia. Um ensaio pode, também, não ter nenhuma relação temporal entre as fotografias, mas manter a coesão por compartilhar o mesmo tema ou um mesmo conceito visual. Já a continuidade entre elas pode ser criada pelo ritmo que a ordem escolhida de apresentação dessas fotografias e o destaque que a edição dá a cada uma delas. Até mesmo a falta de coesão, como colocar uma foto em preto e branco seguida de uma colorida, pode contribuir para estabelecer um ritmo narrativo. Um ensaio com fotografias de um mesmo objeto pode ter um clímax, por exemplo, se a forma que as fotografias foram feitas e dispostas no ensaio sugerirem uma acentuação do tema até uma foto de destaque, por exemplo.
Christian Cravo – Fotos do ensaio “Mariana”
As fotografias acima, também de Christian Cravo, são parte de um ensaio que reflete as consequências do rompimento da barragem de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, Minas Gerais, até agora o maior crime ambiental do Brasil. Ao contrário de seus outros ensaios, “Mariana” é colorido apenas para que o próprio monocromatismo do local esteja aparente. Assim, mesmo que as fotos não mostrem o momento do rompimento a cor predominante da lama nos remete ao que aconteceu, as colocando como parte da mesma história, e mesmo que não seja explícita a relação das famílias com o local antes e depois do crime, através de seus pertencentes inevitavelmente deixados para trás o ensaio narra a dor da perda de vidas deixadas em suspenso e de ter uma parte da sua vida inundada por lama.
Sugestão de exercício: procure ensaios fotográficos em revistas ou na internet e após analisar cada fotografia escreva quais são as características narrativas que se destacam nele. Tente responder a questões como: Que história esse ensaio conta? Que recursos o fotógrafo utilizou que me fazem reconhecer as fotografias como uma unidade? Como a composição das fotografias me leva a reconhecer o tema do ensaio? Deixe a suas conclusões aqui nos comentários e se quiser receber mais conteúdos como esse nos siga no instagram @d76_cultfoto.

Referências:

  • FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
  • SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
  • SQUIRRE, Corine. O que é narrativa? Civitas, Porto Alegre, v. 14, n. 2, p. 272-284, maio-ago. 2014.
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Cores Frias

Como as cores frias afetam a percepção de quem vê a fotografia e como elas podem ser usadas para criar certos efeitos?

A cor é um dos elementos mais importantes em uma fotografia. O uso e a combinação de tons pode afetar radicalmente a intenção e o efeito de uma fotografia para quem a vê. No círculo cromático, as cores frias, tons de azul, verde e roxo, estão em oposição ao vermelho, laranja e amarelo, cores quentes. As cores frias têm mais azul na composição, enquanto as quentes têm mais amarelo. 

Legenda: Círculo cromático. Fonte: Arty (2018)
Descrição: um circulo de cores dividido em duas partes, uma com as cores quentes e uma com as cores frias.

Estes tons mais frios transmitem uma sensação de melancolia e relaxamento, dependendo da forma como forem usados. Quantos mais “desbotado” o verde ou o azul forem, maior a sensação de relaxamento transmitido por eles. Se os tons estiverem muito saturados o efeito calmante se perde um pouco.

Mas por que essas cores tem o efeito de acalmar o observador? Segundo o livro Psicologia das Cores, de Eva Heller, o azul e o verde são muito associados ao céu e a natureza, elementos considerados “divinos” por algumas culturas, o que faz com que elas tenham esse efeito tranquilizante para várias pessoas. Este livro apresenta o resultado de uma pesquisa sobre cores e sentimentos, e um dos capítulos mostra que azul e verde foram as cores mais associadas aos sentimentos de harmonia, simpatia, amizade e confiança.

Legenda: Viaduto Santa Efigênia Visto a Partir do Vale do Anhangabaú. Walter Firmo, 1980.
Descrição: uma avenida movimentada em um horário que parece o entardecer, com o céu começando a escurecer. 

Walter Firmo é um fotógrafo brasileiro, muito conhecido por retratar a cultura negra e brasileira, tendo fotografado artistas como Cartola, Paulinho da Viola, Pixinguinha e Clementina de Jesus. Durante sua carreira passou a ser chamado de “mestre da cor”, justamente pelo uso interessante deste elemento em suas fotografias. 

Legenda: Santo Amaro da Purificação, Bahia. Walter Firmo, 2002.
Descrição: duas pessoas nuas em meio ao que parece ser um canavial. Ao fundo vemos uma pequena igreja. 

A foto acima tem poucas cores na sua composição. Azul no céu, verde na grama, branco na igreja ao fundo e marrom e preto na pele e no cabelo da mulher e o homem fotografados. A predominância do azul e do verde passam uma sensação de tranquilidade e os olhares dos modelos no horizonte dão a impressão de que eles estão pacientemente esperando algo ou apenas observando a natureza em um momento de contemplação.

Pensar o uso e a intenção da cor na fotografia é fundamental para criar fotos que façam o observador sentir algo enquanto ele observa. Além de observar as cores e as luzes do ambiente no momento de fotografar, também use aplicativos de edição e experimente diferentes tonalidades para as suas fotos. 

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Links, Referências e Créditos

 

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Profundidade de Campo

A profundidade de campo é a área antes e depois do plano focado que pode ser considerada em foco.

A profundidade de campo é um assunto importantíssimo na hora de fotografar, nessa postagem vamos analisar vários fatores relativos a ela.

Essa é a segunda publicação do Cultura Fotográfica sobre este assunto, então para melhor compreendimento vale a pena ler a primeira, na qual falamos sobre como aplicar o efeito de fundo desfocado configurando a lente para uma abertura máxima, com a maior distância focal possível e se aproximando o máximo possível do objeto. Agora vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto.

Em primeiro plano vemos um homem encostado em uma parede, com uma placa no pescoço. Mais ao fundo, mesmo estando desfocadas, vemos várias pessoas transitando.
Henri Cartier-Bresson, Desempregado em Hamburgo, Alemanha 1952-1953

A profundidade de campo é a área antes e depois do plano focado que pode ser considerada em foco. Pense que um plano focado de uma imagem é formada por milhares de pequenos pontos, e conforme a distância em relação a ele vai aumentando os pontos se tornam círculos, quando esses ficam muito grandes, temos o que chamamos de círculo de confusão, a partir daí a imagem está desfocada.

O círculo de confusão poderá variar de tamanho devido a vários fatores. O tamanho no qual a foto será exibida é um deles por isso uma foto que pareça desfocada na tela de um computador pode não parecer vista em um celular.

Entender bem esses conceitos ajuda na hora de decidir a configuração que vamos usar na hora de fotografar. No caso de paisagens, por exemplo, é ideal usar grandes profundidades de campo para que toda a cena esteja nítida, também é necessário pensar bem onde colocar o foco da câmera, se você focar em um objeto próximo, mesmo com uma grande profundidade de campo, é possível que os objetos mais distantes estejam desfocados e vice versa.

Já no caso de retratos, muitas vezes uma curta profundidade de campo pode ser a melhor escolha, mas cuidado, caso ela seja muito curta pode ser que uma boa parte do rosto de uma pessoa fique desfocado.

Henri Cartier-Bresson, famoso fotógrafo francês responsável por algumas das mais icônicas fotos da história e um dos fundadores da agência Magnum, que é considerada uma das mais importantes agências de fotografia da história, tem em seu portfólio várias imagens na qual podemos observar profundidades de campo muito bem calculadas.

Quatro mulheres vestindo roupas brancas que cobrem todo o corpo, estão paradas na encosta duma colina. Uma delas está com as mão erguidas em sinal de oração. Ao fundo podemos ver uma vale cheio de árvores e um rio, além da silhueta de uma cadeia de montanhas.
Henri Cartier-Bresson, Mulher muçulmana na encosta da colina Hari Parbal 1948

Ainda que nessa foto os objetos principais sejam as quatro mulheres, percebesse o uso de uma longa profundidade de campo. Mesmo não estando completamente nítidos, o vale  abaixo delas e o céu contribuem muito para a composição, se eles tivessem sido retratadas com um fundo completamente desfocado a foto não teria tanto impacto.

Na foto vemos dois homen, um deles está de costas e desfocada, já  o outro está em foco de frente para a câmera, ele está vestindo um grosso casaco de pele e fuma um cachimbo. Atrás podemos ver alguns lampiões de iluminação e o telhada de alguma construção.
Henri Cartier-Bresson Jean-Paul Sartre, Paris, 1946

Essa situação é diferente, o objeto principal da foto é o escritor Jean-Paul Sartre, mas há  um homem entre a câmera e ele. Utilizando uma pequena profundidade de campo Bresson consegue contornar esse fator,  mesmo não estando em primeiro plano Sartre é colocado como principal objeto da foto. 

Então na hora de sair para fotografar não se esqueça de prestar muita atenção  na profundidade de campo, ela é um fator importantíssimo na hora de destacar ou esconder detalhes. E vale lembrar que, assim como o círculo de confusão varia com o tamanho com que uma foto é impressa, a profundidade de campo também varia.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. #fotografetododia – Profundidade de Campo. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em <https://culturafotografica.com.br/fotografetododia-profundidade-de-campo/>. Publicado em: 18 de jan. de 2021. Acessado em: [informar data].

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Padrões

 Existem padrões por todo lado e ao fotografar não se deve ignorá-los. Mas, o que são padrões?

 Existem padrões por todo lado e ao fotografar não se deve ignorá-los. Mas, o que são padrões?

German Lorca – New York
Descrição: Fotografia em preto e branco. Varandas e colunas de uma construção se repetem formando um padrão. Na varanda de baixo e do meio há um relógio.

Padrão nada mais é do que toda repetição de um elemento. Pode ser a repetição natural da textura de um objeto, como os espinhos do abacaxi; uma repetição de cor ou de sequência de cores, como as listras na casca de uma melancia; ou uma repetição de formas, como as janelas de um prédio, etc. Pode ser também uma repetição proposital de um objeto comum, fazendo, às vezes, com que ele perca o significado isolado para se transformar em um resultado estético.

German Lorca – Paralelepípedo, 1970
Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra paralelepípedos amontoados.
Outra possibilidade encerrada na composição com padrões é a criação de um cenário composto por repetição de um único elemento que dará a impressão de uma estampa ou gravura.
German Lorca – 062 Coqueiros
Descrição: Fotografia colorida. Mostra uma floresta de coqueiros.
Na fotografia, a presença de um padrão costuma atrair a atenção, podendo ser usado em torno de algo que se deseja enfatizar. Por outro lado, algumas composições optam por enquadrar apenas o padrão e, como nas fotografias em que os padrões são propositalmente arranjados, torna o significado mais abstrato, já que o leitor olhará a combinação como um todo e não os elementos individualmente. Essa construção de homogeneidade favorecida pela repetição de elementos, leva a uma cenário em que para enfatizar um objeto dentro da composição, basta que esse objeto destoe dos demais em cor, forma, tamanho ou simplesmente por ser um objeto diferente dos outros. Na fotografia abaixo, por exemplo, a mulher poderia ter sido fotografada sozinha na areia vazia, mas a presença dos quiosques formando um padrão ao seu redor deixa a fotografia mais chamativa e a destaca.
German Lorca – 040 Praia Canoa Quebrada
Descrição: Fotografia colorida. Em uma praia vista de cima, diversos quiosques de teto de palha estão espalhados pela arei. Há uma mulher sentada entre eles.
As fotografias deste post são de German Lorca, fotógrafo paulista nascido em 1922. German começou a frequentar o Foto Cine Clube Bandeirante em 1948 e isso o influenciou a começar a fotografar profissionalmente em 1949. Encerrou a carreira em 2003, mas não deixou de fotografar por prazer. Algumas de suas fotos trabalham com múltiplas exposições e, por vezes, essa técnica é a responsável por produzir o padrão da fotografia. A fotografia abaixo, por exemplo, cria o padrão repetindo três vezes a cena.
Vamos treinar? Escolha um objeto e faça fotografias com padrões utilizando-os, desde fotografar os padrões presentes nele a transformá-lo em um padrão. Compartilhe sua foto marcando o nosso instagram (@d76_cultfoto).

Referências:

  • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.
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