Qual o preço da “liberdade de expressão”?

O Capitão Brasil e sua narrativa.

O Capitão Brasil e sua narrativa.

A fotografia de Pedro Ladeira publicada em 29 de setembro de 2021, mesmo dia do depoimento de Luciano Hang na CPI da Covid, mostra como o depoente utilizou desse espaço para fazer um espetáculo midiático. Ele foi chamado devido à suspeita de seu envolvimento com disparos de Fake News e de participação no Gabinete Paralelo, grupo extraoficial que aconselhava Bolsonaro a respeito da pandemia.

A fotografia apresenta Luciano Hang usando terno e máscara verde e gravata amarela. Ele segura em sua frente um cartaz também verde onde se lê em letras amarelas “Liberdade de Expressão”. A foto foi feita durante uma sessão da CPI da COVID-19 em 2021 no Senado Federal.

Pedro Ladeira/Folhapress

“Qual é o preço de mentiras?”. A frase que abre a premiada minissérie da HBO Chernobyl é um bom ponto de partida para se analisar como o Brasil lidou com a Pandemia de COVID-19. Fake News dizendo que era apenas uma “gripezinha” ou que o tratamento precoce era eficaz fez com que as pessoas não respeitassem as medidas sanitárias e assim colocassem suas vidas em risco.

Na foto, Hang segura uma placa onde se lê “LIBERDADE DE EXPRESSÃO”. Durante seu longo depoimento ficou claro que a liberdade que ele busca é a de manter a sua narrativa de que poucas pessoas morreram por COVID-19, e que se elas tivessem feito o tratamento precoce não seriam vítimas da doença.

Além do cartaz presente na fotografia, o depoente levou vários outros. Seu objetivo era causar tumulto, cair na boca do povo, e assim conseguiu. Para alguns virou piada, para outros revolta. Nesse viés, vale lembrar que liberdade de expressão não é incondicional. Aquele que diz arca com as consequências de suas palavras, ainda mais quando essas são danosas para toda a sociedade. Como é o caso da liberdade ao qual Hang se refere.

As cores verde e amarelo estão presentes não só nas placas, como também no terno e na máscara de Hang. Isso é usado por ele como um sinal de patriotismo. Vale destacar que ele se veste com uma roupa de Super-herói e se declara Capitão Brasil. Assim, ao mesmo tempo que a imagem gera raiva, ela é cômica. Como mesmo disse Renan Calheiro na reunião da CPI do dia que a foto foi tirada, bobos da corte chamam a atenção e servem de cortinas de fumaça.

Assim, observa-se que a persona pública de Luciano Hang utiliza polêmicas, mentiras e extravagância como forma de autopromoção e para atingir os seus objetivos. Ele provoca e distorce, tudo isso para manter uma narrativa e se tornar um mártir, o Capitão Brasil que supostamente luta pela liberdade de expressão.

Links e referências

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Sobre o autor

Miller Henrique Corrêa de Brito é bacharelando em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

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A Iconografia Fascista

A maneira com que uma única fotografia consegue retratar a iconografia fascistas presente em um governo.

A maneira com que uma única fotografia consegue retratar a iconografia fascistas presente em um governo.

A imagem  abaixo foi feita pelo fotojornalista Pedro Ladeira, no dia 31 de maio de 2020, nesta data o presidente havia participado de manifestações em apoio ao seu governo e aos atos antidemocráticos como a intervenção militar e o fechamento do congresso nacional e do Supremo Tribunal Federal  (STF)

Em primeiro plano, vemos uma fileira de policiais militares uniformizados. Logo atrás deles está o presidente Jair Bolsonaro montado em um cavalo, ele está vestido com uma camisa azul e calças jeans, ao seu lado se encontram mais policiais. Ao fundo é possível notar a presença dos apoiadores do presidente vestidos de verde amarelo e balançando bandeiras do Brasil.
Pedro Ladeira

Quando foi publicada, a foto recebeu grande repercussão nas redes sociais, boa parte delas foram de pessoas contra o governo de Bolsonaro, mas também muitos a utilizam para exaltar a força do presidente e escreveram mensagens de apoio. O que é interessante de se notar  é que a foto possui vários aspectos que podem ser diretamente relacionados às fotografias de propagandas de governos de extrema direita durante a história.

A maioria desses aspectos são utilizados para enaltecer a figura do grande comandante. Na iconografia fascista é muito comum que o líder seja representado como um homem capaz de guiar  exércitos de seu país contra seus “inimigos” e levar seu povo à salvação. Por essa razão, era comum que os líderes de extrema direita sempre aparecem rodeados por seu exército, assim como na foto a baixo. A foto de Ladeira mostra muito bem esse aspecto, já que logo no primeiro plano podemos ver a polícia militar além de vários agentes ao lado do presidente.

No centro da fotografia podemos ver Benito Mussolini, ele caminha ao meio de vários soldados, todos estão uniformizados e alguns seguram fuzis.
Autor Desconhecido

Além do exército, o fato do  líder estar em cima de um cavalo também remonta diretamente a iconografia fascista, que por sua vez se apropria da iconografia medieval, já que nesta, o cavalo era comumente utilizado para representar a nação, logo um bom cavaleiro era relacionado a um bom governante. Nesse caso específico, além do cavalo também é possível ver um cassetete preso à sela, o que também contribui para a afirmação de virilidade do líder, já que armas como espadas, pistolas e fuzis que são objetos amplamente utilizados como ferramentas de repressão, aparecendo fartamente nos retratos de governos fascistas como validação de força. Na imagem abaixo vemos uma pintura de Adolf Hitler que traz os mesmos elementos. 

Na pintura podemos ver Adolf Hitler montado em uma cavalo, vestindo uma armadura de placas de metal. Ele segura a bandeira vermelha do partido nazista em sua mão direta.
Pintura de Hubert Lanzinger

Além do líder viril cercado por seu imponente exército, essa fotografia ainda apresenta mais um fator comum entre o Bolsonarismo e os governos de extrema direita antes deles. Ao fundo, podemos ver a bandeira do Brasil tremulando, logo ao lado da cabeça do presidente, isso remete ao ultranacionalismo, característica primordial de ideologias fascistas e muito presente nos discursos de Jair. Na foto de Plínio Salgado, que está logo abaixo, é um outro exemplo da utilização do nacionalismo na iconografia fascista. 

Na foto podemos ver Plínio Salgado, líder do movimento integralista brasileiro, discursando em um palanque com a bandeira brasileira ao fundo.
Autor Desconhecido

A fotografia capta desde o forte apoio aos militares, a fixação bélica que ecoa em seus discursos em favor do afrouxamento das leis de restrição ao porte de armas, a idealização de uma masculinidade nociva focada em discursos cis heteronormativos, misóginos e homofóbicos e é claro o ultranacionalismo, figurinha repetida em todos os discursos do presidente que retratam uma pátria devastada que precisa ser salva independentemente de como. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links Referências e Créditos

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. A Iconografia Fascista. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-iconografia-fascista/>. Publicado em: . Acessado em: [informar data].

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