Será que uma fotografia bem feita suprime a necessidade de palavras?
Será que uma fotografia bem feita suprime a necessidade de palavras?
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Pedro Kok – The Baths Of Viareggio, Italy Descrição: Fotografia colorida de uma fachada com um arco com um letreiro em que se pode ler “Nuova Italia”. |
“Uma imagem vale mais que mil palavras”. A frase de Confúcio, difundida ao nível de ditado popular, definitivamente não foi criada para julgar a relação entre fotografias, que estavam bem longe de existir, e textos, mas se encaixa muito bem com o pensamento recorrente de que o bom fotógrafo faz com que suas fotografias falem por si, a ponto de ser até questão de orgulho para alguns fotógrafos que suas fotos não necessitem de legendas. A verdade é que as fotografias, quando comparadas às palavras, realmente comunicam muito mais rapidamente e têm o poder de comunicar ações e características que em um texto necessitariam de muitas e muitas palavras para serem explicados.
As imagens, todavia, possuem limites quanto a contextualização. Elas não contam, por exemplo, qual foi o acontecimento que gerou o momento retratado ou em que lugar e ocasião a ação se passa. As imagens comunicam um presente congelado no tempo, mas não fornecem explicações sobre ele e isso, às vezes, é limitador. Supondo que a sua narrativa tenha um objetivo político como alertar para violações de direitos humanos, por exemplo, as fotografias serão chocantes mesmo sem texto que as acompanhem, mas certamente a presença de dados sobre a frequência que tais violações ocorrem ou de declarações sobre as vítimas serão um reforço inestimável na construção de empatia do leitor e da capacidade informativa das suas fotografias. E, nesse caso, alcançar o leitor e espalhar conhecimento sobre o assunto é mais relevante do que a capacidade do fotógrafo de transmitir mensagens apenas através de imagens.
Outra questão a ser levada em consideração ao pensar a relação entre o texto, principalmente como legenda, e a fotografia é se existe o risco que a não contextualização da imagem faça com que outros valores sejam atribuídos a ela. Quando a filósofa Susan Sontag discute, em seu livro “Sobre a Fotografia”, os valores que os “moralistas” esperam das fotografias, ela descreve que retirar as legendas das fotos jornalísticas expostas em museus e galerias é o que as torna obras de arte puramente estéticas, como se a falta de contexto sobre o que está retratado retirasse o valor documental da foto. Entretanto, a própria autora certifica que “nenhuma legenda consegue restringir, ou fixar, de forma permanente, o significado de uma imagem” e que “mesmo uma legenda inteiramente acurada não passa de uma interpretação, necessariamente limitadora, da foto à qual está ligada. E a legenda é uma luva que se veste e se retira muito facilmente”.
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Pedro Kok – The Baths Of Viareggio, Italy Descrição: Fotografia de uma fachada com uma moldura com um letreiro onde se pode ler “Primavera”. |
Conclui-se, então, que é preciso estabelecer uma relação de equilíbrio entre texto e fotografia, o que pode ser parcialmente afetado pelo caráter das fotografias ou do projeto que está sendo elaborado. Será que é necessário que o texto acompanhe as fotografias ou que as fotografias acompanhem o texto?
Para te ajudar a refletir sobre a questão foi escolhido o ensaio “
The Baths Of Viareggio, Italy”.
Pedro Kok, o autor das fotografias, é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e sua graduação influencia na escolha de suas fotografias que contemplam arquiteturas e espaços urbanos. Em “The Baths Of Viareggio, Itália”, Pedro retratou as casas de banho que existem na costa do Mar de Ligúria desde o começo do século XX, onde até o acesso à praia é pago. Com a ênfase na arquitetura e na tipografia das placas das casas de banho, toda informação sobre o lugar é conseguida em um texto muito curto e extremamente simples. As fotos, por sua vez, dispensam legenda.
O ensaio de Pedro faz um segundo uso de palavras, mas também muito significativo: as palavras aparecem na própria fotografia como o objeto retratado. A possibilidade de usar palavras como o próprio tema da fotografia abranda a noção existente de ruptura entre texto e imagem e fornece novas formas de transmitir a mensagem, mostrando que um projeto fotográfico não precisa ser fechado e dependente apenas das fotografias. Também é interessante considerar outros tipos de textos e palavras que não sejam apenas os escritos, como os sons que podem ser adicionados à apresentação virtual de um projeto.
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Pedro Kok – The Baths Of Viareggio, Italy Descrição: Fotografia colorida de uma fachada onde, ao fundo, por cima de uma cerca viva há um letreiro onde se pode ler “Narcisa”. |
Apropriar-se das palavras é, de todas as maneiras, agregar conteúdo de forma positiva ao projeto fotográfico, seja para contextualizar, para reforçar um ideal ou para compor a apresentação. Pensando nisso, crie legendas para fotografias famosas sugerindo contextos políticos e artísticos diferentes do que o atual e comente aqui para discutirmos o valor das legendas.
Outras postagens da série sobre ensaios e projetos fotográficos:
Referências:
- FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
- SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.