Erick Dau

 Formado em jornalismo, Erick Dau fotógrafa conflitos sociais no Rio e América Latina.

Com um olhar atento e comprometido, com a realidade do momento, Erick Dau, é o nome por trás de fotografias tão expressivas que registram, conflitos sociais, recorrentes no Rio de Janeiro e em alguns lugares da América Latina.

Nascido no Rio de Janeiro, Erick Dau, formou-se em jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde cursou também, mestrado e doutorado em comunicação. Trabalhou um tempo como freelancer, e teve fotos, publicadas em jornais nacionais e internacionais. Foi assistente do jornalista Glenn Greenwald, para o The Intercept, no qual trabalhou também como editor de fotografias.  Fotografou para organizações como Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e ONU Mulheres e diversos movimentos sociais. Atualmente, fotografa para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em Washington, EUA e é membro do coletivo fotográfico Farpa.

Suas fotografias possuem característica de caráter documental, onde ele sobrepõe um olhar sensível e parafraseando Sontag, atribui importância aos registros sociais no qual compromete retratar.

Confira abaixo, uma seleção de imagens do trabalho documental de Erick Dau. Os registros são seleções de fotografias retiradas de seu site e do instagram. As legendas que acompanham são compostas por pequenos textos que direcionam ou retratam geograficamente a zona de conflito registrada por ele. 

Três homens Bolivianos, com roupas tipicas
Indígenas da Nación Qhara Qhara, da Bolívia, que nesse momento marcham em direção a La Paz, lutando pela restituição de seus territórios ancestrais.

Senhora Colombiana, posa para foto, ela tem a pele enrugada e cabelos grisalhos amarrados.
Wayuu

Mexicano carrega uma tocha e caminha pela rua
Día de Muertos – Oaxaca, México

No meio da rua, jovem aparace no centro carregando uma bandeira, ele também carrega uma mochila nas costas. Mais a sua frente, uma multidão de manifestantes.
A população na rua pra barrar a PEC, e a PM pra defender. Fora PEC, fora Temer.

Bombeiro apaga incêndio no ônibus
Cinelândia, depois de algum protesto, em 2014

Senhor aparece sentado em uma cadeira na calçada, a sua frente um batalhão de soldados marcham, eles aparecem borrados.
Dia da independência

Senhor caminha pela rua, atrás em uma porta, está um homem deitado na rua.
Na Lapa também tem democracia

Tá achando difícil? Imagina estar em uma solitária num presídio no Chile.

Menino parado atras de uma brasília,vendendo laticinios.
Na Lapa também tem laticínios

E aí, nos conte suas impressões sobre o #galeria de hoje aqui no blog. Assine também nossa newsletter. 


Luzes e Sombras

A sombras podem ser apenas a consequência da existência da luz, podem ser um problema quando escurecem a fotografia ou podem ser o seu tema principal.
Coluna

A sombras podem ser apenas a consequência da existência da luz, podem ser um problema quando escurecem a fotografia ou podem ser o seu tema principal.
Coluna
Brassaï – Paris de Nuit (Paris à Noite)
Descrição: Fotografia de uma coluna de concreto encostada a um muro, onde sua sombra se reflete.
A mera existência de uma fotografia implica na existência de luz. Até em seu nome ela está presente, já que segundo o Dicionário Etimológico “fotografia” vem do grego “phosgraphein” que significa “registrar luz”. Sendo a luz a base da fotografia, é evidente a importância de planejar a iluminação, como a posição, a qualidade e a cor da luz. Não parece ser tão notória, porém, a relevância das sombras dentro dessa relação. A sombra é literalmente uma região de ausência de luz e, se vamos nos atentar para a posição da iluminação ou para clarear certas regiões escurecidas, porque não aproveitar para manipular as sombras como um complemento da luz na fotografia?
A sombra pode ser um problema quando escurece o motivo ou pode estar na imagem como um mero resquício da luz, ou seja, uma particularidade que não se pode evitar. Por isso, falaremos apenas da sombra como um detalhe premeditado ou como o tema principal da fotografia, isto é, a sombra como parte da composição. É o caso das fotografias surrealistas de Brassaï, fotógrafo húngaro conhecido por retratar Paris, em seu livro Paris à Noite. O ensaio não é apenas um registro histórico da arquitetura da cidade e dos seus hábitos noturnos, mas uma revolução artística no modo de produzir fotografias, ao passo que fotografava à noite sem luz externa. Ele sempre carregava consigo suas fotografias para provar que era possível fotografar à noite. Em “Paris de Nuit” as sombras não são a consequência da luz, mas o que permite que a luz se destaque, com seus cenários de escuridão em que postes e faróis projetam uma aura em torno das noites de Paris.
Rua
Brassaï – Paris de Nuit
Descrição: Fotografia de uma rua sinuosa com árvores e postes. O chão está molhado.
As luzes e as sombras se tornam, neste caso, ora um realçador das formas das ruas e da arquitetura, assim como da vida noturna, ou seja, o que caracteriza as fotografias como surrealistas, ora o próprio tema da fotografia, o que descreve a sensação de estar em uma rua parisiense no século XX. Observe como na fotografia acima as sombras nos espaços entre os ladrilhos coloca a sua forma em destaque e como a variação de luz e sombra transparece a textura de chão molhado. Isso acontece porque a sombra é um indício de luz e, de certa forma, também é um indício da presença do objeto, podendo, portanto, sinalizar a continuação deste em um ponto cego da fotografia ou exibir o formato de um objeto fora da composição, como na fotografia do início do post. Desta forma, as sombras oferecem mais informações sobre o que está sendo fotografado do que a própria coisa.
Calçada
Brassaï – Paris de Nuit
Descrição: Fotografia de uma calçada onde, ao lado direito, árvores seguem a sua extensão e, ao lado esquerdo, há um muro em que as sombras das árvores se projetam.
As sombras de pessoas e objetos podem ser transformadas em guias visuais, como linhas que guiam o olhar do leitor pela ação, ou retratar o ambiente de forma espelhada, conceito parecido com a fotografia de reflexos, criando um mundo alternativo, que pode ser simétrico ou não e fiel ou não ao mundo real. É o exemplo acima das sombras das árvores no muro. É como se houvesse árvores dos dois lados, sendo um lado o real e o outro um lado de fantasia.
Aliás, as sombras casam bem com a ideia de mistério e podem ser utilizadas para criar esse clima, mas se o objetivo é uma fotografia mais descontraída, as sombras podem ser usadas como caricatura, ou seja criando uma versão burlesca da cenas. Apenas atente-se ao utilizar as sombras em rostos. Em um tema dramático, as sombras podem servir de auxílio, mas tome cuidado ao obscurecer a expressão dos fotografados. Em retratos, por exemplo, o ideal é que os olhos estejam nítidos.
Casal
Brassaï – Paris de Nuit
Descrição: Fotografia de um casal entre uma parede e um poste. Eles se encaram com intimidade e apenas a luz do poste ilumina seus rostos.
Exercite! Fotografe de dia e busque nas sombras o tema de sua fotografia. Depois, fotografe à noite e utilize a luz apenas como complemento para produzir sombras. Compartilhe os resultados nos marcando (@d76_cultfoto) em sua postagem do instagram.

Referências

  • FHOX
  • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.
  • Photo Stories

The Journey Is The Destination

A foto mostra o personagem principal, um homem caucasiano, olhando diretamente para a frente, com uma câmera nas mãos. Ele se encontra do lado esquerdo da imagem. Do lado direito vemos uma estrada de terra, com um veículo muito utilizado em safáris.

The Journey is the Destination é um filme baseado em uma história real, dirigido por Bronwen Hughes, que conta a história do fotógrafo Dan Eldon.

Do início ao fim, o filme prende nossa atenção de uma forma inexplicável. Não apenas pelo seu roteiro, mas pelo uso da fotografia que o compõem, usando cores de tons fortes e chamativos para destacar algumas cenas mais descontraídas, os tons frios para momentos sérios e a utilização de tons terrosos nas cenas de conflitos, além de espetaculares recortes e ângulos.

Cartaz de divulgação do filme

Descrição: A foto mostra o personagem principal, um homem caucasiano, olhando diretamente para a frente, com uma câmera nas mãos. Ele se encontra do lado esquerdo da imagem. Do lado direito vemos uma estrada de terra, com um veículo muito utilizado em safáris.

The Journey is the Destination é um filme baseado em uma história real, dirigido por Bronwen Hughes, lançado em 2016, que conta a história do fotógrafo Dan Eldon. Está disponível na plataforma Netflix, mas pode ser encontrado facilmente de forma gratuita na internet.

Nascido em Londres em 1970, com sua família, mudou-se para o Quênia, na África oriental, em 1977. Embora sua vida tenha sido curta, pois tinha apenas 22 anos quando foi perseguido e morto por uma multidão enfurecida na Somália, Eldon era um dos mais jovens fotógrafos do Continente Africano. Seu trabalho jornalístico, publicado na Revista Time, mostrava apenas uma pequena parte de todo seu talento. Destacou-se também como artista em suas colagens, que combinavam suas fotografias de toda África com tintas, imagens da cultura pop, anúncios e documentos oficiais.

O filme inicia-se com Eldon em uma beira de estrada pedindo carona. Ao ver que não conseguiria uma, o personagem senta-se na beira da estrada e continua escrevendo em seu álbum de fotografias e colagens, que possui o mesmo título do filme. Já no início podemos ver Dan Eldon fazendo uma das coisas que mais amava, que era fotografar pessoas do continente africano em suas diferentes culturas.

Cena do Filme

Descrição: O personagem principal se encontra no centro da imagem, apontando com seu braço direito para algo que está a sua frente. Atrás dele vemos várias crianças negras, e ao fundo já desfocado, adultos.

Após as cenas iniciais, o filme volta alguns meses antes, na formatura de Dan Elton. Logo após, juntamente com amigos, o personagem sai em um safari. Lá, ele começa a fotografar, e logo surge um dos primeiros conflitos em que deu cobertura. Logo após, podemos ver seu trabalho como designer gráfico para a Revista Mademoiselle. Centenas de pessoas morriam todos os dias na Somália, mas isso não era registrado na mídia internacional. Foi aí que a aventura de nosso personagem principal inicia-se. Eldon estava disposto a tentar se destacar como um jovem fotógrafo, registrando todo o conflito da Somália e mostrando ao mundo através de seu trabalho, toda fome que assolava o país. Juntamente com o trabalho na revista, o personagem vive seus anos com grande paixão liderando uma missão de ajuda humanitária, sendo muito bem retratada no filme.

Ao final do filme, vemos as cenas de acontecimentos que levaram o fotógrafo a sua trágica e inesperada morte, aos 22 anos.

Cena do Filme

Descrição: o personagem principal se encontra no centro da imagem, olhando fixamente para a frente, segurando a câmera com a mão direita. O fundo da imagem se encontra desfocado, em um tom amarelo terroso.

Assistindo o filme, percebi que houve uma tentativa muito realista de mostrar todo o acontecimento, com imagens até mesmo muito pesadas de conflitos, com corpos mutilados, introdução de cenas reais das imagens de pessoas desnutridas passando fome. Não é um tipo de filme que você deva assistir como apenas um passatempo. Ele traz variadas reflexões acerca sobre a vida, sobre ter dignidade frente a alguns acontecimentos e sobre essencialmente ser humano com relação aos outros. Nos faz enxergar o outro muito além da sua imagem. Podemos sempre lembrar que o fato que a fotografia pode ajudar outras pessoas, ao expor grandes tragédias, como tornou-se para Dan Eldon um trabalho mais urgente.

Assista o filme e nos diga sua opinião!

Acesse também nosso perfil no Instagram, para acompanhar nossa rotina de publicações e assine nossa Newsletter para receber conteúdos!!

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, referências e créditos

Dorothea Lange

 A vida de Dorothea Lange ilustra a luta pessoal, profissional e as realizações de uma mulher à frente do seu tempo.

Dorothea Lange foi uma das mais importantes profissionais da fotografia norte-americana. Ficou conhecida pelas imagens da Grande Depressão e da situação dos imigrantes nos Estados Unidos.

Foto em preto e branco, retrata Dorothea Lange, com uma bandana na cabeça, sentada no topo de um carro com uma câmera fotográfica apoiada na perna direita
Dorothea Lange in Texas on the Plains, 1932, Paul S. Taylor

Lange nasceu em Hoboken, uma pequena cidade de Nova Jersey, em maio de 1895, em uma família de imigrantes alemães. Passou a se interessar por fotografia após o abandono do pai, quando tinha 12 anos.

Na Universidade de Columbia, Nova York, entrou de cabeça no universo fotográfico e começou a trabalhar como aprendiz em diversos estúdios da cidade. Em 1918 se mudou para São Francisco, na Califórnia, onde abriu o próprio negócio. Na mesma época, se casou com o primeiro marido, o pintor Maynard Dixon, com quem teve dois filhos.

Com a crise de 1929, passou a fotografar as ruas. Seu talento nato e sua temática de desempregados e moradores de rua, chamou a atenção de fotógrafos mais experientes, o que a levou a trabalhar para a “Farm Security Administration” (FSA), um programa criado pelo governo para promover o desenvolvimento de áreas agrícolas americanas, para combater a crise.

Durante seu trabalho com o governo, que durou entre 1935 e 1941, retratou o sofrimento dos pobres, dos esquecidos, dos desempregados e, principalmente, das famílias rurais deslocadas e dos trabalhadores imigrantes. Suas imagens eram distribuídas gratuitamente a jornais de todo o país, o que fez com que suas fotografias extremamente representativas e impactantes ficassem cada vez mais conhecidas.

A fotografia mais conhecida deste período é a “Migrant Mother” (“Mãe Imigrante”), um dos mais icônicos registros da fotografia, a qual retrata uma imigrante chamada Florence Owens Thompson com três de seus sete filhos. É o símbolo da Grande Depressão, o pior e mais longo período da recessão econômica do século XX.

Faleceu em 1965. Durante os últimos anos de vida, enfrentou diversos problemas de saúde. Hoje, mais de cinco décadas após sua morte, toda sua obra é cada vez mais celebrada e estudada nas universidades do mundo todo.

 
Foto em preto e branco, retrata uma mulher com uma mão no rosto, carregando um de seus filhos, e com os outros dois, cada um de um lado, apoiando as cabeças nos seus ombros com os rostos escondidos
Migrant Mother, 1936, Dorothea Lange

Foto em preto e branco, retrata a parte de trás de um carro vista de fora, com duas crianças na parte de trás olhando para a câmera e uma mulher sentada na frente olhando para a frente
Cars on the Road, 1936, Dorothea Lange

Foto em preto e branco, retrata uma menina, virada para a frente, com expressões sérias
Damaged Child, 1936, Dorothea Lange
Foto em preto e branco, mostrando uma família em uma rodovia de terra, com o pai na frente, usando um chapéu, puxando um carrinho cheio de coisas com uma menina sentada em cima. Mias atrás, vê-se a mãe andando de mãos dadas com uma menina, que dá a outra mão para o irmão, e um pouco mais atrás, um menino de chapéu empurrando outro carrinho com coisas em cima
Family Walking on Highway – Five Children, 1938, Dorothea Lange
Foto em preto e branco, retratando uma mulher, em um campo aberto, com uma mão no pescoço e a outra na testa, com uma expressão de cansaço e tristeza
Woman of the High Plains, 1938, Dorothea Lange

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar essa postagem

COSTA, Clara. Dorothea Lange. Cultura Fotográfica. Publicado em: 9 de set. de 2020. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/galeria-dorothea-lange/. Acessado em: [informar data].

 

Panning

Um objeto nítido em meio a um cenário borrado causa um efeito de movimento, como podemos ver em carros de corrida. Essa técnica é chamada de panning.

O panning é um recurso muito utilizado para fotografia de esportes. Por meio dessa técnica, é possível congelar atletas, carros ou outros objetos em atividade e ao mesmo tempo sugerir a ação que estavam realizando. A ideia é que o assunto principal da foto fique nítido, enquanto o restante do cenário, borrado. Essa combinação causa um efeito de movimento, devido à justaposição de objetos contrastantes: um nítido e outro borrado.
Max Verstappen of Netherlands and Aston Martin Red Bull Racing drives his RB14 during the Austrian Formula 1 Grand Prix at Red Bull Raing on July 01, 2018 in Spielberg, Austria | Vladimir Rys
Para conseguir esse efeito, é necessário uma velocidade de obturador mais lenta que a normalmente aconselhável. Se for rápida, vai acabar congelando tudo e, portanto, o resultado não será o esperado. Vale ressaltar que a velocidade exata vai depender do assunto principal da imagem. Já falamos mais sobre o tema aqui.
Além da velocidade adequada, o panning exige uma tomada panorâmica. Em outras palavras, a câmera precisa se movimentar para seguir a ação, deslocando-se por um eixo imaginário, da mesma forma que se faz em uma fotografia panorâmica.
Já deu para notar que o panning exige treino e trata-se de uma situação de tentativa e erro. A captura nítida do objeto principal e o movimento suave da câmera precisam ser dominados para um bom resultado.
Vladimir Rys é um fotógrafo tcheco que já trabalhou para diversas revistas esportivas. Desde 2005, sua principal área de atuação é a Formula 1. Em seu vasto portfólio na categoria, podemos ver vários exemplos de panning.
Romain Grosjean of France and Haas F1 Team drives his VF18 during practice for the Chinese Formula 1 Grand Prix at Shanghai International Circuit on April 13, in Shanghai, China | Vladimir Rys
Na foto acima, vemos um veículo da Haas durante um treino para o GP da China de 2018. A técnica do panning foi muito bem feita. Vemos o carro com muita clareza e o fundo está totalmente borrado, sendo até impossível descrever o cenário. Dessa forma, a impressão que se tem é que o carro está em altíssima velocidade, como, de fato, está.
Que tal praticar? Pegue sua câmera, treine com carros na rua ou qualquer outra coisa em movimento! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

Referências

• HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia – O Guia Completo Para Todos Os Formatos. 4ª ed. São Paulo: Senac, 2013.

O Abutre

O filme de 2014 faz um comentário sobre a produção de imagens violentas e a relação do público com elas.

O Abutre, escrito e dirigido por Dan Gilroy, conta a história de Lou Bloom, um homem com problemas financeiros, que desenvolve uma carreira muito lucrativa filmando imagens de crimes e situações violentas e vendendo-as para um telejornal sensacionalista. 
Pôster do filme
Descrição: um homem aparece na frente de um carro vermelho em uma rua escura e aparentemente deserta. Por cima da foto, informações sobre o filme, como título, elenco e data de lançamento estão escritas.
Do ponto de vista puramente cinematográfico, o filme já é excelente. O ator principal Jake Gyllenhaal, que interpreta Lou, dá uma ótima interpretação, fazendo o público torcer por ele, e no momento seguinte ter completo asco de suas atitudes. O resto do elenco, que tem nomes como Rene Russo e Riz Ahmed, também brilha em seus personagens coadjuvantes. 
Mas o filme vai além desses aspectos. O roteiro nos proporciona uma reflexão muito relevante nos dias atuais. Até que ponto as imagens de violência extrema são usadas para conscientizar as pessoas e até que ponto elas se tornaram quase um entretenimento?
As filmagens que Lou entrega ao jornal são amadoras e exploram o sofrimento das vítimas desumanizando-as, e isso ajuda a audiência do telejornal apresentado pela personagem de Russo a crescer cada vez mais. A mídia retratada no filme está sempre buscando sangue, o que não está tão distante assim da realidade. Aqui mesmo no Brasil, podemos nos lembrar de programas que exploram a violência e a morte, supostamente para informar e conscientizar o público desses horrores.
Cena do filme O Abutre (2014)
Descrição: em uma sala, um homem filma bem de perto uma mulher que parece estar sentada em um sofá, mas como tem sangue em sua blusa, podemos assumir que ela está morta.
Boa parte do sucesso de Lou é porque suas filmagens parecem muito realistas, embora ao longo do filme vejamos que isso não é bem a verdade. O público mostrado no filme quer que essas imagens de violência sejam reais, em uma relação quase voyeurística, de prazer e entretenimento diante da violência.
Mais um ponto interessante do filme são os momentos em que Lou interfere nas cenas de crime para obter filmagens mais cruas e chocantes, se assemelhando a um diretor que posiciona seus atores e objetos no cenário. Podemos ver ecos disso em alguns “telejornais” da atualidade. Programas como Cidade Alerta apresentam a violência como uma cena de filme de ação, banalizando a morte para transformá-la em entretenimento.
Cena do filme O Abutre (2014)
Descrição: um homem sobre uma escada enquanto filma algo no topo com o olhar vidrado. A escada está suja de sangue em alguns pontos.
Assistir ao filme praticamente logo após minha leitura de Sobre Fotografia intensificou minha reflexão sobre as imagens que consumimos no dia a dia. Em meio a milhares de fotos em redes sociais, propagandas nas ruas, as imagens violentas dos telejornais realmente nos impactam? Ou simplesmente passamos para o próximo tópico? As tão aclamadas imagens de guerra, que mostram corpos pelas ruas e escombros não se tornaram quase cotidianas? A violência mostrada nessas imagens se torna quase banal. Por quê nos esquecemos tão rápido dessas fotos, mas nos lembramos de fotos tão sutis como a do jovem com uma flor diante de um tanque de guerra? Mostrar a violência parece não ser mais o melhor jeito de conscientizar sobre ela, mas sim de saciar a curiosidade das pessoas. 
O Abutre é um filme excelente, que além de possuir todos os elementos que os cinéfilos amam, atuações, roteiro e direção incríveis, ainda proporciona um debate muito interessante sobre a nossa relação com imagens de violência e como ela está (ou não) relacionada a nossa empatia em relação ao outro.  
Assista ao filme e compartilhe suas reflexões com a gente nos comentários!

Links, Referências e Créditos
  • O próprio filme

Bernd e Hilla Becher

Bernd e Hilla Becher ficaram conhecidos por suas fotografias de instalações industriais, minimalistas e documentais.

Bernd e Hilla Becher foram um casal de fotógrafos alemães, que se dedicaram a registrar instalações de indústrias que estavam sumindo da Europa.
Um homem e uma mulher idosos encaram a câmera um ao lado do outro.
Bernd e Hilla Becher, Autoria não identificada.
Descrição: foto em preto e branco de um casal de idosos encarando a câmera com uma expressão tranquila. Atrás deles há um muro de tijolos.
Bernd nasceu em Siegen, cidade da Alemanha Ocidental, onde a mineração de carvão era uma importante atividade econômica. Nesta cidade haviam diversas instalações industriais, pelas quais o jovem era fascinado. Na entrevista para a revista Zum, ele conta que conseguia fotos dos prédios com pessoas que trabalhavam nas indústrias. “Quando as instalações eram modificadas – modernizadas – ou fechadas, quando os escritórios eram desmanchados, ninguém mais queria as fotos. Queriam se livrar da imagem do século 19. Eu gostava daquelas fotos enormes, feitas por contato, que representavam as instalações com tanta precisão.”
Hilla nasceu em Potsdam, na Alemanha Oriental. Começou a experimentar a fotografia por volta dos doze, treze anos, utilizando materiais antigos e embolorados, às vezes comprados clandestinamente. Mais tarde se tornou aprendiz de Walter Eichgrun, antigo fotógrafo da corte prussiana em Potsdam, para se profissionalizar. Assim como Bernd, Hilla também se interessava por fotografias de estruturas. Ela conta que passeava pela região portuária de Hamburgo fotografando objetos como guindastes. Nos anos cinquenta, Hilla fugiu para a Alemanha Ocidental, onde conheceu Bernd na agência de publicidade Trost, enquanto ambos ainda estudavam fotografia/pintura. Eles acabaram se casando em 1961.
A parceria entre os dois veio do casamento aliado ao interesse em comum por fotografar indústrias. O projeto inicial era registrar instalações e depois juntar as fotos em montagens e colagens. Ao colocar as imagens lado a lado, as individualidades de cada objeto eram realçadas, mesmo que, à primeira vista, fossem muito parecidos.
série de fotos de prédios industriais em preto e branco
Bernd e Hilla Becher, Coal Bunkers (1966, 1999).
Descrição: série de fotografias em preto e branco de antigas instalações industriais.

Um fator que incentivou o projeto foi o fato de que muitas daquelas estruturas estavam desaparecendo com o progresso. Segundo Bernd eles sentiram o ímpeto de registrar essas instalações, não só na Alemanha, mas em outros países europeus, como França, Bélgica, entre outros.
No começo o trabalho de Bernd e Hilla foi mais associado às artes plásticas, já que as fotografias dos Becher, frias e documentais, não eram vistas como uma visão artística das indústrias, nem como uma visão de mundo. O ideal de fotografia da época, que era fotografar o “belo”, o idealizado, não combinava com o projeto dos Becher.
Série de fotos de prédios industriais em preto e branco.
Bernd e Hilla Becher, Coal Bunkers (1974).
Descrição: série de fotografias em preto e branco de antigas instalações industriais.

Boa parte das fotografias dos Becher foram publicadas em livros, já que este seria o meio ideal para apreciar tanto os detalhes de cada foto, mas também o efeito das montagens. O primeiro livro foi o “Esculturas Anônimas” publicado em 1970.

Na entrevista da Revista Zum, o casal comenta que buscaram fotografar de forma mais neutra possível, de forma a não glorificar ou depreciar, mas a documentar detalhes dessas instalações que foram aos poucos desaparecendo. Eles também comentam que sempre procuraram registrar estruturas que se encaixam no pensamento industrial, fugindo por exemplo dos castelos, dos prédios românticos e góticos, etc.
Série de fotos de prédios industriais em preto e branco
Bernd e Hilla Becher, Pitheads (1974).
Descrição: série de fotografias em preto e branco de antigas instalações industriais.

As fotografias de Bernd e Hilla Becher são um registro documental muito importante do que um mundo foi durante uma época.

Instalação industrial em preto e branco.
Bernd e Hilla Becher (1966).
Descrição: foto de uma antiga estrutura industrial que se assemelha a um guindaste.
Instalação industrial em preto e branco.
Bernd e Hilla Becher (1984).
Descrição: instalação industrial antiga formada de vários tubos.

Você já conhecia o trabalho dos Becher? Já experimentou fotografar as edificações da sua cidade como eles fizeram? Comente com a gente!

A revolucionária fotografia de Cidadão Kane

Cidadão Kane é um filme de 1941 dirigido e estrelado por Orson Welles.

Cidadão Kane se tornou um marco na história do cinema não somente por sua narrativa inovadora, mas também por suas técnicas de direção de fotografia.

Cidadão Kane é um filme de 1941 dirigido e estrelado por Orson Welles. O longa teve uma estreia um tanto quanto morna, ele não foi um sucesso de bilheteria e mesmo tendo concorrido a nove categorias do Academy Awards ganhou apenas uma. Porém, hoje, ele é visto como ums dos melhores filmes já feitos na história, tanto pela direção de Welles quanto pela magnífica cinematografia de Gregg Toland.

Pôster do filme

O filme se inicia com a morte do protagonista Charles Foster Kane, que em seu último suspiro pronuncia a palavra “rosebud”.  Como ele era um homem muito rico e poderoso, dono de várias empresas e  um magnata da comunicação, os jornais passam a investigar qual seria o significado da última palavra proferida por Charles.

O brilhantismo do filme se dá tanto por sua narrativa com progressão não linear, quanto pelas técnicas de fotografia empregadas na composição das cenas que não somente trazem beleza as imagens do filme, mas também por serem usadas como ferramentas que contribuem muito para o desenvolvimento da história.

A utilização de longos planos sequência que dão mais ênfase na interpretação dos atores, ou os enquadramentos em contra-plongée que muitas vezes são usadas para demonstrar a grandeza de Kane são exemplos de técnicas que serviram como base para vários outros filmes. Contudo, o artifício que se sobressai é a grande profundidade de campo. Essa não foi uma técnica inédita no cinema, mas o modo como ela foi aplicada, sim.

Com uma grande profundidade várias coisas puderam ser feitas de maneira diferente dos padrões cinematográficos da época, como por exemplo o modo como os atores entravam em cena, que costumava ser apenas pelas laterais, agora pode ser feitos de maneiras mais variadas ou os cortes constantes para mostrar elementos diferentes agora não eram mais necessários. Uma cena interessante em que podemos ver a profundidade de campo sendo usada, é quando Kane e sua segunda esposa Susan Alexander estão conversando dentro da grande mansão Xanadu.

 
Em primeiro plano, vemos Susan olhando para baixo, na frete dela esta Kane sentado em uma enorme cadeira. A distancia entre os dois é enorme, e entre eles existe um sofá.
Cena com Charles Kane e Susan Alexander conversando na mansão Xanadu

Nesta cena, a profundidade de campo é utilizada para mostrar vários elementos de uma só vez, ela serve tanto para nos dar noção do quão grande é a mansão, mas também demonstra, de maneira simbólica, que o casal já está se distanciando, e ainda passa ao espectador o sentimento de solidão que encaixa perfeitamente nas emoções do personagem principal, e são cenas como essa que tornam esse filme quase que como obrigatório na repertorio de qualquer cinéfilo, ou apaixonado por fotografia.

Agora é sua vez de ver o filme e ficar com olhos atentos nesses elementos! E não se esqueça de contar suas impressões sobre o filme para outros fãs de cinema e fotografia no nosso grupo do facebook!

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo PedrosoA revolucionária fotografia de Cidadão Kane. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/a-revolucionaria-fotografia-de-cidadao-kane/>. Publicado em: 28 de agos. de 2020. Acessado em: [informar data].

Sair da versão mobile
%%footer%%