O preconceito sob o olhar de Dorothea Lange.
A fotografia abaixo, tirada por Dorothea Lange, mostra um campo de concentração para japoneses nos Estados Unidos no período da Segunda Guerra Mundial. Nesses campos, que possuíam condições horríveis, eles eram obrigados a trabalhar de forma injusta e viviam presos, sem nunca ter cometido nenhum crime. Apenas em 1988 o Governo se desculpou oficialmente pelo estabelecimento de campos de concentração para cidadãos nipo-americanos nos Estados Unidos e admitiu que essa medida foi baseada em princípios racistas.
Dorothea Lange |
A fotógrafa fez um registro crítico e com teor expositivo do que de fato estava acontecendo ali. Pode-se notar isso a partir do foco em um elemento: a bandeira dos Estados Unidos centralizada em meio a um campo de concentração. Dorothea aceitou o trabalho justamente para denunciar a remoção dos cidadãos nipo-americanos e, por isso, suas fotografias foram confiscadas e censuradas pelo exército. Essas fotos ficaram guardadas no Arquivo Nacional sem acesso permitido até 2006. Após a liberação do trabalho de Dorothea em 2006, suas fotografias foram reunidas em um livro.
O trabalho de Dorothea Lange dá abertura para muitas questões, sendo uma delas o fato de que em plena Segunda Guerra Mundial, enquanto se combatia os nazistas e seus campos de concentração, os Estados Unidos também estavam – por motivações preconceituosas e etnocêntricas – removendo os cidadãos nipo-americanos para campos de concentração. Embora as propagandas do governo quisessem passar a imagem de que os Estados Unidos era uma nação democrática e de acolhimento à diversidade, por detrás dos panos, a realidade era outra.
A fotografia da autora demonstra toda a história citada acima. Inicialmente, ao olhar apenas a fotografia, pode-se ver um campo de trabalho dos Estados Unidos, posto que a bandeira é o grande foco da imagem e a paisagem atrás aparenta ter muita neve. Não se sabe, apenas olhando a foto, em que ano ela foi tirada ou se era um campo de trabalho forçado ou não. No entanto, ainda assim, muitas reflexões podem surgir a partir dela, como: por que em meio a segunda guerra mundial, há um campo de concentração nos Estados Unidos? Eles não estavam combatendo o fascismo alemão? Por que um campo de trabalho é normal nos Estados Unidos? Por que isso não é contado nos livros de história?
Essas são algumas das perguntas que podem ser feitas ao olhar esta fotografia a fundo e entender, a partir da bandeira e de toda a história imperialista do país, que este não é um campo qualquer e que, tanto quanto em países fascistas, essa fotografia demonstra o preconceito e a desigualdade social entre os cidadãos dos Estados Unidos, mostrando assim que o sonho americano não é para todos como pintava as campanhas publicitárias antigamente, mas para alguns, especialmente para quem o governo do país aceitar como “aceitável”, pois até hoje há campos para latino-americanos, por exemplo, dentro dos Estados Unidos.
Essa fotografia de Lange, mostra uma face escondida dos Estados Unidos e que, por sua vez, é tão obscura quanto o fascismo da Alemanha, Itália, Espanha, Japão e Portugal. Demonstra que apesar de não haver o discurso sobre a pureza americana, existem práticas que demonstram esse tipo de pensamento e preconceito.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.