Shirley Stolze pelas ruas de Salvador

Shirley Stolze, 62 anos, 34 de profissão, é artista visual e uma das principais representantes do fotojornalismo da Bahia.

Shirley Stolze, 62 anos, 34 de profissão, é artista visual e uma das principais representantes do fotojornalismo da Bahia.

Atualmente, Shirley é fotógrafa para o jornal A Tarde, um dos veículos de comunicação baianos de maior destaque. Fotógrafa de rua e auto-intitulada “andarilha”, Shirley costuma andar por Salvador a fim de que sua observação do cotidiano consiga capturar algo que fuja da normalidade ou que seja tão normal que foge da nossa observação.

Um garoto negro em primeiro plano de costas para a câmera segura  uma fita do Nosso Senhor do Bonfim.
Shirley Stolze

Em entrevista para a  Fraude, revista digital de jornalismo cultural, produzida por integrantes do Petcom da UFBA, ela conta: “A rua é uma grande escola, ensina tudo. Basta você estar atento aos sinais, às imagens, e ter muita paciência. Eu nunca gostei de escrever: eu escrevo através da imagem”.

Nas ruas, o palco da realidade social, Shirley captura o mais intrínseco da cidade. Fotografias de pessoas no ir e vir, manifestações culturais, comemorações religiosas ou um ensolarado fim de tarde em uma praia. O trabalho da fotógrafa tem como característica o empoderamento de religiões de matriz africana. Além disso, Shirley é autora de uma série de fotografias com a legenda “Salva-Dor”.  Nesse trabalho, que é publicado em seu perfil no Instagram, ela aborda temáticas sociais registrando pessoas em situação de falta de moradia, fome e saneamento precário em zonas urbanas.

A  fotografia mostra um garoto negro mergulhando em uma praia de Salvador, (BA).
Shirley Stolze
 
A fotografia apresenta um homem negro, usando uma camiseta e uma bermuda e calçando chinelos. Ele está deitado em uma calçada, na frente de um estabelecimento com uma porta de correr vermelha, o homem está em cima de um pedaço de papelão, com uns tecidos abaixo de sua cabeça. Ao seu lado, há três cachorros deitados.
Shirley Stolze
 
Em primeiro plano, a imagem mostra uma mulher negra de mãos dadas com  uma menina também de pele negra. A menina usa roupas características do Bembé de Mercado,  uma festa religiosa conhecida também como Candomblé de Rua.
Shirley Stolze

#galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de um_ fotógraf_ de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Como citar essa postagem

SILVA, Vinícius Augusto. Shirley Stolze, pelas ruas de Salvador. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/01/shirley-stolze-pelas-ruas-de-salvador.html>. Publicado em: 31 de jan. de 2023. Acessado em: [informar data]. 

Cega pela luz

A transformação pela luz.

A transformação pela luz.

 

Na fotografia abaixo, Paulo Vainer utiliza a técnica de motion blur em conjunto com o alto contraste, para passar a sensação de que a imagem está em movimento. Este trabalho faz parte do ensaio fotográfico chamado “movimento”.

 
A imagem, em preto e branco, mostra a vista através da janela de um carro. Apresentando uma rua vazia, a noite, com a luz dos postes acesas.
Paula Vainer

Apesar de todo o movimento aparente na fotografia, ao observá-la só me vem à mente a imprecisão da imagem. A forma que a luz toma, toda estourada, é o que mais se sobrepõe. Essa é uma imagem recorrente para mim. É assim que eu enxergo o mundo, como uma imagem desfocada. 

Me lembro de ter como passatempo, quando criança, ficar deitada olhando para a luz fixamente, vendo seus raios se dissolverem formando caminhos. Aquilo, para mim, sempre foi o normal, enxergar a luz daquela forma. Até que um dia descobri que nem todos viam daquela maneira. Eu só enxergava assim por um problema em meus olhos, e isso não era o normal para os outros. Seria preciso corrigir aquilo.

Com o passar do tempo a minha visão ficou mais prejudicada. Sem os óculos para corrigi-la, eu sou praticamente cega. Ainda mais quando a luz atinge diretamente meus olhos. Andar na rua à noite, é quase impossível. Toda vez que um carro vem em minha direção com seus faróis acesos, sou tomada pela cegueira. A luz domina tudo, me deixando sem ver absolutamente nada.

A luz que antes era divertida, agora só me causa dores de cabeça. Quanto mais luz, mais meus olhos doem. O escuro, que causava medo, agora é reconfortante e querido. Mas, apesar de tudo, ainda gosto de me lembrar de como a luz sempre foi um abrigo para mim, de como ela era minha diversão e me protegia dos monstros à noite. 

 
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
 
 

Links, Referências e Créditos


Como citar essa postagem

PAES, Nathália. Cegada pela luz. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/01/cegada-pela-luz.html>. Publicado em: 26 de jan. de 2023. Acessado em: [informar data].
 

Ane Souz

Fotógrafa da assessoria de comunicação da Prefeitura de Ouro Preto.

 

Ane Souz nasceu em 1987, em Itabira, Minas Gerais. Em 1999, mudou-se para Mariana com a mãe, onde, aos 19 anos, aprendeu a fotografar em um curso de câmera pinhole. Desde então, a jovem se apaixonou pela fotografia. Desencorajada pela insegurança e dificuldade financeira, ela não enxergava a fotografia como sua carreira até o ano de 2015.


A fotografia mostra, em primeiro plano, uma mulher fazendo uma performance artística com bolha de sabão. As bolhas formam uma camada extensa e uniforme. O cenário é a Praça Tiradentes, no centro de Ouro Preto.
Ane Souz

A profissionalização de Ane começou oficialmente no dia 3 de janeiro de 2015, em Ouro Preto. Com uma câmera Canon T4i, duas lentes e um flash, a jovem decidiu que era hora de levar a fotografia a sério. Entretanto, ao mesmo tempo, ela era fotógrafa e artesã, pois o lucro do ateliê que tinha com a mãe era investido em equipamentos. Em 2018, Ane conseguiu fazer da fotografia sua principal fonte de renda. 

Hoje, a fotógrafa trabalha na Prefeitura de Ouro Preto, onde cobre eventos institucionais e culturais, e acontecimentos que marcam a rotina da cidade. Além disso, ela é freelancer. Seu interesse está no fotojornalismo e na fotografia documental. Ane enfatiza que fotografar Ouro Preto é uma grande responsabilidade, mas também um privilégio, considerando a relevância da cidade.


Em preto e branco, a fotografia mostra uma rua sob a neblina típica de Ouro Preto. Ao lado direito da rua, um casal caminha em frente a um estabelecimento comercial.
Ane Souz


A fotografia mostra atrizes e atores andando pela rua São José, no centro de Ouro Preto. Eles trajam figurino de época e de alta costura.
Ane Souz

A fotografia, em preto e branco, registra o momento em que dois garotos correm atrás de uma vaca e um bezerro, em uma rua de pedras.
Ane Souz

O registro fotográfico mostra o momento em que um artista pinta, em aquarela, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto. Ele é idoso, usa óculos e barba, está agasalhado, e olha com atenção para sua obra. Amarradas nas sacadas das casas, há bandeirolas de festa junina. Ao fundo, a igreja.
Ane Souz

A fotografia mostra uma roda de capoeira. No meio da roda, há 3 homens jogando. Enquanto um desfere um golpe com chutes, mantendo o corpo todo no ar, o oponente se desvencilha no chão, e um terceiro parece preparar o próximo golpe.
Ane Souz

A fotografia, em preto e branco, registra um homem de cabelo grisalho observando o lado externo de uma vidraça, onde há construções coloniais. Não é possível ver o seu rosto.
Ane Souz

A fotografia mostra uma rua no centro histórico de Ouro Preto. O sol ilumina as casas do lado esquerdo da rua. Não há pedestres nem trânsito.
Ane Souz

#galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de um_ fotógraf_ de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.


Links, Referências e Créditos

-20.3775546-43.4190813

Nada mais que o cotidiano

Lembranças cotidianas de uma rua pacata

Lembranças cotidianas de uma rua pacata

A fotografia do autor Marc Riboud foi produzida em Liu Li Chang, uma rua de antiquários em Pequim. Essas lojas eram muito procuradas durante a Revolução Cultural, – movimento social com intuito de eliminar as influências capitalistas da China – onde a população chinesa entregava suas jóias para o Estado.

A imagem mostra a vista de dentro de uma loja, o lado de fora é exibido através de seis vidros. Na rua é possível ver a fachada de outros comércios e algumas pessoas, dentre elas sete crianças e quatro adultos. Duas das crianças observam o interior da loja, onde o fotógrafo se encontra, as outras se espalham pela imagem.
Mark Riboud

A cena retratada poderia ser facilmente confundida, caso não houvesse uma contextualização, com um momento cotidiano encontrado em qualquer lugar do mundo. Apesar de todo seu significado histórico, num primeiro momento, o que vemos são pessoas vivendo suas vidas rotineiramente.

O que salta aos olhos é o humano, que torna aquela rua habitada e cheia de vida, independente do motivo de estarem naquele lugar, naquele momento em questão. Os adultos conversam sentados na calçada e observam o que acontece ao redor, enquanto várias crianças se espalham pelo ambiente prontas para iniciar uma brincadeira.

Consigo imaginar essa imagem na rua da cidade onde nasci, durante as pacíficas tardes de domingo quando nenhum carro transita mais. Os adultos se reúnem para conversar na calçada e vigiar as crianças que aproveitam para brincar de jogar bola ou de pega-pega. Por mais monótono que possa parecer ter uma vida rotineira, sem muitas aventuras, é nessas pequenas situações do dia que se encontram a calmaria e o conforto dos problemas. São pequenas coisas acalentadoras que tornam esses momentos mais suportáveis fazendo com que a vida valha a pena, como por exemplo, ir ao bar com os amigos, assistir a novelas sempre nos mesmos horários ou comer macarronada nas datas comemorativas em família.

A beleza do cotidiano está em passar pelos mesmos cenários e provações, e só perceber quando um belo dia você para e olha para tudo aquilo com outra percepção, vendo como esses momentos fazem falta. Nenhuma aventura consegue ser melhor do que ter uma conversa sincera com alguém querido, por mais corriqueiro que possa ser, a vida é feita em sua maioria dessas situações.

Talvez a vida nunca proporcione grandes conquistas dignas de um livro, e isso não é algo para se sentir mal, isso não a torna menos interessante, a beleza está escondida nas entrelinhas de cada momento, tudo começa a fazer mais sentido quando se para de procurar por histórias épicas e se passa a aproveitar cada instante.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
 

Links, Referências e Créditos


Como citar essa postagem

PAES, Nathália. Nada mais que o cotidiano. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/01/nada-mais-que-o-cotidiano.html>. Publicado em: 19 de jan. de 2023. Acessado em: [informar data].

Gioconda Rizzo

Primeira mulher brasileira a ter autoria fotográfica reconhecida e a ter um estúdio próprio.

Nascida em São Paulo, no ano de 1897, Gioconda Rizzo iniciou seu trabalho quando tinha apenas 14 anos de idade. Seu pai, Michele Rizzo, era fotógrafo e tinha um estúdio chamado Ateliê Rizzo. Com um exemplo da profissão dentro de casa, Gioconda se interessou pela fotografia e logo começou sua carreira.

Descrição: Gioconda sentada em uma cadeira, num ambiente que parece ser uma casa. No fundo, há porta retratos e enfeites em uma prateleira. A fotógrafa veste roupas de frio e tem uma expressão tranquila.
Autor desconhecido (a)

Na época, a menina só tinha permissão para fotografar mulheres e crianças, mas inovou com seu enquadramento fotográfico: focava nos ombros e nos rostos das modelos. Em 1914, inaugurou seu estúdio, chamado Photo Femina, mas, infelizmente, foi fechado no ano de 1916, por pressão da sociedade conservadora.

A fotógrafa trabalhou com muitos nomes prestigiados na sociedade, entre eles, a 1° Miss Brasil, Zezé Leone, e a Miss Universo, Yolanda Pereira.  Faltando poucas semanas para completar seus 107 anos, Gioconda faleceu, em 2004.

Confesso ter tido dificuldade para encontrar o acervo da fotógrafa. Isso porque Rizzo era  uma mulher inovando em pleno século XX e, devido ao machismo intrínseco na sociedade, suas obras eram pouco valorizadas, com raros registros oficiais e armazenamentos precários. Fato que me faz refletir na quantidade de mulheres que, assim como Gioconda, tiveram seu trabalho apagado e silenciado perante uma sociedade que as depreciava e invisibilizava.

Descrição: Mulher olhando fixamente para a câmera. Maquiada para o ensaio, a modelo tem uma expressão séria e assustada. Seu cabelo, cacheado, é curto e tem um corte característico da época.
Gioconda Rizzo
Descrição: Mulher posando para um retrato, que parece ser antigo. Ela posiciona-se de perfil e está bem arrumada: usa acessórios como brincos e um cordão, e está maquiada. A foto tem foco em seu busto, que é centralizado e destacado.
Gioconda Rizzo
#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

 Como citar esta postagem


SOARES, Maria Clara. Gioconda Rizzo. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/01/gioconda-rizzo.html>. Publicado em: 17 de jan. de 2023. Acessado em: [informar data].

Seja um(a) colaborador(a)!*

Convidamos tod_s _s estudantes dos cursos de Ciências Humanas, Sociais e Aplicadas da UFOP para atuar como extensionistas no Cultura Fotográfica.

O Cultura Fotográfica é um Grupo de Cultura, Ensino, Extensão e Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)que, a partir do aporte teórico e metodológico da Educomunicação, dos Estudos Decoloniais e da Fotografia Participativa, e em concordância com os planos nacionais de Cultura e de Educação, visa contribuir com a sociedade brasileira, mediante a produção e a difusão de conhecimentos artísticos, científicos e tecnológicos úteis ao campo da cultura e, em particular, ao da fotografia.
 
Atualmente, desenvolvemos 2 programas e 1 projeto isolado:
  • Cultura Fotográfica: plataforma de produção e distribuição de conteúdo fotográfico e sobre fotografia. Programa composto por 4 projetos de extensão.
  • Olhares Comunitários: método de alfabetização fotográfica que visa apoiar a aquisição de competências de leitura e escrita do mundo e de imagens fotográficas por jovens de comunidades periféricas. Programa composto por 1 projeto de extensão, 1 de extensão com interface com a pesquisa e 2 de pesquisa.
  • Império do Olhar: pesquisa sobre os usos da fotografia na construção da imagem do império brasileiro durante o Segundo Reinado.

 


Sabemos que somente mediante a atuação de colaboradores conseguiremos alcançar os objetivos de cada um desses projetosPor essa razão, convidamos tod_s _s estudantes dos cursos de Ciências Humanas, Sociais e Aplicadas da UFOP a manifestarem seu interesse em participar do Cultura Fotográfica.
 
Chamada de Colaboradores Voluntários
1. A presente chamada visa selecionar estudantes interessados(as) em atuar nos projetos vinculados ao Cultura Fotográfica.
1.1. A colaboração voluntária, de caráter temporário, não gera vínculo empregatício.

1.2. Para atuar como colaborador(a) voluntário(a), o(a) estudante deverá estar regularmente matriculado(a), a partir do 2º período, em curso de graduação universitária das áreas de Ciências Humanas, Sociais ou Aplicadas da UFOP e ter perfil e desempenho acadêmico compatíveis com as atividades previstas no projeto.

 1.3. O(A) colaborador(a) voluntário(a) deverá cumprir as atividades constantes em Plano de Trabalho, em jornada de 15 (quinze) horas semanais.

i.  Ao final do período, a(o) estudante receberá declaração de participação nas atividades do Cultura Fotográfica.

ii. É vedado ao(a) estudante o acúmulo de atividades de ensino, pesquisa e/ou extensão, remuneradas ou não, cuja carga horária total supere 54 horas semanais.

1.4. A(O) estudante voluntária(o) deverá ter disponibilidade de horário às quintas-feira no horário de 9h às 11h para participar de atividades síncronas, presenciais ou remotas, do projeto.

1.5. A(O) estudante voluntária(o) deverá manter coeficiente acadêmico igual ou superior a 7 (sete)

2. As inscrições de estudantes interessados(as) deverão ser realizadas exclusivamente pelo formulário acessível, somente a usuários logados no domínio da UFOP, pelo seguinte endereço eletrônico: https://forms.gle/oWmhH15dDpyvjVcKA
2.1. No ato de inscrição, o(a) estudante interessado(a) deverá anexar seu Currículo Profissional e seu Histórico Escolar.
2.2. Os documentos a serem anexados no ato de inscrição deverão estar salvos no formato .pdf. 
3. A seleção de estudantes interessada(o)s será realizada pelo Prof. Dr. Flávio Valle, coordenador do Cultura Fotográfica, em duas etapas: (i.Análise da Inscrição e (ii.Entrevista.
 
3.1. As entrevistas serão realizadas por meio da ferramenta Google Meet em horário previamente comunicado ao(a) estudante interessado(a) por meio de mensagem enviada para o email informado no formulário de inscrição.

3.2. O resultado da seleção será comunicado ao(a) estudante interessado(a) pelo email informado no ato de inscrição.

* Postagem atualizada em 12 de janeiro de 2023.

-20.3775546-43.4190813

A dualidade existencial de muitos de nós

O preconceito silencioso contra os mestiços

O preconceito silencioso contra os mestiços

Que o Brasil é o país mais diversificado do mundo, muita gente já suspeitava. Essa miscigenação é datada do período colonial, quando diversos grupos de pessoas de etnias diferentes migraram para cá. Desde então, os pardos e seus olhos castanhos, azuis, esverdeados, puxados ou não, ocupam qualquer espaço. A raça “parda”, aliás, só existe neste país. Lá fora, são chamados de mixed, mixed-race, ou em tradução literal, misturados ou mestiços.

Mulher mestiça, de origem italiana e paquistanesa, vestindo calças jeans e blusa estampada com tons de verde. Utiliza um cinto de couro com fivela dourada. Está posicionada de frente a um fundo totalmente verde.
Tenee Attoh

Vivo me perguntando, enquanto mestiço, como se tornou tão complicado falar do racismo contra pardos num país que normalizou a cor da pele como indicativo exclusivo de ancestralidade racial e origem étnica. É tão normal encontrar uma pessoa mestiça nas ruas brasileiras que isso sequer é falado, é cotidiano; mas, o fato de ser comum não deveria tornar a existência de problemáticas associadas à raça invisíveis, intocáveis e indiscutíveis.

Esses problemas são justamente o que tornam importante o trabalho de Tenee Attoh: as associações cotidianas com algo que passa despercebido aos olhos eurocêntricos, mesmo daqueles que não são caucasianos, inclusive os pardos: a diversidade.

A cultura do preconceito racial está tão enviesada no tom da pele, que é constrangedor até mesmo ter orgulho de suas raízes neste país. Afinal, se você não é negro retinto o suficiente para ter origens senegalesas, ou caucasiano o suficiente para ter descendência alemã, aos olhos de pessoas preconceituosas, você é visto com estranhamento e isso demanda explicações e afirmações. Sendo assim, se torna cansativo fazer das suas origens étnicas motivo de orgulho; é uma luta constante por auto-afirmação.

Para a modelo da fotografia, a dualidade cultural (italiana e paquistanesa) faz parte de sua essência. O fato de ter herdado culturas diferentes de seu pai e de sua mãe moldou a forma como ela enxerga política, por exemplo. Entretanto, em entrevista concedida para o site do projeto de Tenee Attoh (Disponível em: https://mixedracefaces.com/) ela alegou que por muito tempo teve questões delicadas a respeito de seu não-pertencimento.

Afinal, mestiços, seja em Londres, onde ela reside, ou no Brasil, são uma minoria desrespeitada cuja cultura lhes é desassociada. É aí onde a xenofobia e o racismo se unem para remover de toda uma parcela crescente, em nível global, suas heranças culturais.

Desde pequeno me vi não pertencendo às minhas origens de forma total, e sei que este é o caso da modelo da foto. Ela não possui traços que imediatamente são associados com o povo italiano, nem tampouco com o povo paquistanês, ainda que os fenótipos estejam lá parcialmente, em ambos os casos. É como misturar tinta vermelha em tinta branca: você só consegue compreender que o rosa é uma mistura depois de aprender sobre teoria das cores, mas não é algo instintivo.

Fica claro, para qualquer pessoa escura, que o racismo se esconde em qualquer penumbra, principalmente onde os comentários e olhares não podem ser vistos ou escutados. Assim fica mais fácil de acobertar a tentativa social de atribuir aos mestiços os duplos, ou triplos, ou sejam lá quantas forem as matrizes originárias destes povos do qual preconceitos são atribuídos, sem que algum crime seja cometido.

Na Itália, por exemplo, muitas pessoas possuem o que é chamado de “olive skin” no exterior e que aqui no Brasil é conhecido como moreno-claro, ou, surpreendentemente, pardo. No século 19, com um número alto de imigrantes italianos nos EUA, o preconceito afetou muito aquele povo. A miséria e a fome fortaleceram as atribuições a eles, como o odor fétido de peixe, que pejorativamente era associado à cor dos mesmos. Aqueles imigrantes ficaram conhecidos como pele-de-peixe, que recentemente se tornou um easter-egg em filmes como “Luca” e “A Praia”.

A Itália é a nação de um povo miscigenado, não uma etnia. E já passou da hora do Brasil e o restante do mundo compreender isto. Bem como já estamos num ponto em que a pureza racial deveria ser uma mentalidade extinta por completo. Ou será que as pessoas se esqueceram que foi essa mentalidade que levou aos acontecimentos do holocausto? Ou será que os brasileiros caucasianos nunca se olharam no espelho e notaram que o tom de suas peles, quase nunca é tão claro, quanto o tom da pele de um caucasiano purista da velha Europa? O que é branco aqui, lá seria preto.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

BRITO, C. S. A dualidade que existe em muitos de nós. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://culturafotografica.com.br/a-dualidade-existencial-de-muitos-de-nos/ Publicado em: 12 de jan. de 2022. Acessado em: [informar data].

Vivian Maier

Focada na produção de imagens urbanas, a artista registrou cidades ao redor do mundo


Vivian Maier produziu cerca de 100 mil negativos que exploram cenas cotidianamente urbanas como a arquitetura dos prédios e retratos de trabalhadores e de mulheres, sempre evidenciando detalhes sutis da conjectura das grandes cidades. Seu trabalho, apenas reconhecido após sua morte, é hoje utilizado como base de estudo em diversas escolas e universidades.


A foto em preto e branco mostra quatro mulheres vestidas de sobretudos aguardando na calçada de costas para um muro alto. Todas carregam bolsas e três das quatro utilizam chapéus à moda dos anos 50. Devido ao sol frontal, suas sombras se projetam no muro cinza às suas costas
Vivian Maier

Nascida em 1926 na cidade de Nova Iorque, pouco se sabe sobre a infância de Vivian Maier, além de que a artista cresceu na Europa e retornou aos Estados Unidos em 1951. Maier morou por alguns anos em sua cidade natal, mas acabou por se deslocar para Chicago, onde morou o resto de sua vida.

Vivian era babá e fotografava em seu tempo livre. Seu principal foco para os retratos eram mulheres, trabalhadores, crianças e moradores de rua. Suas fotografias surpreendem devido à técnica e ao olhar meticuloso da fotógrafa que não chegou a compartilhar seu trabalho em vida.

Maier registrou centros urbanos durante as décadas de 50 à 90, sempre se atentando às sutilezas em meio ao caos e correria das grandes cidades. Seu trabalho é um rico material documental sobre o crescimento urbano e suas mudanças ao longo das décadas.


A foto preto e branco mostra um casal de aproximadamente 60 anos andando na rua de Chicago. O homem, à esquerda, está vestido de terno e segura a mulher, à direita, com força pelo braço. Ela por sua vez possui uma espécie de sorriso no rosto. O cabelo de ambos está bagunçado.
Vivian Maier

Vivian Maier faleceu em 2009 deixando para trás milhares de negativos. 30 mil deles foram desprendidamente comprados num leilão pelo historiador John Maloof que após alguns meses revelou o trabalho de Maier. Percebendo a qualidade das obras, Maloof se dedicou a descobrir a história da autora, buscando conhecidos e amigos da fotógrafa.

A busca resultou na produção de seu site oficial e em exposições fotográficas que, além das fotos, contava com breves histórias da vida de Maier segundo relato de conhecidos e familiares.

#galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de um_ fotógraf_ de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Continue lendo “Vivian Maier”

E o mar passou

A força do mar abatida pela imponência de um homem

A força do mar abatida pela imponência de um homem

O mar, em toda sua intensidade, atinge o homem fotografado por Luisa Dorr. Atinge suas costas, mas não o desestabiliza, ele mantém sua postura firme, com a bacia que carrega em sua cabeça, e não parece ter, ao menos, um tremor. Ele olha firmemente para a câmera e apenas permanece naquele local imponente.

Vemos na imagem, uma pessoa, vestida com roupas típicas da Bahia, com as costas voltadas para o oceano, as ondas quebram. Na cabeça, ele carrega uma bacia e no pescoço um colar de miçangas.
Luisa Dorr

Junto com as ondas do litoral baiano, onde foi tirada a fotografia, histórias vem sendo carregadas. O oceano sempre esteve presente, assistindo todas as vidas que passaram por ali, vendo as mudanças que ocorreram durante séculos, embora ele sempre se mantivesse como o mesmo, arredio. Ele mesmo conta uma história, mesmo que silenciosamente, suas ondas sussurram-na para a beirada da praia, como se contasse-as em segredo.

Minha primeira vez vendo o mar foi com 18 anos, foi como renascer, dei meus primeiros passos vendo o azul infinito, não houve o choro do parto, apenas o mar ecoando com seu chiado e um sorriso que se espalhou até se tornar uma gargalhada toda vez que era tocada pela água. 

Sempre tive um fascínio pela água, ao mergulhar em uma piscina era como adentrar um mundo novo, a calmaria e o silêncio me faziam querer nunca emergir. Com o mar a experiência foi a mesma, eu o sentia me puxando para junto de si e me sentia acolhida, era como um abraço. Quando as ondas passavam, me via com o coração a disparar, a ansiedade era tanta, o medo de que quando o mar me atingisse e eu fosse desestabilizada, mas ao mesmo tempo, a sensação de ser abraçada era bem vinda. 

Após ser atingida, todo o medo passava e a calmaria reinava, a água em toda a sua fúria, já não estava mais tão revolta, ela agora só queria voltar para o seu lugar, para logo em seguida se lançar novamente. E esse ciclo se segue infinitamente, sem descanso nenhum, apenas com mais intensidade ou não, trazendo coisas perdidas para a areia, expulsando-as de seu domínio, e arrastando outras para as suas profundezas, coisas essas que nunca mais serão achadas ou que serão levadas para lugares distantes. 

Vendo a imagem desse homem tão imponente de costas para a água, fico a pensar em toda a sua força e coragem, para se manter tão tranquilo e firme diante da profusão de ondas. Ele quase parece fazer parte do mar, com suas roupas se mesclando à espuma marítima. Quando estive diante do oceano, só consegui me sentir pequena e frágil, prestes a ser quebrada e arrastada para longe, o que me deixa ainda mais impressionada com a leveza da figura fotografada.

 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
 

Links, Referências e Créditos


Como citar essa postagem

PAES, Nathália. E o mar passou. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/01/e-o-mar-passou.html>. Publicado em: 5 de jan. de 2023. Acessado em: [informar data].
Sair da versão mobile
Pular para o conteúdo
%%footer%%