Quando os Yanomami foram ao museu: O episódio de Cláudia Andujar na série Inhotim – Arte Presente

As imagens produzidas por Andujar são encantadoras e impressionantes, sendo o mais curioso o fato dela nunca ter feito um curso de fotografia.

Descubra o que o povo Yanomami pensou quando se deparou com a obra de Cláudia Andujar no Instituto Inhotim.

Quando fui ao Inhotim, em julho de 2019, não sabia muito bem o que encontraria. A maior galeria de arte a céu aberto no mundo, justo no meu país, no meu estado e relativamente próximo de onde eu estudava! Mais do que abrigar coleções de alguns dos mais importantes e interessantes artistas nacionais e internacionais da contemporaneidade, trata-se de um espaço enorme em que botânica, arquitetura e arte se unem de uma forma absolutamente harmônica e inacreditavelmente poética. Assim, enquanto estudante de fotojornalismo, não pude deixar de passar bastante tempo em uma galeria de uma fotógrafa até então desconhecida para mim. A galeria Cláudia Andujar, que abriga desde 2015 uma boa curadoria de trabalhos da fotógrafa suíça naturalizada brasileira, representa uma fase marcante e definitiva em sua carreira.
Uma fotografia de Cláudia Andujar é revelada em uma sala de luz infravermelha, com líquido revelador. Sobre a superfície, é visível uma mão enluvada. A foto mostra um jovem indigena Yanomami submergindo na água. 
Cena do episódio Cláudia Andujar, da série Inhotim – Arte Presente

Quando se estabeleceu em São Paulo, Andujar trabalhou como fotógrafa para as revistas Cláudia, Life e Realidade. Essa última lhe rendeu a experiência de imergir na floresta Amazônica. O que se seguiu foi o divisor de águas da carreira de Andujar. Com o apoio de bolsas da Fundação Guggenheim  e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, passou a conviver e fotografar o povo Yanomami nos anos que se seguiram. O resultado foi uma vasta e consagrada produção fotográfica revelando aspectos da cultura, espiritualidade e conflitos em torno desse grupo indígena. Quanto mais se envolveu com eles, mais passou a defender seus direitos, constantemente ameaçados pela exploração por homens brancos da região em busca de minérios. Muitos Yanomami morreram em decorrência de doenças oriundas da presença de homens brancos e por conflitos violentos, com a ocorrência de invasões seguidas por assassinatos. 

As imagens produzidas por Andujar são encantadoras e impressionantes, sendo o mais curioso o fato dela nunca ter feito um curso de fotografia. Ainda assim, é visível um cuidado técnico e estético com suas imagens, como o uso de longa e dupla exposição em registros de rituais, como meio para transmitir a espiritualidade envolvida naqueles momentos, ou o truque revelado no episódio dedicado à criação de sua galeria na série Inhotim – Arte presente, de 2018, em que, para conseguir o desfoque lateral de muitas das fotografias, ela revela que usava vaselina diretamente sobre a lente de sua câmera.

Há universos iconográficos dentro da  vasta coleção de fotografias, presentes na galeria, como a série “Marcados”, que constitui-se por retratos de indígenas olhando diretamente para a câmera, com um número de identificação em placa preta pendurado em seus pescoços. Trata-se do meio encontrado para numerar e saber quais indígenas já haviam sido vacinados durante as expedições de médicos às aldeias em decorrência de uma epidemia que se alastrou entre eles na época em que eram feitas construções de estradas em seu território, nos anos 80. No jogo de sentidos que se estabelece através das imagens, a série Marcados ganha outras proporções ao ter em mente que aquelas eram pessoas que estavam marcadas para morrer ao ter sua segurança e sua história ameaçados por ações de homens brancos que jamais se preocuparam com toda uma comunidade indígena, tendo em vista o progresso e a economia. Ironicamente, a palavra “yanomami” significa “ser humano”, mas nas fotografias de Andujar, o que vemos são pessoas desprovidas de sua humanidade, ao serem reduzidas a números. São marcados para morrer, assim como os parentes judeus de Andujar que, ao final da Segunda Guerra Mundial, carregavam em seus ombros a estrela de Davi como identificação, obrigados a viverem em guetos e posteriormente, confinados em campos de concentração.

São visíveis diversos indígenas, homens e mulheres, diante de um fundo branco neutro e olhando diretamente para a câmera. Cada um possui uma placa com um número de identificação pendurado ao pescoço. 
Cláudia Andujar. Série Marcados.

A morte é ainda o principal mote para compreender a recepção dos Yanomami à obra de Andujar quando, no melhor momento do episódio, são convidados a irem ao Inhotim, um espaço que, apesar de belo e relevante para a arte contemporânea, pouco, ou melhor, nada tem a ver com a vida e cultura de povos indígenas. É curioso ver no episódio o momento em que os Yanomami olham as fotografias, com expressões que por vezes parecem muito semelhantes à dos demais visitantes do Inhotim, mas em outros, parecem tão diferentes, pois identificam rituais, posam diante de sua própria memória e até estranham a forma como um branco – no caso, Andujar – os representou, como quando o pajé questiona o por quê de haverem fotos de mãos e pés, como se a fotógrafa quisesse saber como são seus membros, como se pudessem ser algo muito diferente do usual.  

Acontece que muitas das pessoas mostradas nas fotografias já estão mortas, o que muda por completo a relação do Yanomami com as fotografias. O pajé Davi Kopenawa deixa claro que não reconhece muitas das pessoas que estão ali representadas, algumas por serem de outras tribos, outras por já terem morrido a muito tempo. Os nomes dos indígenas não consta, como observa uma índia Yanomami a seu lado quando observam uma das imagens, o que parece apenas dificultar o seu reconhecimento. Um outro indígena, que não foi identificado no episódio, explica com um smartphone na mão que não há problema em fazer registros fotográficos de seus parentes e amigos enquanto sabe que aquela pessoa ainda está viva e que esteve presente naquele lugar, mas em caso de falecimento, não hesitaria em deletar tais imagens, explicando que não devem ser preservadas quando são tudo o que restou da existência daquela pessoa.

O pajé ainda comenta sobre a fotógrafa ter feito registros das mãos e pés dos Yanomami, sem que seja possível indicar a quem pertencem tais partes do corpo, e comenta, em tom de brincadeira, que irá fotografar as mãos dela também. Depois, em uma cena ainda mais incômoda, em que está sentado diante de funcionários responsáveis pela galeria e com Claudia Andujar a seu lado, revela que, diferente deles e daqueles que visitam a galeria, olhando para as fotos com interesse e achando-as bonitas, olhar para pessoas que conheceu e que sabe já estarem mortas o entristece, mas completa afirmando conhecer o trabalho de Andujar, a quem chama de Napayama, revelando respeito a ela por seu envolvimento e luta por  seu povo.

Um indígena Yanomami é visto de costas observando fotografias de Cláudia Andujar em uma galeria do Instituto Inhotim. Seu tronco está nu, e  ele usa acessórios característicos, como um colar e um conjunto de penas vermelhos em seu braço esquerdo. 
William Gomes. Yanomami visita galeria com fotografias de Cláudia Andujar.

O episódio segue com as impressões de Kopenawa sobre o próprio museu, em que, não o vê como local de preservação, mas como um local que foi devastado e replantado com árvores que não reconhece como brasileiras, culminando na afirmação de que os verdadeiros responsáveis pela preservação da flora são eles, os indígenas. Há ainda uma discussão sobre a arte indígena, os desenhos feitos pelos próprios Yanomami após serem apresentados ao papel e ao pincel atômico por Andujar e que seriam, portanto, representativos dos seus próprios grafismos e formas de produzir representações em imagens. Há também explicações sobre o envolvimento da fotógrafa com o ativismo para salvar a vida daquele povo durante a ditadura militar. 

É interessante perceber que muitas vezes, através de outras culturas, diferentes visões sobre um assunto podem ser conhecidas. Enquanto nos apegamos às imagens fotográficas para lembrarmos de nossa vida, daqueles que já se foram e até para expô-las em espaços como museus, o povo Yanomami não vê sentido em conservar a existência de alguém querido que já não habita entre eles. O episódio Claudia Andujar é o 4º da série Inhotim – Arte Presente, que está disponível na Netflix.

E aí? Gostou de conhecer um pouco mais sobre a obra de Cláudia Andujar e sua relação com os Yanomami? Conta pra gente aqui nos comentários o que achou da dica de episódio de hoje! Nos siga também no Instagram.

Links, Referências e Créditos

CLAUDIA Andujar. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18847/claudia-andujar>. Acesso em: 21 de Nov. 2020.
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Tom Beard

Tom Beard é um fotógrafo britânico conhecido por seus trabalhos com artistas da cena musical londrina.

 Conheça Tom Beard, fotógrafo britânico que trabalhou com Florence + The Machine e Adele.

Tom Beard é um fotógrafo britânico conhecido por seus trabalhos com artistas da cena musical londrina. Conheci seu trabalho através de suas fotografias para capas de álbuns e singles da banda Florence + The Machine, que já acompanho a algum tempo. Uma delas, feita para a capa de Ceremonials (2011) faz parte atualmente do acervo permanente do National Portrait Gallery, em Londres, sendo uma fotografia da vocalista Florence Welch feita em uma sala escura com espelhos, que traduziu muito bem a estética sonora e visual da banda nesse trabalho. 

Beard começou a fotografar em um centro para jovens após as suas aulas escolares e conviveu com uma cena musical bastante efervescente onde tornou-se amigo de pessoas como o cantor indie Jamie T e a aclamada Florence Welch, que conheceu quando ainda frequentava a faculdade de artes de Camberwell. Desistiu da faculdade para acompanhar as bandas em suas turnês e fez trabalhos com nomes como Mystery Jets e Larrikin Love, tendo também feito  fotos para a cantora Adele na época em que divulgava seu primeiro álbum de estúdio. O fotógrafo chegou a dizer que só começou a fotografar por “estar no lugar certo e na hora certa”, mas depois esclareceu que disse isso na época por ainda ter dificuldade em crer estar ganhando a vida com algo que gostava tanto.

Um diferencial bastante interessante de Beard é seu uso de filme fotográfico para seus trabalhos, tanto relacionados à música, quanto editoriais e seus recentes trabalhos com o audiovisual. Apesar de não desprezar o valor do digital, ele vê os métodos analógicos com sentimentalismo e defende sua materialidade, já que não se dá bem com arquivos de computador e celular. Confira abaixo algumas dessas fotografias.

A cantora Florence Welch é vista em uma sala escura, com sua imagem refletida em espelhos. Usa um vestido de lantejoulas escuras com uma grande fenda. Está de olhos fechados; a cabeça inclinada para a esquerda e uma mão sobre o braço esquerdo. 
Tom Beard. Capa do álbum “Ceremonials”, de Florence + The Machine, 2011
A cantora Adele é vista sentada em frente a uma mesa, usando vestido preto e com uma expressão de tédio. O ambiente, com um balcão ao fundo e homens em uniformes brancos, e os objetos, como uma xícara branca e um cardápio na mesa, indicam que trata-se de um bar ou lanchonete.
Tom Beard. Capa do single “Hometown Glory”, de Adele, 2008
Colagem com diversas fotos mostrando os integrantes da banda Larrikin Love sobre fundo preto. Aos cantos, há imagens com temas circenses como palhaços, mágicos e um cavalo enfeitado. 
Tom Beard. Capa do álbum “Edwould”, banda Larrikin Love, 2006
O cantor Jamie T é visto usando camisa branca, calça jeans, blusa xadrez azul e sapatos pretos pulando de um sofá com listras brancas e vermelhas. Há uma guitarra recostada no sofá e a bandeira do Reino Unido ao fundo.
Tom Beard. Foto da sessão para o álbum “Kings & Queens”, de Jamie T, 2009
A cantora Florence Welch é vista sentada no chão de uma floresta, com as mãos apoiadas em um joelho e olhando para a câmera. Veste uma fantasia de palhaço e está rodeada por flores, folhas, raízes de árvores, figuras de animais desenhados e uma gaiola dourada.
Tom Beard. Florence Welch no set do videoclipe de Dog Days Are Over, 2008
Dois rapazes usando roupas de moletom e tênis são vistos sentados em uma calçada. Tem as cabeças baixas e cobertas pelos braços que estão cruzados sobre os joelhos. Outras pessoas são parcialmente visíveis caminhando ao lado direito da imagem. 
Tom Beard. Foto de arquivo
Foto feita durante o festival Glastonbury. O campo aberto é visto durante o nascer do sol de um dia nublado. Há várias pessoas deitadas e algumas em pé e há sujeira por toda a área. Uma bandeira e algumas árvores são vistas ao fundo.
Tom Beard. Nascer do sol de segunda-feira, Glastonbury.
A cantora Florence Welch é vista posando com uma mão delicadamente repousada sobre seu ombro direito e o mão esquerda erguida na altura dos olhos. A cabeça está voltada para o lado direito da imagem e está de olhos fechados. Usa uma blusa semitransparente de pequenas correntes prateadas e um adereço em forma de pulmões que cobre seus seios. O fundo é composto por um tecido pesado com estampa floral e há galhos com flores e pássaros. 
Tom Beard. Capa do álbum “Lungs”, de Florence + The Machine. 2009

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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Não me lembro quando, onde, e muito menos por que assisti pela primeira vez “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, mas sei que esse filme me marcou de uma maneira indizível – embora ironicamente eu esteja escrevendo tentando colocar tal sentimento em palavras.

 Entenda como a fotografia marca a história do filme francês que conquistou pessoas ao redor do mundo e tornou-se referência cult. 

Não me lembro quando, onde, e muito menos por que assisti pela primeira vez “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, mas sei que esse filme me marcou de uma maneira indizível – embora ironicamente eu esteja escrevendo tentando colocar tal sentimento em palavras. A história de uma jovem que, devido a um equivocado diagnóstico de doença cardíaca, cresce longe do convívio com outras crianças e constrói para si um mundo próprio, aprendendo também a encontrar prazeres em coisas simples da vida, talvez até quase imperceptíveis aos outros em suas vivências cotidianas. De relato biográfico, para fábula sobre fazer boas ações sem esperar nada em troca, para um romance açucarado, o filme francês de 2001, dirigido por Jean Pierre Jeunet, foi um sucesso de público e crítica, tendo sido indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, e outros. Com uma personagem sensível aos pequenos detalhes ao seu redor, uma direção de arte marcada por uma paleta de cores de verdes e vermelhos contrastante, e uma história que pouco a pouco vai nos conquistando, gerando identificação e choque ao notar como deixamos passar o dia sem notar suas pequenas maravilhas, o filme tornou-se uma referência cult, tendo uma boa quantidade de fãs e recentemente, adaptado para um musical na Broadway. Mas é a fotografia – e aqui não me refiro à cinematografia, um dos destaques mencionados, mas à imagem fotográfica, sua materialidade e seu poder de carregar afetos, que me rouba a atenção e me motiva a escrever esse texto. Acontece que quando criança, Amélie ganha de presente de sua mãe uma câmera, mas um vizinho, agindo de má fé, faz com que ela, após fotografar a tarde toda e presenciar um acidente de carro, acredite que a máquina causava acidentes. A fotografia volta a marcar presença ao longo do filme e mostra-se relevante uma vez que um dos principais eixos da narrativa gira em torno de um álbum de fotografias misterioso.

 
Cena de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). O curioso álbum de fotografias desperta o interesse de Amélie e muda seu destino.

Um dia, Amélie se depara com um homem que catava pedaços rasgados de fotografias do chão de uma cabine fotográfica. Ela se apaixona por ele ali mesmo, sem jamais ter o conhecido ou sequer falado com ele. Quando o jovem sai correndo tentando parar um homem que esqueceu alguma coisa, ela vai atrás e acaba pegando uma mala que cai da bicicleta do rapaz desconhecido. O que há dentro da mala muda seu destino que, até então, parecia ter seu sentido em fazer pequenos gestos de bondade aos outros, sem no entanto mudar a solidão de Amélie, que cultivava uma relação de pouca comunicação com o pai, que por sua vez, recusava-se a viver a vida e viajar após a morte da esposa. 

O álbum desperta o fascínio de Amélie por possuir uma vasta coleção de fotografias de estranhos que haviam sido descartadas, rasgadas, e ali estavam coladas e catalogadas. Há ali fotografias de um homem misterioso, que surgia diversas vezes, sempre com a mesma expressão. É interessante como em certo momento, ao conversar com o velho pintor Raymond sobre quem poderia ser o sujeito, Amelie chega à conclusão que só poderia ser um morto que manda sua imagem vinda do além temendo cair em esquecimento pelos vivos, o que parece remeter ao pensamento de que a fotografia seria uma maneira de superar a própria ação do tempo e da morte, mantendo congelado um momento da história para a eternidade.  

Ao mesmo tempo que Amélie quer descobrir a identidade do estranho, inicia um plano para conhecer seu amado, em que a fotografia faz parte crucial para isso, uma vez que é através dela que começa a comunicar-se com ele, sempre disfarçada e segurando mensagens escritas para que possa vê-lo em um determinado local e horário. Além disso, Amélie busca fazer com que o pai viaje pelo mundo e aproveite a vida, contando para isso com a ajuda de uma amiga aeromoça que leva consigo o querido anão de jardim do Sr. Poulain, enviando para a sua casa fotos do gnomo em pontos turísticos ao redor do mundo. No final, o médico aposentado que não queria sair de casa termina por fazer as malas e tomar um táxi em direção ao aeroporto internacional. 

Cena de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). O Sr. Poulain recebe em casa fotos de seu anão de jardim viajando o mundo.

É curioso como, não sendo um filme cujo assunto seja a fotografia, ela esteja presente de forma tão marcante. É mais um dos detalhes fabulosos do icônico filme francês que ainda consegue me emocionar ao assisti-lo pelo que acredito ser a 10ª vez. Não espero convencer nenhum leitor a assistir a esse filme com grandes expectativas que se espera de uma grande produção mainstream hollywoodiana. Sugiro que assista despretensiosamente, mas com o coração aberto. Trata-se de um filme feito de sutilezas, como o próprio olhar da personagem que lhe dá nome antevê, onde até mesmo uma fotografia sem graça rasgada pode levar a uma pequena reviravolta do destino. 

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Andy Warhol

A primeira vez em que ouvi falar de Andy Warhol foi ao ler um livro sobre a cidade de Nova York quando eu tinha 11 anos de idade.

A primeira vez em que ouvi falar de Andy Warhol foi ao ler um livro sobre a cidade de Nova York quando eu tinha 11 anos de idade. Desde então, minha paixão e interesse pela arte vem sido alimentada ano após ano, obra após obra, imagem após imagem. Nascido com o nome Andrew Warhola, na cidade de Pittsburgh nos Estados Unidos, Warhol graduou-se em Belas Artes e tornou-se conhecido como um dos principais nomes do movimento pop art, uma vanguarda artística surgida na década de 60 com o propósito de retratar a cultura norte-americana na época, seguindo a lógica de produção em massa, como na famosa série de quadros representando a lata de sopa Campbell’s.

Autorretrato de Andy Warhol. Ele olha diretamente para a câmera, usa blusa de gola alta preta e sua famosa peruca platinada. O fundo é escuro e nulo. 
Andy Warhol. Self-Portrait in Fright Wig, 1986

Além de ser um pintor e ilustrador –  e uma celebridade de sua época – , Warhol também experimentou com o cinema e a fotografia. Na verdade, ele andava constantemente com uma câmera consigo para fotografar elementos de sua vida cotidiana e assim, criar um “diário visual” que o auxiliava na hora de criar suas telas. Apesar de não ter feito fama a partir da fotografia, realizou uma grande quantidade de Polaroids, principalmente retratos de famosos da década de 70. 

Retrato do ator Sylvester Stallone. Ele está olhando diretamente para a câmera, sem camisa, com um pingente no pescoço e com o punho esquerdo fechado sobre a bochecha do mesmo lado. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol, Sylvester Stallone
Retrato da cantora Debbie Harry, vocalista da banda Blondie. Ela olha diretamente para a câmera; usa batom vermelho e seu colo é visto nu. O fundo é claro e nulo. 
Andy Warhol. Debbie Harry, 1980
Retrato da atriz Jane Fonda. Ela é vista de perfil, olhando para a câmera, maquiada e com cabelos esvoaçantes. O fundo é claro e nulo. 
Andy Warhol. Jane Fonda, 1982
Retrato do artista Jean-Michel Basquiat. Ele olha diretamente para a câmera; usa terno e gravata e seus cabelos formam dreads em formas quase geométricas ao redor de sua  cabeça. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol. Jean-Michel Basquiat, 1982
Retrato de um indígena americano. Ele está de perfil, olhando para a câmera. Usa roupas e adereços  típicos, com os cabelos em tranças com tiras de couro. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol. The American Indian (Russell Means), 1976
Retrato da cantora e atriz Liza Minelli. Ela olha diretamente para a câmera, usa maquiagem forte e uma camiseta amarela onde está escrito New York City. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol. Liza Minnelli, 1977
Retrato do cantor, músico e compositor John Lennon, conhecido por ter feito parte da banda The Beatles. Ele olha diretamente para a câmera, usa camisa branca e seus óculos de lentes amarelas. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol. John Lennon, 1971
 
Retrato do cantor, músico e compositor Mick Jagger, vocalista da banda Rolling Stones. Ele é visto de perfil, com os olhos fechados e a língua para fora. Usa camisa azul. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol. Mick Jagger, 1977
 
Fotografia de seis bananas sobre fundo claro. Possivelmente, um arquivo para criação da capa do disco de estreia da banda The Velvet Underground, assinada por Warhol, em que é visto o desenho de uma banana.  
Andy Warhol. Still Life Polaroids – 1977-1983
 
Fotografia de uma lata de molho de tomate. Uma das fotografias da vida cotidiana que Warhol usava como base para a criação de suas telas. 
Andy Warhol. Still Life Polaroids – 1977-1983
Retrato de um dorso masculino nu de perfil. O fundo é claro e nulo.
Andy Warhol. Nude Model
Autorretrato de Warhol. Ele é visto de perfil, olhando para a câmera. Aparece de colo nu e o rosto maquiado com um forte batom vermelho, sombra azul nas pálpebras e blush nos cantos das bochechas. O fundo é claro e nulo.  
Andy Warhol. Self-Portrait in Drag. 1981

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O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares

Você com certeza deve ter lembranças de livros infantis e infanto-juvenis repletos de ilustrações que ajudam a tornar a leitura mais interessante, lúdica e colorida.

 Uma história de ficção criada a partir de fotografias antigas? Conheça a literatura verbo-visual de Ransom Riggs!

Você com certeza deve ter lembranças de livros infantis e infanto-juvenis repletos de ilustrações que ajudam a tornar a leitura mais interessante, lúdica e colorida. Mas o livro sobre o qual vou falar hoje neste #dicade é um pouco diferente daqueles que você já deve conhecer. Na verdade, ele é bastante surpreendente se levarmos em consideração como se deu o seu processo criativo. Uma dica: tem tudo a ver com o que nós do Cultura Fotográfica amamos. Isso mesmo… fotografia!

Um exemplar do livro é visto sobre uma mesa próximo a outras obras literárias, com um pires com biscoitos e uma xícara de café parcialmente visíveis no lado esquerdo na imagem. 
Kaio Veloso. Capa de O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares.

A experiência de leitura de O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, publicado no Brasil pelas editoras Leya e Intrínseca, não poderia ter sido mais curiosa. Jamais poderia imaginar que aquela imagem da capa – uma garotinha flutuando alguns centímetros acima do chão, claramente uma montagem (do tipo tosco, que te faz querer rir) – poderia indicar, assim como as demais presentes ao longo do livro, algo mais do que um teor meramente ilustrativo. É com muita estranheza que adentra-se na história criada pelo americano Ransom Riggs , que começou a ter seus volumes publicados em 2011 e foi adaptado para o cinema em 2016, sob direção de Tim Burton.

Se até certa altura o fato de as personagens descritas terem as mesmas características que aquelas figuras misteriosas das fotografias parece uma mera coincidência (Ele deve ter tido sorte em achar essas fotos para o livro) ou uma estratégia pensada (Elas devem ter sido produzidas exatamente para isso) logo, as coisas começam a ficar um pouco mais complexas, afinal, parece que ambas as coisas, imagens e texto, são praticamente uma coisa só. Mas como isso é possível? A resposta vem ao final do livro, quando há uma listagem de colecionadores de fotografias vintage (o próprio Rigs consta na lista) e as coisas começam a ficar um pouco mais claras.

Tudo bem. As fotos são reais. Mas por quê alguém tiraria fotos tão estranhas e com esses efeitos de décadas atrás? Afinal, não estamos falando de uma foto posada em uma reunião de família ou uma cena de um cotidiano bucólico, mas de uma garota que parece segurar uma luz sinistra, gêmeos em fantasias esquisitíssimas e a já citada  garota flutuante. Nesse ponto, as coisas já ficam mais nebulosas. É difícil dizer ao certo quais são as histórias por trás dessas imagens, mas o que podemos afirmar é que truques antigos de montagem fotográfica foram usados para criar muitas dessas cenas.

O livro é visto aberto sobre uma mesa. Na página esquerda, há uma fotografia de uma criança que olha diretamente para a câmera, com olhos iluminados e com as mãos em forma de cúpula de onde emana uma luz branca. Na página direita, há texto corrido. 
Kaio Veloso. Visão interna do livro O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares.

O mais legal nisso tudo é que o processo criativo aconteceu a partir de uma  sugestão do editor de Riggs (que originalmente apenas faria um livro especialmente para o Halloween com uma seleção da sua coleção pessoal de fotografias antigas) que lhe incentivou a criar um romance a partir das imagens, imaginando como seria uma história em que aquelas crianças estranhas fossem as personagens. E assim, nasceu a saga que acompanha Jacob Portman, um garoto de 16 anos que parte para uma viagem ao País de Gales para buscar  a verdade sobre o assassinato de sua avó, e descobre crianças com dons especiais, tais como invisibilidade e manipulação de fogo, vivendo no orfanato da Srta. Peregrine, uma mulher que é capaz de se transformar em um falcão, isso dentro de uma fenda temporal que os mantêm na década de 1940 como meio de sobreviverem a seus inimigos. 

Pode-se dizer então que os livros que compõe a série (as continuações são os títulos Cidade dos Etéreos, Biblioteca das Almas e Mapa dos Dias) possuem uma forma de narrativa verbo-visual, já que as imagens presentes vão além da mera função de ilustração, mas compõem parte da história, sendo inspiração e parte dela ao mesmo tempo, à medida em que são mencionadas no texto e ajudam a compreendê-lo e até mesmo adentrar com mais intensidade na obra.

Você pode adquirir o livro aqui  e aqui

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Nan Goldin

Conheci Nan Goldin em uma aula de fotojornalismo. Na ocasião, não estávamos ocupando-nos com conceitos ou técnicas de nossa área de atuação, apenas compartilhando obras de fotógrafos que gostávamos; imagens que nos moviam e inspiravam.

Autorretratos chocantes; registros do universo sexual underground; memórias de uma juventude transviada. Conheça o mundo intenso da polêmica Nan Goldin!

Conheci Nan Goldin em uma aula de fotojornalismo. Na ocasião, não estávamos ocupando-nos com conceitos ou técnicas de nossa área de atuação, apenas compartilhando obras de fotógrafos que gostávamos; imagens que nos moviam e inspiravam. A primeira imagem, que reproduzo logo no começo desta galeria, me deixou completamente fascinado.

Nan Goldin. Nan e Brian na Cama, Nova York, 1983

Havia algo ali, algo não visto; algo na forma como aquele casal se portava na cena; algo no jogo entre a forte luz alaranjada que iluminava o homem, tranquilamente fumando um cigarro, e a escuridão cobrindo aquela mulher – a própria fotógrafa – com um olhar que de início não pude decifrar, mas logo compreendi como medo/apreensão quando a segunda foto foi mostrada: ela, com o rosto coberto de hematomas e um olho completamente vermelho, tirada dias depois de ter sido violentamente agredida por aquele homem aparentemente tranquilo da imagem anterior, explicitando assim a violência que era antes apenas sugerida. 

Nan Goldin é assim. Logo que começou a fotografar aos 15 anos de idade, usou a câmera como meio para a auto-expressão e registro do estilo de vida que levava na Nova York das décadas de 1970 e 1980, revelando tanto sua própria  intimidade como a daqueles que a cercavam. Assim, acabou mostrando questões que eram silenciadas na época, como a subcultura gay e transsexual, a epidemia do vírus HIV e o vício em drogas, especialmente a heroína.

Sua série de slides exibidos de forma independente em 1985, The Ballad of Sexual Dependency (A Balada da Dependência Sexual), transformada depois em um livro de fotografias, sintetiza muito do que é o estilo de Goldin e o teor de suas imagens, sobretudo nesse começo de carreira que a consagrou: Autorretratos sem retoques, casais em momentos de intimidade sexual, travestis se maquiando, jovens divertindo-se na vida noturna sem pudores (e sem prudência), além de sua já citada relação abusiva com  o namorado, Brian Burchill.

Confira abaixo algumas dessas fotografias íntimas, intensas e polêmicas, que já renderam até censura a uma exposição de Goldin no Brasil em 2011. 

Uma mulher (Nan Goldin) é vista encarando diretamente a câmera. Possui hematomas ao redor dos olhos e nariz, com o olho esquerdo totalmente vermelho.
Nan Goldin. Nan um mês depois de ser agredida, 1984
Duas drag queens são vistas em um banheiro, uma negra de costas para a câmera, olhando-se em um espelho com um colar chamativo no pescoço e uma branca, que olha para a câmera com o rosto maquiado com batom vermelho, sombra de olho e pó facial branco.
Nan Goldin. Jimmy Paulette e Tabboo! No Banheiro, 1991
Duas drag queens são vistas em um táxi, olhando diretamente para a câmera. Ao lado esquerdo, Misty usa uma roupa escura justa ao corpo, brincos chamativos, maquiagem carregada e peruca azul. Ao lado direito, Jimmy Paulette usa um cropped dourado, maquiagem carregada e peruca loira. 
Nan Goldin. Misty e Jimmy Paulette em um Táxi, 1991
Um grupo de jovens é visto em um cômodo de uma casa. À frente, um garoto de costas usando blusa branca e calça jeans dança acompanhando uma garota usando vestido preto. Ao fundo, dois rapazes são vistos comendo, e ao lado deles, Nan Goldin aparece fumando um cigarro e olhando em direção à câmera. Há uma grande quantidade de objetos no cômodo, como pilhas de caixas e pôsteres colados nas paredes.
Nan Goldin. Dançando na minha festa de aniversário, Nova York, 1980
Um casal homossexual masculino é visto em uma banheira. Os dois rapazes estão nus e Um repousado sobre o corpo do outro, que lhe afaga os cabelos e lhe dá um beijo na bochecha.
Nan Goldin. Matt e Lewis na banheira, Cambridge, 1988
Nan Goldin. Matt e Lewis na Cama, Cambridge 1988

Descrição: O casal homosexual é visto na cama.  Os rapazes aparecem abraçados e sorrindo, um sem camisa sobre o outro, que usa uma camisa escura.

Nan Goldin. Rise e Monty se Beijando, Nova York, 1980

Descrição: Um casal heterossexual é visto se beijando. O rapaz está sentado em uma poltrona branca e a moça está sentada em seu colo, com as mãos em volta de seu rosto e sobre seu cabelo.

Uma garota usando um vestido branco com saia semi-transparente e fita no cabelo aparece fumando solitária sentada sobre uma cama de lona, lembrando as macas usadas por socorristas. Objetos como uma revista, um copo e uma lata de cerveja também estão presentes no ambiente.
Nan Goldin. Trixie numa Cama de Lona, Nova York, 1979
Um rapaz é visto deitado sobre o capô de um carro conversível. Seus olhos estão fechados e sua camisa branca está desabotoada até abaixo do umbigo, revelando seu peito e barriga.
Nan Goldin. French Chris no Conversível, Nova York, 1979
Jovens são vistos em um carro. De perfil, sentados nos bancos, há uma moça e um garoto. Um outro rapaz é visto deitado sobre o capô do carro, com a cabeça apoiada por uma das mãos e uma lata de cerveja em sua frente.
Nan Goldin. French Chris no drive-in, Nova Jersey, 1979
Dois homens são vistos. Um deles está deitado em uma cama de hospital, visivelmente magro e debilitado. Trata-se de uma vítima de HIV/ AIDS. O outro, saudável, está de pé ao seu lado e dá-lhe um beijo sobre o nariz.
Nan Goldin. Gotscho Beijando Gilles, Paris, 1993
Um rapaz sem camisa é visto submerso em uma banheira cheia de água. Seus olhos estão fechados e suas mãos cobrem seu nariz. 
Nan Goldin. Clemens Debaixo D’água, Sag Harbor, Nova York
O reflexo de Nan Goldin é visto em um pequeno espelho pendurado em uma das paredes de um banheiro. Uma banheira é vista parcialmente.
Nan Goldin. Autorretrato no banheiro azul, Londres, 1980

Gostou da galeria? A minha foto favorita é a do Matt e Lewis na banheira. Gosto do romantismo nela por transparecer realidade, longe da pieguice dos ensaios de casal.

Qual é a sua? Conta pra gente qual você gostou mais nos comentários!

Referências:

LARRAT-SMITH, Philip; GOLDIN, Nan. Embalos Noturnos. Revista Zum 8, 2017. Disponível em <https://revistazum.com.br/revista-zum-8/embalos-noturnos/> Acesso em 29 de Jun. de 2020

Links:

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Usando o flash com criatividade

Exemplos de usos criativos do flash, permitindo efeitos bem interessantes.

 No encerramento da série, conheça algumas possibilidades criativas do flash!

Ao longo das últimas semanas, publicamos uma série de textos na seção #fotografetododia sobre os usos do flash, passando desde as diferenças entre flash embutido e dedicado nos resultados que proporcionam nas fotos até por noções quanto ao uso da potência e do zoom ao usar o speedlight. Hoje, para encerrar, traremos alguns exemplos de usos criativos do flash, permitindo efeitos bem interessantes.

É possível alterar completamente a cor e temperatura de uma imagem ao aliar o flash de forma indireta e alguma superfície da coloração desejada, como um tecido, por exemplo. Para isso o flash deve estar voltado para tal superfície, que ficará fora do campo que será fotografado pela câmera. Esse truque funciona melhor em ambientes com menor incidência de luz para que o flash possa colorir o primeiro plano de forma mais intensa.

Na imagem de Peter Kaaden feitas para um editorial de moda da revista INDIE Magazine, é possível notar a coloração avermelhada sobre a modelo. Esse efeito pode ser alcançado com mais de uma maneira, mas uma delas é o uso do flash associado a uma superfície vermelha ou um filtro utilizado acoplado ao flash.

Uma mulher é vista com os cotovelos apoiados sobre uma superfície e as mãos cobrindo parcialmente nariz e boca. Usa óculos escuros e tem a cabeça coberta por um casaco escuro. 
Peter Kaaden. 2017

Já o fotógrafo francês Francis Giacobetti possui uma série de fotografias chamadas Zebras – Listras Ópticas, que apresenta corpos nus vestidos unicamente com listras feitas a partir de sombras. As fotos possuem visivelmente um trabalho de pós produção a fim de atingir os tons de preto e branco desejados, com um forte contraste na relação entre a luz e as sombras. Esse tipo de efeito que pode ser construído com a utilização de flash e objetos que possam projetar sombras nas formas desejadas.

Uma mulher nua aparece deitada com os braços estendidas acima da cabeça e as pernas cruzadas. Sombras em forma de listras cobrem seu corpo, escondendo seus olhos, mamilos e sexo. 
 Francis Giacobetti. Zebras – Optic Stripes, 2012.

É também possível usar o flash aliado à outras técnicas para conseguir efeitos diversos. É o caso do uso da longa exposição, em que os movimentos diante da câmera são capturados e surgem borrados. Ao usar o flash , é possível congelar o primeiro plano e preservar o efeito da longa exposição no restante da foto, como pode ser visto na série de fotografias feitas por Gjon Mili com a participação de Pablo Picasso para a revista Life em 1949. Para conseguir tal efeito, foi usada a técnica de longa exposição para capturar os movimentos que Picasso fazia ao “desenhar com a luz” em um quarto escuro. Picasso aparece em várias posições ao mesmo tempo devido aos vários disparos do flash durante o registro. Porém, é preciso ter em mente que os resultados ao aliar técnicas como essa podem ser diversos, podendo ser ou não satisfatórios. O melhor é testar, fazendo experimentos e ajustes para conseguir os efeitos desejados. 

Pablo Picasso é visto em pé usando uma luz elétrica para desenhar formas do ar que são capturadas pela técnica de longa exposição. É possível vê-lo borrado em outras posições. 
Gjon Mili. Pablo Picasso, South of France, 1949.

E aí? O que achou da nossa série sobre os usos do flash? Esperamos que tenha entendido melhor os usos desse equipamento e que essa conclusão possa ser um incentivo a experimentar ideias usando ele. Conta pra gente as suas opiniões, dúvidas e dicas aqui nos comentários! Vamos adorar ver o debate se expandindo. Aproveite também para acompanhar o projeto no instagram e assine a nossa newsletter para ficar por dentro do universo da cultura fotográfica. 

Até semana que vem com mais um #fotografetododia!

Links, Referências e Créditos

3 perfis do Instagram que você precisa conhecer

Que o Instagram se tornou uma das maiores redes de compartilhamento de imagens do mundo já não é novidade para ninguém.

No #dicade hoje, conheça 3 perfis imperdíveis para seguir no Instagram!

Que o Instagram se tornou uma das maiores redes de compartilhamento de imagens do mundo já não é novidade para ninguém. A rede social lançada em 2010 e que hoje pertence ao Facebook começou com a proposta de ser um ambiente propício para o consumo e circulação de fotografias e hoje, reúne tanto fotógrafos e fotógrafos profissionais e amadores quanto pessoas com outros interesses.

Ainda que possa ser encontrado muito mais que fotografias ao utilizá-lo, é através da publicação de uma imagem que se dá a comunicação no aplicativo, seja o conteúdo uma foto, um vídeo ou uma arte gráfica com uma frase, por exemplo. Talvez por isso o “insta” ainda remeta tão fortemente à fotografia – essa forma de expressão que tanto amamos! – contando com uma logotipo que faz referência às antigas máquinas Polaroid.

Hoje, vamos usar o #dicade para apresentar 3 perfis no Instagram que você precisa conhecer. Afinal, com tantos perfis e tantas imagens sendo publicadas todos os dias fica difícil saber quem seguir, não é? Em meio ao turbilhão de selfies, fotos de comida, lifestyle, pets fofinhos e mais recentemente, lives de todos os jeitos e a toda hora, há contas interessantes que merecem receber mais atenção.

Prints de tela dos perfis do Instagram indicados

Já parou para pensar em quantas fotógrafas você conhece? Quantas você segue no Instagram? Quantas você está apoiando e prestigiando hoje? O Women Photographers History é um perfil no insta dedicado a compartilhar trabalhos fotográficos feitos por mulheres ao longo da história. Vale muito a pena conferir e conhecer fotógrafas fantásticas como Kate Simon e Maureen Bisilliat.

Agora, já parou para pensar no poder político de uma imagem? Quando fez a curadoria da exposição Levantes, George Didi-Huberman selecionou diversas fotografias de protestos políticos em diversos países ao longo da história. Além disso, também incluiu imagens mais simbólicas, que representam a repressão, a indignação e o desejo por uma mudança que leva um grupo de pessoas à ação.

A partir dessa exposição e da publicação que derivou dela com ensaios do próprio Didi Huberman e outros pensadores contemporâneos, surgiu o projeto de pesquisa Levantes que conta com alunos, docentes e pesquisadores da UFPA e da UNIFESSPA. O projeto conta com um perfil no Instagram onde são publicadas imagens que bem poderiam ter feito parte da exposição, além de trazerem mais do contexto nacional e principalmente, amazônico (correspondendo à localidade das universidades envolvidas).

Por fim, o perfil Iconografia da História traz uma seleção de imagens de acontecimentos tanto antigos quanto atuais e serve como um verdadeiro centro de memória do Brasil e do mundo, os acontecimentos da política, os marcos da cultura e diversos recortes temporais que de alguma forma deixaram sua marca e renderam imagens icônicas. Vale a pena conferir para conhecer, rememorar e até se divertir ao ver no mesmo local um frame de O Rei Leão e um registro de 1988 com o presidente dos Estados Unidos e, ao canto, um jovem Vladimir Putin que possivelmente o espionava a serviço da KGB.

Gostou das dicas? Em breve traremos mais! Conhece algum perfil legal e acha que mais pessoas devem conhecê-lo? Compartilha com a gente nos comentários! Vale divulgar o seu perfil pessoal também! Ah… e o Cultura Fotográfica tem um perfil no Instagram também! Segue lá pra ficar por dentro dos novos conteúdos do blog, acompanhar o desafio #1min1foto e ficar sabendo das novidades!

 No #dicade hoje, conheça 3 perfis imperdíveis para seguir no Instagram!

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Usando o zoom do flash

Se você já usou um flash externo, talvez tenha se perguntado para que serve o tubo dentro do qual está o dispositivo de disparo da luz.

Na continuação da série, vamos conhecer as possibilidades de utilização do zoom dos flashes externos.

Se você já usou um flash externo, talvez tenha se perguntado para que serve o tubo dentro do qual está o dispositivo de disparo da luz. Este post foi feito exatamente para explicar a função daquilo que chamamos de zoom do flash, trazendo como de costume, exemplos para que a explicação se torne mais clara.

A imagem apresenta um homem branco com cabelo, barba e bigode castanhos, vestindo uma camisa de botão azul estampada aberta até próximo ao umbigo e headphones preto, com glitter prateado em seu rosto, peito e barriga. O  ambiente parece ser a sala de uma residência. Seu olhar está baixo em direção a uma mesa de som que ele controla. O zoom do flash é fechado, formando um círculo de luz sobre o homem enquanto o entorno surge bastante escuro.
Derek Mangabeira. Baile do Encanto. 2020.

O zoom é uma configuração presente em flashes externos que pode ser utilizado para um maior controle na dispersão da luz utilizada. Sabendo que o flash é formado basicamente por um elemento que dispara a luz e um  tubo, dentro do qual este elemento se encontra, a configuração do zoom permite escolher o quão distante a luz estará da extremidade do flash. Quanto mais próximo ela estiver da extremidade do tubo, maior será a abrangência da luz, ou seja, maior será o campo que será iluminado, tornado-se um flash aberto. Já quanto mais ao fundo do tubo ele estiver, mais fechado o flash se tornará e portanto, menor será o campo iluminado, podendo-se focar em iluminar apenas uma parte desejada da pessoa ou objeto que será fotografado.

I Hate Flash é uma empresa de fotografia fundada em São Paulo por Fernando Schlaepfer. Seu início ocorreu de forma despretensiosa quando Schlaepfer e seu grupo de amigos passaram a fazer registros da vida noturna que frequentavam. Com o tempo, cresceram e passaram a fazer a cobertura de grandes eventos como o Rock in Rio e o Lollapalooza, além de trabalhos no ramo da publicidade e da moda. O time de fotógrafos que trabalha no I Hate Flash ficou conhecido pelo estilo espontâneo e divertido de suas fotografias, sendo que em muitas ocasiões costumam se divertir enquanto trabalham, o que torna a experiência muito mais prazerosa.

Na imagem que abre esse texto, feita pelo fotógrafo Derek Mangabeira durante o evento Baile do Encanto, é provável que tenha sido escolhido o uso de um zoom fechado ao configurar o flash, criando um círculo de luz sobre o fotografado enquanto que o entorno surge bastante obscurecido. Aliado às informações presentes no próprio fotografado, como sua vestimenta, uso de glitter, o uso de um headphone e a manipulação de uma mesa de som e mixagem que ajudam a identificá-lo como um DJ, conseguimos identificar essa como uma fotografia de festa noturna, em que a iluminação ambiente costuma ser baixa, predominando os jogos de luz neon e lasers.

Já nesta outra imagem, feita por Diego Padilha em um evento chamado Brewing Friends Festival, a presença do flash é notada pela diferença na intensidade da iluminação sobre o grupo de pessoas visto e o fundo. Por ser um registro de um grande grupo de pessoas, provavelmente optou-se por um zoom aberto do flash, sendo possível portanto iluminar todos que posaram para o clique.

Na imagem, é visto um grupo grande de pessoas vestindo roupas informais, sorrindo e acenando para a câmera diante de um prédio com bandeiras coloridas e um banner onde lê-se Brewing Friends Festival. O ambiente é aberto e ao fundo é visto, do lado esquerdo, uma estrutura metálica comumente usada em eventos com música ao vivo e ao lado direito, uma casa com janelas.  Optou-se por um zoom aberto do flash, sendo possível portanto iluminar todos que posaram para a foto.
Diego Padilha. Brewing Friends Festival. 2020

Vimos que o zoom pode não apenas ser usado para iluminar de forma diferente os ambientes e pessoas fotografados, mas também ser pensado como parte do sentido daquele registro. O zoom fechado dá destaque a um elemento específico, podendo ser direcionado para um objeto, pessoa, ou parte do corpo desejado e, como no exemplo citado, ajudou a preservar a atmosfera  do evento, sendo possível tanto visualizar o DJ fotografado, quanto identificar tratar-se de uma festa noturna, realizada em ambiente fechado, onde a iluminação costuma ser reduzida. Já o zoom aberto permite iluminar uma área maior, ideal para uma grande quantidade de informação em cena, como no exemplo, tratando-se de um registro de um grupo grande de pessoas em um ambiente aberto.

Está gostando da nossa série sobre o flash? Temos um grupo no Facebook perfeito para compartilhar as suas impressões, experimentos e dicas! Participe, será legal nos ver você por por lá! Segue esse link aqui: /https://www.facebook.com/groups/projetoculturafotografica/

Referência:

MYRRAH, Camila. Como usar flash: Os controles (potência e zoom) | FOTO DICAS. 2016. (3m25s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GjDaQ_J6kF4https://www.youtube.com/watch?v=GjDaQ_J6kF4>. Acesso em: 06 de Abr. de 2020.

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