Roteiro Fotográfico

 Em um Roteiro Fotográfico o fotógrafo planeja quais fotografias são essenciais para o seu projeto e quais as condições em que devem ser feitas.

Em um Roteiro Fotográfico o fotógrafo planeja quais fotografias são essenciais para o seu projeto e quais as condições em que devem ser feitas. 
Já falamos aqui sobre como o planejamento de um projeto fotográfico pode ajudar a definir como a sua história deve ser contada. Seguindo essa linha de raciocínio o roteiro fotográfico é a própria história, já que são as instruções de quais fotografias devem ser produzidas para que a narrativa faça sentido. Mesmo que pareça fazer parte do planejamento, para que o roteiro seja elaborado, questões como assunto, recorte e equipamento disponível já devem ter sido resolvidas.
Assim como o planejar, elaborar o roteiro é um processo pessoal e que depende também das singularidades do projeto em questão. Fica ao encargo do fotógrafo decidir se o roteiro será um simples guia ou instruções detalhadas do que deve ser realizado; relativo ao próprio projeto, porém, estão aspectos como a data e o horário que as fotografias serão feitas, de acordo com a disponibilidade das pessoas e do local fotografado e de como a luz daquele momento afetará a fotografia. Ou seja, não é possível saber o que será necessário no roteiro até que o projeto já esteja planejado.
Julio Bittencourt – Ramos – Ramos 06
Descrição: Fotografia colorida de um homem fazendo exercício de barras em uma praia.
Em alguns casos, tem-se a impressão de que apenas o mínimo planejamento é suficiente, como, por exemplo, nas ocasiões em que o conteúdo das fotografias dependem de reações momentâneas. Contudo, existem formas de se planejar para obter as fotografias mais espontâneas. Para isso, basta produzir o roteiro com base nas descobertas realizadas nas pesquisas. Se o projeto for sobre um lugar, por exemplo, pode-se tomar notas de quais momentos e espaços são mais frequentados, quais as principais atrações e o que caracteriza a cultura local e ir preparado para fazer fotos desses momentos, em vez de fotografar inadvertidamente.
Tome como exemplo o ensaio Ramos, do renomado fotógrafo Júlio Bittencourt, que retrata um dia normal no Piscinão de Ramos. Nele, a espontaneidade das fotografias não é sacrificada para mostrar aspectos relevantes da cultura local, que, apesar de serem fáceis, de perceber podem ser difíceis de serem captados por um fotógrafo que não tenha um conhecimento prévio do local. Assim, vemos fotografias de mulheres descolorindo os pelos do corpo, pessoas fazendo exercícios em barras e uma comidas que são populares na área.
Julio Bittencourt – Ramos – Ramos 51
Descrição: Fotografia colorida de um carrinho de pipoca.
O momento de produzir o roteiro é quando se tem a oportunidade de pensar na relevância dos detalhes e se é possível entender o uso das fotografias dentro do tema, ou seja, se elas se parecerão com partes de um todo. Às vezes é possível voltar atrás durante o processo, mas o ideal é que todas as adversidades sejam consideradas para que isso não ocorra. Por isso, quando fizer seu roteiro mantenha em mente que, sendo simples ou extremamente regrado, ele pode ser um imprescindível facilitador para a execução do seu projeto.
Para descobrir a sua própria maneira de fazer roteiro tente o seguinte exercício: reimagine um roteiro fotográfico para Ramos, utilizando uma abordagem diferente para o ensaio. Depois leia o seu próprio roteiro com uma visão crítica e pense em quais problemas poderiam surgir durante a sua execução. Refaça o roteiro e compartilhe com a gente aqui nos comentários ou no nosso instagram.
Outras postagens da série sobre ensaios e projetos fotográficos:

Referências:

  • FOX, Anna, CARUANA, Natasha. Por trás da imagem. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
  • FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
  • SIMMONS, Mike. Como Criar uma Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.
  • SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.

Numa janela do edifício Prestes Maia 911

 

Em um de seus ensaios mais premiados, Bittencourt nos apresenta o cotidiano de pessoas marginalizadas na cidade de São Paulo.

Julio Bittencourt é um fotógrafo brasileiro que nasceu em 1980, na cidade de São Paulo. Como fotojornalista, teve trabalhos que apareceram em revistas e jornais como The Guardian e The New Yorker. Ele também publicou três livros: Ramos, Dead Sea e, o projeto que abordaremos nesta postagem, Numa Janela do Edifício Prestes Maia 911.
Legenda: Retrato de Julio Bittencourt, Nereu Jr. (2011)
Descrição: retrato do fotógrafo sobre o qual o texto fala, sorrindo para a câmera.
O edifício Prestes Maia era um dos muitos imóveis vazios na cidade de São Paulo. Antiga sede da Companhia Nacional de Tecidos, com diversos problemas estruturais, o prédio foi ocupado por movimentos sociais de luta por moradia, chegando a abrigar mais de 400 famílias.
Entre 2005 e 2008 o fotógrafo registrou diversos moradores do Edifício Prestes Maia através de suas janelas, em cenas cotidianas ou em momentos de intimidade. Essas fotos foram reunidas no livro Numa janela do Edifício Prestes Maia 911 publicado no Brasil em 2008 pela editora DBA.
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: vemos através de uma janela um casal encarando a câmera, e ao lado um beliche com uma criança deitada.
O interesse do fotógrafo por janelas já vinha desde a infância, ao observar as pessoas do prédio onde vivia se comunicando pelas janelas. As fotografias mostram a relação que essas pessoas criam com o seu entorno. Em algumas fotos vemos vasos de flor que elas colocam para decorar a janela. Em outras vemos atitudes cotidianas, como um homem que aparece sem camisa, como se tivesse acabado de acordar, ou então vemos a relação entre os moradores, como na foto em que um homem abraça uma mulher grávida, mostrando uma relação de carinho, de afetuosidade.
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: através da janela vemos um homem abraçando a barriga de uma mulher grávida em um gesto de carinho.
Embora a descrição possa dar a entender isso, o projeto não passa uma sensação voyeurística, de espiar a vida alheia por prazer, mas de interesse genuíno pelas pessoas e pelas relações entre elas e o local em que vivem. As fotos misturam a delicadeza e a simplicidade do cotidiano e da vida dos moradores com a crueza e a falta de estrutura do ambiente em que elas vivem.
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: uma mulher joga em plantas que estão em baixo da janela.
É um projeto fascinante, combinando fotos lindas de um ponto de vista estético, com uma temática muito importante, a precariedade dos edifícios invadidos devido à falta de moradia nos grandes centros urbanos, nos fazendo refletir sobre a vida de pessoas desabrigadas nas grandes metrópoles. 
Legenda: Julio Bittencourt, Numa janela do edifício Prestes Maia 911 (realizada entre 2005 e 2008)
Descrição: um homem sem camisa aparece na janela abrindo a cortina, como se tivesse acabado de acordar.
Além desse livro, Julio Bittencourt tem várias séries interessantes, como a série Tokyo Subway, fotos de um metrô japonês. Para ver mais, confira o site do fotógrafo aqui.
Já conferiu este projeto? Comenta aqui embaixo o que você achou. E para acessar mais conteúdos sobre fotografia cadastre-se na nossa newsletter e receba uma seleção temática de textos do blog todo mês!

Links, Referências e Créditos

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Luz dura e luz suave

Julio Bittencourt - Ramos
Julio BittencourtRamos

A luz é a substância com a qual trabalhamos. Por isso, é importante conhecer a maneira como ela se comporta. A luz se move em linha reta pelo espaço. Disso decorre que quando seus raios são obstruídos por um objeto opaco, uma área de sombra é criada imediatamente atrás dele. Se os raios de luz estão paralelos um em relação aos outros, a sombra tem contornos bem definidos; se estão transversais, a sombra é pouco delimitada.

Chamamos de contraste a característica da luz que é definida pela relação de direção que os raios de luz emitidos por uma fonte mantém um em relação aos outros. Se os raios são paralelos, a luz apresenta alto contraste; se são transversais, a luz apresenta baixo contraste.
No entanto, os raios de luz não são percebidos pela visão humana. Por isso, a maneira mais fácil de identificar o contraste de uma fonte luz é observando as sombras que ela produz. Quando a borda da sombra é bem marcada, dizemos que se trata de uma sombra dura e, por extensão, de uma luz dura; quando os limites da sombra não são precisos, trata-se de uma sombra e de uma luz suave. O contraste não é um valor absoluto, entre uma luz dura e outra suave existem diversas gradações.
Durante quatro verões, o fotógrafo paulistano Julio Bittencourt fotografou os banhistas do Piscinão de Ramos. As fotografias da série Ramos revela como os frequentadores desse balneário, localizado no subúrbio do Rio de Janeiro, aproveitam esse espaço que ao mesmo tempo é de lazer e de segregação.
As fotografias que compõem o ensaio foram produzidas em dias de pouco nebulosidade. Sem nuvens para difundi-los em diferentes direções, os raios de luz solar incidem diretamente sobre os corpos dos banhistas projetando sombras duras atrás deles. Nessa fotografia, vemos como a sombra da jovem que descolore os pelos do corpo aparece bem definida.
Explore as variações de contrastes da luz. Observe as características das sombras projetadas por diferentes fontes de luz.
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