A Cores ou P&B

Já ficou em dúvida na hora de optar por fotos a cores ou em preto e branco? O texto de hoje é para você!

Já ficou em dúvida na hora de optar por fotos a cores ou em preto e branco? O texto de hoje é para você!

Já ficou em dúvida na hora de optar por fotos a cores ou em preto e branco? O texto de hoje é para você!

Os primeiros filmes fotográficos coloridos a serem comercializados foram os autocromos dos irmãos Lumiére que suurgiram em 1907, mas a fotografia colorida só começou a fazer mais sucesso com o grande público em 1942 com o lançamento do Kodacolor. Muitos fotógrafos se recusaram a fotografar com filmes coloridos em um primeiro momento. Henri Cartier Bresson foi um deles. Ele escreveu em seu livro “O Momento Decisivo” (1952) que filmes coloridos não deveriam ser usados devido aos tempos de exposição mais longos que eram necessários. Hoje, com a tecnologia digital, o sensor capta as informações de cor que podem ou não ser desprezadas caso deseje-se que a fotografia seja em PB. O próprio Bresson acabou cedendo e fotografou em cores posteriormente.

As fotos em cores caíram no gosto popular, e ao longo da década de 70 a maioria esmagadora das revistas publicaram fotos coloridas em suas capas e fotorreportagens, já que elas eram mais atrativas para o público e a tecnologia avançou e permitiu a impressão de fotos em alta definição. Com isso, o preto e branco passou a ser considerado obsoleto. Ainda assim, a fotografia em P&B não foi totalmente abandonada. Hoje, a decisão de  se produzir uma imagem com cores ou sem elas não implica necessariamente uma limitação tecnológica. Ao contrário, princípios de composição e sentidos estéticos as tornam distintas da fotografia em cores.

Talvez você já tenha ouvido falar em cores primárias e secundárias, em tons quentes e tons frios e até mesmo na psicologia das cores. É  possível começar a perceber que a composição visual e as cores presentes na foto podem fazer toda a diferença no resultado final. As fotos coloridas são ideais caso deseje-se passar sensações térmicas como calor e frio, sendo responsáveis pela sugestão de sensações que podem dizer tanto de um horário ou localidade geográfica, clima e até mesmo emoções humanas. Uma foto tirada durante o dia, em uma praia, mostrando uma família brincando feliz, usualmente trará a presença de cores quentes, como o laranja e o amarelo, enquanto uma foto mostrando uma pessoa em estado introspectivo, lendo um livro em um dia frio e chuvoso provavelmente terá cores frias, como tons de azul.

Ainda nesse sentido, as cores podem auxiliar na produção de uma narrativa fotográfica, já que as cores carregam significados, sendo cores quentes usualmente ligadas à sentimentos alegres, festivos e apaixonantes, enquanto as cores frias estão ligadas à tranquilidade, à introspecção ou à tristeza. Em geral, as fotos coloridas também prendem a atenção, em especial quando são trabalhados os contrastes e harmonias entre as cores.

Um exemplo de fotógrafo que trabalha bastante com a cor  é o norte-americano David LaChapelle, que vem trabalhando com fotografia desde a década de 80 e tem um trabalho que mistura referências da arte clássica, barroca e elementos da cultura pop. LaChapelle trabalha sobretudo com fotos com cenários montados e muita pós produção, com tratamento de imagem e um uso de contraste forte, brilhante e chamativo nas cores, o que as dá ares de fantasia.

Uma mulher adulta negra está com uma mão dada à uma menina negra em meio à uma rua. Ambas estão de frente para a câmera, usam roupas cor de rosa chamativas que contrastam com o restante da imagem. Há quatro casas ao fundo, sendo a primeira do lado direito encoberta por um tecido da mesma cor que a das roupas das modelos. 
David LaChapelle. This is My House. 1977.

Na fotografia “This is My House”, é possível notar como a cor é um elemento chamativo e importante. Há uma harmonia nos tons pastéis do ambiente, como nas três casas vistas ao fundo, mas o tom de rosa elétrico presente nos trajes das modelos, uma mulher adulta e uma menina, ambas negras, também presente na casa na extremidade direita da imagem, roubam a cena e fazem com que a atenção concentre-se sobretudo nelas, permitindo também compreender que a casa, aparentemente envolta por completo em um tecido cor de rosa, é provavelmente a mencionada no título da obra. A casa onde residem as personagens retratadas, que posam para a câmera com atitude.

Já as fotos em preto e branco não transmitem a temperatura de uma cena, mas elas tem suas vantagens. Cores podem desviar a atenção do objeto principal da foto, mas isso não acontece no caso das fotos em preto e branco. Muitos fotógrafos preferem a ausência de cores na hora de fazer retratos, pois assim, há destaque para as expressões faciais ou padrões e formas geométricas.

Outra vantagem da ausência de cores nas fotos é que o contraste entre os locais iluminados e escuros fica muito mais claro. Por isso, fotos em preto e branco são excelentes quando o objetivo principal é retratar como a luz está se comportando. Do ponto de vista técnico, o preto e branco tem a vantagem de apresentar menos ruído que as fotos coloridas, além de ser uma escolha interessante para fotógrafos que pretendem usar a técnica do High Dynamic Range nos softwares de edição, já que o resultado da mesclagem de fotos em preto e branco tende a ser mais sutil que o das fotos coloridas.

O famoso fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é um dos principais nomes da fotografia em preto e branco da atualidade. Todos os seus fotolivros publicados até hoje são compostos inteiramente de imagens em P&B. Segundo ele, esse tipo de fotografia faz com que o espectador tenha uma conexão maior com o objeto fotografado, seja ele uma pessoa, um animal ou uma paisagem. Muitos ainda consideram Salgado como sendo o responsável por reviver a fotografia em preto e branco depois que as coloridas tomaram conta dos jornais e revistas.

Na foto podemos ver um homem parado com as mãos na cintura olhando diretamente para a câmera. Ele está coberto de lama, em sua cabeça está amarrado um pano, ele usa uma camiseta que está amarrada, e um short. O fundo está desfocado, mas podemos perceber que existem vários homens trabalhando no local.

Sebastião Salgado, Serra Pelada, 1986

Nessa foto, podemos ver várias das mais importantes características das fotos em preto e branco. O olhar do homem é o que mais chama a atenção devido ao grande contraste entre o branco da esclera e todo o ambiente à sua volta. A textura de suas roupas também é muito importante para a composição da foto, pois mostra bem como o homem está coberto de lama e isso ajuda a perceber as difíceis condições de trabalho em Serra Pelada.

E você? Prefere fotos coloridas ou em preto e branco? Conta pra gente aqui nos comentários! E não se esqueça de seguir o Cultura Fotográfica lá no Instagram!

Texto escrito em co-autoria com Pedro Olavo. 

Links, Referências e Créditos

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A Fotografia tridimensional Estereoscópica

 Você já ouviu falar em Estereoscopia? Se não, convido você a conhecer a primeira técnica utilizada para se obter fotografias tridimensionais. 

Charrete florida, Marc Ferrez,  1912, Instituto Moreira Salles

A fotografia estereoscópica foi desenvolvida em 1849, pelo inglês  David Brewster (1781-1868) a partir das pesquisas sobre visão binocular, realizadas por Giovanni Battista della Porta e Leonardo da Vinci. Em 1851 Brewster, apresenta o invento  à Rainha Vitória na Exposição Universal de Londres e após aceitação, a estereoscópica passa a ser comercializada.  
Por décadas, a estereoscópica foi o modo mais importante para se lidar com fotografias. Ela constitui-se sendo pares de imagens que mostram uma mesma cena que, quando vistas juntas, em um visor binocular, o estereoscópio, produzem a ilusão de que a imagem é tridimensional. 
Nesta época, esse tipo de efeito era obtido porque as fotos eram registradas simultaneamente com uma câmera de objetivas gêmeas, que tinham os centros das lentes separados entre si em uma distância de aproximadamente 6,3 centímetros, espaço médio que separa os olhos humanos. 
A credibilidade na objetividade da foto estereoscópica gerou um alto impulso no trabalho de documentais. O alto consumo de vistas sustentava a excitação dos amantes de paisagens, cenas urbanas e grandes construções. Um fato interessante, é também o volumoso consumo de pornografia nas salas de visita das famílias burguesas. 
No Brasil, o carioca Marc Ferrez (1843-1923), desempenhou um importante papel na experimentação da fotografia estereoscópica, ele dedicou-se à fotografia estereoscópica em cores. 
Jardim Botânico – bambu, Marc Ferrez, 1912. Instituto Moreira Salles. 

Em 1912, o fotógrafo Marc Ferrez faz alguns registros estereoscópicos em cores, no Rio de Janeiro, nesses registros ele refez algumas fotografias de paisagens, monumentos e edificações. 
O que achou do #Fotografetododia da semana? Deixe seu comentário aqui, ou no nosso Instagram

Referências

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Formas geométricas

Prestar atenção nas formas geométricas ao seu redor para compor uma foto pode render registros com uma estética muito interessante.

Existem vários elementos que você pode explorar na composição das suas fotos para atrair o olhar, como cor e textura. Quadrados, círculos e triângulos podem ser enxergados facilmente em janelas, portas e também podem ser criadas, por exemplo, com o jogo de luz e sombra. Essas formas geométricas são um elemento simples e podem te ajudar a criar fotos com uma estética diferente, por mais de uma razão.
Elas passam a sensação de uma fotografia calculada e organizada, justamente por serem muito reconhecíveis. Dependendo de como você as posiciona, formas geométricas também podem criar uma simetria na fotografia, que pode gerar um estranhamento e, consequentemente, um interesse de quem vê. E caso você encontre diversas formas iguais, como, por exemplo as várias janelas de um prédio, pode ser criado um padrão na sua foto.
Embora sejam dicas simples, o resultado pode ser fotos esteticamente atraentes e que fogem de um lugar-comum. O filme “Grande Hotel Budapeste” é um exemplo que usa muitas formas geométricas e simetria perfeita em seus enquadramentos, o que o faz ter um visual particular e muito chamativo.
Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
Descrição: foto em preto de branco do que parece ser uma ponte, com uma rua centralidade e estruturas de ferro dos dois lados. Identificamos na arquitetura formas de retângulos e um meio círculo. 
Kai Ziehl é um fotógrafo alemão que explora o ambiente urbano em fotografias em preto e branco, realçando a arquitetura desses locais. Como dito em sua biografia do Instagram, a fotografia de Ziehl transforma a frieza da paisagem urbana em algo significativo e expressivo. Suas fotografias quase sempre realçam formas geométricas na composição.
Legenda: Kai Ziehl, Hamburgo, 2011
Descrição: foto em preto e branco de um lugar em que a parede do fundo é de vidro, e através dela vemos alguns prédios e plantas na entrada. Também há uma pessoas em frente a essa parece, de costas para a câmera. Identificamos quadrados e retângulos na composição.
A foto acima é um exemplo de como usar formas geométricas cria uma estética atraente. O padrão quadrado das janelas chama o olhar e ajudou criar uma simetria quase perfeita, quebrada apenas pela presença de uma mulher e seu reflexo à esquerda, o que também ajuda a destacar essa pessoa. Esses elementos fizeram com que a foto tenha uma aparência quase abstrata, mesmo que o objeto fotografado seja simples e até banal.
Explore as formas geométricas ao fotografar e comente sua experiência conosco. Se você gostou do nosso conteúdo nos siga no Instagram e assine a newsletter para receber uma seleção de textos temática em seu email todo mês.

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Sensores Digitais

Durante a guerra fria os pesquisadores precisavam que as sondas espaciais  mandassem  imagens até a Terra, para isso foi criado o sensor CMOS, capaz de converter ondas luminosas em informação digital que era enviada por meio de ondas de rádio e depois (re)convertidas em imagens.

Hoje, graças ao sensores digitais, podemos armazenar e compartilhar imagens com muito mais facilidade, por isso vale a pena saber mais sobre essa tecnologia.

Durante a guerra fria os pesquisadores precisavam que as sondas espaciais  mandassem  imagens até a Terra, para isso foi criado o sensor CMOS, capaz de converter ondas luminosas em informação digital que era enviada por meio de ondas de rádio e depois (re)convertidas em imagens. Foi em 1965 que, pela primeira vez, a sonda Mariner 4, usando essa tecnologia, enviou imagens da superfície de Marte, porém as fotos não poderiam ser consideradas digitais, já que também usavam processos analógicos.

Na foto uma pessoa segura um sensor digital com a penas a ponta de um dedo e logo atrás podemos ver uma câmera compacta da Nikon. 
Foto de Eugen Visan por Pixabay

A primeira câmera totalmente digital foi feita em 1975 pela Kodak ela usava o sensor CCD, o sucessor do CMOS, e podia fazer imagens de 0,01 megapixels, mas nunca foi comercializada, pois os executivos da empresa acreditavam que a invenção poderia atrapalhar na venda dos filmes fotográficos, essa hesitação em adotar a tecnologia digital  foi uma das principais causas da falência da empresa anos depois

Em 1981, a Sony lançou a primeira câmera digital para o público, porém ela era extremamente cara. Somente na década de 1990, as câmeras digitais passaram a ter preços mais acessíveis. Hoje elas dominam o mercado. A maioria delas é equipada com um sensor CMOS. Hoje também temos uma grande variedade de tamanho de sensores, e isso pode influenciar muito na hora de fotografar. Quanto maior o sensor,  maior é o alcance dinâmico, menor o índice de ruído em ISOs altos, e  menor a profundidade de campo.

Na foto podemos ver uma mulher segurando a câmera Mavica em uma mão e um disquete na outra. 
Campanha publicitária da câmera Mavica

A variação de tamanho nos sensores causa algo chamado fator de corte. Esse fator altera o ângulo de visão proporcionado por um objetiva, por exemplo, nas câmeras DSLR os dois tipos de sensores mais comuns são os Full Frame (FF) e os APS-C, uma lente de distância focal 35mm não sofreria nenhuma alteração em um sensor FF, pois ele é o tamanho padrão, mas teria o aspecto de uma lente de 56mm, que tem um ângulo de visão menor, em um sensor APS-C, que é um pouco menor que o FF.  Essa relação entre sensores pode variar com as marcas, por exemplo, no caso de sensores APS-C Canon a relação é de 1,6, já nos sensores APS-C Nikon e Sony a relação é de 1,5.

Hoje a maioria dos fotógrafos usam câmeras digitais, pelo fato de elas permitirem uma fácil organização de arquivos, e por produzirem imagens de excelente qualidade, mas esse não é o caso do fotógrafo japonês Daido Moriyama que diz que não se importa com a qualidade imagética que as mais modernas DSLR podem trazer, para ele o que mais importa é que a câmera seja leve, fácil de carregar e discreta, por isso só fotografa usando câmeras compactas. Ele iniciou a carreira com as versões analógicas, mas com o avanço da tecnologia rapidamente passou a usar os modelos digitais.

Na foto podemos ver uma escada na parte esquerda, e uma rua estreita na parte direita. A foto foi tirada a noite, pois podemos ver vários postes de luz acessos.
Daido Moriyama , 2017 Getsuyosha

Se olharmos a foto acima com atenção vemos que a imagem possui uma grande quantidade de ruído que acontece pelo fato de Daido usar uma câmera compacta com um sensor bem pequeno. Mas o ruído não é um problema, já que toda a estética dele se baseia em imagens cheias de ruído, muitas vezes tremidas e com grande contrastes.

Esse é um exemplo interessante de como uma boa foto nem sempre precisa dos equipamentos mais caros, mesmo câmeras compactas ou de celulares podem trazer resultados muito interessantes, e agora graças aos sensores digitais, que ajudaram a baratear a fotografia,  uma parcela bem maior da população pode ter acesso a câmeras, e usar a criatividade para produzir as mais criativas fotos. 

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Sensores Digitais. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/fotografetodia-sensores-digitais/>. Publicado em: 07 de dez. de 2021. Acessado em: [informar data].

Ponto de Fuga

Sabe quando a imagem vai diminuindo, diminuindo, em direção ao fundo, até que só seja possível enxergar um ponto? Então, esse é o ponto de fuga.

Sabe quando a imagem vai diminuindo, diminuindo, em direção ao fundo, até que só seja possível enxergar um ponto? Então, esse é o ponto de fuga.

Fotografia em preto e branco de um braço masculino mostrando um relógio. Ao fundo, uma longa rua deserta, vertical ao braço, cercada por prédios, árvores nas calçadas e carros estacionados.
Josef Koudelka – Exiles and Panoramas (Exílios e Panoramas) – Warsaw Pact troops invasion (Invasão das tropas do pacto de Varsóvia)
Descrição: Fotografia em preto e branco de um braço masculino mostrando um relógio. Ao fundo, uma longa rua deserta, vertical ao braço, cercada por prédios, árvores nas calçadas e carros estacionados.

Para começar, o ponto de fuga surge de um modo de ver o mundo propagado na cultura ocidental pelo Renascimento Italiano, mais especificamente pela perspectiva albertiana. Ela recebe esse nome por causa de seu criador, Leon Battista Alberti, quem, no início do Renascimento, foi a primeira pessoa a estudar proporção e análise científica de perspectiva dentro da arquitetura, fazendo o levantamento de diversos monumentos da Antiguidade e formando concepções estéticas sobre arquitetura e urbanismo.

O ponto de fuga, porém, surge de seus estudos de aspectos teóricos de pinturas. A perspectiva albertiana, nas artes plásticas, compara um quadro a uma janela aberta para o mundo, ou seja, é como se ao pintar um quadro, para obter uma imagem próxima da realidade, o pintor deveria pintar a perspectiva da paisagem retratada da mesma maneira que veria um espectador observando a paisagem através de uma janela. Observe a imagem acima, é como se o dono do relógio fosse esse espectador em uma janela, naturalmente, as árvores, as casas e os carros parecem ficar menores à distância, esse afunilamento faz as calçadas formarem um triângulo e convergirem no ponto de fuga.

Em termos técnicos, o ponto de fuga é um termo matemático que nomeia retas paralelas que se encontram no infinito. As linhas da estrada na foto abaixo convergem em um único ponto, no infinito, esse é o ponto de fuga.


Fotografia em preto e branco que mostra uma longa estrada aponta para o fundo da fotografia. Na frente há um menino, um pouco atrás dele duas mulheres estã dançando. No canto esquerdo da imagem, parado no acostamento, quatro pessoa se dirigem a uma carroça. Todas as pessoas da foto vestem roupas que os caracteriza como ciganos.
Josef Koudelka – Gipsies (Ciganos) – Untitled (Sem Nome)
Descrição: Fotografia em preto e branco que mostra uma longa estrada aponta para o fundo da fotografia. Na frente há um menino, um pouco atrás dele duas mulheres estã dançando. No canto esquerdo da imagem, parado no acostamento, quatro pessoa se dirigem a uma carroça. Todas as pessoas da foto vestem roupas que os caracteriza como ciganos.
Como já visto, ponto de fuga implica na construção de profundidade na imagem, por isso, as linhas formam uma estrutura triangular apontando para o fundo da cena. O ponto de fuga também indica a existência da linha do horizonte. Porém, nem sempre para existir o ponto de fuga é necessário que o triângulo se complete. Na foto abaixo, as linhas não chegam a convergir, mas é possível imaginar uma continuação delas, onde o ponto estaria, e o olhar do leitor é, de qualquer maneira, guiado ao fundo da fotografia.

Fotografia em preto e branco de um beco sem saída. Há quatro homens de costas. Eles vestem sobretudos e chapéis e seus cabelos parecem ser brancos.
Josef Koudelka – Exiles (Exílios) – Ireland (Irlanda)
Descrição: Fotografia em preto e branco de um beco sem saída. Há quatro homens de costas. Eles vestem sobretudos e chapéis e seus cabelos parecem ser brancos.

O ponto de fuga não precisa ser apenas um modo de enfatizar a perspectiva natural do ambiente. Ele pode, por exemplo, ser usado para enfatizar o que se deseja fotografar, ao colocá-lo exatamente no ponto de fuga. Também é possível criar um caminho entre o plano principal e os planos interiores, guiando o olhar do leitor e lentamente diminuindo a perspectiva até o ponto, como nas três fotografias acima. Outra maneira é utilizar a regra dos terços e as noções de linha do horizonte para enfatizar dois terços da fotografia. Não se esqueça que as linhas também podem ser curvas, como na fotografia abaixo, do Josef Koudelka.


Fotografia em preto e branco de um parque coberto de neve e limitado por árvores. O parque é extenso e apenas no fundo da fotografia pode-se ver uma construção. Em primeiro plano há um cachorro andando.
Josef Koudelka – Exiles (Exílios) – Parc de Sceaux, Haunts-de-Seine, France (Parque de Sceaux, Altos do Sena, França)
Descrição: Fotografia em preto e branco de um parque coberto de neve e limitado por árvores. O parque é extenso e apenas no fundo da fotografia pode-se ver uma construção. Em primeiro plano há o que parece ser um cachorro andando.
Josef Koudelka é um fotógrafo checo nascido em 1938. Ele começou a fotografar em 1950 e no final dos anos 60, fotografou a invasão soviética em Praga, publicando suas fotos sobre o pseudônimo P.P. que significava Prague Photographer (Fotógrafo de Praga). Suas fotografias têm uma forte presença política e também retratam a sua vida no exílio. Vamos treinar? Faça fotografias em que um caminho partindo do plano principal forme um ponto de fuga, usando Josef Koudelka como inspiração.

Referências

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Pontos

O ponto, para a geometria, é o elemento que origina todas as formas geométricas. É a unidade que ocupa um espaço irredutível, o menor possível.

O ponto, para a geometria, é o elemento que origina todas as formas geométricas. É a unidade que ocupa um espaço irredutível, o menor possível.
Fotografia de uma praia vista de cima. Na metade de baixo da fotografia o mar banha a areia. Na metade de cima, centenas de guarda-sóis coloridos estão espalhados pela areia.
Cássio Vasconcelos – Coletivos – A praia detalhe 1
Descrição: Fotografia de uma praia vista de cima. Na metade de baixo da fotografia o mar banha a areia. Na metade de cima, centenas de guarda-sóis coloridos estão espalhados pela areia.

É imprescindível dizer que o ponto acaba sendo um elemento de destaque na composição visual. Ele é identificado principalmente por seu tamanho e formato, mas também possui cor e textura. Na fotografia, pode ser representado literalmente por objetos minúsculos como pontos, como o sol, as estrelas no céu, gotas de chuva na janela ou o orvalho nas flores. Os objetos também podem ser propositalmente dispostos de forma que pareçam com pontos, como os guarda-sóis vistos de cima na fotografia do início do post.

O ponto é um elemento que atrai o olhar, por isso, pode e deve ser aproveitado para evidenciar o tema da fotografia. A quantidade dos pontos e a distância a que se encontram um do outro também podem passar sensações de aglomeração ou esvaziamento, proximidade ou afastamento, abundância ou escassez. Um único ponto, por exemplo, pode passar a sensação de um local vazio ou solidão, enquanto muitos pontos com muita proximidade entre eles pode transmitir coletividade ou até mesmo a sensação sufocante de estar em um local cheio. Na fotografia abaixo, no trajeto da ponte em que os carros estão distantes um do outro, a impressão que se tem é de tranquilidade e liberdade. Na parte do trajeto que muitos carros estão a uma distância curta uns dos outros, a sensação é de imobilidade.


Fotografia de uma ponte entre topos de árvores. Carros trafegam pela ponte.
Cássio Vasconcelos – Aéreas 2 – Rodovia dos Imigrantes
Descrição: Fotografia de uma ponte entre topos de árvores. Carros trafegam pela ponte.

Vários pontos juntos podem criar linhas, formas, desenhos… Assim, a utilização de pontos na fotografia pode evocar outros elementos de composição como padrão, ritmo, textura e cor. A fotografia da Rodovia dos Imigrantes, com a sua distribuição desproporcional dos pontos, consegue transmitir a sensação de ritmo, em que os carros fluem em certos trechos e se aglomeram em outros.

Ao evocar outras noções de composição, como o padrão, o ritmo e a textura, a fotografia pode deixar de ser uma representação da realidade e passar a ser uma obra de arte abstrata que utiliza elementos reais. Os pontos na fotografia abaixo, por exemplo, são representados tanto pelas pessoas em um desfile de escola de samba, quanto por suas sombras. A distância quase igual entre os dançarinos e a diferença de cores entre os figurinos e as sombras, cria o padrão e o ritmo da imagem, além de evocar abstração para a obra.


Fotografia tirada de cima de pessoas fantasiadas em um desfile de esolca de samba. As pessoas parecem estar a uma mesma distância uma das outras.
Cássio Vasconcelos – Aéreas 2 – Carnaval
Descrição: Fotografia tirada de cima de pessoas fantasiadas em um desfile de esolca de samba. As pessoas parecem estar a uma mesma distância uma das outras.
As fotografias deste post são de autoria do fotógrafo Cássio Vasconcellos, um fotógrafo paulista, cuja carreira teve início em 1981 fazendo exposições pessoais. Já foi fotojornalista para a Folha de S. Paulo, teve seus trabalhos exibidos em mais de 20 países e tem seis livros de fotografia publicados. Em muitos de seus ensaios, como “Coletivos”, “Aéreas” #1 e #2 e “Paisagens Marinhas” Cássio utiliza pontos para criar padrão e ritmo, compondo imagens abstratas e originais. Você pode conhecer o autor e se inspirar nas suas obras aqui.
Faça como Cássio Vasconcellos, treine seu olhar buscando pontos em ambientes de seu cotidiano. Tire fotografias em que esses pontos atrairão o olhar do leitor. Faça uma série de fotografias em que os pontos criem formas e padrões.

Referências

  • ELLEN, Lupton; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
  • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.

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Textura

Textura é o que, junto com a forma, nos revela qual é o objeto fotografado.

Textura é o que, junto com a forma, nos revela qual é o objeto fotografado.

Haruo Ohara – Sem Nome
Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra uma plantação de árvores que, juntas, formam formam vários relevos arrendondados na extensão do campo.

Na fotografia acima, de Haruo Ohara, as formas revelam diversos objetos arredondados, mas são os relevos das folhas que deixam claro se tratar de uma plantação. A fotografia é de Haruo Ohara, fotógrafo nascido no Japão que veio para o Brasil com a sua família em 1927. Aqui, a família Ohara trabalhou em lavouras do interior de São Paulo até adquirir suas próprias terras no Paraná, em 1933. Em 1938 Haruo comprou sua primeira câmera, passando a registrar o cotidiano rural.

A utilidade de se realçar a textura é bem perceptível no trabalho de Ohara. A natureza em suas fotos nunca é evocada apenas por sua aparência geral, mas por enfatizar a textura dos detalhes para transmitir sensações. É o caso da fotografia abaixo, em que a textura revela a secura do solo e nos transmite a ideia de aridez. Dentro do contexto campestre em que a foto foi tirada, portanto, a textura traz consigo a narrativa do solo infértil, da impossibilidade do plantio e, possivelmente, da presença da fome.

Haruo Ohara – A seca
Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra um solo seco com rachaduras bem pronunciadas.

Como usar a textura

As fotografia de Haruo Ohara conseguem transformar a textura em protagonistas apenas isolando-as em fotografias em que se repetem e se transformam em um padrão. O fotógrafo também utiliza padrões da própria natureza para constituir um senso de textura, como as nuvens abaixo, que da forma que foram fotografadas aparentam ser relevos macios no céu.
Haruo Ohara – Nuvens da Manhã
Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra o nascer do sol com uma composição que põe o céu em destaque, deixando que mais da metade da fotografia seja ocupada por nuvens fragmentadas que se espalham por todo o céu. No canto direito há a sombra de um homem equilibrando uma enxada no dedo.
Outra forma de dar destaque às texturas é colocá-las próximas a uma textura contrastante. Como o tronco áspero contrasta com as jabuticabas lisas abaixo.
Haruo Ohara – Jabuticaba
Descrição: Fotografia em preto e branco. Close de um galho cheio de jabuticabas.

Revelando a Textura

A textura é revelado principalmente pelas luzes que refletem as saliências e pelas sombras que se formam nas reentrâncias da figura. Assim, a luz dura é o melhor realçador de textura, pois gera muita sombra nas fissuras. Como já falamos aqui, a luz na posição 45º graus também ajuda a destacar a textura (assim como a forma e o volume) do que está sendo fotografado.
Observe na fotografia das espigas de milho abaixo como a luz direta do sol ajuda a reconhecer os grãos de milho, gerando sombra nos espaços entre eles.
Haruo Ohara – Milho
Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra milhos amontoados.
Assim como a luz direta e em ângulo agudo deve-se ser usada para realçar texturas, a luz suave disfarça a textura em casos necessários, como para fazer uma pessoa parecer mais jovem ou com a pele mais uniforme em retratos.
Experimente fotografar com textura! Escolha um objeto com muitos relevos, fotografe em luz dura e, depois, em luz suave e observe com a luz influencia na revelação da textura. Em seguida experimente isolar a textura para criar uma fotografia abstrata com padrão.

Referências:

  • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.
  • IMS
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Fotografia pelo Buraco de Agulha

 Conhecida como fotografia furo de agulha, a técnica é rudimentar, no lugar de lentes, usa-se um furo de agulha, para captar luz.

Desde sua invenção, a tecnologia fotográfica encontra-se em contínuo desenvolvimento e aperfeiçoamento. Apesar disso, alguns fotógrafos, que atuam dentro do campo das artes visuais, utilizam materiais e procedimentos rudimentares, como as câmeras de orifício, feitas muitas vezes, por materiais e procedimentos antigos, como é o caso da câmera artesanal, o pinhole
Ver o peso pelo furo da agulha. Dirceu Maués, 2004. 
Conhecida também como fotografia estereoscópica, o pinhole consiste na obtenção de imagens, a partir de uma câmera artesanal, feita com materiais não convencionais,  como caixas de leite, esparadrapo, ou fósforo.
O princípio técnico da câmera pinhole está diretamente relacionado à câmera escura. Para que a imagem se forme no interior da câmera escura, é necessário que a luz entre por meio de furo e atinja o material fotossensível.  Assim, se o orifício for grande, o tempo de exposição será menor, o que acarretará na nitidez da imagem formada no interior do aparelho.  Desse modo, se o tamanho do buraco feito pela agulha for menor, mais nítida será a imagem, no entanto o tempo de exposição será maior.
Dirceu Maués (Belém, PA, 1968) em sua série de composições “Ver o peso pelo furo da agulha”, registrou mais de 400 fotos do mercado de Belém em uma pinhole feita com caixa de fósforo. O artista registrou belas composições em que se destaca o movimento, pelo jogo de sombras,  levando ao observador a uma atmosfera utópica.   
Ver o peso pelo furo da agulha. Dirceu Maués, 2004.
No registro de Maués é notável a ideia de tempo. Essa característica que perpassa toda a obra “Ver o peso pelo furo da agulha”, leva o observador a sensação de um constante movimento e dinamismo daquele cenário. Dirceu constitui a partir do pinhole, um diálogo entre o subjetivo, seu jeito de representar o mundo, e o real, o objeto ali fotografado. A escolha por processos alternativos,  transmite a inquietação de diferentes fotógrafos ao experimentar uma linguagem diferente da convencional. Ela por si só, justifica que os artistas procurem novas respostas em um contexto de mecanismos cada vez mais sofisticados. 
Aprenda a fazer um pinhole
O que achou desta técnica? Nos conte e experimente criar uma pinhole. Assista o vídeo e confira o passo a passo. Depois nos mostre e conte-nos o resultado! 
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Linhas retas e linhas curvas

As linhas são componentes visuais muito importantes e devem ser usadas de modos diferentes se forem, por exemplo, linhas retas ou  linhas curvas.
Fotografia de um estrada curva vista de cima. as luzes da cidade estão borradas.

As linhas são componentes visuais muito importantes e devem ser usadas de modos diferentes se forem, por exemplo, linhas retas ou  linhas curvas.
Fotografia um rio curvo, cercado por estrada dos dois lados. Há muitos carros nas estradas e os faróis estão embaçados.
Claudio Edinger – Machina Mundi SP Plate 03
Descrição: Fotografia um rio curvo, cercado por estrada dos dois lados. Há muitos carros nas estradas e os faróis estão embaçados.
Aqui no blog já falamos diversas vezes sobre linhas e sua importância e você pode ler aqui (link) e aqui (link). Como tudo o que tem contorno tem linha, é quase impossível fugir delas na composição da fotografia. O ideal é, portanto, utilizar os significados que as diferentes linhas possuem para ajudar a compor a mensagem da fotografia.
As linhas retas, por exemplo, transmitem no âmbito emocional o que elas são fisicamente, ou seja, rigidez, solidez e firmeza. Observe a fotografia abaixo, a ponte, composta por linhas retas, quebra a expectativa do rio como um elemento símbolo de calma, dando um pouco de austeridade à imagem.
Fotografia da ponte Rio-Niterói.
Claudio Edinger – Machina Mundi Rio Plate 06
Descrição: Fotografia da ponte Rio-Niterói.
A fotografia é de Claudio Edinger, carioca que já trabalhou paras as revistas Time, Newsweek, Life, Rolling Stone e Vanity Fair e publicou dezessete livros. Suas fotos são feitas com uma câmera de grande formato e utilizam foco seletivo. As fotografia escolhidas misturam elementos urbanos com paisagens naturais, mostrando como o ambiente pode nos proporcionar as linhas que comporão a fotografia.
No caso das linhas curvas, que são tranquilas e maleáveis, pense, por exemplo, em elementos da natureza que transmitem calma como montanhas, ondas ou nuvens e como eles possuem linhas curvas. Observe, na fotografia abaixo, como os elementos sozinhos podem compor as linhas na fotografia:
Fotografia de uma ponte curva em uma cadeia de montanhas.
Claudio Edinger – Machina Mundi SP Plate 05
Descrição: Fotografia de uma ponte curva em uma cadeia de montanhas.
Com tudo o que foi explicado sobre linhas, é possível fazer incríveis combinações. Por exemplo, utilizar a orientação vertical para dar ênfase às linhas verticais e a orientação horizontal para enfatizar linhas horizontais. Também é possível utilizar linhas verticais e retas para levar a sensação de poder e solidez ao máximo e linhas curvas e horizontais para que aconteça o mesmo em uma foto em que se deseja transmitir tranquilidade.
A fotografia abaixo mistura essas noções para equilibrar as sensações. As grades, que por si só são símbolos de dureza e cuja a orientação vertical a ressalta, aparentam serem curvas abrandando a mensagem de rispidez para tristeza.
Fotografia em preto e branco de um homem segurando barras de grades de proteção. No pátio atrás dele há várias pessoas, algumas sem roupas.
Claudio Edinger – Madness Plate 09, 1989
Descrição: Fotografia em preto e branco de um homem segurando barras de grades de proteção. No pátio atrás dele há várias pessoas, algumas sem roupas.
A fotografia faz parte do ensaio Madness, ou seja, “Loucura”, que retrata a vida no hospital psiquiátrico de Juqueri em São Paulo, onde 3.500 pessoas estavam internadas, sendo o maior hospital psiquiátrico no Brasil. Como é possível perceber pela fotografia, as condições no hospital eram precárias e, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, houve cerca de 50 mil mortes no hospital durante todo o seu funcionamento. Em 2019, ainda haviam 57 pacientes internados, todos idosos, alguns morando lá há 70 anos. Esta fotografia, portanto, é um documento de uma era da psiquiatria brasileira em que internação e tratamento não eram sinônimos.
Combine todas as noções sobre linhas já ensinadas no blog propositalmente para produzir a mensagem de sua fotografia. É importante que a mensagem e a composição sejam bem pensadas, para isso, utilize um caderno e anote as suas opções. Depois compartilhe suas fotos e suas anotações no nosso grupo de facebook.

Referências

  • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.
  • Lightroom
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