Nas ruas da infância

Para uma criança tudo pode ser divertido

A fotografia abaixo, ainda que em preto e branco, demonstra o quanto a vida pode ser colorida. Em uma rua de pedras, dois meninos pequenos correm atrás de uma vaca e um bezerro, praticamente do tamanho deles.


Dois meninos correm atrás de uma vaca pequena e um bezerro. Eles usam camiseta, bermuda e chinelo. O menino que está do lado esquerdo mantém seus braços abertos, enquanto o da direita os inclina para frente, mas sem estendê-los.
Ane Souz

Se não fosse pelas vestimentas dos meninos, a foto poderia ser facilmente localizada no passado, tanto pelo registro em preto e branco, quanto pelo cenário, e também pela raridade da atitude em tempos atuais. As crianças de hoje, principalmente nas grandes cidades, estão inseridas em um mundo cada vez mais virtual, em que as experiências no real ficam cada vez mais limitadas. Portanto, em pleno século XXI é incomum haver crianças correndo atrás – ou junto – de animais da fazenda em espaços urbanos.

Nas sociedades capitalistas tudo pode ser transformado em mercadoria, logo, o valor das coisas está em seu potencial de troca. Uma vaca, para um adulto criado nesse contexto, é sinônimo de dinheiro. Com certeza este não é o caso das crianças, que se divertem com os animais sem lhes colocar um peso monetário.

Imagino que os meninos tenham gostado do fato de que, como eles, os bovinos sejam pequeninos. Foi uma peraltagem compartilhada, entre crianças que subvertem os costumes de seu tempo e animais que seguem seus instintos, correndo pelas ruas. Logo, uma experiência legítima de liberdade.

A infância é, sem ressalvas, a fase mais potencializadora do nosso desenvolvimento. Quando convenções sociais, preconceitos e paradigmas ainda não cercearam completamente nossa liberdade, a vida é um arco-íris que possui infinitas cores. À medida que envelhecemos, essas cores se desbotam, mas ficam eternizadas nas lembranças e nos registros que deixamos, e ressurgem quando os visitamos.


#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


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Ane Souz

Fotógrafa da assessoria de comunicação da Prefeitura de Ouro Preto.

 

Ane Souz nasceu em 1987, em Itabira, Minas Gerais. Em 1999, mudou-se para Mariana com a mãe, onde, aos 19 anos, aprendeu a fotografar em um curso de câmera pinhole. Desde então, a jovem se apaixonou pela fotografia. Desencorajada pela insegurança e dificuldade financeira, ela não enxergava a fotografia como sua carreira até o ano de 2015.


A fotografia mostra, em primeiro plano, uma mulher fazendo uma performance artística com bolha de sabão. As bolhas formam uma camada extensa e uniforme. O cenário é a Praça Tiradentes, no centro de Ouro Preto.
Ane Souz

A profissionalização de Ane começou oficialmente no dia 3 de janeiro de 2015, em Ouro Preto. Com uma câmera Canon T4i, duas lentes e um flash, a jovem decidiu que era hora de levar a fotografia a sério. Entretanto, ao mesmo tempo, ela era fotógrafa e artesã, pois o lucro do ateliê que tinha com a mãe era investido em equipamentos. Em 2018, Ane conseguiu fazer da fotografia sua principal fonte de renda. 

Hoje, a fotógrafa trabalha na Prefeitura de Ouro Preto, onde cobre eventos institucionais e culturais, e acontecimentos que marcam a rotina da cidade. Além disso, ela é freelancer. Seu interesse está no fotojornalismo e na fotografia documental. Ane enfatiza que fotografar Ouro Preto é uma grande responsabilidade, mas também um privilégio, considerando a relevância da cidade.


Em preto e branco, a fotografia mostra uma rua sob a neblina típica de Ouro Preto. Ao lado direito da rua, um casal caminha em frente a um estabelecimento comercial.
Ane Souz


A fotografia mostra atrizes e atores andando pela rua São José, no centro de Ouro Preto. Eles trajam figurino de época e de alta costura.
Ane Souz

A fotografia, em preto e branco, registra o momento em que dois garotos correm atrás de uma vaca e um bezerro, em uma rua de pedras.
Ane Souz

O registro fotográfico mostra o momento em que um artista pinta, em aquarela, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto. Ele é idoso, usa óculos e barba, está agasalhado, e olha com atenção para sua obra. Amarradas nas sacadas das casas, há bandeirolas de festa junina. Ao fundo, a igreja.
Ane Souz

A fotografia mostra uma roda de capoeira. No meio da roda, há 3 homens jogando. Enquanto um desfere um golpe com chutes, mantendo o corpo todo no ar, o oponente se desvencilha no chão, e um terceiro parece preparar o próximo golpe.
Ane Souz

A fotografia, em preto e branco, registra um homem de cabelo grisalho observando o lado externo de uma vidraça, onde há construções coloniais. Não é possível ver o seu rosto.
Ane Souz

A fotografia mostra uma rua no centro histórico de Ouro Preto. O sol ilumina as casas do lado esquerdo da rua. Não há pedestres nem trânsito.
Ane Souz

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Links, Referências e Créditos

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Feirantes e fregueses

Contrastes sociais evidentes na São Paulo de 1940.

A fotografia abaixo, feita pela fotojornalista Hildegard Rosenthal, retrata uma feira livre na cidade de São Paulo, em 1940. Nela, é possível observar a distinção entre feirantes e fregueses, principalmente por suas vestimentas e características físicas. 


Em preto e branco, a fotografia revela uma feira livre. É possível distinguir barracas e bancadas onde são vendidos os produtos. Algumas mulheres utilizam sombrinhas e usam vestidos ou saias, e estão calçadas com sapatos de salto. Alguns homens usam chapéu, terno, gravata e sapato social. Há meninos negros, de camisa de manga longa e bermuda, alguns descalços, carregando mercadorias.

Hildegard Rosenthal 


O céu quase limpo e as sombrinhas registradas na foto nos contam que o dia estava quente. No entanto, alguns homens utilizam terno ou camisas de manga comprida e, claro, chapéu. As mulheres, por sua vez, usam vestidos ou saias, sapatos de salto, e algumas estão de manga comprida, além de levarem as sombrinhas. Os mais bem vestidos da cena são, intuitivamente, os fregueses e as freguesas da feira. 

O que mais me chama a atenção, entretanto, são os meninos negros, de bermuda e camisa de manga longa, um descalço, o outro de chinelo. Eles se contrapõem à elegância descrita acima, possuem traços físicos diferentes da freguesia e, não menos importante, são crianças. 

Os marcadores de classe, raça e gênero estão bem definidos na composição da fotografia, sendo facilmente isolados. Essa é uma cena comum da primeira metade do século 20, no Brasil. 

A Lei 8069/1990, em seu artigo 60, institui a proibição de qualquer tipo de trabalho a crianças menores de 13 anos. Contudo, entre 1940, quando essa fotografia foi feita, e 1990, quando essa lei foi promulgada, existem 50 anos. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, em 2019 cerca de 1,8 milhões de crianças e jovens exerciam trabalho infantil, sendo 21,3% de 5 a 13 anos, mais da metade do sexo masculino, preto ou pardo. Esses dados evidenciam que, apesar de haver um esforço para combater essa situação, o problema ainda não foi resolvido, e tem um perfil de vítimas bem definido. 

Apesar de haver um contexto histórico intrínseco à foto que não pode ser isolado, as diferenças sociais percebidas me deixam perplexa. Hoje, é assegurado a qualquer criança brasileira o direito à cidadania, e com isso, o dever de ser matriculada em uma escola. O que se revela nesta fotografia é o oposto disso, em uma época em que as crianças, sobretudo negras, tinham poucos direitos.

Interessante também perceber como as concepções de normalidade mudam em meio século, e o que era corriqueiro, como o trabalho infantil, torna-se um crime. Na contra-mão dessa mudança, a juventude negra continua sendo o maior alvo dessa condição. 

O trabalho infantil, a miséria, o analfabetismo e a marginalidade são heranças de uma sociedade que, durante séculos, manteve uma estrutura escravocrata e, portanto, racista. É comum que os trabalhadores resgatados pelo Ministério Público sejam em sua maioria negros. Ainda que haja mudanças estruturais, como na legislação, nem sempre são acompanhadas por mudanças estruturantes. Enquanto a mentalidade social tiver origem escravocrata, crianças e jovens negros não usufruirão plenamente de sua vida cidadã. 


Chamada para ação

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Links, Referências e Créditos

https://ims.com.br/titular-colecao/hildegard-rosenthal/

https://livredetrabalhoinfantil.org.br/noticias/reportagens/o-que-o-eca-diz-sobre-o-trabalho-infantil/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29738-trabalho-infantil-cai-em-2019-mas-1-8-milhao-de-criancas-estavam-nessa-situacao

Como citar este artigo

MORAIS, Isabella Garcia. Feirantes e Fregueses. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/feirantes-e-fregueses.html>. Publicado em: 29 dez. 2022. Acessado em: [informar data]. 


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São Paulo por Hildegard Rosenthal

Alemã radicada no Brasil, a fotojornalista revelou uma São Paulo efervescente e humanizada. 


Pedagoga de formação, entretanto, Hildegard tornou-se fotógrafa, tendo sido aluna de Paul Wolff na Alemanha. No Brasil, foi pioneira na representação feminina no fotojornalismo, e trabalhou para várias agências de notícias, como a Press Information. São Paulo foi a sua casa e cenário de sua obra, onde fotografou uma metrópole movimentada e diversa. 


A fotografia, em preto e branco, mostra a Praça da Sé, no centro de São Paulo. Está lotada de pessoas e há alguns carros e ônibus. No fundo, há alguns prédios e a Catedral da Sé em construção.
Hildegard Rosenthal


Deixando um legado de aproximadamente 3.400 registros negativos, Hildegard foi uma das pessoas que inauguraram o fotojornalismo no país, apresentando uma nova maneira de se construir as narrativas jornalísticas. A fotógrafa exerceu a profissão durante as décadas de 1930 e 1940, em São Paulo. À época, a cidade estava cheia de imigrantes, refugiados dos regimes totalitários na europa (como ela mesma), e também era impactada pelas inovações propostas pelo governo Vargas. 

O ambiente metropolitano e cosmopolita de São Paulo foi bastante retratado na sua obra, com destaque para pontos turísticos e obras que expandiram a cidade, como o Mercado Central, o Viaduto do Chá e a Catedral da Sé. Ela se interessava bastante pelo tema da infância, e buscava retratar a sutileza das pessoas, um trabalho complexo de ser realizado naquela que já era a maior cidade do Brasil. 


A fotografia, em preto e branco, mostra um menino de traços caucasianos segurando um jornal. Ele usa boina, camisa, paletó, bermuda e meias, e posa sorrindo para a câmera.
Hildegard Rosenthal

A fotografia retrata duas meninas de traços orientais tomando sorvete de palito. Elas usam uma blusa de mangas compridas, debaixo de um vestido de manga cavada e que tem um laço na altura da gola da camisa. Elas desviam o olhar da câmera, e uma delas parece estar sorrindo.
Hildegard Rosenthal


A fotografia, em preto e branco, retrata um homem lavando um carro. Ele utiliza uma boina, uma blusa de manga longa e calça de uniforme. Há um carro em suspensão, que é lavado por ele na altura da roda, por uma mangueira.
Hildegard Rosenthal

Em preto e branco, a fotografia revela uma feira livre. É possível distinguir barracas e bancadas onde são vendidos os produtos. Algumas mulheres utilizam sombrinhas e usam vestidos ou saias, e estão calçadas com sapatos de salto. Alguns homens usam chapéu, terno, gravata e sapato social. Há meninos negros, de camisa de manga longa e bermuda, alguns descalços, carregando mercadorias.
Hildegard Rosenthal

Em preto e branco, a fotografia, feita do alto de um prédio,  mostra um entroncamento de ruas. Há muitos pedestres, não só na calçada, como também na via. Alguns fios elétricos cortam a foto, tanto no alto como no chão.
Hildegard Rosenthal



A fotografia negativa mostra pedestres atravessando uma rua. O chão está molhado. Os homens usam terno e gravata, e a única mulher visível está de vestido e sapato de salto. Os prédios não possuem mais do que cinco andares.
Hildegard Rosenthal


A fotografia, em preto e branco, revela o Estádio do Pacaembu. Pessoas dos mais diversos tipos e idades se dirigem aos portões.
Hildegard Rosenthal


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Céu e mar: do infinito e além

Leitura com destino às terras férteis da imaginação


O que se vê, em primeiro plano, é um barquinho navegando no mar. Em segundo, quase imperceptível, há outro barco. Atrás dele, escondido sob uma espessa neblina, há prédios. Em terceiro e último plano, minuciosamente, é possível ver uma rocha. Sem mais perspectivas de vermos qualquer coisa, no entanto, nos deparamos com uma espessa camada de nuvem, de onde surge o emblemático Cristo Redentor. 


Em primeiro plano, há um barco velejando no mar. Em segundo plano, esmaecida pela neblina, está a cidade do Rio. No céu, há uma espessa camada de nuvens, de onde surge o Cristo Redentor.
Luiz Bhering

A neblina, de certo modo, produziu um efeito de descontinuidade aos elementos da foto, separando o barco no primeiro plano e o Cristo Redentor, no céu, enquanto que a cidade e seu relevo tornaram-se secundários, despercebidos em um primeiro olhar. Ao menos, essa foi minha experiência.

Por causa deste efeito, céu e mar se confundem até que, inesperadamente, há uma ruptura, seja pelo barco no mar, seja pelo Cristo sobre as nuvens. Me parece uma imagem do além, onde um navegante conduz as almas protegidas por Deus. Aliás, a cidade embaçada parece ser fantasmagórica, aparecendo e sumindo.

Quando analisei essa imagem pela primeira vez, me lembrei do bordão do personagem Buzz Lightyear, da franquia Toy Story, “ao infinito e além”. É lógico que, ao pé da letra, esse bordão é mera redundância, no entanto, com a devida licença poética, seu uso parece assertivo, porque reforça a ideia de tempo e espaço infindáveis. 

Essa é uma fotografia “do infinito e além”. Apesar de ser uma fotografia feita no tempo e no espaço do Planeta Terra, em nossa abstração ela pode parecer domínio de outros lugares, de outros tempos, universos que só existem graças à nossa imaginação e criatividade. 

Para sentir essa fotografia é preciso entrar em estado contemplativo. Ela é potente por ser lúdica e encantadora. Ela te estende as mãos e te convida para um passeio que, se feito com sensibilidade, extrapola os limites da realidade. O que era para ser um dia nublado no Rio de Janeiro pode tomar outras formas, evocar fantasias, aguçar a imaginação.


#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


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Rio de Janeiro por Luiz Bhering

Fotógrafo e artista visual carioca. 


Como muitos fotógrafos brasileiros, Luiz Bhering estudou Fotografia no exterior, no City Polytechnic of Arts and Design, em Londres. No Brasil, ele exerce as profissões de fotógrafo e printer de Fine Art. Carioca da “gema do ovo”, a cidade do Rio é o cenário principal de suas fotografias.   


A fotografia mostra o pôr do sol em uma praia no Rio de Janeiro. Em primeiro plano, é possível ver a silhueta de oito pessoas brincando no mar. No fundo, morros característicos da paisagem carioca compõem a cena.
Luiz Bhering

O artista participa ativamente de exposições de fotografia no Rio e em São Paulo. Ele já expôs em universidades, centros culturais, na Bienal Brasileira de Artes Plásticas, além de ter sua própria exposição, a Fábrica Bhering – Circuito Interno Bhering. 

Além disso, em 2018, suas fotos participaram do programa “Encontro com Fátima Bernardes”. Entre os anos de 1994 e 1997, Bhering realizou projetos para a editora espanhola HOLA, onde também publicou uma reportagem fotográfica. Em 2018, publicou na revista francesa AM Magazine Mensuel Avril.

O fotógrafo possui premiações em concursos e exposições. Em 2020, expôs “Território de Pesca e Poesia”, “Rio 50 graus” e “Lugar de Afetos”, todos no Rio.


A fotografia retrata a Ilha Fiscal, na zona portuária do Rio de Janeiro, no exato instante em que um avião passa no centro da torre principal do palacete, criando a percepção de que o prédio o sustenta.
Luiz Bhering

A fotografia mostra o anoitecer em uma praia carioca. Em primeiro plano, há uma canoa com dois homens atracada na areia. Como se estivesse saindo da canoa, há um coqueiro. Atrás, avista-se o mar e parte da cidade, respectivamente.
Luiz Bhering

A foto retrata uma praia, a partir da areia inundada pela maré. Há uma vara de pesca firmada na areia. Os morros circundam a paisagem, entre eles, o Morro do Sumaré, com suas torres, e o Morro do Corcovado, com o Cristo Redentor.
Luiz Bhering

A fotografia mostra um homem negro tocando saxofone em uma praia carioca. Ele está em primeiro plano. Ao fundo, um recorte da cidade, o Morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea.
Luiz Bhering

A fotografia mostra o céu do Rio de Janeiro, no exato instante em que um avião passa pelo Cristo Redentor. O sol aparece na foto.
Luiz Bhering

A fotografia mostra o crepúsculo na cidade de Niterói. No primeiro plano, o mar. Em segundo, o Museu de Arte Contemporânea. Atrás, é possível ver a cidade.
Luiz Bhering

A foto retrata duas pessoas com roupas de Carnaval em cima de duas estátuas. Uma delas, aparentemente uma mulher, beija um dos anjos. O homem, em pé nas costas da mesma estátua, olha a cena rindo.
Luiz Bhering

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Ansiedade: mãos que me sufocam

A fotografia de Otto Stupakoff representa uma sensação de sufoco causada pela ansiedade.


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 18,6 milhões de brasileiros sofrem de transtornos de ansiedade, quadro que foi intensificado pela pandemia de Covid-19. Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é o de ansiedade generalizada (TAG). Alguns dos sintomas são: fadiga, irritabilidade, inquietação, tensão muscular, taquicardia, falta de ar e aperto do peito.


A fotografia, em preto e branco, mostra uma mulher de traços caucasianos, que usa maquiagem e olha fixamente para a câmera. Seu olho está bem aberto e o rosto sem expressões. Ela leva a mão ao pescoço, apertando-o.
Otto Stupakoff

A fotografia acima, nomeada de “ansiedade” por seu autor, representa essa sensação de sufoco, aperto no peito, causado pelo quadro ansioso. Quando vi essa foto, me identifiquei, pois, muitas vezes senti que a ansiedade era uma mão invisível me sufocando, me sentia assim, impotente diante dela. 

Quando se pensa em ansiedade, as referências que surgem é a inquietação, o roer de unhas, o balançar de pernas, mas se tratando de transtornos de ansiedade, comumente ela é paralisante. Olhos vidrados, clamando por socorro, quando a mente está um turbilhão e parece impossível articular qualquer frase. Só quem já sentiu conhece essa sensação de estar sendo revirado de dentro para fora, como se a alma estivesse vomitando a si mesma. O coração e a mente de uma pessoa ansiosa viaja como um trem-bala, percorrendo longas distâncias em pouquíssimo tempo e, até os efeitos colaterais sumirem, parece uma eternidade.

Por isso, muitas vezes as pessoas não conseguem falar e/ou escrever sobre o que sentem, mas desenham, pintam, cantam e fotografam. Frequentemente, a melhor forma de comunicar sentimentos é através de outras coisas que não a coisa em si, afinal, o que sentimos configura uma teia complexa de significados. E, no caso desta fotografia, acho que ela comunica mais do que meu texto, justamente porque cada um se apropriará dela de forma única.

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Negritude: poder, beleza e ancestralidade

Oxum resiste com classe à intolerância religiosa no Brasil.


Oxum é uma orixá do panteão africano, cultuada pelas religiões de matriz africana no Brasil, como o Candomblé e a Umbanda. Ela é considerada  a rainha das águas doces e seu culto se dá principalmente nas cachoeiras. Oxum é representada como uma mulher que utiliza muitos adornos e o amarelo é a cor predominante em suas vestes, simbolizando a riqueza. Ela tem por características a sensualidade e a vaidade, e representa a feminilidade, a maternidade e o amor.


Em primeiro plano, há uma mulher negra, usando turbante e adornos coloridos e brilhantes na cabeça. Ela olha para a esquerda, onde segura um espelho na mão, e sua mão direita está despendida sob sua cabeça. Ela usa um bustiê branco e uma saia branca com uma camada dourada externa. Ao seu redor, é possível visualizar uma mata.
Cristian Maciel

A modelo que posa para essa foto é uma mulher negra do Rio de Janeiro, estado que, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019, possuía 9,3 milhões de negros, o que representa cerca de 54% da população estimada. Em 2021, um relatório da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa revelou que, dentre 47 denúncias de intolerância religiosa no estado, 43 eram referentes a ataques sofridos por religiões de matriz africana. 

Essa violência escancara o racismo incutido na sociedade brasileira que, apesar de possuir  uma expressiva população negra, não valoriza sua cultura. Mesmo havendo aparato jurídico para punir a intolerância religiosa, como a Lei 7.716/89, que prevê os crimes de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, as religiões com raízes africanas ainda sofrem com o preconceito. 

Por isso, penso que é importante a colaboração da fotografia para a transmissão dessa cultura relegada à marginalidade e à ruptura com as narrativas hegemônicas. Essas que durante muito tempo reforçam as estruturas racistas em nossa organização social. A fotografia também constrói narrativas e discursos e instrui novas maneiras de pensar e de ser. É preciso mostrar o que há de melhor e mais belo na cultura negra: toda sua potencialidade, força, virtudes, sua ancestralidade e grandeza. 

Ao ver uma fotografia tão linda como esta sinto-me inspirada, curiosa, com vontade de entrar na cena. Oxum me hipnotiza. Mas, diante de dados tão alarmantes, me sinto indignada. Sendo boa parte da população negra, as religiões afro-brasileiras deveriam ser mais respeitadas, mas o que se vê, na prática, é a valorização de uma cultura majoritariamente branca, ainda com orientação colonizadora. Reflexo do racismo estrutural, os ataques contra as religiões trazidas pelos negros demonstram o quão longe estamos da democracia racial. No entanto, apesar dos pesares, Oxum e outros orixás resistem bravamente à intolerância religiosa no país.


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Links, Referência e Créditos

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A beleza negra sob a ótica de Cristian Maciel

Fotógrafo carioca que busca retratar a beleza do povo afro-brasileiro.


Cristian é um jovem negro da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Ele ingressou na fotografia em 2018, inspirado em retratar o povo preto que, segundo ele, desde a invenção da foto foi excluído dos registros oficiais. Desse modo, seus trabalhos propõem a valorização da beleza, cultura e ancestralidade do povo afro-brasileiro

Em primeiro plano, há uma mulher negra sentada em uma cadeira. Ela usa brincos de argola preto e um vestido laranja. Em seu colo, está sentado um menino de camisa e bermuda amarelos. A mulher e o menino estão de mãos dadas, com os braços esticados, apontando à direita. Atrás deles, tem um homem negro, de camisa amarela e calça bege, em pé, segurando outro menino no colo, que também está de amarelo. Todos posam sorrindo para a câmera. O cenário é constituído de árvores.
Cristian Maciel

Apesar de ter começado a fotografar profissionalmente há quatro anos, Cristian demonstra muito talento e potencialidade. O jovem conta que começou a fotografar com uma “câmera velha e ruim” de seu irmão e que, ao experimentar fazer fotos, descobriu sua nova paixão. Ele comprou uma câmera fotográfica nova em 2018, ao conseguir um trabalho como jovem aprendiz.

Durante alguns anos, Cristian foi fotógrafo amador. Com o tempo, ele decidiu se profissionalizar, fazendo alguns cursos na internet e, atualmente, graduação em Fotografia pela Cruzeiro do Sul. Ele ainda não participou de nenhum concurso ou exposição de fotografia, o que não diminui a grandeza de seu trabalho; aliás, é um ótimo começo!


Em primeiro plano, há uma mulher negra, de olhos fechados e sorrindo, segurando uma coroa na cabeça. Ela usa brincos, braceletes e pulseira, veste um cropped estampado de onça, e uma saia com fenda de estampa africana. Atrás dela, há uma vegetação rasteira, constituída principalmente por arbustos e capim.
Cristian Maciel
Em primeiro plano, há uma mulher negra, usando turbante e adornos coloridos e brilhantes na cabeça. Ela olha para a esquerda, onde segura um espelho na mão, e sua mão direita está despendida sob sua cabeça. Ela usa um bustiê branco e uma saia branca com uma camada dourada externa. Ao seu redor, é possível visualizar uma mata.
Cristian Maciel
Em primeiro plano, há um homem negro com o corpo voltado à sua direita. Ele veste um terno e calça azul-marinhos, e usa um pente fincado no cabelo, brinco e um tênis. Ao seu redor, há capim, e no fundo, desfocado, é possível ver algumas árvores.
Cristian Maciel

Na fotografia, há 4 mulheres negras sentadas em um sofá. Elas usam vestidos em tons de laranja, vermelho e marrom. Todas utilizam braceletes e brincos, e estão com as unhas pintadas. Uma delas está usando uma coroa dourada. As mulheres posam sorrindo para a câmera.
Cristian Maciel

Em primeiro plano, há uma mulher negra, grávida. Ela usa um adorno de pedras na cabeça, na altura da testa. Veste um bustiê e uma saia laranja. Ao redor de sua barriga, há um enfeite de pedras. Ela olha diretamente para a câmera, sem sorrir. Segura em seus braços um arco-flecha, apontando para sua esquerda. O cenário é composto de árvores e plantas.
Cristian Maciel

A fotografia apresenta uma mulher negra, com flores no cabelo, que olha e sorri à sua direita. Ela usa brincos e maquiagem, e sua blusa é branca. Na sua frente, à altura do busto, há ramos de flores.
Cristian Maciel

Um homem e uma mulher negros olham para a direita, sérios. O homem está com o corpo voltado para frente, enquanto a mulher está completamente voltada à direita. Ele está sem camisa, e ela utiliza uma regata marrom.
Cristian Maciel

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