Silhuetas

 

O uso das silhuetas pode incrementar suas fotos e dar a elas um senso de mistério, como iremos ver em algumas fotografias de René Burri.

Silhuetas são o contorno de um objeto posicionado contra uma fonte de luz clara, e que nos permitem identificar esse objeto, ainda que não possamos ver sua cor e textura. Esse elemento costuma trazer um senso de mistério e uma estética muito bonita para as fotos, sendo muito usado inclusive em fotografia de moda, como forma de realçar o corpo dos modelos.
Legenda: São Paulo, Brasil. Rene Burri, 1960 (Magnum Photos)
Descrição: vemos de um ângulo de cima quatro pessoas que caminham no terraço de um prédio no que parece ser uma metrópole. 
Para criar uma silhueta na foto, basta posicionar o seu objeto entre a fonte de luz e a sua câmera, de forma que a parte que você irá fotografar não seja iluminada diretamente. Mas não é só isso. Para que a silhueta continue escura na foto o fotômetro precisa mostrar uma leitura negativa, -2 ou menor (utilizando o sistema de medição pontual). 
A nitidez do contorno da silhueta depende do tipo de luz: com uma luz dura você terá uma borda mais evidente e com uma luz suave os contornos ficarão mais imprecisos. Para saber mais sobre a diferença entre luz dura e luz suave leia esse texto do blog. Dependendo do objeto, uma bicicleta por exemplo, é interessante colocá-lo de perfil para facilitar a identificação. Geralmente o pôr e o nascer do sol fornecem uma luz favorável para essas fotos.
Um exemplo de fotógrafo que usava muitas silhuetas era René Burri. Nascido em Zurique, Suíça, trabalhou como fotojornalista, percorrendo o mundo e registrando diversos momentos importantes da segunda metade do século XX, como a Guerra do Vietnã e os protestos da Praça Celestial na China. 
A foto abaixo foi retirada em um centro de treinamento militar em Chicago em 1971. Os helicópteros no fundo, a arma que o homem da foto segura e o capacete que ele usa passam a sensação de que algo muito violento pode estar acontecendo. O fato de vermos apenas o contorno do soldado traz um mistério para a fotografia. No site do museu londrino Tate, é dito que “a iluminação transforma o soldado em um instrumento sem rosto da guerra como os helicópteros atrás dele” (tradução livre). Essa frase define muito bem como o uso da silhueta nessa foto deixa de ser um elemento puramente estético, e ganha significado.
Legenda: Chicago, Illinois, USA. Rene Burri, 1971
Descrição: vemos a silhueta do que parece ser um soldado, pois ele está usando capacete militar e carrega uma arma nas costas. No céu atrás do sujeito vemos diversos helicópteros, o que reforça o contexto militar da foto.
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Links, Referências e Créditos

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Filmes Fotográficos

O daguerreótipo foi uma das primeiras tecnologias fotográficas desenvolvidas, ela conseguia fixar imagens de maneira até então nunca vista.

No mercado atual os sensores digitais predominam, mas muitos ainda utilizam o filme e continuam essa importante parte da história da fotografia.

O daguerreótipo foi uma das primeiras tecnologias fotográficas desenvolvidas, ela conseguia fixar imagens de maneira até então nunca vista. Porém ainda era uma tecnologia cara, o procedimento para sua preparação era complexo e os equipamentos necessários eram pesados. Isso motivou inventores como Richard Maddox e George Eastman a desenvolverem o que hoje chamamos de filme fotográfico.

A imagem consiste em três pedaços de filme dispostos em uma superfície branca.
moritz320 | Pixabay

Foi em 1871 que o físico Richard Maddox expos no British Journal of Photography sua ideia de utilizar placas de vidro revestidas com gelatina misturada com brometo de cádmio e nitrato de prata para fixar imagens. Sua invenção possibilitou que o tempo de exposição necessário para captar a imagem ficasse mais rápido e as câmeras menores.

Os rolos de filme que conhecemos hoje foram inventados por George Eastman em 1889, eles eram feitos de nitrocelulose coberta com uma mistura de gelatina e cristais de halogeneto de prata. Com o intuito de comercializar sua invenção Eastman fundou a empresa Kodak, que foi pioneira na criação de câmeras cada vez menores e mais fáceis de usar.

Atualmente é possível encontrar uma grande variedade de filmes fotográficos. É importante entender as propriedades de um filme antes de utilizá-lo. Eles podem ter vários tamanhos diferentes, sendo o de 35mm o mais comum deles. Outro fator importante de se observar é a composição, os filmes podem ser feitos de vários elementos químicos e, por isso, proporcionam pigmentações diferentes.

Mas o elemento mais importante a ser observado é o ISO, que na fotografia química recebe o nome de ASA. Nas câmeras digitais podemos alterar o ISO a qualquer momento, mas nas câmeras analogicas é preciso trocar o filme, o que só pode ser feito depois de ter usado todas as poses, então é preciso pensar antes de sair fotografando.  Os filmes podem variar de ASA 32 a 3200, e vale lembrar que quanto maior a ASA maior o granulação das fotos.

Muitos pessoas consideram as películas fotossensíveis ultrapassadas, porém ainda existem muitos fotógrafos que preferem fotografar com elas, seja pelo saudosismo, pelo mistério de não saber o resultado final da foto, ou pela materialidade da fotografia analógica. Esse é o caso do britânico Lewis Khan, fotógrafo emergente no mundo da fotografia e do documentário, vencedor do Shuffle Film Festival em 2016.

No centro da foto vemos um garoto de cabelos loiros e olhos azuis encarando a câmera. Do seu pescoço para baixo ele está enrolado em um tecido branco, que dá a entender que alguém estava cortando seu cabelo. O fundo da foto está desfocado mas é possível perceber uma parede de tijolos a esquerda, e uma árvore com folhas verdes à direita.
Foto de Lewis Khan; sem título; 2017

A foto acima, que integra o projeto Fictions, foi feita por Khan quando ele estava em Cuba fotografando um festival de fogos de artifício. Todas as fotos foram feitas com filme, já que o fotógrafo diz se dar  melhor com as câmeras analógicas, pois, segundo ele, elas exigem que se tenham mais cuidado na hora de fotografar, já que você terá um número limitado de “cliks”, e não vai poder ver o resultado imediatamente.

Se você se interessa em fotografar com filme não é difícil encontrar eles a venda em sites como eBAY ou mercado livre. A empresa Kodak mantém até hoje sua produção de filmes, e devido a uma considerável  aumenta na demanda, a produção dobrou desde 2015. E para ter informações sobre tipos específicos de filme vale a pena checar o site Filmtypes.

Deixe seu comentário aqui embaixo sobre o que você achou da história dos filmes e desse excelente fotógrafo! E não se esqueça de nos seguir no Instagram para ficar por dentro de todas as nossas postagens e ver os conteúdos exclusivos que temos lá!

Fontes, Links e referências 

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Filmes Fotográficos. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/fotografetododia-filmes-fotograficos/>. Publicado em: 19 de out. de 2020. Acessado em: [informar data].

Usando o flash com criatividade

Exemplos de usos criativos do flash, permitindo efeitos bem interessantes.

 No encerramento da série, conheça algumas possibilidades criativas do flash!

Ao longo das últimas semanas, publicamos uma série de textos na seção #fotografetododia sobre os usos do flash, passando desde as diferenças entre flash embutido e dedicado nos resultados que proporcionam nas fotos até por noções quanto ao uso da potência e do zoom ao usar o speedlight. Hoje, para encerrar, traremos alguns exemplos de usos criativos do flash, permitindo efeitos bem interessantes.

É possível alterar completamente a cor e temperatura de uma imagem ao aliar o flash de forma indireta e alguma superfície da coloração desejada, como um tecido, por exemplo. Para isso o flash deve estar voltado para tal superfície, que ficará fora do campo que será fotografado pela câmera. Esse truque funciona melhor em ambientes com menor incidência de luz para que o flash possa colorir o primeiro plano de forma mais intensa.

Na imagem de Peter Kaaden feitas para um editorial de moda da revista INDIE Magazine, é possível notar a coloração avermelhada sobre a modelo. Esse efeito pode ser alcançado com mais de uma maneira, mas uma delas é o uso do flash associado a uma superfície vermelha ou um filtro utilizado acoplado ao flash.

Uma mulher é vista com os cotovelos apoiados sobre uma superfície e as mãos cobrindo parcialmente nariz e boca. Usa óculos escuros e tem a cabeça coberta por um casaco escuro. 
Peter Kaaden. 2017

Já o fotógrafo francês Francis Giacobetti possui uma série de fotografias chamadas Zebras – Listras Ópticas, que apresenta corpos nus vestidos unicamente com listras feitas a partir de sombras. As fotos possuem visivelmente um trabalho de pós produção a fim de atingir os tons de preto e branco desejados, com um forte contraste na relação entre a luz e as sombras. Esse tipo de efeito que pode ser construído com a utilização de flash e objetos que possam projetar sombras nas formas desejadas.

Uma mulher nua aparece deitada com os braços estendidas acima da cabeça e as pernas cruzadas. Sombras em forma de listras cobrem seu corpo, escondendo seus olhos, mamilos e sexo. 
 Francis Giacobetti. Zebras – Optic Stripes, 2012.

É também possível usar o flash aliado à outras técnicas para conseguir efeitos diversos. É o caso do uso da longa exposição, em que os movimentos diante da câmera são capturados e surgem borrados. Ao usar o flash , é possível congelar o primeiro plano e preservar o efeito da longa exposição no restante da foto, como pode ser visto na série de fotografias feitas por Gjon Mili com a participação de Pablo Picasso para a revista Life em 1949. Para conseguir tal efeito, foi usada a técnica de longa exposição para capturar os movimentos que Picasso fazia ao “desenhar com a luz” em um quarto escuro. Picasso aparece em várias posições ao mesmo tempo devido aos vários disparos do flash durante o registro. Porém, é preciso ter em mente que os resultados ao aliar técnicas como essa podem ser diversos, podendo ser ou não satisfatórios. O melhor é testar, fazendo experimentos e ajustes para conseguir os efeitos desejados. 

Pablo Picasso é visto em pé usando uma luz elétrica para desenhar formas do ar que são capturadas pela técnica de longa exposição. É possível vê-lo borrado em outras posições. 
Gjon Mili. Pablo Picasso, South of France, 1949.

E aí? O que achou da nossa série sobre os usos do flash? Esperamos que tenha entendido melhor os usos desse equipamento e que essa conclusão possa ser um incentivo a experimentar ideias usando ele. Conta pra gente as suas opiniões, dúvidas e dicas aqui nos comentários! Vamos adorar ver o debate se expandindo. Aproveite também para acompanhar o projeto no instagram e assine a nossa newsletter para ficar por dentro do universo da cultura fotográfica. 

Até semana que vem com mais um #fotografetododia!

Links, Referências e Créditos

A estética fine art de “O ano passado em Marienbad”

Já ouviram falar em  Fine art? O filme “O ano passado em Marienbad” é referência conceitual e estética dessa técnica.

Resultado de um impulso artístico e estético, pautado nas abordagens pessoais do autor, que reflete seus desejos, ou inquietações em um formato fantasioso ou crítico. A fotografia “Fine Art” ou “arte fina”, em tradução literal, é um recurso amplamente usado no mundo fotográfico, que abrange diferentes aspectos do processo fotográfico. 
Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela
Para compreender a fotografia fine art é necessário levar em consideração, aspectos referentes ao objetivo da criação, assunto, e as técnicas utilizadas durante o  processo. Entende-se que este recurso deve-se ser pautado no simples objetivo de se criar uma obra de arte, ou seja transpor a aparência literal da cena ou do assunto escolhido. Em outras palavras constituir uma imagem que partilhe uma visão própria, uma representação metafórica da imagem.  Vale ressaltar, que este modo de fotografar surge com um discurso de enaltecimento do único e do original. Desse modo, a fotografia composta sob tais características será um produto exclusivo, e de luxo. Como consequência o uso o rótulo “fine art” está intrinsecamente ligado a valorização financeira do trabalho produzido. 
Para esse tipo de fotografia, não basta a fotografia ser considerada bonita, deve-se levar em conta o conteúdo emocional da fotografia. Para esse fim, o assunto da imagem deve ser uma resposta da expressão emocional do artista que deverá se manifestar através da composição da cena,  escolha do ângulo, exposição, enquadramento, o uso de curvas, linhas, elementos visuais, entre outros. 
O foco de uma fotografia “fine art” é qualitativo e não quantitativo. Desse modo é importante destacar que não se trata de uma produção de viés publicitário ou comercial, mas sim, de viés artístico. Vale ressaltar a existência de um processo de impressão “fine art”, no entanto, apenas a utilização desse processo não garante a configuração conceitual da fotografia “fine art”. 
No longa metragem “O ano passado em Marienbad” (1961) o diretor de fotografia  Sacha Vierny, realizou belas composições em “fine art”. Elucida-se que a cinematografia ou fotografia no cinema é recurso que diz respeito a captação das imagens, à impressão do que será visto pelo espectador. Em que se transforma o texto em imagem. Nesse panorama, nasce o projeto conceitual do filme considerado um clássico do cinema francês. 
Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de telaAdicionar legenda

A fotografia, em tons preto e branco permitem uma abstração do real. A linha vertical traçada à partir do horizonte, remete ao perspectivismo italiano,  a partir da ideia de ponto de fuga, uma técnica bastante utilizada na pintura, constroi-se um cenário retilinio, que remete a ideia de  um tabuleiro de jogo, com peças espalhadas.   

Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela
 


 Além de belos cenários, o filme é torneado por um exagero estético. A protagonista exibe um luxuoso vestido feito com penas negras, e no rosto carrega uma expressão atordoada.

Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela
Nessa cena, temos uma fotografia construída em um jogo de luz e sombra, sob um cenário de escadaria, levando a um ar de abstração. Destaque para as sombras. 

Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela

Enquadramento sobreposto. Jogo de reflexos, composição intimista. 

Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela

Uso de poses, novamente uma composição intimista, escapam a imagem a estética do belo, do luxuoso.
“O ano passado em Marienbad” aborda de modo ímpar e não convencional questões relativas a tempo e memória. Sob a história de um amor extraconjugal que se prescreve a partir de um diálogo por lembranças com a outra parte que mostra-se não lembrar da história. Neste panorama a significância emocional criada pela fotografia está no uso de planos com poses e olhares bem marcados, a escolha de extremos de iluminação, claro e escuro. Em tons preto e branco que delineiam a abstração proposta no filme. 
 O que acharam desse conteúdo? O fine art, é estética bastante utilizada no universo fotográfico. Deixe seu comentário, nos siga no instagram e se quiser ficar por dentro de todo nosso conteúdo, assine nossa newsletter. 

Referências

  • Portal Intercom. ALMEIDA, Alves. M. Fotografia fine art (belas artes) – conceituação, linguagens e processos de produção. 2018. 15. Universidade Paranaense, Cascavel, XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel – PR. 2018. 
  • Cinema em cena.
  • HACER.
 Já ouviram falar em  Fine art? O filme “O ano passado em Marienbad” é referência conceitual e estética dessa técnica.
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Vida Selvagem

Fotografar a vida selvagem exige habilidades especiais e cuidados. Isso porque cada espécie é única. Aqui trazemos dicas para não errar nesse assunto!

Florestas, savanas, desertos… seja qual for a vegetação, existe uma grande variedade de animais que podem render fotos incríveis. No entanto, fotografar esse assunto exige habilidades especiais e alguns cuidados.
Um guepardo ao centro com dois filhotes. Cada um de um lado. O cenário ao redor é azulado, provavelmente pelo anoitecer
Jacomina & cubs | Marina Cano
A dificuldade enfrentada varia de acordo com hábitat e espécie. Uma mata fechada, por exemplo, permite que o fotógrafo se esconda e possa chegar mais perto do animal. Em contrapartida, num ambiente aberto, a aproximação fica comprometida, pela falta de “esconderijos”. Da mesma forma, conhecer o gênio da espécie – manso ou agressivo – é essencial para entender o perigo.
Paciência é outro requisito, uma vez que, nesse caso, a comunicação entre fotógrafo e fotografado é impossível. Ou seja, o animal vai agir da maneira dele, não da sua. Não há como trabalhar uma pose, como pode ocorrer com um animal adestrado. O ideal, então, é que o fotógrafo entenda o comportamento do bicho, a fim de antecipar seus movimentos e planejar o clique. Se não estiver preparado, pode perder sua única oportunidade.
Esse tipo de foto normalmente requer uma objetiva longa pois é realmente difícil se aproximar das espécies ou de seu grupo. O zoom torna-se um aliado nessas horas, como solução para suprir essa distância. Uma dica é utilizar lentes de 200mm para animais de grande porte ou mansos e até 600mm para animais pequenos ou perigosos. Hoje em dia, drones também são uma opção, uma vez que se aproxima pelo ar e deixa o fotógrafo fora de perigo. Mas cuidado, pois o barulho pode espantá-los. Se o assunto for insetos, as melhores opções são as lentes macro, que trazem uma riqueza de detalhes pouco visíveis a olho nu.
Marina Cano é uma fotógrafa espanhola, reconhecida por suas imagens de vida selvagem. Suas fotos já estamparam a capa da revista da National Geographic diversas vezes. Tem mais de 20 anos de experiência no assunto e é embaixadora da Canon.
Manada de elefantes na savana. Foto em preto e branco.
Sem título | Marina Cano
Na foto acima, vemos uma manada de elefantes. Um plano como este permite ao observador uma visão não só do animal em questão, mas também de seu hábitat. Trata-se de um campo aberto, com vegetação baixa e árvores de poucas folhas. É provavelmente a savana africana. A opção pelo preto e branco, juntamente com o céu nublado (muitas nuvens), traz uma ideia de melancolia à foto.
Que tal praticar? Zoológicos podem ser um ótimo lugar para começar! Não se esqueça de marcar a gente com a tag #fotografetododia!

Referências

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O Grande Hotel Budapeste (2014)

O Grande Hotel Budapeste, de 2014, é uma comédia ingênua que, pode não parecer, mas ensina muito sobre fotografia.

Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Há um homem jovem com características indo-arábicas, utlizando um uniforme de mensageiro na cor roxa e um chapéu da mesma cor com as palavras "Lobby Boy" bordadas. Em seu rosto há um bigode pintado. Ele está na frente de um luxuoso hotel.

O Grande Hotel Budapeste, de 2014, é uma comédia ingênua que, pode não parecer, mas ensina muito sobre fotografia.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Há um homem jovem com características indo-arábicas, utlizando um uniforme de mensageiro na cor roxa e um chapéu da mesma cor com as palavras "Lobby Boy" bordadas. Em seu rosto há um bigode pintado. Ele está na frente de um luxuoso hotel.
Zero Mustafa, personagem de “O Grande Hotel Budapeste”.
Descrição: Cena de “O Grande Hotel Budapeste” que mostra um homem jovem utilizando um uniforme de mensageiro na cor roxa e um chapéu da mesma cor com as palavras “Lobby Boy” bordadas. Em seu rosto há um bigode pintado. Ele está na frente de um luxuoso hotel.
Baseado em dois livros do escritor austríaco Stefan Zweig (“Coração Impaciente” e “Êxtase da Tirania”) e dirigido por Wes Anderson, “O Grande Hotel Budapeste”, de 2014, narra como Zero Mustafa, um refugiado apátrida na fictícia República de Zubrowka, ex-mensageiro do hotel Grande Budapeste, se torna o seu proprietário ao se envolver no roubo de um quadro em 1932.
Não são novas na literatura e no cinema as narrativas cujos protagonistas são os próprios locais em que a história se passa. São lugares cujas paredes ouviram muitas histórias e, agora, as contam. O Grande Budapeste, eu diria, conta os seus dias de glória. Desde a primeira aparição do hotel, o filme deseja nos mostrar que aquele lugar já foi palco de grande luxo e sofisticação. Contudo, como paredes não falam, a história do hotel é apresentada por dois intermediários, o Autor, personagem inspirado em Stefan Zweig, que, por sua vez, a conhece através de Zero Mustafa, que em 1968 é o proprietário do hotel já em decadência.
A época de glória de ambos, de Zero e do Budapeste, acontece em 1932, quando Zero começa a trabalhar como mensageiro no hotel, que, naquela época, era muito bem gerido por seu concierge, o Monsieur Gustave, um homem francês muito vaidoso que tem muito orgulho do Budapeste. A República de Zubrowka é assolada por uma guerra iminente e o governo perceptivelmente é ditatorial, mas Monsieur Gustave é responsável por manter o fausto do hotel, como se uma redoma protegesse o local de perigos externos.
O tal do “governo perceptivelmente ditatorial” se assemelha a uma fusão de vários governos europeus da Primeira à Segunda Guerra, mas o filme nunca dá nome aos bois. A situação política é evidenciada, principalmente, através de metáforas visuais que nos remetem ao repertório que muitos de nós possuímos acerca desses governos.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Há uma construção cor-de-rosa luxuosa. Nela há bandeiras pretas com um síbolo vermelho e branco que se assemelha a duas letras "Z". Há tanques de exercícito com militares armados na sua frente.
Militares e um símbolo característico indicam o começo de uma guerra. Alguma semelhança com a realidade? – Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
Descrição: Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. Mostra uma construção cor-de-rosa luxuosa. Nela há bandeiras pretas com um símbolo vermelho e branco que se assemelha a duas letras “Z”. Há tanques de exército com militares armados na sua frente.
Aliás, é a partir de metáforas visuais que os aspectos mais importantes desse filme são construídos, como o protagonismo do hotel e o humor absurdista. A construção do hotel, por exemplo, serve para definir, na obra, o que é luxuoso e o que é simples, o que é seguro e o que é perigoso. Para isso, o filme utiliza alguns princípios compositivos da fotografia que nós bem conhecemos, como proporção, pontos de vista e regra dos terços.

Arte e visual

A direção de fotografia do filme não é de todo inusitada para quem já assistiu outros filmes de Wes Anderson. Sua parceria com Robert Yeoman, diretor de fotografia, já soma mais de dez filmes. O abuso na centralização dos elementos e da simetria, o uso de ângulos inusuais (e às vezes absurdos) para efeito cômico e o enquadramento que sempre enfatiza o ambiente como um aspecto relevante para a ação são marcas dos filmes do diretor, mas que podem ser ditas como uma construção em conjunto com Yeoman.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Um homem de meia idade está pendurado em um penhasco coberto de neve. Ele se segura apenas com as mãos.
Pontos de vista são usados no filme para gerar o efeito de surpresa e comicidade, além de construir referências visuais com obras de comédia clássicas. – Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
Descrição: Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. Mostra um homem de meia idade pendurado em um penhasco coberto de neve. Ele se segura apenas com as mãos.
Ao assistir aos filmes de Wes Anderson a impressão que tenho é que ele deseja usar todos os princípios de composição ao mesmo tempo, sem se importar de que sejam perceptíveis ao espectador ou pouco natural. “O Grande Hotel Budapeste”, porém, me parece sua obra mais convincente. Seus outros filmes geralmente me transmitem a sensação de que o diretor sabia o que queria, mas que o resto da equipe não conseguiu acompanhar. É o caso de “Os Excêntricos Tenenbaums”, filme do diretor que fica sempre entre a fantasia, que é a intenção, e o ridículo, que é o resultado de uma arte que não se leva a sério. A obra também não consegue ser tão esteticamente aprazível quanto O Grande Hotel Budapeste, que, não à toa, mesmo tendo perdido o Oscar de Melhor Fotografia, levou os Oscars de Melhor Produção de Arte, de Melhor Figurino e de Melhor Maquiagem e Penteados, atestando que toda a equipe artística estava comprometida com o visual do filme.
Por esses motivos, “O Grande Hotel Budapeste” é um ótimo filme para observar os princípios compositivos da fotografia, como os que são ensinados na nossa coluna #fotografetododia.
Cena do filme "O Grande Hotel Budapeste". Há uma luxuosa construção, à noite, com luzes acesas em todos passando por todas as suas janelas.
As maquetes do hotel e a decoração das cenas internas foram concebidas por Adam Stockhausen, que ganhou o Oscar de Melhor Direção de Arte. – Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
Descrição: Cena do filme “O Grande Hotel Budapeste”. Mostra uma luxuosa construção, à noite, com luzes acesas em  todas as suas janelas.

Considerações

“O Grande Hotel Budapeste” tem um visual marcante e uma fotografia que consegue utilizar os princípios de composição já conhecidos para criar cenas novas e inusitadas. Entretanto, mais do que um filme para observar aspectos da fotografia, “O Grande Hotel Budapeste” tem uma história que se sustenta e que diverte, com cenas que remetem ao clichê das comédias pastelão, mas que funciona como uma comédia madura, porque o filme se leva a sério e acredita em si. Dentro daquele mundo específico, o ridículo se torna o normal. Ademais, o seu visual de conto de fadas adulto é um alívio nesta quarentena e o filme nos faz acreditar nas palavras de Mounsier Gustave quando ele diz que “ainda resta uma centelha fraca de civilização neste matadouro selvagem que já foi conhecido como humanidade”.
Se você gostou desta postagem, temos também um #fotografetodia sobre o filme. Confira aqui! Para receber postagens como essa no seu email, assine a nossa newsletter.
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Luzes e Sombras

A sombras podem ser apenas a consequência da existência da luz, podem ser um problema quando escurecem a fotografia ou podem ser o seu tema principal.
Coluna

A sombras podem ser apenas a consequência da existência da luz, podem ser um problema quando escurecem a fotografia ou podem ser o seu tema principal.
Coluna
Brassaï – Paris de Nuit (Paris à Noite)
Descrição: Fotografia de uma coluna de concreto encostada a um muro, onde sua sombra se reflete.
A mera existência de uma fotografia implica na existência de luz. Até em seu nome ela está presente, já que segundo o Dicionário Etimológico “fotografia” vem do grego “phosgraphein” que significa “registrar luz”. Sendo a luz a base da fotografia, é evidente a importância de planejar a iluminação, como a posição, a qualidade e a cor da luz. Não parece ser tão notória, porém, a relevância das sombras dentro dessa relação. A sombra é literalmente uma região de ausência de luz e, se vamos nos atentar para a posição da iluminação ou para clarear certas regiões escurecidas, porque não aproveitar para manipular as sombras como um complemento da luz na fotografia?
A sombra pode ser um problema quando escurece o motivo ou pode estar na imagem como um mero resquício da luz, ou seja, uma particularidade que não se pode evitar. Por isso, falaremos apenas da sombra como um detalhe premeditado ou como o tema principal da fotografia, isto é, a sombra como parte da composição. É o caso das fotografias surrealistas de Brassaï, fotógrafo húngaro conhecido por retratar Paris, em seu livro Paris à Noite. O ensaio não é apenas um registro histórico da arquitetura da cidade e dos seus hábitos noturnos, mas uma revolução artística no modo de produzir fotografias, ao passo que fotografava à noite sem luz externa. Ele sempre carregava consigo suas fotografias para provar que era possível fotografar à noite. Em “Paris de Nuit” as sombras não são a consequência da luz, mas o que permite que a luz se destaque, com seus cenários de escuridão em que postes e faróis projetam uma aura em torno das noites de Paris.
Rua
Brassaï – Paris de Nuit
Descrição: Fotografia de uma rua sinuosa com árvores e postes. O chão está molhado.
As luzes e as sombras se tornam, neste caso, ora um realçador das formas das ruas e da arquitetura, assim como da vida noturna, ou seja, o que caracteriza as fotografias como surrealistas, ora o próprio tema da fotografia, o que descreve a sensação de estar em uma rua parisiense no século XX. Observe como na fotografia acima as sombras nos espaços entre os ladrilhos coloca a sua forma em destaque e como a variação de luz e sombra transparece a textura de chão molhado. Isso acontece porque a sombra é um indício de luz e, de certa forma, também é um indício da presença do objeto, podendo, portanto, sinalizar a continuação deste em um ponto cego da fotografia ou exibir o formato de um objeto fora da composição, como na fotografia do início do post. Desta forma, as sombras oferecem mais informações sobre o que está sendo fotografado do que a própria coisa.
Calçada
Brassaï – Paris de Nuit
Descrição: Fotografia de uma calçada onde, ao lado direito, árvores seguem a sua extensão e, ao lado esquerdo, há um muro em que as sombras das árvores se projetam.
As sombras de pessoas e objetos podem ser transformadas em guias visuais, como linhas que guiam o olhar do leitor pela ação, ou retratar o ambiente de forma espelhada, conceito parecido com a fotografia de reflexos, criando um mundo alternativo, que pode ser simétrico ou não e fiel ou não ao mundo real. É o exemplo acima das sombras das árvores no muro. É como se houvesse árvores dos dois lados, sendo um lado o real e o outro um lado de fantasia.
Aliás, as sombras casam bem com a ideia de mistério e podem ser utilizadas para criar esse clima, mas se o objetivo é uma fotografia mais descontraída, as sombras podem ser usadas como caricatura, ou seja criando uma versão burlesca da cenas. Apenas atente-se ao utilizar as sombras em rostos. Em um tema dramático, as sombras podem servir de auxílio, mas tome cuidado ao obscurecer a expressão dos fotografados. Em retratos, por exemplo, o ideal é que os olhos estejam nítidos.
Casal
Brassaï – Paris de Nuit
Descrição: Fotografia de um casal entre uma parede e um poste. Eles se encaram com intimidade e apenas a luz do poste ilumina seus rostos.
Exercite! Fotografe de dia e busque nas sombras o tema de sua fotografia. Depois, fotografe à noite e utilize a luz apenas como complemento para produzir sombras. Compartilhe os resultados nos marcando (@d76_cultfoto) em sua postagem do instagram.

Referências

  • FHOX
  • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.
  • Photo Stories
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Panning

Um objeto nítido em meio a um cenário borrado causa um efeito de movimento, como podemos ver em carros de corrida. Essa técnica é chamada de panning.

O panning é um recurso muito utilizado para fotografia de esportes. Por meio dessa técnica, é possível congelar atletas, carros ou outros objetos em atividade e ao mesmo tempo sugerir a ação que estavam realizando. A ideia é que o assunto principal da foto fique nítido, enquanto o restante do cenário, borrado. Essa combinação causa um efeito de movimento, devido à justaposição de objetos contrastantes: um nítido e outro borrado.
Max Verstappen of Netherlands and Aston Martin Red Bull Racing drives his RB14 during the Austrian Formula 1 Grand Prix at Red Bull Raing on July 01, 2018 in Spielberg, Austria | Vladimir Rys
Para conseguir esse efeito, é necessário uma velocidade de obturador mais lenta que a normalmente aconselhável. Se for rápida, vai acabar congelando tudo e, portanto, o resultado não será o esperado. Vale ressaltar que a velocidade exata vai depender do assunto principal da imagem. Já falamos mais sobre o tema aqui.
Além da velocidade adequada, o panning exige uma tomada panorâmica. Em outras palavras, a câmera precisa se movimentar para seguir a ação, deslocando-se por um eixo imaginário, da mesma forma que se faz em uma fotografia panorâmica.
Já deu para notar que o panning exige treino e trata-se de uma situação de tentativa e erro. A captura nítida do objeto principal e o movimento suave da câmera precisam ser dominados para um bom resultado.
Vladimir Rys é um fotógrafo tcheco que já trabalhou para diversas revistas esportivas. Desde 2005, sua principal área de atuação é a Formula 1. Em seu vasto portfólio na categoria, podemos ver vários exemplos de panning.
Romain Grosjean of France and Haas F1 Team drives his VF18 during practice for the Chinese Formula 1 Grand Prix at Shanghai International Circuit on April 13, in Shanghai, China | Vladimir Rys
Na foto acima, vemos um veículo da Haas durante um treino para o GP da China de 2018. A técnica do panning foi muito bem feita. Vemos o carro com muita clareza e o fundo está totalmente borrado, sendo até impossível descrever o cenário. Dessa forma, a impressão que se tem é que o carro está em altíssima velocidade, como, de fato, está.
Que tal praticar? Pegue sua câmera, treine com carros na rua ou qualquer outra coisa em movimento! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

Referências

• HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia – O Guia Completo Para Todos Os Formatos. 4ª ed. São Paulo: Senac, 2013.
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Os princípios compositivos em O Grande Hotel Budapeste

No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma luxuosa fachada de hotel. A parede é cor-de-rosa e o telhado azul.

No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma luxuosa fachada de hotel. A parede é cor-de-rosa e o telhado azul.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
Descrição: Uma luxuosa fachada de hotel.

Centralização

Já ensinamos em Regra dos Terços que nem sempre o elemento precisa estar centralizado para receber destaque, porém, Wes Anderson prova que tendo criatividade é possível centralizar tudo e qualquer coisa sem tornar a imagem entediante. Na sua cinematografia, a centralização coopera para um efeito propositalmente exagerado, que faz parte da ideia de um mundo próprio do filme, onde o absurdo é naturalizado, além de realçar a perfeição dos cenários extremamente simétricos.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma rua de uma cidade europeia, há casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma rua com casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.

Simetria

A simetria, aliás, é outra característica da composição cinematográfica do diretor. É o modo pelo qual o diretor enfatiza os ambientes que em suas obras são sempre parte importante das ações, quase personagens. Na cena abaixo, por exemplo, o personagem Zero está correndo pelo hotel, mas a cena é filmada em plano aberto e centralizada, em vez de seguir o personagem.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra o lobby do hotel. As paredes são de madeira e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que se divide em duas. É um ambiente luxuoso.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Lobby do hotel. As paredes são de mármore e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que, em cima, se divide em dois outros lances de escadas.

Linhas

É importante citar que a ênfase à simetria conta com a ajuda das linhas, assunto diversas vezes já abordado no #fotografetododia e que estão presentes por todo o canto no filme.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra dois personagens dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Dois personagens do filme, um jovem e um homem de meia idade, dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.

Formas

Além das linhas, a fotografia do filme brinca bastante com as formas, mas sempre simétricas.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.

Quadro dentro de quadros

Uma das maneiras que o filme explora as formas geométricas é através da utilização do framing ou de quadros dentro de quadros. Esse é um recurso que aparece muitas vezes para ajudar a manter o aspecto cômico do filme e, de certa maneira, é uma forma lúdica de transmitir o enredo do filme, que nada mais é do que uma história que nos é contada por um autor, que, por sua vez, a ouviu de outra pessoa. Ou seja, quadro dentro de quadros.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma janela oval com um funcionário olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome "Grand Budapest" está escrito em um letreiro dourado.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma janela oval com um funcionário do hotel olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome “Grand Budapest” está escrito em um letreiro dourado.

Regra dos Terços

Mesmo prezando pelos personagens e objetos centralizados, nas poucas cenas em que deseja descentralizá-los, o filme utiliza a boa e velha Regra dos Terços. Observe no frame abaixo como Monsieur Gustave (à frente) e Zero (atrás) estão nos pontos de interseção, assim como o nome do hotel. O ambiente, porém, está simétrico e centralizado, se mantendo fiel ao estilo do filme.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais nove está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais novo está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.

Fundo

O fato do ambiente ser mantido centralizado expõe uma preocupação de Anderson e da equipe técnica do filme com o plano de fundo. Essa é uma preocupação que deve ser copiada na fotografia. Especialmente na fotografia de pessoas, é um erro comum planejar a composição para o plano principal, deixando os planos interiores de lado. Em todas as cenas do filme o plano de fundo é muito bem planejado.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.

Ponto de Fuga

Essa preocupação com o ambiente se traduz em um importante conceito para a construção da profundidade: o ponto de fuga. Observe na cena abaixo como mesmo as laterais do carro parece que convergirão em algum ponto no infinito, passando a ideia de profundidade.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.

Paleta de Cores

Outro ponto importante para a fotografia dos filmes de Wes Anderson é a paleta de cores. Sempre muito colorido, seus filmes abusam de cores inusuais para transmitir a ideia de fantasia. Porém, dentro de cada cena as cores seguem um padrão, de forma que o colorido não seja confuso ou irritante. As roupas imitam o padrão de cores do ambiente, determinando dessa forma quem faz parte do lugar e que não faz. Os trabalhadores do hotel e o próprio hotel, por exemplo, apresentam uma coesão.
Além disso, as cores também ajudam a construir a história. As cores do hotel, que ilustram o seu luxo, servem de padrão para determinar se os outros ambientes também são luxuosos. As cenas na prisão, por exemplo, têm tons cinzentos. Uma brecha para uma sequência afetuosa entre o jovem casal do filme, por sua vez, utiliza tons pastéis, como a imagem abaixo.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem e uma mulher jovens dentro de uma caçamba de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Um homem e uma mulher jovens estão dentro de uma carroceria de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.

Pontos de Vista

A comédia encontra espaço em outro elemento de composição: o uso de pontos de vista inusitados. O uso de plongè e contra plongè é bem difuso no filme, geralmente seguindo o ponto de vista de um personagem, ainda que outras vezes antecipe uma surpresa e em outras apenas nos apresente um objeto específico.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.

Objetiva

Por último, a fotografia do filme também permite observar a importância da escolha da objetiva para o resultado final. Se o filme não tivesse sido rodado com uma grande angular, seria completamente diferente. O hotel não seria capturado em suas grandes dimensões e também não haveria a pequena distorção que faz os personagens que estão perto da câmera parecerem maiores e, consequentemente, cômicos.
Assista ao filme e nos conte aqui nos comentários quais os outros princípios que pode ser observados no filme!
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