Tudo torna-se político

A fotografia em regimes ditatoriais fascistas

A fotografia em regimes ditatoriais fascistas

Nem tudo é político, porém tudo pode se tornar político a depender da narrativa e do cenário no qual está inserido. A foto abaixo é de autoria de Álvaro Hoppe, um artista famoso por sua série de fotografias da capital chilena, Santiago, tiradas na década de 1980.

A fotografia em preto e branco mostra uma placa de trânsito da cidade de Santiago na qual está escrito: “Não virar à esquerda". Além desta há outras duas placas com nomes de ruas da capital chilena.

Álvaro Hoppe, 1982

A imagem acima, sem narrativa ou contextualização, nada mais é que uma foto de uma placa sinalizando o sentido da rua. Entretanto, dentro dum regime ditatorial de extrema direita a frase “Não virar a esquerda” ganha teor político.

Nesse período, mais especificamente entre 1973 a 1990, o Chile era conduzido por um governo totalitário, comandado pelo general Augusto Pinochet, após a deposição do então presidente Salvador Allende.

Dentre as diversas imagens produzidas por Hoppe na capital chilena, algumas são bastante literais, mostrando os constantes embates entre os apoiadores e opositores do governo. Por outro lado, algumas das imagens, como a acima, são um tanto mais sutis, sendo as minhas favoritas, dentre toda a narrativa fotográfica de Álvaro Hoppe.

Nem tudo é político, uma placa de trânsito, um folheto rasgado, um muro pintado podem ser apenas elementos do dia a dia. Mesmo não deixando de ser comuns, estes podem se tornar políticos quando inseridos em cenários e ambientes onde a política não é uma opção, mas sim algo imposto à sociedade.

Deixo algumas das imagens mais “sutis” de Hoppe, imagens que, não sabendo a história, podem não ser inteiramente compreendidas pelo público.

 
A fotografia em preto e branco mostra um folheto rasgado no chão, nele se pode ler as palavras “donde están?" (onde estão?).

Álvaro Hoppe, 1980

No lado direito da fotografia em preto e branco há um muro no qual pode-se ver uma pichação com a palavra “unidade e” e um punho cerrado, não é possível ver a continuação da frase. Do lado esquerdo vemos um homem vestindo uma camisa branca e com a face coberta pelas mãos e um pano, como se esse secasse suor ou lágrimas do rosto.

Álvaro Hoppe, 1983

A fotografia em preto e branco mostra um grande muro no qual há pintada a palavra “YO”, “EU” em tradução para o portugues. A frente do muro há um garoto de costas para a câmera o que dá ao leitor uma maior noção de perspectiva acerca do tamanho da pintura no muro.

Álvaro Hoppe, 1983

 

#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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COUTO, Sarah. Tudo torna-se político. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/tudo-torna-se-politico/>. Publicado em: 11 de mai. de 2023. Acessado em: [informar data].

Álvaro Hoppe

Fotógrafo chileno que registrou a ditadura de Pinochet.

Fotógrafo chileno que registrou a ditadura de Pinochet.

Nascido em Santiago em julho de 1956, Álvaro Hoppe foi fundamental para o desenvolvimento da Fotografia Urbana (Street Photography) e da Fotografia Documental no Chile. Originalmente, o artista não procurou documentar conflitos, mas, após o início da Ditadura Chilena, em 1973, Hoppe produziu imagens que viriam a se tornar as mais famosas e representativas do período ditatorial no país.

A fotografia em preto e branco mostra um vidro com um buraco no meio e, por isso, está trincado. Por meio do buraco pode-se ver o busto de um policial andando na rua. Há outras pessoas na rua, porém o foco é o policial e o buraco no vidro.

Álvaro Hoppe, 1983

No início da década de 1980, com pouco mais de 20 anos,  Álvaro Hoppe começou a trabalhar como repórter no semanário “Apsi”, o principal meio de oposição ao governo de extrema direita comandado por Augusto Pinochet. As fotos de Hoppe, tiradas durante a década na capital chilena, se tornaram símbolo do movimento contra o governo que enfim cairia em 1990.

A fotografia em preto e branco mostra um folheto rasgado no chão, nele se pode ler as palavras “donde están?" (onde estão?).
Álvaro Hoppe, 1980

Enquanto algumas das fotografias são bastante literais, outras são mais implícitas. No livro Plebiscito no Chile, o jornalista Pablo Azócar escreve: “A narração de Hoppe busca obstinadamente as histórias dos muros. Os muros, a grande tela aberta da cidade”.

A fotografia em preto e branco mostra uma mulher e uma criança de costas andando na calçada, ao lado do muro da casa pela qual passam está colado um cartaz com uma chamada para uma manifestação em defesa da democracia chilena.
Álvaro Hoppe, 1983
A fotografia em preto e branco mostra dois jovens em cima de uma bicicleta. Enquanto o da frente conduz a bicicleta, o de traz lança no ar dezenas de pequenos papéis que se espalham pela rua.
Álvaro Hoppe, 1988

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COUTO, Sarah. Álvaro Hoppe. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/alvaro-hoppe>. Publicado em: 2 de mai. de 2023. Acessado em: [informar data].

Verticalização da cidade

A sensação de aperto proporcionada por Berenice Abbott

A sensação de aperto proporcionada por Berenice Abbott

A fotografia de Berenice Abbott, tirada em 1933, mostra uma rua nova iorquina pela qual diversas pessoas caminham. Tirada de um ângulo superior, a foto dá ênfase aos altos prédios presentes dos dois lados da rua. A autora ainda cortou as laterais da imagem, ampliando o sentimento de aperto proporcionado por ela.

A fotografia em preto e branco mostra um comprida rua com várias pessoas andando. De ambos os lados há diversos prédios altíssimos.
Berenice Abbott

A foto, possivelmente tirada de uma janela devido à altura, me fez refletir sobre a crescente e compulsória construção de prédios cada vez mais altos nos centros urbanos. Essa verticalização das cidades expressada na foto me remete à sensação de pressão, aperto, falta de ar.

Na fotografia, as pessoas são apenas pequenos pontos quando comparados à grandiosidade e altura dos edifícios. Tento me imaginar nessa rua, olhando para o céu e enxergando apenas um pequeno pedaço dele. A imagem dos prédios se agigantando sobre mim parece, ao mesmo tempo, incrível e assustadora. É daí que surge o sentimento incômodo de aperto, de se perceber minúsculo entre as grandes construções.

Além disso, a falta de coloração na imagem realça o contraste formado pela luz do sol que perpassa os vãos dos prédios, formando largas faixas de luz na rua coberta de sombras. Ao caminhar por esta rua haveriam momentos de sombra e momentos de luz intercalando-se.

Ao meu ver, esta é a atual cultura dos espaços urbanos: se sentir pequeno, às vezes impotente, apenas mais um em meio a um grande grupo de pessoas, prédios e informações; apenas mais um indistinto indivíduo, contrastando com os altos prédios das cidades e alternando entre a luz e a sombra.

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COUTO, Sarah. Verticalização da cidade. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/verticalizacao-da-cidade.html>. Publicado em: 16 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Berenice Abbott

Fotógrafa documental da cidade de Nova Iorque

Fotógrafa documental da cidade de Nova Iorque

Natural de Ohio, Estados Unidos, Berenice Abbott produziu instigantes fotografias urbanas e retratos. Semelhante ao trabalho de Eugène Atget, em Paris, a artista ficou conhecida pelo registro da modernização da cidade de Nova Iorque na década de 30. 

A foto, em preto e branco, foi tirada de um ângulo alto e mostra uma comprida rua com altos prédios de ambos os lados. A rua está bastante iluminada pela luz solar e há diversos carros, ônibus e pessoas a pé transitando por ela.
Berenice Abbott

Em 1921, com 23 anos, Abbott abandonou a universidade de jornalismo e mudou-se para a França a fim de estudar escultura. Chegou a trabalhar de assistente no estúdio de Man Ray e, também nessa época, teve contato com as fotografias de Paris de Eugène Atget que, posteriormente, seria uma de suas principais inspirações.

Aos 32 anos, Berenice retorna aos Estados Unidos, especificamente à Nova Iorque, e resolve registrar a crescente modernização da cidade. Berenice Abbott produziu fotos que abordam desde comerciantes e suas lojas à imagens distantes de prédios e ruas nova-iorquinas lotadas de gente.

A foto em preto e branco mostra a fachada de uma loja que possui dezenas de anúncios informando produtos e seus preços. Devido à quantidade de placas de anúncio não é possível enxergar a parte interior da loja pela vitrine.
Berenice Abbott

Além de seu famigerado trabalho registrando o crescimento da cidade estadunidense, Berenice chegou a produzir diversos retratos. O mais conhecido é seu autorretrato de 1930 que ficou famoso após a fotógrafa distorcer sua imagem, em 1950.

A imagem em preto e branco é uma distorção do rosto da autora. Desse modo, seu olho esquerdo aparece alguns centímetros acima do olho direito.
Berenice Abbott
A imagem em preto e branco mostra um par de mãos parcialmente sobrepostas. Ambas estão apoiadas sobre um chapéu.
Berenice Abbott

Abbott faleceu em 1991, aos 93 anos, em sua casa em Maine, Estados Unidos, deixando um extenso e grandioso trabalho fotográfico.

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COUTO, Sarah. Berenice Abbott. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/berenice-abbott.html>. Publicado em: 28 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

Vivian Maier

Focada na produção de imagens urbanas, a artista registrou cidades ao redor do mundo


Vivian Maier produziu cerca de 100 mil negativos que exploram cenas cotidianamente urbanas como a arquitetura dos prédios e retratos de trabalhadores e de mulheres, sempre evidenciando detalhes sutis da conjectura das grandes cidades. Seu trabalho, apenas reconhecido após sua morte, é hoje utilizado como base de estudo em diversas escolas e universidades.


A foto em preto e branco mostra quatro mulheres vestidas de sobretudos aguardando na calçada de costas para um muro alto. Todas carregam bolsas e três das quatro utilizam chapéus à moda dos anos 50. Devido ao sol frontal, suas sombras se projetam no muro cinza às suas costas
Vivian Maier

Nascida em 1926 na cidade de Nova Iorque, pouco se sabe sobre a infância de Vivian Maier, além de que a artista cresceu na Europa e retornou aos Estados Unidos em 1951. Maier morou por alguns anos em sua cidade natal, mas acabou por se deslocar para Chicago, onde morou o resto de sua vida.

Vivian era babá e fotografava em seu tempo livre. Seu principal foco para os retratos eram mulheres, trabalhadores, crianças e moradores de rua. Suas fotografias surpreendem devido à técnica e ao olhar meticuloso da fotógrafa que não chegou a compartilhar seu trabalho em vida.

Maier registrou centros urbanos durante as décadas de 50 à 90, sempre se atentando às sutilezas em meio ao caos e correria das grandes cidades. Seu trabalho é um rico material documental sobre o crescimento urbano e suas mudanças ao longo das décadas.


A foto preto e branco mostra um casal de aproximadamente 60 anos andando na rua de Chicago. O homem, à esquerda, está vestido de terno e segura a mulher, à direita, com força pelo braço. Ela por sua vez possui uma espécie de sorriso no rosto. O cabelo de ambos está bagunçado.
Vivian Maier

Vivian Maier faleceu em 2009 deixando para trás milhares de negativos. 30 mil deles foram desprendidamente comprados num leilão pelo historiador John Maloof que após alguns meses revelou o trabalho de Maier. Percebendo a qualidade das obras, Maloof se dedicou a descobrir a história da autora, buscando conhecidos e amigos da fotógrafa.

A busca resultou na produção de seu site oficial e em exposições fotográficas que, além das fotos, contava com breves histórias da vida de Maier segundo relato de conhecidos e familiares.

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Aos doze anos

A transição da fantasia infantil à dura realidade machista

A imagem abaixo mostra uma garota de 12 anos vestindo roupas claras. A segurando por trás, há um homem adulto de terno, seu rosto está oculto devido a falta de luminosidade. Tanto o homem como a menina estão na varanda frontal de uma casa de bonecas, ao lado deles podemos ver cadeiras e uma mesa com xícaras para uma provável brincadeira de chá.

Esta foto faz parte do ensaio fotográfico At Twelve: Portraits of Young Women, feito por Sally Mann, que tem como intuito retratar a individualidade de diversas meninas de 12 anos de Lexington, VA, cidade natal da fotógrafa. Curiosamente, esta imagem é, na minha opinião, a que mais evidencia uma crítica social.


A foto em preto e branco mostra uma garota de 12 anos  de roupas claras. Atrás dela há um homem adulto, de terno, segurando seu braço, não podemos ver seu rosto devido à sombra em seu rosto. Ambos estão na entrada de uma ‘casinha de bonecas’ que possui uma mesinha e cadeiras na varanda frontal.
Sally Mann

Tentei buscar alguma opinião ou comentário da fotógrafa sobre o ensaio, mas não encontrei nada. Desse modo me peguei pensando, refletindo sobre o que os 12 anos de uma garota significam, para ela, para sua família e para a sociedade.

Normalmente, é próximo aos 12 anos que mulheres têm sua menarca, isto é, sua primeira menstruação. Ao longo das décadas muitos significados já foram atribuídos a este momento. Como, por exemplo, sendo o momento a partir do qual a menina já pode casar, “sair dos braços do pai para os braços do marido”.

Nas últimas décadas do século XX, quando o ensaio foi feito, já não existia tão abertamente este pensamento, mas de algum modo, seus resquícios ainda repercutiam e repercutem na sociedade.

Não é novidade que vivemos numa sociedade machista na qual é presente a cultura do estupro. Uma cultura que perpassa fronteiras e continentes e que, especificamente no Brasil e nos Estados Unidos, muito se assemelha.

O homem ao fundo da imagem, me acarreta a imagem de um primeiro abuso, uma primeira transgressão, uma primeira violência. Ele não possui rosto, chega por trás e num local que ‘não pertence’: a casa de bonecas.

Toda a composição dessa fotografia me grita uma violência na infância, nesta transição para a pré-adolescência, momento no qual, boa parte das meninas começa a ser sexualizada pela sociedade como um todo.

Para quem olha brevemente a imagem pode não aparentar grandes significados, mas, para mim, é de grande profundidade a crítica feita pela autora.

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Sally Mann

Premiada artista conhecida por imagens de sua família

Nascida em Lexington, VA, em 1951, Sally Mann é uma das mais renomadas fotógrafas norte-americanas ainda vivas. A artista é conhecida por suas fotografias de paisagens e pelos retratos íntimos que produziu com seus três filhos e marido.

A fotografia em preto e branco mostra uma menina com os braços acima da cabeça, ela está nua e seus longos cabelos formam um desenho na lateral esquerda do seu corpo. Ao fundo podemos ver um lago e sua orla de areia, local onde a menina está de pé.
Sally Mann

Em sua página, Mann comentou ter recebido diversos prêmios como o do NEA (National Education Association), NEH (National Endowment for the Humanities) e uma bolsa da Guggenheim Foundation (Fundação Guggenheim).

Além de prêmios, Sally é autora de diversos livros, separados pelas temáticas de suas fotografias, seu livro mais conhecido é Sally Mann: A Thousand Crossings. Em 2001, Sally foi nomeada melhor fotógrafa americana pela revista Times.

Como a maioria dos artistas que fotografam modelos nus, Mann gerou controvérsias e recebeu duras críticas após a publicação dos ensaios com sua família. As fotos em questão mostram seus três filhos, que na época possuíam menos de 10 anos, posando nus para a mãe.


A foto em preto e branco retrata três crianças do quadril para cima, as três sem camisa e de fisionomia séria. A menina à esquerda, mais nova que os outros dois, está com as mãos na lateral do corpo e cabelo solto. No centro temos um menino que parece ser o mais velho, e à direita há outra menina, com os braços cruzados e a frente do cabelo preso.
Sally Mann

Outro ensaio famoso da artista é o “At Twelve: Portraits of Young Women”, produzido em 1988, onde a artista retrata meninas de 12 anos de sua cidade natal.


A imagem mostra duas mulheres, a mais velha à esquerda está grávida e possui uma fisionomia de dor, ela se apoia numa pia branca. A segunda, mais jovem, está abraçada e com a cabeça e braços apoiados na primeira. Ambas estão descalças e parecem estar num quintal, pois ao fundo, desfocado, podemos ver árvores e folhas.
Sally Mann

Atualmente a artista possui obras e coleções em museus como o MoMA (Museu de Arte Moderna em Nova Iorque), no Instituto de Arte de Chicago, na Galeria Nacional de Arte em Washington e no Museu de Arte de Los Angeles.

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COUTO, Sarah. Sally Mann. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/sally-mann.html>. Publicado em: 29 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].COUTO, Sarah. Sally Mann. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/sally-mann.html>. Publicado em: 29 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data]

Palhaço triste?

O estranhamento ao ver o símbolo do riso infeliz


Quando pensamos em palhaços, ideias como circo, risadas, crianças e diversão são rapidamente associadas à personagem. A persona ‘Palhaço’ é símbolo de riso e felicidade. Afinal, na arte circense, é papel do palhaço produzir sorrisos e risadas do público. Porém, a foto abaixo retrata o palhaço de modo diferente do comum ao mostrá-lo de fisionomia triste, com um cigarro e numa foto sem coloração.


A fotografia em preto e branco mostra um homem branco fantasiado de palhaço bem ao centro, em sua mão esquerda ele segura um cigarro, na direita com filhote de cachorro preto. Ele usa uma camiseta listrada com uma camisa xadrez por cima, gravata borboleta, chapéu e maquiagem. Ao fundo podemos ver um trailer e o céu nublado.
Imogen Cunningham

A fotografia de autoria de Imogen Cunningham, fotógrafa estadunidense do início dos anos 90, faz parte de um álbum chamado On the Street, “na rua” em tradução direta. Dentre as dezenas de imagens que compõem o álbum, esta foi uma que me chamou a atenção devido a este estranhamento que acontece ao serem colocados símbolos contrastantes na mesma fotografia. Pensar que um personagem que simboliza risadas se encontra infeliz gera uma certa inquietação, um sentimento de que algo está errado. Ao mesmo tempo, sabemos que o palhaço é um papel interpretado, desse modo a pessoa que o representa está tão sujeita a sentimentos infelizes quanto qualquer um. Este tipo de dualidade sempre me agrada na fotografia devido a não ser comum, ou ao menos incentivado na maioria das vezes, é algo que foge ao padrão. Imogen possui diversas imagens nesse estilo, com contrastes explícitos e também alguns mais interpretativos, tornando-se uma de minhas fotógrafas preferidas.


#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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Imogen Cunningham

Botânica, nudez, paisagens e retratos são alguns dos temas fotografados pela fotógrafa

Botânica, nudez, paisagens e retratos são alguns dos temas fotografados pela fotógrafa 

Imogen Cunningham nasceu em Portland, Estados Unidos, em abril de 1883. Seu interesse pela fotografia surgiu aos 18 anos, após a compra de sua primeira câmera. Imogen produziu diversos retratos, estudos sobre a nudez, street photography (fotografia de rua), imagens botânicas e de sua família, além de autorretratos. Durante os 70 anos em que produziu centenas de fotos preto e branco, poucos temas não foram abordados pela artista.

A fotografia em preto e branco é composta por uma mulher branca, nua, de costas e com os cabelos presos num coque baixo, apoiada numa grande pedra que ocupa todo o fundo da foto.
Imogen Cunningham

A foto em preto e branco mostra um homem nu de costas, ele possui pele branca e cabelos escuros, e está tentando subir uma pedra, que ocupa todo o fundo da fotografia.
Imogen Cunningham

Ainda jovem, Imogen frequentou a Universidade de Washington, onde teve seu primeiro contato com a fotografia botânica. Entre 1907 e 1909, a artista trabalhou no estúdio de Edward Curtis, aprendendo diversas técnicas sobre impressão e retoque de negativos. Em 1910, abriu seu próprio estúdio de retratos em Seattle.

Em 1915, a fotógrafa produziu fotografias de modelos nus que foram expostas em diversas galerias dos Estados Unidos, aumentando sua popularidade. Nesse mesmo ano, Imogen se casou e teve seu primeiro filho. No final de 1917, Imogen fechou seu estúdio em Seattle e se mudou para Califórnia, onde nasceram seus dois filhos gêmeos.

Com filhos pequenos e reclusa à vida domiciliar, Cunningham se aprofundou no estudo da fotografia botânica por meio das plantas de seu quintal. Nos anos seguintes, também produziu um extenso ensaio fotográfico de seus três filhos e marido.

A foto em preto e branco mostra três garotos, brancos e de cabelos curtos e escuros brincando na praia. Eles usam shorts, camisetas brancas e estão descalços. Um deles está sentado na areia, um segundo está de pé ao seu lado, e o terceiro está de pé com o tronco abaixado, pegando pedras no córrego que cobre seus pés, em frente aos outros dois.
Imogen Cunningham

Dos anos 20 a 40, Imogen conheceu fotógrafos famosos e fez diversas exposições nacionais e internacionais, além de produzir retratos de artistas como Frida Kahlo e Martha Graham. Mais adiante em sua carreira a fotógrafa participou do Grupo f/64, um coletivo de fotógrafos que produzia imagens extremamente focadas, detalhadas e com grande contraste, boa parte dessas fotografias retratavam paisagens em preto e branco. No site em que são expostas suas fotografias, uma seção que me chamou atenção foi “Hands”, uma série de fotografias que exibem, como o próprio nome explica, as mãos de diversas pessoas, realizando atividades diferentes. Diria que é um foco de trabalho um tanto incomum, porém que muito me interessou.

A fotografia em preto e branco mostra um par de mãos, há um anel no dedo mindinho da mão direita. As mãos são refletidas na superfície de um grande balde de água.
Imogen Cunningham

Em fevereiro de 1975 Imogen fundou o Imogen Cunningham Trust a fim de exibir, preservar e promover seu trabalho fotográfico. A artista faleceu em 1976, aos 93 anos, em São Francisco, Califórnia.

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COUTO, Sarah. Imogen Cunningham. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em <https://culturafotografica.com.br/imogen-cunningham/>. Publicado em: 18/10/2022. Acessado em: [informar data].

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