The B-Side: Elsa Dorfman’s Portrait Photography

Documentário intimista explora a vida e os arquivos da fotógrafa conhecida por suas fotos com uma câmera Polaroid gigante. 

O documentário The B-Side: Elsa Dorfman’s Portrait Photography, lançado em 2017 e dirigido por Errol Morris, explora a vida e a carreira da fotógrafa Elsa Dorfman, que tinha 80 anos na época do documentário. Dorfman, que faleceu em maio de 2020, era muito conhecida por seus retratos tirados com uma Polaroid de formato 20×24. 
Legenda: pôster do filme, 2017
Descrição: uma mulher posa ao lado de uma câmera gigante antiga com um cabo na mão e sorrindo para frente. Na parte de cima está escrito o nome do documentário. 
Elsa Dorfman nasceu em 1937, em Cambridge. Começou a se interessar por fotografia com 28 anos e ganhou sua primeira câmera em 1967. Depois de um período vendendo as fotos em pontos turísticos, ela publicou o livro Elsa’s Housebook: A Woman’s Photojournal, marco da fotografia estadunidense e da arte feminista, composto por autorretratos e fotos de seus conhecidos, como o escritor Allen Ginsberg. 
Na década de 1980, Dorfman começou a trabalhar com o formato pelo qual ficou mais conhecida: as Polaroids 20×24. A câmera pesava mais de 100 quilos, o que obrigava a fotógrafa a trabalhar praticamente só em estúdio. Ela mesma definia sua forma de trabalho como algo “teatral”. 
O documentário acompanha Elsa Dorfman relembrando sua trajetória, os diferentes momentos de sua carreira e sua forma de pensar seu próprio trabalho. Enquanto isso, ela mexe em seus arquivos, mostrando várias de suas fotografias e contando as histórias por trás delas. 
Legenda: cena do documentário
Descrição: uma mulher segura uma foto Polaroid gigante mostrando um casal parado um ao lado do outro em um fundo branco. Ao fundo vemos alguns arquivos e fotos coladas nas paredes.
Além do formato de suas fotos, Dorfman também é reconhecida por fazer muitos retratos, principalmente de famílias e de pessoas conhecidas por ela. Esse tom intimista de seu trabalho é também o tom do documentário, que comenta muito pouco sobre outros assuntos da área de fotografia, mantendo o foco na “personagem” principal. 
A fotógrafa conta que sempre preferiu tirar fotos de pessoas alegres, e que não tinha intenção alguma de capturar a alma das pessoas, mas sim a superfície delas, em uma visão da fotografia muito diferente de fotógrafos considerados mais “sérios”.
Legenda: Elsa Dorfman, 1980. Elsa Dorfman/Courtesy Museum of Fine Arts, Boston.
Descrição: uma mulher e dois homens posam sorrindo para a câmera um ao lado do outro em frente a um fundo branco. Na parte de baixo vemos vários escritos de caneta na foto. 
Um dos momentos mais interessantes é quando Dorfman mostra as fotografias que foram “rejeitadas” por seus clientes, que ela apelidou de “lado-b”, e que quase sempre são resultados melhores do que as escolhidas. 
Disponível na Netflix, The B-Side: Elsa Dorfman’s Portrait Photography é um documentário sobre uma fotógrafa não muito conhecida pelo grande público, mas que deixou um legado, não só pelo formato com que trabalhava, mas também pela intenção com que fotografava. 
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Fernando Lemos

Fotógrafo surrealista radicado no Brasil, importante participante do movimento surrealista português durante a ditadura de Salazar.

José Fernandes de Lemos, conhecido como Fernando Lemos, nasceu em 1926 em Lisboa, Portugal. Entre 1938 e 1943 estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e ainda cursou pintura na Sociedade Nacional de Belas Artes. Quando tinha entre 18 e 19 anos se interessou em fotografia.
Legenda: retrato do Fernando Lemos. Mona Lisa Lins/UOL
Descrição: um homem olha para o alto como se estivesse conversando com alguém fora da câmera.
Quando começou a trabalhar como fotógrafo, Lemos participou do movimento surrealista português, sendo o único do grupo a usar a fotografia como forma de expressão artística. Nessa época ele conviveu com diversos intelectuais portugueses que participavam da resistência contra a ditadura salazarista, que durou de 1933 até 1974.
Algumas de suas fotografias mais famosas são desse período em Portugal, principalmente seus retratos de intelectuais e artistas surrealistas com quem convivia, como os pintores Marcelino Vespeira e Mário Cesariny. Ele também produziu autorretratos, como Eu, poeta, foto que faz alusão a um enforcamento.
Legenda: Eu, poeta. Fernando Lemos. 1949 – 1952
Descrição: foto em preto e branco de um homem deitado no chão com a cabeça coberta de fumaça. Ao redor vemos garrafas, cartas de baralho, entre outros objetos. 

Legenda: A Dança dos Animais, Fernando Lemos,1949.
Descrição: foto em preto e branco de dois homens, cada um segurando uma galinha. Um deles está com a galinha dentro da blusa, o outro aproxima o rosto do animal fazendo um expressão exagerada.
Em vários de seus retratos, Lemos utilizou a técnica da sobreposição, e em uma entrevista para Revista Zum, explicou que: “Quando fotografamos uma pessoa, não estamos fotografando uma coisa fixa, uma máscara. Afinal, numa fração de segundo tudo muda. Mudamos nossa expressão a todo instante, subitamente, várias vezes. Então o retrato deve ser múltiplo, para dar mais vida à imagem.”
Legenda: retrato de Nora Mitrani. Fernando Lemos. 1949 – 1952
Descrição: foto em preto e branco de uma mulher ajoelhada perto de uma parede, observando as mãos com uma expressão distante.
Em 1953, o fotógrafo se sentiu incomodado com o clima político de seu país e veio para o Brasil, onde se radicou e passou a viver em São Paulo. Ele trabalhou como escritor, ilustrador, editor, designer e até professor de artes gráficas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP.
Fernando Lemos atuou em diversas áreas artísticas. a fotografia criou obras impactantes e simbólicas e que também são registros de um período politicamente conturbado, ainda que intelectual e artisticamente rico, em Portugal. 
Legenda: Intimidade dos Armazéns do Chiado. Fernando Lemos. 1949 – 1952
Descrição: foto em preto e branco de um lugar desarrumado. Vemos uma mesa, com objetos diversos espalhados e uma cabeça de manequim que encara a câmera. Em cima vemos braços de manequim pendurados. 
Legenda: A Lavagem Cerebral. Fernando Lemos. 1949.
Descrição: foto em preto e branco de um homem que encara a câmera com o olhar vago enquanto fuma um cachimbo. Enquanto isso, quatro mãos bagunçam o cabelo dele.
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Cores Frias

Como as cores frias afetam a percepção de quem vê a fotografia e como elas podem ser usadas para criar certos efeitos?

A cor é um dos elementos mais importantes em uma fotografia. O uso e a combinação de tons pode afetar radicalmente a intenção e o efeito de uma fotografia para quem a vê. No círculo cromático, as cores frias, tons de azul, verde e roxo, estão em oposição ao vermelho, laranja e amarelo, cores quentes. As cores frias têm mais azul na composição, enquanto as quentes têm mais amarelo. 

Legenda: Círculo cromático. Fonte: Arty (2018)
Descrição: um circulo de cores dividido em duas partes, uma com as cores quentes e uma com as cores frias.

Estes tons mais frios transmitem uma sensação de melancolia e relaxamento, dependendo da forma como forem usados. Quantos mais “desbotado” o verde ou o azul forem, maior a sensação de relaxamento transmitido por eles. Se os tons estiverem muito saturados o efeito calmante se perde um pouco.

Mas por que essas cores tem o efeito de acalmar o observador? Segundo o livro Psicologia das Cores, de Eva Heller, o azul e o verde são muito associados ao céu e a natureza, elementos considerados “divinos” por algumas culturas, o que faz com que elas tenham esse efeito tranquilizante para várias pessoas. Este livro apresenta o resultado de uma pesquisa sobre cores e sentimentos, e um dos capítulos mostra que azul e verde foram as cores mais associadas aos sentimentos de harmonia, simpatia, amizade e confiança.

Legenda: Viaduto Santa Efigênia Visto a Partir do Vale do Anhangabaú. Walter Firmo, 1980.
Descrição: uma avenida movimentada em um horário que parece o entardecer, com o céu começando a escurecer. 

Walter Firmo é um fotógrafo brasileiro, muito conhecido por retratar a cultura negra e brasileira, tendo fotografado artistas como Cartola, Paulinho da Viola, Pixinguinha e Clementina de Jesus. Durante sua carreira passou a ser chamado de “mestre da cor”, justamente pelo uso interessante deste elemento em suas fotografias. 

Legenda: Santo Amaro da Purificação, Bahia. Walter Firmo, 2002.
Descrição: duas pessoas nuas em meio ao que parece ser um canavial. Ao fundo vemos uma pequena igreja. 

A foto acima tem poucas cores na sua composição. Azul no céu, verde na grama, branco na igreja ao fundo e marrom e preto na pele e no cabelo da mulher e o homem fotografados. A predominância do azul e do verde passam uma sensação de tranquilidade e os olhares dos modelos no horizonte dão a impressão de que eles estão pacientemente esperando algo ou apenas observando a natureza em um momento de contemplação.

Pensar o uso e a intenção da cor na fotografia é fundamental para criar fotos que façam o observador sentir algo enquanto ele observa. Além de observar as cores e as luzes do ambiente no momento de fotografar, também use aplicativos de edição e experimente diferentes tonalidades para as suas fotos. 

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Revista Zum

Uma revista de fotografia que traz reflexões críticas, além de diversas entrevistas com fotógrafos muito interessantes. 

A revista Zum é uma revista de fotografia que se propõe a apresentar uma reflexão crítica do assunto, “entrecruzando a fotografia com as áreas da literatura, do cinema e de outras formas de expressão artística” (PEREIRA, 2018). Criada em outubro de 2011 pelo Instituto Moreira Salles (IMS), dedicado à divulgação de arte, fotografia e literatura nacionais, a revista semestral já tem 18 edições publicadas. 
Legenda: capa da revista Zum edição #18
Descrição: colagem de várias fotos de pessoas e de paisagens naturais com o nome da revista escrito na parte superior esquerda.
Ela traz diversos artigos, ensaios fotográficos e entrevistas com fotógrafos, grande parte deles também publicados no site da revista, podendo ser lidos a vontade, embora a experiência de ler a revista como um todo seja bem mais interessante, devido ao design do veículo que destaca muitos as fotografias.
A revista sempre traz entrevistas e análises muito bem escritas, que não cansam o leitor e te incitam a pesquisar cada vez mais sobre fotógrafos e técnicas da área. Inclusive, algumas entrevistas da revista já foram usadas de base em textos do blog, como as galerias de Bernd e Hilla Becher e de Cristina de Middel. 
A Zum pode ser comprada em versão impressa na loja online do Instituto Moreira Salles, com faixa de preço variando entre 45 e 55 reais. Devido a pandemia, a 18º edição também foi publicada digitalmente e distribuída de forma gratuita no site. A leitura online é muito prática e tem até um efeito de passar a página como em uma revista física.
Legenda: print da tela do computador mostrando a edição online da revista.
Descrição: revista aberta mostrando uma fotografia forma por colagem. 
A Revista Zum traz um conteúdo intrigante e acessível ao mesmo tempo, não só por estar disponível para a leitura em um site, mas também por ter uma linguagem compreensível mesmo para os mais leigos no assunto. Se você se interessa por fotografia e quer aumentar seu repertório, principalmente de fotógrafos e fotógrafas, é uma leitura fundamental. 
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Cristina de Middel

 

Cristina de Middel questiona a relação da verdade com a fotografia em seus projetos documentais que misturam realidade e ficção.

Cristina de Middel nasceu em 1975 na Espanha e estudou fotografia na Universidade de Oklahoma nos EUA e arte na Universidade Politécnica de Valência na Espanha. Por muitos anos trabalhou como fotojornalista, mas em 2012 publicou o livro “Afronautas”, no qual explora um estilo menos realista de contar os fatos. Desde então ela mistura projetos documentais, em trabalhos para ONGs e projetos mais pessoais.
Legenda: Cristina de Middel em Londre. Ione Saizar (2013).
Descrição: uma mulher em frente a uma parede onde vemos vários quadros com fotografias.
O livro “Afronautas”, um dos primeiros projetos mais experimentais da fotógrafa, reúne uma série de fotografias contando a história de um programa espacial na Zâmbia nos anos sessenta, desafiando as representações tradicionais do continente africano. A obra teve grande repercussão e chegou a ser indicado ao renomado prêmio de fotografia Deutsche Börse em 2013.
Em seus projetos seguintes, Middel continuou misturando a linguagem mais artística com um propósito documental, até mesmo dentro de um único projeto, sendo um exemplo o seu primeiro trabalho no Brasil: o livro “Sharkification”. Publicado em 2016, o livro registrou o cotidiano de favelas recém-pacificadas do Rio de Janeiro como se fosse um ambiente aquático. Peixes e tubarões aparecem como figuras metafóricas, que representam a população daqueles locais convivendo com as unidades de polícia pacificadoras.
A fotógrafa também fez outros trabalhos no Brasil. Foi no nosso país que ela começou a série “Clube dos Cavalheiros”, mais realista e documental, uma série de fotografias de clientes de prostitutas. Na entrevista com a revista Zum, Middel explica a proposta: mostrar o lado da prostituição que geralmente fica oculta nos registros.
Também foi no Brasil que ela conheceu o parceiro Bruno Moraes, com quem elaborou um de seus projetos pessoais mais interessantes: a série Exu. A série de fotografias conta a jornada de Exu, um espírito que representa transformação, e suas diferentes representações passando por Benim, Cuba, Brasil e Haiti, retratando espiritualidade de forma poética e quase surreal, mas claramente contando uma história.
Cristina de Middel é uma fotógrafa muito interessante justamente por fugir das linguagens convencionais, explorando os limites entre ficção e fato em seus projetos. Ela tem vários outros trabalhos cativantes, que podem ser conferidos em seu site, que também tem uma estética diferente da maioria.

Confira alguns trabalhos da fotógrafa:

Legenda: de série Clube de Cavalheiros, Cristina de Middel.
Descrição: um homem encosta em um espelho manchado em um ambiente que remete a um quarto simples.

Legenda: da série Exu, Cristina de Middel e Bruno Morais (Brasil, 2016).
Descrição: vemos um homem de terno branco e chapéu tampando o rosto saindo do mar no Rio de Janeiro.

Legenda: da série Exu, Cristina de Middel e Bruno Morais (Benim, 2016).
Descrição: vemos uma pessoa de costas segurando um pano vermelho sendo soprado pelo vento na praia.
Legenda: da série Afronautas, Cristina de Middel (2011).
Descrição: um homem com um traje que remete a um astronauta, porém com materiais mais caseiros. O capacete está aberto e o cabelo cacheado tampa os olhos da pessoa. Ao fundo vemos um campo e um muro que parece cercar um lixão.

Legenda: do livro Sharkification  (2016), Cristina de Middel
Descrição: colagem com um menino sem camisa correndo por uma rua com um filtro azulado e um tubarão passando na frente.

Legenda: da série Afronautas, Cristina de Middel (2011)
Descrição: um homem com um traje de astronauta colorido e estampado. 

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Formas geométricas

Prestar atenção nas formas geométricas ao seu redor para compor uma foto pode render registros com uma estética muito interessante.

Existem vários elementos que você pode explorar na composição das suas fotos para atrair o olhar, como cor e textura. Quadrados, círculos e triângulos podem ser enxergados facilmente em janelas, portas e também podem ser criadas, por exemplo, com o jogo de luz e sombra. Essas formas geométricas são um elemento simples e podem te ajudar a criar fotos com uma estética diferente, por mais de uma razão.
Elas passam a sensação de uma fotografia calculada e organizada, justamente por serem muito reconhecíveis. Dependendo de como você as posiciona, formas geométricas também podem criar uma simetria na fotografia, que pode gerar um estranhamento e, consequentemente, um interesse de quem vê. E caso você encontre diversas formas iguais, como, por exemplo as várias janelas de um prédio, pode ser criado um padrão na sua foto.
Embora sejam dicas simples, o resultado pode ser fotos esteticamente atraentes e que fogem de um lugar-comum. O filme “Grande Hotel Budapeste” é um exemplo que usa muitas formas geométricas e simetria perfeita em seus enquadramentos, o que o faz ter um visual particular e muito chamativo.
Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
Descrição: foto em preto de branco do que parece ser uma ponte, com uma rua centralidade e estruturas de ferro dos dois lados. Identificamos na arquitetura formas de retângulos e um meio círculo. 
Kai Ziehl é um fotógrafo alemão que explora o ambiente urbano em fotografias em preto e branco, realçando a arquitetura desses locais. Como dito em sua biografia do Instagram, a fotografia de Ziehl transforma a frieza da paisagem urbana em algo significativo e expressivo. Suas fotografias quase sempre realçam formas geométricas na composição.
Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
Descrição: foto em preto e branco de um lugar em que a parede do fundo é de vidro, e através dela vemos alguns prédios e plantas na entrada. Também há uma pessoas em frente a essa parece, de costas para a câmera. Identificamos quadrados e retângulos na composição.
A foto acima é um exemplo de como usar formas geométricas cria uma estética atraente. O padrão quadrado das janelas chama o olhar e ajudou criar uma simetria quase perfeita, quebrada apenas pela presença de uma mulher e seu reflexo à esquerda, o que também ajuda a destacar essa pessoa. Esses elementos fizeram com que a foto tenha uma aparência quase abstrata, mesmo que o objeto fotografado seja simples e até banal.
Explore as formas geométricas ao fotografar e comente sua experiência conosco. Se você gostou do nosso conteúdo nos siga no Instagram e assine a newsletter para receber uma seleção de textos temática em seu email todo mês.

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Numa janela do edifício Prestes Maia 911

 

Em um de seus ensaios mais premiados, Bittencourt nos apresenta o cotidiano de pessoas marginalizadas na cidade de São Paulo.

Julio Bittencourt é um fotógrafo brasileiro que nasceu em 1980, na cidade de São Paulo. Como fotojornalista, teve trabalhos que apareceram em revistas e jornais como The Guardian e The New Yorker. Ele também publicou três livros: Ramos, Dead Sea e, o projeto que abordaremos nesta postagem, Numa Janela do Edifício Prestes Maia 911.
Legenda: Retrato de Julio Bittencourt, Nereu Jr. (2011)
Descrição: retrato do fotógrafo sobre o qual o texto fala, sorrindo para a câmera.
O edifício Prestes Maia era um dos muitos imóveis vazios na cidade de São Paulo. Antiga sede da Companhia Nacional de Tecidos, com diversos problemas estruturais, o prédio foi ocupado por movimentos sociais de luta por moradia, chegando a abrigar mais de 400 famílias.
Entre 2005 e 2008 o fotógrafo registrou diversos moradores do Edifício Prestes Maia através de suas janelas, em cenas cotidianas ou em momentos de intimidade. Essas fotos foram reunidas no livro Numa janela do Edifício Prestes Maia 911 publicado no Brasil em 2008 pela editora DBA.
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: vemos através de uma janela um casal encarando a câmera, e ao lado um beliche com uma criança deitada.
O interesse do fotógrafo por janelas já vinha desde a infância, ao observar as pessoas do prédio onde vivia se comunicando pelas janelas. As fotografias mostram a relação que essas pessoas criam com o seu entorno. Em algumas fotos vemos vasos de flor que elas colocam para decorar a janela. Em outras vemos atitudes cotidianas, como um homem que aparece sem camisa, como se tivesse acabado de acordar, ou então vemos a relação entre os moradores, como na foto em que um homem abraça uma mulher grávida, mostrando uma relação de carinho, de afetuosidade.
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: através da janela vemos um homem abraçando a barriga de uma mulher grávida em um gesto de carinho.
Embora a descrição possa dar a entender isso, o projeto não passa uma sensação voyeurística, de espiar a vida alheia por prazer, mas de interesse genuíno pelas pessoas e pelas relações entre elas e o local em que vivem. As fotos misturam a delicadeza e a simplicidade do cotidiano e da vida dos moradores com a crueza e a falta de estrutura do ambiente em que elas vivem.
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: uma mulher joga em plantas que estão em baixo da janela.
É um projeto fascinante, combinando fotos lindas de um ponto de vista estético, com uma temática muito importante, a precariedade dos edifícios invadidos devido à falta de moradia nos grandes centros urbanos, nos fazendo refletir sobre a vida de pessoas desabrigadas nas grandes metrópoles. 
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: um homem sem camisa aparece na janela abrindo a cortina, como se tivesse acabado de acordar.
Além desse livro, Julio Bittencourt tem várias séries interessantes, como a série Tokyo Subway, fotos de um metrô japonês. Para ver mais, confira o site do fotógrafo aqui.
Já conferiu este projeto? Comenta aqui embaixo o que você achou. E para acessar mais conteúdos sobre fotografia cadastre-se na nossa newsletter e receba uma seleção temática de textos do blog todo mês!

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Diante da dor dos outros

 

Sontag analisa imagens da guerra, desde as pinturas de Goya até fotos do atentado do 11 de setembro, refletindo e criticando nossa relação com elas.

Susan Sontag foi uma importante intelectual e escritora norte-americana. Cursou filosofia na Universidade de Chicago e fez pós-graduação na Universidade de Harvard, além de ter estudado literatura e teologia. Defensora dos direitos humanos, foi presidente do American Center of PEN (1987-1989), organização de escritores que lutavam pela liberdade de expressão, onde liderou diversas campanhas a favor de autores presos ou perseguidos. 
Legenda:Susan Sontag em 1993, Alen Macweeney/Corbis/Getty Images
Descrição: uma mulher encara a câmera enquanto se encosta no que parece ser uma porta.
Sontag publicou diversos romances, ensaios críticos e peças de teatro. Nos últimos anos de sua vida foi uma crítica do governo de George W. Bush e da Guerra do Iraque, o que pode ser percebido em seu último livro publicado em vida: Diante da dor dos outros (2003). Editado no Brasil pela Companhia das Letras, este livro retoma um dos pontos abordados pela autora em Sobre Fotografia, o de que o impacto das imagens violentas de guerra já teria diminuído por causa de seu uso constante pela mídia. 
Em Diante da dor dos outros, a ensaísta analisa diversas imagens violentas desde os quadros de Goya da guerra até os registros do atentado do 11 de setembro, passando pelas fotografias dos campos de concentração nazistas refletindo sobre questões como o fato de fotos de guerra terem sido encenadas faz com que elas percam sua força para o “público” ou se a divulgação dessas imagens  em revistas e jornais podem fazer com que elas se tornem banais, entre muitas outras. Cada capítulo do livro rende um debate.
Legenda: capa do livro, Companhia das Letras
Descrição: uma ilustração de um homem enforcado em uma árvore enquanto outro homem o encara. Na frente estão o título do livro, o nome da autora e da editora.
Um dos momentos mais interessantes do livro é quando a escritora condena a constante afirmação do senso comum de que por causa da mídia, a guerra se tornou um espetáculo. Ela classifica a afirmação como provinciana, já que partiria apenas de um grupo seleto de pessoas que jamais vivenciou a dor e a violência, a não ser através da tv e dos jornais.
Eu já havia lido e escrito sobre um livro de Sontag aqui para o blog, e como havia dito naquele post, fiquei muito intrigada para conhecer mais obras da autora. E posso dizer que essa segunda leitura não decepcionou, e por abordar um tema tão complexo como nossa relação com imagens de violência, conseguiu ser ainda mais engajante que o Sobre Fotografia, outro livro incrível.  
Mesmo tendo falecido há mais de uma década atrás, em 2004, Susan Sontag continua uma autora extremamente atual, trazendo reflexões não só sobre fotografia, mas sobre a mídia, o comportamento humano e a forma como retratamos a guerra dependendo de onde ela ocorre. Leitura indispensável.
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Silhuetas

 

O uso das silhuetas pode incrementar suas fotos e dar a elas um senso de mistério, como iremos ver em algumas fotografias de René Burri.

Silhuetas são o contorno de um objeto posicionado contra uma fonte de luz clara, e que nos permitem identificar esse objeto, ainda que não possamos ver sua cor e textura. Esse elemento costuma trazer um senso de mistério e uma estética muito bonita para as fotos, sendo muito usado inclusive em fotografia de moda, como forma de realçar o corpo dos modelos.
Legenda: São Paulo, Brasil. Rene Burri, 1960 (Magnum Photos)
Descrição: vemos de um ângulo de cima quatro pessoas que caminham no terraço de um prédio no que parece ser uma metrópole. 
Para criar uma silhueta na foto, basta posicionar o seu objeto entre a fonte de luz e a sua câmera, de forma que a parte que você irá fotografar não seja iluminada diretamente. Mas não é só isso. Para que a silhueta continue escura na foto o fotômetro precisa mostrar uma leitura negativa, -2 ou menor (utilizando o sistema de medição pontual). 
A nitidez do contorno da silhueta depende do tipo de luz: com uma luz dura você terá uma borda mais evidente e com uma luz suave os contornos ficarão mais imprecisos. Para saber mais sobre a diferença entre luz dura e luz suave leia esse texto do blog. Dependendo do objeto, uma bicicleta por exemplo, é interessante colocá-lo de perfil para facilitar a identificação. Geralmente o pôr e o nascer do sol fornecem uma luz favorável para essas fotos.
Um exemplo de fotógrafo que usava muitas silhuetas era René Burri. Nascido em Zurique, Suíça, trabalhou como fotojornalista, percorrendo o mundo e registrando diversos momentos importantes da segunda metade do século XX, como a Guerra do Vietnã e os protestos da Praça Celestial na China. 
A foto abaixo foi retirada em um centro de treinamento militar em Chicago em 1971. Os helicópteros no fundo, a arma que o homem da foto segura e o capacete que ele usa passam a sensação de que algo muito violento pode estar acontecendo. O fato de vermos apenas o contorno do soldado traz um mistério para a fotografia. No site do museu londrino Tate, é dito que “a iluminação transforma o soldado em um instrumento sem rosto da guerra como os helicópteros atrás dele” (tradução livre). Essa frase define muito bem como o uso da silhueta nessa foto deixa de ser um elemento puramente estético, e ganha significado.
Legenda: Chicago, Illinois, USA. Rene Burri, 1971
Descrição: vemos a silhueta do que parece ser um soldado, pois ele está usando capacete militar e carrega uma arma nas costas. No céu atrás do sujeito vemos diversos helicópteros, o que reforça o contexto militar da foto.
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