Consuelo Kanaga: retratos da beleza negra

Série de fotografias mostram a busca por um olhar delicado e carinhoso sobre a vivência preta 

Apesar do trabalho modesto, Consuelo Kanaga conseguiu se destacar no mundo da fotografia. Com um forte enfoque sobre lutas sociais, a fotógrafa americana passou parte de sua carreira dando sua atenção para a experiência negra. Dentre suas fotografias, os retratos são aqueles que mais se destacam, por carregar uma singelidade e atenção ao representar o mundano. 

Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de uma criança com os cabelos presos, uma blusa de manga comprida, segurando uma flor enquanto a cheira, com uma expressão de felicidade
Consuelo Kanaga foi uma fotógrafa americana, nascida em 25 de maio de 1894, em Astoria, cidade de Oregon. Trabalhou entre 1915 e 1922 como escritora e repórter para o San Francisco Chronicle, um jornal localizado na Califórnia, estado onde cresceu. Durante esse período, se juntou ao California Camera Club e lá conheceu o trabalho de Alfred Stieglitz, fotógrafo que se tornou sua inspiração. 
Em 1922, depois de se mudar para Nova Iorque, passou a trabalhar como fotojornalista para o New York American. Fez publicações de fotografia para a New Masses, Labor Defender e Sunday Worker, todos veículos que falavam sobre política numa perspectiva da esquerda. A partir daí, seu trabalho começou a ser focado na vivência negra, fotografando pessoas e seus cotidianos em uma série de retratos.  
Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de jovem mulher com o rosto apoiado sobre a parede, lábios cerrados em uma expressão séria

Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de mãe e filho, a mãe com a cabeça inclinada para baixo com uma expressão séria, o filho, localizado mais a baixo da imagem, a olha com uma expressão pensativa

Consuelo Kanaga

Descrição: retrato de garota de frente, com o rosto virado para o lado e uma expressão pensativa

Consuelo Kanaga
Descrição: fotografia de garota virada de lado, com os braços cruzados e  com uma expressão séria 
Consuelo Kanaga

Descrição: fotografia de uma mãe segurando a filha no colo enquanto sorri e a menina olha para o alto

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

O Cultura Fotográfica

Conheça a história do Cultura Fotográfica, programa de extensão da UFOP.

O Cultura Fotográfica é um desdobramento de um projeto pessoal que iniciei em 2016. Na época, eu cursava o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atuava profissionalmente como fotógrafo, produtor cultural e professor autônomo. Por isso, decidi criar um blog, inicialmente chamado de Estudos Fotográficos, para divulgar meus serviços no campo da fotografia a partir da publicação de conteúdo crítico, formativo e informativo.
Infelizmente,  em fevereiro de 2017, a produção de conteúdo para este blog foi temporariamente interrompida em razão de minha dificuldade em conciliá-la com a atuação como professor substituto no Departamento de Jornalismo (DEJOR) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), iniciada em outubro de 2016, e a redação da tese “Caminhar Imagens: Visualidades de São Paulo”, defendida em maio de 2018.
Somente em julho de 2019, já como professor adjunto da UFOP, retomei o trabalho com o blog. Não mais como um projeto pessoal, mas como um projeto de extensão, agora chamado Cultura Fotográfica. Não mais como produtor de conteúdo, mas como orientador de um grupo de estudantes extensionistas. Não mais para divulgar meus serviços, mas para oferecer uma contribuição, ainda que pequena, para a formação destes estudantes e para a desenvolvimento da cadeia produtiva da fotografia.

O Cultura Fotográfica

O contínuo e acelerado desenvolvimento das tecnologias digitais de comunicação e informação promoveu a incorporação da imagem fotográfica a diversos domínios da vida social, desde conversas pessoais em aplicativos de mensagens até o desempenho de atividades profissionais. Nessa perspectiva, chamamos de cultura fotográfica a rede de práticas socioculturais que se organiza em torno da produção, da circulação e do consumo de imagens fotográficas.
Apesar dessa integração da imagem fotográfica a diversos campos da vida cotidiana, observamos a ausência de um debate amplo e qualificado a respeito destas práticas fotográficas e de seus referenciais históricos. De maneira geral, a crítica cultural acerca da fotografia tem oscilado entre a superficialidade de resenhas publicadas nos meios de comunicação de massa e a profundidade de artigos publicados nas revistas acadêmicas especializadas.
Sendo assim, por meio do Cultura Fotográfica temos o objetivo de ocupar esta lacuna entre o jornalismo e a academia mediante o desenvolvimento de um programa articulado de atividades de formação continuada, de publicação de conteúdo crítico, formativo e informativo sobre fotografia e de divulgação das ações científicas e culturais empreendidas pelos diversos atores que compõem a cadeia produtiva da fotografia.

Revelar e fixar

Reveladores e fixadores são as principais soluções químicas utilizadas no processamento de fotografias analógicas. Deles depende, quase que exclusivamente, a qualidade e a duração da cópia e do negativo. Às soluções reveladoras cabe converter a imagem latente em imagem visível e às fixadoras estabilizá-las. Tal como essas soluções químicas, nós, por meio do desenvolvimento do Cultura Fotográfica pretendemos produzir e difundir conhecimentos sobre aspectos do campo da fotografia que são desconhecidos pela maioria das pessoas.
Em junho de 2021, nós encerramos um primeiro ciclo de trabalho. Neste período, iniciado 2 anos antes, em julho de 2019, nós consolidamos e ampliamos nossas atividades.  Transformamos o blog na principal mídia de nossa plataforma de produção, distribuição e consumo de conteúdo fotográfico e sobre fotografia, composta também por um perfil do Instagram e uma newsletter mensal, publicamos conteúdos de colaboradores externos, estruturamos um percurso de aprendizagem autodirigida em fotografia, inauguramos um serviço de divulgação científica e cultural e abrimos nosso grupo de estudos para a participação de tod_s _s interessad_s.
Em julho de 2021, nós iniciamos uma nova etapa de trabalho. Formalmente, deixamos de ser um projeto isolado de extensão universitária para nos tornarmos um programa de extensão composto por quatro projetos vinculados e que em concordância com os Planos Nacionais de Cultura (PNC) e de Educação (PNE), busca, no interior do campo da fotografia, contribuir para o mapeamento de ações científicas e culturais, o aperfeiçoamento profissional de professores da educação básica e de agentes do setor artístico e cultural, a pesquisa científica em arte e cultura, a valorização de grupos artísticos e culturais, a formação de público para arte e cultura, o acesso de pessoas com deficiência a bens culturais e a promoção da comunicação com um aspecto que diz respeito à arte e a cultura.
Queremos consolidar o Cultura Fotográfica como um espaço de diálogo aberto à diversidade de pensamentos acerca da fotografia. Acreditamos que, reconhecendo o trabalho de todas as pessoas envolvidas no processo de produção e consumo de cultura, é possível promover a construção coletiva de novos saberes e de novas formas de comunicá-los. Por isso, nos colocamos a disposição de todos os atores que compõem a cadeia produtiva da fotografia para apoiá-los no desenvolvimento de seus projetos e lhes pedimos que colaborem conosco, participando das ações que realizamos.
O que você nos diz?

Tesão no forró

A fotografia de Nair Benedicto que pode te dar vontade de dançar ao som do forró

A fotografia intitulada “Tesão no forró” me transmite tranquilidade, entrega intensa ao momento retratado e uma sensualidade evidente. Na imagem, percebemos, em um primeiro plano, um homem e uma mulher abraçados, possivelmente dançando ao som inebriante do forró.

A fotografia mostra um local com várias pessoas. No centro, vemos um casal dançando agarradinho. Ele, vestido com uma camisa xadrez e um colete, segura a parceira pela cintura enquanto beija seu pescoço. Ela, trajada com uma blusa ou um vestido sem mangas, abraça e coloca seus braços nas costas dele.
Nair Benedicto

O casal está dançando agarradinho. Ele, vestido com uma camisa xadrez e um colete, segura a parceira pela cintura. Ela, trajada com uma blusa ou vestido sem mangas e um lenço estampado na cabeça, abraça o moço e coloca seus braços nas costas dele. O homem beija com sensualidade o pescoço da companheira e parece que ela, com os olhos fechados, se delicia com essa atitude afetuosa.

Essa fotografia me remete diretamente aos alegres momentos em que eu dançava com o meu companheiro. A tranquilidade e a entrega completa de um ao outro é uma belíssima síntese desses momentos de confiança e conforto que compartilhei com o meu parceiro. Espero que todos e todas sintam esse sentimento de cumplicidade, serenidade e sensualidade.

Nair Benedicto, responsável pelo registro, explica que, em meados do ano de 1980, estava fazendo um trabalho independente sobre segregação e discriminação contra os nordestinos e as nordestinas que viviam em São Paulo. Em decorrência disso, a curiosidade em saber e em ver como essas pessoas se divertiam foi despertada em Nair. Assim, através de algumas indicações, a fotógrafa descobriu que os e as migrantes iam a casas de forró, dentre as quais a mais conhecida era a do Mário Zan.

A imagem parece que carrega, com a dança típica nordestina, resistência e pertencimento, pois a foto gera visibilidade de uma população quase sempre marginalizada.  O forró também pode ser considerado um ato revolucionário, pois os nordestinos e as nordestinas se divertem e dançam em uma São Paulo que só os enxergam como mão de obra marginalizada.

A fotógrafa faz uso do flash devido à baixa luminosidade do local, o que faz com que a pele suada da mulher fique com um aspecto brilhante. Acho que está evidente o bem-estar e o conforto estampado no rosto e no corpo dessa mulher, com a entrega proporcionada pelo momento de afeto. Outra coisa interessante é que parece que ela não está desconfortável com a presença da câmera e nem com o que está acontecendo ao redor.

Em oposição ao conforto desta mulher, é possível perceber um jovem no canto da fotografia que nota a presença da câmera e parece haver certo incômodo em seu semblante. O corpo dele aparenta ficar mais enrijecido, por causa do aspecto tenso de suas mãos, e o movimento se esvai de seu corpo, logo dá a impressão de que o homem está parado enquanto todos dançam. O motivo do incômodo, nós nunca saberemos.

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 Como citar essa postagem

HELENA, Beatriz. Tesão no forró. Cultura Fotográfica. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/tesao-no-forro/. Publicado em: 12 de jan. de 2022. Acessado em: [informar data].

Lola Álvarez Bravo

Fotógrafa mexicana que retrata o cotidiano do povo mexicano

Lola Álvarez Bravo nasceu em Jalisco, estado mexicano , no ano de 1907. Seu trabalho fotográfico ficou conhecido por retratar o cotidiano das pessoas que ali viviam, principalmente das mulheres em ambientes urbanos e rurais.

A fotografia mostra a pintora Frida Kahlo com um vestido longo e sua imagem refletida em um espelho. Há a presença de dois cachorros perto dela. Um deles está cheirando as pernas de Frida e o outro, o chão.
Lola Álvarez Bravo

Em 1916, Lola  se mudou para a Cidade do México, local que foi extremamente importante para a sua formação fotográfica, além de ser o lugar onde ela se casou com o seu parceiro de profissão, Manuel Álvarez Bravo, em 1924. Reconhecida como uma figura central na fotografia mexicana, Lola iniciou sua carreira como fotógrafa em meados da década de 1930, colaborando na revista El Maestro Rural.

Ela trabalhou em mais de um nicho fotográfico – o fotojornalismo, o retrato profissional, a fotografia comercial e a documental -, além de ter sido artista plástica. Lola retratou, por meio de imagens documentais, a vida cotidiana nas ruas das cidades mexicanas. Ela também tirou fotos de sua amiga, Frida Kahlo, na década de 1940.  Em 1951, Lola assumiu a direção de Fotografia do Instituto Nacional de Belas Artes e abriu uma galeria de arte, onde divulgou a obra de Frida Kahlo na Cidade do México, além de mostrar várias fotografias de sua autoria.

A fotografia mostra três lances de escada que formam linhas diagonais. Em cada lance há um homem de terno, totalizando três figuras.  Além disso, podemos perceber a silhueta da fotógrafa, pois sua sombra aparece na foto.
Lola Álvarez Bravo
A fotografia mostra uma menina, com duas tranças no cabelo, que parece estar vestida com uma blusa ou um vestido de mangas longas e colares no pescoço. Ela também segura um cobertor estampado contra o seu corpo.
Lola Álvarez Bravo
A fotografia mostra a artista Frida Kahlo sentada, com os braços apoiados em suas pernas e uma de suas mãos serve de apoio para a sua cabeça. Ela está vestida com um vestido longo e com brincos nas orelhas e anéis nos dedos.
Lola Álvarez Bravo
A fotografia mostra uma criança, vestida com uma blusa de mangas curtas e um macacão comprido. Ela está deitada, com os olhos fechados, em uma espécie de lona que está no chão e ao redor dela está cheio de pares de sapatos.
Lola Álvarez Bravo
A fotografia mostra uma mulher nua. Sua pele brilha devido à iluminação, ela  está sentada e apoiada na parede. Uma de suas mãos serve de apoio para sua cabeça e seus olhos estão fechados.
Lola Álvarez Bravo

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HELENA, Beatriz. Lola Álvarez Bravo. Cultura Fotográfica.Disponível em: https://culturafotografica.com.br/lola-alvarez-bravo/. Acessado em: [informar data].

Para Adrian Rodriguez, Com Amor

A história do assalto responsável por ajudar na criação de todo um ensaio fotográfico

A história do assalto responsável por ajudar na criação de todo um ensaio fotográfico

Na primavera de 2010, a fotógrafa Melanie Willhide teve sua casa invadida por um assaltante. Ele levou vários objetos, incluindo o computador e o HD externo nos quais Willhide tinha salvo centenas de fotos de um trabalho que ela havia feito sobre festas noturnas.

Descrição: Na foto se vê duas mulheres lado a lado. Elas estão usando penteados vintages e batons escuros. De seus ombros para baixo, a fotografia foi corrompida e podemos ver apenas listras.
Malanie Willhide

Porém, algumas semanas depois, a polícia de Pasadena recuperou seu computador. Infelizmente ou felizmente, o assaltante formatou a memória do computador, apagando todas as fotos. Melanie decidiu utilizar programas de recuperação de dados e conseguiu várias de suas fotografias de volta. Porém, muitas delas foram corrompidas, causando inúmeras distorções nas imagens.

A fotógrafa, que já gostava muito de utilizar programas de manipulação de imagens no seu trabalho, adorou o resultado.  Segundo ela, as fotos surrealistas, que surgiram com a corrupção dos dados, funcionavam como uma amostra visual da crescente dependência do ser humano com os computadores.  Ao publicar as fotografias, ela decide então dedicá-las a Adrian Rodriguez, o assaltante que tornou tudo aquilo possível.

Descrição: A foto foi muito corrompida e, na maior parte, é possível ver apenas formas geométricas de diferentes cores. Com um pouco de atenção, pode-se identificar pedaços separados de um homem que parece exibir seus músculos para a câmera.
Malanie Willhide
Descrição: Na foto, podemos ver uma mulher da cintura para cima. Ela está nua e com as mãos atrás da cabeça, jogando seus cabelos enrolados para cima. A foto foi corrompida e está coberta por listras pretas.
Malanie Willhide
Descrição: Na foto, podemos ver um homem completamente nu, que se inclina para frente e coloca a mão em sua panturrilha. A imagem  foi corrompida e é possível ver várias partes da fotografia se repetindo por todos os cantos.
Melanie Willhide
Descrição: A foto é espelhada no centro. Nela, um homem está parado com as mão na cintura  veste apenas um calção, enquanto alguém acerta seu rosto com o que parece ser uma torta.
Melanie Willhide

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Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Para Adrian Rodriguez, Com Amor. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/shomei-tomatsu-e-a-globalizacao/>. Publicado em: 06 de dez. de 2021. Acessado em: [informar data].

Símbolos e nacionalismos

Mustafa Hassona, nos instiga com sua fotografia que evoca o quadro “A Liberdade guiando o povo” e a História de Davi e Golias. 

A imagem a seguir foi registrada por Mustafa Hassona na Faixa de Gaza no ano de 2018. Os conflitos que até hoje não cessaram, fazem parte da vida de Palestinos e Israelenses, que disputam o território no Oriente Médio. Na imagem observamos um homem segurando uma bandeira palestina e  girando uma funda.



Mustafa Hassona

A Palestina é uma área da região oriental do Mediterrâneo, que compreende partes de Israel e os territórios da Faixa de Gaza (ao longo da costa do Mar Mediterrâneo) e da Cisjordânia (a oeste do Rio Jordão).

Tanto a área geográfica designada Palestina, quanto o status político dela, mudaram ao longo de três milênios atrás.  A região (ou pelo menos parte dela), também é conhecida como Terra Santa e é considerada sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos. Desde meados do século XX, ela é objeto de reivindicações conflitantes de movimentos nacionalistas judeus e árabes.

A cena registrada por Mustafa Hassona em 2018, evoca vários símbolos de luta e resistência. Ela foi muito comparada com a narrativa dos personagens bíblicos Davi e Golias, assim como com a pintura “A Liberdade guiando o povo” (imagem seguinte), do artista francês Eugène Delacroix. 

O homem em primeiro plano, no centro da fotografia, destaca-se e dá o enredo principal à narrativa fotográfica. Ele carrega a bandeira do seu país (Palestina, uma das presenças que evocam a pintura de Delacroix) e gira uma funda (que evoca a história de Davi e Golias). Tais símbolos evidenciam uma luta coletiva e de representatividade, ou seja, a reivindicação não é somente ligada a um sujeito.

Postas estas questões, poderia o fotojornalista, ter pensado acerca dessas proximidades? 
Obviamente a provocação é clara, aliás os símbolos são fortemente trabalhados na sua fotografia. Podemos perceber isso pelo ângulo frontal da foto que dá destaque ao protagonista, à bandeira e a funda.

Tais evidências, nos mostram que existe uma cultura atuante em conflitos nacionalistas. Se pensarmos em Davi e Golias, ainda não estamos falando da construção de uma nação, mas estamos operando com símbolos que representam a luta de um povo.

As lutas sociais, portanto,  estão diretamente ligadas a esses símbolos de representatividade. Tanto na fotografia de Hassona, quanto no quadro de Delacroix, a bandeira e as armas, acentuam essa característica da reivindicação nacionalista.


Delacroix. A liberdade guiando o povo, 1830.

Há outra questão muito interessante para pensarmos a comparação da fotografia com pintura. A câmera fotográfica, tecnologia que surgiu em meados do XIX, foi vista com bastante relutância na época. Baudelaire dizia que a fotografia era um tipo de refúgio ao qual se apega “todos os pintores frustrados”, aliás considerava-se a imagem fotografada resultado da máquina e não do artista.

Todavia o desenvolvimento da  história da arte e da semiótica (estudo da imagem), fluem direção contrária à essa perspectiva. Percebemos por meio desses estudos que tanto o olhar do fotógrafo para a cena, quanto as técnicas por ele trabalhadas juntas a fotografia constituem o enredo do seu trabalho.

Sendo assim, por meio dessa fotografia de Mustafa Hassona observamos esses dois contrapontos: o da presença de uma luta nacionalista no Oriente Médio e da potencialidade e possibilidades dos registros fotográficos. Porquanto essas considerações trazem à tona a importância do olhar do fotógrafo/artista e a presença das suas referências nos resultados finais de suas narrativas.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


Links, Referências e Créditos


https://www.artequeacontece.com.br/fotografia-e-pintura-da-rivalidade-ao-entrosamento/


https://www.leica-oskar-barnack-award.com/en/series-finalists/2019/mustafa-hassona.htmlLorem ipsum dolor sit amet.


https://www.all-about-photo.com/photographers/photographer/784/mustafa-hassona


https://www.leica-oskar-barnack-award.com/en/series-finalists/2019/mustafa-

hassona.htmlLorem ipsum dolor sit amet.


https://www.all-about-photo.com/photographers/photographer/784/mustafa-hassona


Luz à pino nas fotografias de Mustafa Hassona

A “luz à pino” é o destaque em obras do fotojornalista palestino que registra conflitos na faixa de gaza.


Mustafa Hassona atua desde 2007 registrando conflitos na Faixa de Gaza, Palestina. Ele trabalhou como freelancer para Agence France Press (AFP), para a Anadolu Agency (AA) e vários outros vários veículos de imprensa internacionais. Também é vencedor de vários prêmios, sendo o mais recente deles o prêmio de narrativa visual da LENSCULTURE  2019.



Mustafa Hassona.

A luz de Pino  é uma posição da fonte de luz em relação à cena fotografada. Hassana utiliza esse método de iluminação para direcionar o nosso olhar a experiências específicas de reivindicação na Faixa de Gaza, dentre outras. Dessa maneira, ele revela experiências específicas em meio a um cenário.Importante ressaltar que o autor usa a luz a pino de modo artificial, após realizar o registro, mediante a aplicação de recursos de pós-produção.

Mustafa Hassona

Mustafa Hassona


Mustafa Hassona

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Entre Grãos e Pixels

Livro de Ana Paula Umeda publicado em Kotter Editorial.

Ana Pala Umeda

descrição: a foto em preto e branco mostra um homem idoso segurando um casaco enquanto caminha sem ninguém ao seu redor e um prédio espelhado do seu lado direito.  

São ensaios de luz e sombra sobre a vida e se dividem em três ensaios independentes, mas que se complementam e cada um é acompanhado e potencializado por um ensaio fotográfico igualmente eloquente. O ensaio sobre a ausência é tangenciando pela questão pandêmica e aborda o outro e a política. O segundo fala sobre a humanidade, é o qual a autora volta à clássica pergunta: o que nos faz humanos? O ultimo aborda sobre o fim da fotografia e nos faz refletir se ela estaria mesmo com os dias contados, como às vezes é anunciado. 

São textos interdisciplinares, escritos em linguagem acessível, mas todos devidamente fundamentados e atravessados pela fotografia. Indicado para todas/os/es apreciadoras/res das humanidades, das artes e de uma boa reflexão.


Autora

Local de publicação


Esta publicação foi elaborada com base nas informações prestadas por Ana Paula Umeda, através do formulário Divulgue suas publicações!. Resposta número 17.

O abutre e a menina

A foto que evidenciou a fome no Sudão e entrou para a história do fotojornalismo

A foto que evidenciou a fome no Sudão e entrou para a história do fotojornalismo 

O abutre e a menina é uma fotografia feita por Kevin Carter, em 11 de março de 1993, no Sudão, momento em que o país sofria uma guerra civil e enfrentava sua maior crise humanitária no século XX. A foto, que retrata uma situação de miséria e medo, mostra um abutre olhando para uma criança esquelética.

Kevin Carter 

A produção dessa foto foi possível em função de uma ação da Organização das Nações Unidas (ONU) para sensibilizar a opinião pública internacional em relação à situação de penúria da população sudanesa. Para isso, a ONU convidou dois fotojornalistas para integrar a comitiva que foi para o sul do Sudão: Kevin Carter e João Silva.

O momento em que Kevin registra a foto do abutre e a menina é quando está nesse campo a céu aberto, acompanhando a distribuição de alimentos pelos funcionários da ONU e esperando alguma possibilidade de clique, até que encontra a cena da ave olhando para a criança.

Foi essa imagem do abutre e a menina que pouco tempo depois foi publicada no jornal The New York Times e replicada em todos os grandes jornais do mundo e fez Carter ganhar grande visibilidade e a fome no Sudão ser vista e a ONU arrecadar doações para o país. Além disso, no ano seguinte, em 1994, o fotógrafo ganhou o prêmio Pulitzer de fotografia.

Após a publicação dessa foto, Kevin teve sua postura questionada pela opinião pública que queria saber o que aconteceu com a menina e se ele a teria ajudado. Ele conta que espantou o abutre e que sentou e chorou debaixo de uma árvore. Depois também disse que a menina se levantou e caminhou até a clínica médica, onde João Silva estava fotografando. Porém, a opinião pública não ficou satisfeita com essas explicações e indagou porque ele não levou a menina para um lugar seguro.

Toda essa história gerou um debate sobre a atuação de jornalistas e fotojornalistas em cenários de guerra, se eles deveriam prestar assistência ou apenas seremos observadores. Todos esses questionamentos perturbaram muito Carter, que não soube lidar com a situação, pois já enfrentava uma série de problemas pessoais como depressão, relacionamentos amorosos mal sucedidos, uso abusivo de álcool e outras drogas e endividamento. Assim, no dia 27 de julho de 1994, aos 33 anos, ele levou seu carro até um local de sua infância e cometeu suicídio.

Uma descoberta importante dessa foto é que apesar de todos acharem que era uma menina na foto, na verdade, era um menino. Uma equipe de jornalistas voltou para a aldeia de Ayod, no Sudão, para reconstruir a história daquela fotografia e tentar descobrir quem era a criança, e nisso, descobriram que era um menino chamado Kong Nyong. Com essa pista, dois dias depois, a equipe chegou à família do menino. O pai confirmou que a criança da foto de Kevin Carter era seu filho e que ele se recuperou da desnutrição e sobreviveu. O pai também disse que Kong morreu já adulto em 2006, devido a uma forte febre.

Para além de toda história por trás da foto, a relação do abutre e da menina, que parece ser somente de presa e predador, me transmite, de forma subjetiva, uma denúncia da própria ave da situação precária que a criança estava, ou seja, o abutre também tem o papel de evidenciar que aquela criança precisava de ajuda.

Uma outra perspectiva que me desperta da fotografia é como essa foto feita há 30 anos atrás em um país localizado do outro lado do oceano atlântico remete a situação atual de fome que o Brasil enfrenta, em que o abutre ali presente pode ser representado como o governo atual brasileiro, que não cria soluções para resolver o problema e somente fica observando agravar. Já a criança pode ser representada como os 19,1 milhões de brasileiros já atingidos pela fome, conforme dados da CNN Brasil. A imagem mostra a situação do Sudão naquele momento, mas também faz alusão a outros momentos trágicos que o mundo vive, como a pandemia de COVID-19 que acentuou a fome.

A foto no meu ver propõe uma reflexão sobre como nós, sociedade, lidamos com as desigualdades que atravessam as pessoas. Seríamos nós abutres que ficam só observando sem tomar qualquer atitude e esperando ¨apodrecer¨ ?  É sobre pensar em humanidade e alteridade.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos 

Como citar este artigo

CALIXTO, Vitória. O abutre e a menina. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/o-abutre-e-a-menina/>. Publicado em: 24/11/2021. Acessado em: [informar data].

Cultura Fotográfica

Grupo de Cultura, Ensino, Extensão e Pesquisa visa oferecer valor a sociedade mediante a produção de conhecimentos úteis ao campo da cultura e da fotografia.

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