A Mãe Migrante

A história por trás da mais famosa foto de Dorothea Lange.

A história por trás da mais famosa foto de Dorothea Lange.

A fotografia Mãe Migrante foi feita em Março de 1936 pela fotojornalista Dorothea Lange enquanto ela cobria a migração de trabalhadores rurais que estavam indo para o leste dos Estados Unidos em busca de emprego. Ela retrata Florence Thompson, que só foi identificada anos após a foto ser publicada.

A Mãe Migrante, Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936

Lange havia sido contratada pela Resettlement Administration (RA), agência criada pelo governo dos Estados Unidos em 1935 para reassentar familias carentes de zonas urbanas e rurais e que posteriormente integraria a Farm Security Administration (FSA), por. A cobertura tinha o objetivo de comover a população e incentivar políticas de amparo para essas famílias. A foto cumpriu bem seu papel, pouco depois de sua publicação, o governo americano enviou ajuda médica e alimentos para os acampamentos dos Pea Peckers, como eram conhecidos esses trabalhadores rurais.

Mesmo que muitas outras fotos tenham sido feitas na campanha, esta foi a que mais se destacou. Provavelmente, devido ao olhar distante da mãe, que nos sugere que ela está perdida em seus pensamentos. Seus três filhos se apoiam sobre seu corpo.  A despeito de sua expressão cansada, temos a impressão de que essa mulher não irá desistir.

Graças a essa mistura de empoderamento e sofrimento, muitos dos americanos passaram a ver nesse rosto uma representação do povo estadunidense, que enfrentava uma das maiores crises econômicas da história do país. Por isso, a fotografia de Lange passou a ser um dos maiores símbolos de sua época.

Em 1975,  Florence Owens Thompson finalmente se identificou como sendo a “Mãe Migrante” da fotografia de Dorothea. Ela entrou em contato com a Associated Press, concedendo uma entrevista sobre o seu lado da história. Segundo ela, a história sobre sua vida havia sido contada de maneira errada. Ela diz que não era uma Pea Pecker e que passou anos envergonhada por ter sua imagem associada a uma situação de pobreza extrema. Em sua versão, ela estava viajando com o marido e seus 6 filhos quando o carro quebrou na beira da estrada. Enquanto, seu esposo foi até a cidade mais próxima para comprar uma peça de reposição, ela montou uma tenda e preparou o almoço.Foi nesse momento que Lange apareceu e tirou a foto.

Com esse novo depoimento, muitas pessoas passaram a criticar o posicionamento ético de Lange. Acusaram-na de não ter coletado informações suficientes sobre a mulher e de ter orquestrado as poses da foto. Infelizmente, a fotógrafa já havia falecido há 10 anos e nunca pôde rebater as críticas.

Pensando na ética envolvida na produção desta fotografia e utilizando os depoimentos que temos junto às seis fotos feitas no encontro de Lange e Thompson, fica difícil apoiar apenas um lado como sendo o correto. Mesmo que Lange não tenha necessariamente contado a história exata, ela fez uma foto que serviu como simulacro para todo um grupo que acabou se beneficiando da repercussão da imagem. Florence, que mesmo tendo se sentindo envergonhada por causa da foto por um longo período de sua vida, também se beneficia dela, já que, nos anos 80, ela precisou se submeter a uma cirurgia que somente através da venda de cópias da foto foi possível de ser paga. No final, a foto carrega duas histórias, a de um povo sofredor, que conseguiu passar por um dos mais terríveis períodos da história dos Estados Unidos e a de uma mulher, que sem querer virou um símbolo de luta depois de um encontro de 15 minutos com uma fotógrafa.

Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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Como citar uma postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. A Mãe Migrante. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/a-mae-migrante/>. Publicado em: 02 de jun. de 2021. Acessado em: [informar data].

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