Como contar histórias através das fotografias.
Narrativa, de modo geral e amplo, implica a reunião de signos cujo sentido será afetado por um contexto histórico, social e cultural particular. Signo, por sua vez, dizemos de um elemento que estará representando outro. Uma operação matemática, por exemplo, é a reunião de signos (pois os números estarão representando quantidades), mas não possui significado particular, muito menos é afetada por um contexto histórico, social e cultural e, portanto, não configura uma narrativa. As imagens, porém, estão suscetíveis a essas nuances de interpretação. Basta pensar em como a forma de ler textos da esquerda para a direita e de cima para baixo afeta a nossa forma de interpretar imagens, de forma que aqueles acostumados a outro tipo de leitura de textos, como os japoneses, por exemplo, leriam imagens de outra maneira, expondo o aspecto cultural dessa interpretação espacial.
Christian Cravo – “Mariana” – Sem Nome |
Narrativa, de modo geral e amplo, implica a reunião de signos cujo sentido será afetado por um contexto histórico, social e cultural particular. Signo, por sua vez, dizemos de um elemento que estará representando outro. Uma operação matemática, por exemplo, é a reunião de signos (pois os números estarão representando quantidades), mas não possui significado particular, muito menos é afetada por um contexto histórico, social e cultural e, portanto, não configura uma narrativa. As imagens, porém, estão suscetíveis a essas nuances de interpretação. Basta pensar em como a forma de ler textos da esquerda para a direita e de cima para baixo afeta a nossa forma de interpretar imagens, de forma que aqueles acostumados a outro tipo de leitura de textos, como os japoneses, por exemplo, leriam imagens de outra maneira, expondo o aspecto cultural dessa interpretação espacial.
Na fotografia, a ideia de narrativa é geralmente associada a projetos como ensaios fotográficos ou fotorreportagens, o que não quer dizer que não esteja presente em fotografias individuais. Aliás, se considerado o conceito de narrativa do parágrafo anterior, toda fotografia seria uma narrativa, mas é preciso destacar que nem todas as fotografias são criadas para terem um significado histórico, social e cultural particular e é exatamente essa tentativa de manipular a significação, ou seja, de propositalmente contar algo que marca a narrativa fotográfica.
A noção que parece ser a mais reforçada sobre as narrativas fotográficas é a presença de um começo, de um meio e de um fim. A proposta de uma rota temporal é fácil de imaginar em ensaios e reportagens, em que um começo pode se tratar de fotografias que introduzem o espaço e os personagens, o meio pode ser o aprofundamento do que foi apresentado no começo e o fim pode ser um desfecho para o que se desenvolveu. Michael Freeman, autor de “A Narrativa Fotográfica”, acrescenta também a necessidade de um clímax, que seria um momento em que o desenvolvimento começa a aumentar e aumentar o ritmo até chegar no ponto alto da história, aquela fotografia mais impactante que prende a atenção, talvez contendo um problema a ser resolvido no encerramento.
Christian Cravo – Fotos do ensaio “Nos Jardins do Éden” |
O ensaio “Nos Jardins do Éden”, de Christian Cravo, é um ótimo exemplo de um ensaio com um tema que pode ser disposto em ordem cronológica. Christian é um dos mais importantes nomes da fotografia brasileira contemporânea e “Nos Jardins do Éden”, evidencia esse prestígio. O ensaio retrata rituais de vodu no Haiti, um contexto em que o fotógrafo poderia documentar o ambiente, as preparações, o ritual em si (clímax) e o que acontece depois do ritual, apresentando as fotografias na ordem dos acontecimentos reais. Ou seja, é uma situação em que a narrativa já vem pronta. É preciso lembrar, entretanto, que o fotográfo impõe a sua visão à fotografia, portanto, mesmo que a narrativa venha pronta, ela nunca contará exatamente ou apenas o que aconteceu. A narrativa individual de cada fotografia de “Nos Jardins do Éden” conta também sobre a sujeição dos corpos à fé, além de passar uma mensagem de exotismo, sempre repetindo elementos como o fogo, a nudez e as galinhas, e de fascínio, nas luzes que emanam em feixes sobre as pessoas.
Construir uma narrativa em ordem cronológica é o meio mais fácil, mas não é a única maneira que existe de contar histórias por meio da fotografia. As narrativas podem ser cíclicas ou o antes e o depois de um acontecimento podem estar implícitos na fotografia. Um ensaio pode, também, não ter nenhuma relação temporal entre as fotografias, mas manter a coesão por compartilhar o mesmo tema ou um mesmo conceito visual. Já a continuidade entre elas pode ser criada pelo ritmo que a ordem escolhida de apresentação dessas fotografias e o destaque que a edição dá a cada uma delas. Até mesmo a falta de coesão, como colocar uma foto em preto e branco seguida de uma colorida, pode contribuir para estabelecer um ritmo narrativo. Um ensaio com fotografias de um mesmo objeto pode ter um clímax, por exemplo, se a forma que as fotografias foram feitas e dispostas no ensaio sugerirem uma acentuação do tema até uma foto de destaque, por exemplo.
Christian Cravo – Fotos do ensaio “Mariana” |
As fotografias acima, também de Christian Cravo, são parte de um ensaio que reflete as consequências do rompimento da barragem de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, Minas Gerais, até agora o maior crime ambiental do Brasil. Ao contrário de seus outros ensaios, “Mariana” é colorido apenas para que o próprio monocromatismo do local esteja aparente. Assim, mesmo que as fotos não mostrem o momento do rompimento a cor predominante da lama nos remete ao que aconteceu, as colocando como parte da mesma história, e mesmo que não seja explícita a relação das famílias com o local antes e depois do crime, através de seus pertencentes inevitavelmente deixados para trás o ensaio narra a dor da perda de vidas deixadas em suspenso e de ter uma parte da sua vida inundada por lama.
Sugestão de exercício: procure ensaios fotográficos em revistas ou na internet e após analisar cada fotografia escreva quais são as características narrativas que se destacam nele. Tente responder a questões como: Que história esse ensaio conta? Que recursos o fotógrafo utilizou que me fazem reconhecer as fotografias como uma unidade? Como a composição das fotografias me leva a reconhecer o tema do ensaio? Deixe a suas conclusões aqui nos comentários e se quiser receber mais conteúdos como esse nos siga no instagram @d76_cultfoto.
Referências:
- FREEMAN, Michael. A Narrativa Fotográfica: a arte de criar ensaios e reportagens visuais. Porto Alegre: Bookman, 2014.
- SHORT, Maria. Contexto e Narrativa em Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
- SQUIRRE, Corine. O que é narrativa? Civitas, Porto Alegre, v. 14, n. 2, p. 272-284, maio-ago. 2014.
-20.3775546-43.4190813
Cultura Fotográfica