“Sexo frágil”: mulher, negra e sem teto

Elizabete Afonso Pereira, uma mulher comum, demonstra o verdadeiro significado do que é ser ‘guerrilheira’. 

A fotografia do projeto Alma de Bronze, série “Guerrilheiras”, da artista visual Virginia de Medeiros, mostra uma mulher negra, aparentemente alta e forte, olhando desconfiada para o seu lado direito, enquanto segura facilmente três tijolos. 


A imagem, em preto e branco, apresenta, primeiro, 4 sacos de cimento. Em segundo plano, há uma mulher com traços negróides, fisicamente forte, que segura 3 tijolos enquanto desvia seu olhar da câmera. Ao seu redor, há uma pilha de tijolos. Ela está dentro de um lugar já  construído, o que sugere que ela irá fazer uma reforma no local.
Virginia de Medeiros


A mulher em questão é Elizabete Afonso Pereira, integrante do Movimento Sem Teto do Centro, em São Paulo. Sua postura é emblemática, pois, ao segurar os tijolos, não demonstra nenhum esforço. Seu olhar distraído da câmera delata que ela não estava confortável em ser fotografada, o que me abre margem para pensar que isso não é algo comum em sua vida, que ela foi invisibilizada por algum tempo e não está acostumada a aparecer tão publicamente. Por outro lado, a confiança e a determinação ultrapassam o aspecto de desconforto. Essa mulher que já aparenta ser forte, torna-se ainda mais vigorosa. Ela é uma das “guerrilheiras” fotografadas por Virginia. Inicialmente, partindo do pressuposto de que “guerrilha” é um tipo de luta armada contra um governo ou invasor de um território, mobilizada pelo lado mais fraco e oprimido, compreende-se que, metaforicamente, essas mulheres estão lutando contra aqueles que as impedem de ocupar os espaços a que têm direito.

As pessoas que lutam por seu direito de moradia, os chamados “sem-teto”, ocupam residências que, conforme a constituição federal, não cumprem com sua função social. Em São Paulo, principalmente na área central, são muitos os imóveis abandonados, que são invadidos e, posteriormente, ocupados pelos sem-teto. Diante de uma luta árdua e muitas vezes inglória, construir a própria casa, com suas próprias mãos, é um verdadeiro prazer para essas pessoas. É como se um sonho de tantos anos se materializasse em seus braços. 

Por isso, acredito que Elizabete está determinada a construir sua casa, como alguém que tem consciência dos percalços que sofreu no caminho para chegar até ali. Me sinto inspirada por essa mulher de postura altiva, que representa exatamente o que desejo ser. Sua cabeça erguida e sua firmeza, sua tranquilidade em segurar algo que é sabidamente pesado, serve de exemplo para mim, que tenho carregado outros “tijolos” para construir meus sonhos agridoces.


#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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A Iconografia Fascista

A maneira com que uma única fotografia consegue retratar a iconografia fascistas presente em um governo.

A maneira com que uma única fotografia consegue retratar a iconografia fascistas presente em um governo.

A imagem  abaixo foi feita pelo fotojornalista Pedro Ladeira, no dia 31 de maio de 2020, nesta data o presidente havia participado de manifestações em apoio ao seu governo e aos atos antidemocráticos como a intervenção militar e o fechamento do congresso nacional e do Supremo Tribunal Federal  (STF)

Em primeiro plano, vemos uma fileira de policiais militares uniformizados. Logo atrás deles está o presidente Jair Bolsonaro montado em um cavalo, ele está vestido com uma camisa azul e calças jeans, ao seu lado se encontram mais policiais. Ao fundo é possível notar a presença dos apoiadores do presidente vestidos de verde amarelo e balançando bandeiras do Brasil.
Pedro Ladeira

Quando foi publicada, a foto recebeu grande repercussão nas redes sociais, boa parte delas foram de pessoas contra o governo de Bolsonaro, mas também muitos a utilizam para exaltar a força do presidente e escreveram mensagens de apoio. O que é interessante de se notar  é que a foto possui vários aspectos que podem ser diretamente relacionados às fotografias de propagandas de governos de extrema direita durante a história.

A maioria desses aspectos são utilizados para enaltecer a figura do grande comandante. Na iconografia fascista é muito comum que o líder seja representado como um homem capaz de guiar  exércitos de seu país contra seus “inimigos” e levar seu povo à salvação. Por essa razão, era comum que os líderes de extrema direita sempre aparecem rodeados por seu exército, assim como na foto a baixo. A foto de Ladeira mostra muito bem esse aspecto, já que logo no primeiro plano podemos ver a polícia militar além de vários agentes ao lado do presidente.

No centro da fotografia podemos ver Benito Mussolini, ele caminha ao meio de vários soldados, todos estão uniformizados e alguns seguram fuzis.
Autor Desconhecido

Além do exército, o fato do  líder estar em cima de um cavalo também remonta diretamente a iconografia fascista, que por sua vez se apropria da iconografia medieval, já que nesta, o cavalo era comumente utilizado para representar a nação, logo um bom cavaleiro era relacionado a um bom governante. Nesse caso específico, além do cavalo também é possível ver um cassetete preso à sela, o que também contribui para a afirmação de virilidade do líder, já que armas como espadas, pistolas e fuzis que são objetos amplamente utilizados como ferramentas de repressão, aparecendo fartamente nos retratos de governos fascistas como validação de força. Na imagem abaixo vemos uma pintura de Adolf Hitler que traz os mesmos elementos. 

Na pintura podemos ver Adolf Hitler montado em uma cavalo, vestindo uma armadura de placas de metal. Ele segura a bandeira vermelha do partido nazista em sua mão direta.
Pintura de Hubert Lanzinger

Além do líder viril cercado por seu imponente exército, essa fotografia ainda apresenta mais um fator comum entre o Bolsonarismo e os governos de extrema direita antes deles. Ao fundo, podemos ver a bandeira do Brasil tremulando, logo ao lado da cabeça do presidente, isso remete ao ultranacionalismo, característica primordial de ideologias fascistas e muito presente nos discursos de Jair. Na foto de Plínio Salgado, que está logo abaixo, é um outro exemplo da utilização do nacionalismo na iconografia fascista. 

Na foto podemos ver Plínio Salgado, líder do movimento integralista brasileiro, discursando em um palanque com a bandeira brasileira ao fundo.
Autor Desconhecido

A fotografia capta desde o forte apoio aos militares, a fixação bélica que ecoa em seus discursos em favor do afrouxamento das leis de restrição ao porte de armas, a idealização de uma masculinidade nociva focada em discursos cis heteronormativos, misóginos e homofóbicos e é claro o ultranacionalismo, figurinha repetida em todos os discursos do presidente que retratam uma pátria devastada que precisa ser salva independentemente de como. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links Referências e Créditos

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. A Iconografia Fascista. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-iconografia-fascista/>. Publicado em: . Acessado em: [informar data].

João Zinclar

O operário da fotografia que documentou a luta de classes no Brasil.

 
As produções do fotógrafo João Zinclar incluem imagens que documentam a história da classe trabalhadora brasileira entre os períodos de 1994 e 2013. Através de narrativas visuais, ele representou a luta de classes identificando suas transformações culturais.

 

A fotografia contém um homem com um capuz que cobre seu rosto segurando um cartaz, no qual está escrito: “os trabalhadores e trabalhadoras não vão pagar a conta da crise”. Ao fundo desta fotografia está ocorrendo um protesto onde só se pode ver uma fumaça escura de objetos que foram queimados.
João Zinclar

João Zinclar nasceu em Rio Grande (RS) e começou a trabalhar desde pequeno. Quando mais velho, migrou, em busca de  mais oportunidades de emprego, para os centros urbanos no sudeste do país, onde entrou em contato com as diferentes culturas dos trabalhadores. Mas apenas ao viajar pelo Brasil, com o movimento hippie, que ele percebeu as mudanças que ocorriam no país e decidiu registrá-las.
 
A partir deste momento, João Zinclar voltou a trabalhar como operário e passou a estudar sobre os movimentos sociais e a se integrar ao cenário político brasileiro. Atuou também como repórter fotográfico, principalmente na documentação das diversas lutas dos trabalhadores e dos movimentos de esquerda.
 
Uma multidão se reúne em protesto, as pessoas se encontram sentadas no chão e algumas destas seguram folhas, mas não é possível ler o que está escrito. Em frente a multidão há um cartaz com as seguintes palavras escritas em vermelho :“estamos em guerra”, e em caracteres menores está escrito:“sind. dos trab. no serv. púb. mun. de Campinas - FETAM/CUT”
João Zinclar

 

Em um campo, barracas de lona são queimadas por policiais que verificam o local. Há muita fumaça escura, mas o fogo não é visível.
João Zinclar

 

No canto direito da imagem, há uma pessoa segurando a bandeira do Brasil e a constituição brasileira, e mais ao fundo da imagem, há uma multidão em protesto próximo a uma escultura no Palácio do Planalto. Ao centro da imagem, é possível visualizar a bandeira lgbt+ cobrindo o chão.
João Zinclar

 

Há cinco pessoas na imagem, aparentemente estudantes, colocando uma faixa em uma entrada, nela está escrito: “até agora contando 87h de ocupação". A faixa também contém o símbolo da Universidade de Campinas, e ao lado, na outra parede, há um cartaz com a palavra “Campus”.
João Zinclar

 

 
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Links, Referências e Créditos

 

Como citar esta postagem

PAES, Nathália. João Zinclar. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/03/joaozinclar.html>. Publicado em: 325 de abr. de 2022. Acessado em: [informar data].
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Jesus estava com sede

Jesus Cristo foi encontrado estirado em uma calçada em São Paulo e estava com sede.

Esta é a legenda da fotografia abaixo, de autoria do fotógrafo Daniel Kfouri, postada pelo padre Julio Lancellotti em suas redes sociais no dia 3 de outubro de 2021. A imagem mostra um homem deitado na calçada, de corpo coberto mas com os pés expostos, encolhido para o lado do muro enquanto o padre abaixa-se e toca seu ombro. 


Em primeiro plano há um carrinho com papelão. Em segundo plano, um homem idoso com traços caucasianos, usando máscara de proteção facial e jaleco, toca um homem que está deitado na calçada, coberto mas com os pés de fora.
Daniel Kfouri

Esta fotografia expressa a contradição entre o claro e o escuro, entre as luzes e as trevas, entre o abandono e o acolhimento. O homem, morador de rua, possui o chão como seu anteparo, dali ele não passa. Excluído da vida social, após infringidos seus direitos, o homem parece alheio à sua própria situação, como em um gesto de conformismo. Daí, surge o padre, com um jaleco branco resplandecente que ilumina o ambiente, estende seu braço até o homem e, ao encostar nele, o retira da indiferença. Naquele homem que ninguém vê nada, o padre vê Jesus e, após um breve diálogo, descobre que ele tem sede.


Em primeiro plano, um idoso vestindo jaleco e máscara de proteção facial segura um copo dágua na boca de um homem negro, que levanta a parte superior do corpo para tomar água.
Daniel Kfouri

Então o padre entrega um copo d’água ao Jesus sedento.

A fome, a sede e a marginalização são um calvário que Jesus carrega hoje. Há outros desertos e outras cruzes, atravessados de solidão. Da mesma forma, ainda existem os soldados romanos, agora eles colocam pregos e pedras embaixo de viadutos e em cima de bancos. Mais de 2000 anos se passaram, mas todo dia nasce e morre um Cristo no mundo, sem que ninguém perceba.

Ao ver as duas fotos, sinto, ao mesmo tempo, tristeza e esperança. Lembro-me dos moradores de rua que enxerguei da janela do ônibus em Belo Horizonte, carregando seus carrinhos, sujos, maltrapilhos, abandonados. E nós sendo meros espectadores daquela desgraça. É difícil alguém enxergar quem está excluído, é mais fácil fingir que não vê, que não é problema nosso, isso é o que muitas pessoas fazem. Então acho bonito e reconfortante que alguém consiga ver Jesus em um morador de rua. Que possamos fazer o mesmo. 

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  • https://twitter.com/pejulio/status/1444716668991721479/photo/1


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Daniel Kfouri: a fotografia enquanto denúncia

Fotógrafo registra o trabalho do padre Julio Lancellotti em prol dos moradores de rua, na capital paulista.

Nascido em São Paulo, em 1975, Daniel Kfouri é filho de Juca Kfouri, jornalista esportivo brasileiro. Enquanto fotojornalista, recebeu o prêmio World Press Photo de Esportes de Ação em 2010. No ano seguinte, ganhou o Picture of the Year Latin America.

Em primeiro plano há um idoso com traços caucasianos, usando máscara, distribui marmitas em uma fila. Atrás dele, um homem negro de touca sorri ao receber sua marmita. Depois,  há uma fila em que a maioria das pessoas são adultas e negras.

Daniel Kfouri


Atualmente, o fotojornalista tem se destacado no audiovisual com a produção de documentários que tratam de problemáticas sociais, como o rompimento da barragem de Brumadinho. 

Em parceria com o padre Julio Lancellotti – da paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, em São Paulo – o fotógrafo registra o cotidiano da obra social. O padre Julio é conhecido no país por seu trabalho em favor dos moradores de rua da capital paulista. Inspirado pela Teologia da Libertação, o presbítero presta serviço aos marginalizados, denunciando o que ele chama de “crise humanitária em São Paulo”. Além de ser um registro, esse trabalho fotográfico é capaz de dar visibilidade a realidade miserável e desumana em que se encontra a população de rua da maior cidade brasileira. 

Em primeiro plano, um cachorro vira-lata parece estar latindo enquanto olha para frente, em cima de um carrinho cheio de papelão. Atrás dele, desfocados, há homens puxando outros carrinhos com papelão e sucatas.

Daniel Kfouri


Há três pessoas em primeiro plano, sendo dois homens de traços negros - o do meio é retinto - enquanto a pessoa da direita parece ser uma mulher. Estão agasalhadas com cobertores e toucas, e as pessoas das laterais amparam o homem do centro, que segura uma marmita. Atrás deles, há um homem de barba fumando e outras pessoas agasalhadas e de máscara.

Daniel Kfouri

Em primeiro plano, há um carrinho com papelão. Em segundo plano, um homem idoso com traços caucasianos, de máscara de proteção facial e jaleco, toca um homem que está deitado na calçada, coberto, mas com os pés de fora.

Daniel Kfouri


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Passeata dos cem mil

Fotografia que retrata um importante protesto contra a ditadura militar brasileira.

A fotografia tirada por Evandro Teixeira mostra a passeata dos cem mil, uma manifestação contra a ditadura militar,  que aconteceu no Rio de Janeiro no dia vinte e seis de junho de 1968.

A fotografia é toda composta por uma multidão de manifestantes e há um cartaz e nele está escrito “abaixo a ditadura, povo no poder”.
Evandro Teixeira

No dia 28 de março de 1968, a polícia militar (PM) invadiu o restaurante universitário Calabouço, onde estudantes protestavam contra o preço das refeições. No confronto, o comandante da PM, Aloísio Raposo, matou o estudante Edson Luís com um tiro no peito. Por causa desse chocante assassinato, o movimento estudantil começou a organizar mais manifestações.

Outro cruel acontecimento que ocorreu  vinte dias depois do assassinato de Edson Luís foi a chamada “sexta- feira sangrenta”, na qual ocorreu um protesto estudantil contra o sucateamento de verbas do ensino superior da época, que  também foi movido pelo descontentamento com a repressão dos militares, a PM prendeu muitos manifestantes e matou vinte e oito pessoas.

Devido a esses acontecimentos foi marcado para o dia vinte e seis de junho de 1968 a passeata que reuniu mais de cem mil pessoas, dentre elas estavam estudantes, artistas e trabalhadores. Nesse dia, o fotógrafo Evandro Teixeira retratou o momento em que Vladimir Palmeira, líder do movimento estudantil,  fazia um discurso contra a repressão sofrida pelo governo ditatorial da época e a favor da volta da democracia brasileira.

 O mais impressionante da fotografia é a quantidade de pessoas retratadas, principalmente porque mesmo que a foto seja feita em plano aberto, toda a sua composição está preenchida pelos manifestantes, o que pode ser um indicativo da opinião popular que na época já estava farta do regime ditatorial. Esse entendimento é reforçado pelo o cartaz onde se lê “abaixo a ditadura, povo no poder”. Me emociona ver essa quantidade gigantesca de pessoas lutando pela democracia e pela liberdade de expressão.

Vivendo em um momento no qual muitos falam que a ditadura militar foi uma época boa, o registro de tantas pessoas lutando contra esse regime ditatorial é muito necessário para que fique claro o quão horrível foi esse período de repressão. Acredito que esta fotografia seja de extrema importância, pois marca o repúdio do povo aos atos hediondos da ditadura militar, além de deixar gravado na história um momento de união entre milhares de pessoas na luta pelos seus direitos. Assim, deixo aqui parte de uma canção, cantada por Geraldo Vandré, que representa o sentimento de coletividade que é essencial para continuar com a luta por nossos direitos e contra o governo atual que fere a democracia brasileira:

“Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão”

(VANDRÉ, 1979)

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DE PAULI, Beatriz Helena. Passeata dos cem mil.Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:https://culturafotografica.com.br/passeata-dos-cem-mil/. Publicado em: 30/03/2022. Acessado em: [informar data].

O formigueiro humano em Serra Pelada

Fotografia que mostrou para todos o maior garimpo a céu aberto do mundo.

Fotografia que mostrou para todos o maior garimpo a céu aberto do mundo.

Essa foto, realizada pelo fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado em 1986, revela a grande corrida do ouro que levou milhares de pessoas à Serra Pelada, no Pará, em busca de enriquecer. A imagem mostra uma cratera de 24 mil m2, de onde esses homens extraíram toneladas de ouro. 

descrição: a imagem mostra uma cratera de pedras com muitas pessoas subindo e descendo as escadas improvisadas nas pedras garimpando ouro.
Sebastião Salgado

A imagem simboliza grande parte da história do Brasil, pois a busca pelo ouro gerou  um processo de transformação no país, como por exemplo, o deslocamento do eixo político-econômico da colônia para sul-sudeste e a mudança da capital para o Rio de Janeiro. Além disso, o ciclo do ouro também está ligado com a exploração de pessoas pobres e pretas que eram a maioria nesses garimpos e no fim das contas não obtiveram qualquer benefício, história essa que se repete do Brasil colônia até a república.

Pensando na fotografia em si, esse formigueiro de homens afobados pelo enriquecimento, me causa uma sensação de desespero e agonia. A grande quantidade de pessoas aglomeradas nesse local aparenta desconforto. Sinto que eles realizam um trabalho extremamente desgastante tanto físico quanto mental. A cratera também pode retratar a assimetria entre os donos dos garimpos e os homens que garimpavam, em que os donos eram quem realmente ficavam com o ouro e os outros eram somente explorados nessa cratera subindo e descendo as escadas carregando sacos pesados, ou seja, a parte de cima, plana, seria o local do explorador e, o fundo do buraco, o dos explorados. Essa desigualdade na imagem representa a mesma que existe entre ricos e pobres no país.

Uma importante característica da foto é a escolha pelo preto e branco, estilo característico de Sebastião, que proporciona uma percepção mais profunda do que se fosse colorida. Essa junção de cores gera de forma intensa uma sensação de tristeza, acredito que o autor não queria retratar o ambiente precário das pessoas que estavam no garimpo de forma positiva, então, se a fotografia fosse colorida poderia diminuir o impacto dela. Essa escolha cria uma dramaticidade necessária para a cena, porque envolve também uma crítica social da corrida do ouro que também foi uma forma de escravização na época.

Na foto, a maior parte das pessoas são negras e isso mostra como a população preta de nosso país sempre esteve na base da pirâmide, sendo explorada de todas as formas possíveis, e, no fim, dificilmente são beneficiadas. Nesse contexto, foram usadas somente como mão de obra análoga à escrava, sem qualquer direito básico, como por exemplo, equipamentos de proteção individual, e no fim quem ficou com a maior parte do ouro foram os donos dos garimpos.

Isso que ocorreu em Serra Pelada não é uma história única. É a história do Brasil, que foi construído com o sangue da população preta, que desde a colônia mantém uma sociedade escravocrata. Portanto, o garimpo de Serra Pelada diz muito sobre o Brasil do passado e também sobre o do presente. 

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CALIXTO, Vitória. O formigueiro humano em Serra Pelada. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/o-formigueiro-humano-em-serra-pelada/>. Publicado em: 02/02/2022. Acessado em: [informar data]

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Mauro Holanda

Experiente fotógrafo na área da gastronomia.

Experiente fotógrafo na área da gastronomia.

Mauro Holanda é um fotógrafo pioneiro em gastronomia. Quando começou a trabalhar nessa área, era conhecido como fotógrafo de comida, coisa não muito prestigiada na época. Inovou tirando as equipes do estúdio e instalando seus equipamentos nos restaurantes. Criando um diálogo entre a fotografia e a gastronomia.

descrição: a foto mostra uma rabada no tucupi com creme de mandioca servido em um prato fundo e redondo.
Mauro Holanda

Sempre atento, Mauro procura se inteirar das novidades, frequentando as cozinhas dos mais variados restaurantes, sempre  com um olhar atento para a beleza dos pratos gastronômicos.

A partir dessa visão mais minuciosa, de perceber a riqueza de detalhes fotográficos em um simples prato de comida, Mauro vem se dedicando exclusivamente à gastronomia, fotografando, escrevendo, proferindo palestras e ministrando workshops em diversos cantos do país.

descrição: na foto se vê uma sequência de queijos finos cobertos com geléia e caponata.
Mauro Holanda
descrição: na foto se vê um sequência de 10 pedaços pequenos de carne de lombo de cordeiro com molho de laquê, frutas do bosque e aspargos verdes.
Mauro Holanda
descrição: na foto mostra um magret de carne de pato com banana caramelizada e aspargos.
Mauro Holanda
descrição: na foto se vê um tipo de sobremesa que é um  crepe de maçã caramelizado, decorado com canela em casca e acompanhado com sorvete.
Mauro Holanda

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CALIXTO, Vitória. Mauro Holanda. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/mauro-holanda/>. Publicado em: 31/01/2022. Acessado em: [informar a data].

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Consuelo Kanaga: retratos da beleza negra

Série de fotografias mostram a busca por um olhar delicado e carinhoso sobre a vivência preta 

Apesar do trabalho modesto, Consuelo Kanaga conseguiu se destacar no mundo da fotografia. Com um forte enfoque sobre lutas sociais, a fotógrafa americana passou parte de sua carreira dando sua atenção para a experiência negra. Dentre suas fotografias, os retratos são aqueles que mais se destacam, por carregar uma singelidade e atenção ao representar o mundano. 

Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de uma criança com os cabelos presos, uma blusa de manga comprida, segurando uma flor enquanto a cheira, com uma expressão de felicidade
Consuelo Kanaga foi uma fotógrafa americana, nascida em 25 de maio de 1894, em Astoria, cidade de Oregon. Trabalhou entre 1915 e 1922 como escritora e repórter para o San Francisco Chronicle, um jornal localizado na Califórnia, estado onde cresceu. Durante esse período, se juntou ao California Camera Club e lá conheceu o trabalho de Alfred Stieglitz, fotógrafo que se tornou sua inspiração. 
Em 1922, depois de se mudar para Nova Iorque, passou a trabalhar como fotojornalista para o New York American. Fez publicações de fotografia para a New Masses, Labor Defender e Sunday Worker, todos veículos que falavam sobre política numa perspectiva da esquerda. A partir daí, seu trabalho começou a ser focado na vivência negra, fotografando pessoas e seus cotidianos em uma série de retratos.  
Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de jovem mulher com o rosto apoiado sobre a parede, lábios cerrados em uma expressão séria

Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de mãe e filho, a mãe com a cabeça inclinada para baixo com uma expressão séria, o filho, localizado mais a baixo da imagem, a olha com uma expressão pensativa

Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de garota de frente, com o rosto virado para o lado e uma expressão pensativa

Consuelo Kanaga
Descrição: fotografia de garota virada de lado, com os braços cruzados e  com uma expressão séria 
Consuelo Kanaga

Descrição: fotografia de uma mãe segurando a filha no colo enquanto sorri e a menina olha para o alto

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