Juca Martins

Manoel Joaquim Martim Lourenço, nasceu em 1949 em Portugal e aos 7 anos de idade se mudou com a família para São Paulo.

Fotografou importantes momentos históricos, e ajudou a fundar a F4, uma cooperativa de fotógrafos que lutou pelos direitos desses profissionais.

Manoel Joaquim Martim Lourenço, nasceu em 1949 em Portugal e aos 7 anos de idade se mudou com a família para São Paulo. Ele se tornou fotografo em 1970, e durante sua carreira fotografou para jornais como Folha de São Paulo e Jornal da Tarde, além de revistas como Veja e Quatro Rodas.

Na foto podemos ver os rostos de vários manifestantes, enquanto eles carregam uma faixa com a frase "Abaixo a ditadura" 
Juca Martins, Movimento pela Anistia, Praça da Sé, São Paulo 1979

Juca sempre foi muito politizado, suas fotografias na maioria das vezes retratam lutas sociais, como as  manifestações contra a ditadura militar e a greve dos trabalhadores do ABC paulista. Ao longo de sua carreira ele foi diretor de arte do jornal o Movimento, que era um dos principais jornais feitos em oposição ao golpe militar de 1964, foi vencedor do prêmio ESSO em 1981 por sua reportagem sobre Crianças abandonadas, e cobriu a guerra Civil em El salvador, que lhe rendeu o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos em 1982.

Também foi um dos principais fundadores da Agência F4, que garantiu aos fotógrafos e fotografas o direito ao negativo,  uma tabela de preços para a comercialização das fotos e, além de outros direitos que esses trabalhadores não recebiam, um controle criativo maior sobre suas fotos.

Na foto vemos cinco pessoas no acostamento de uma estrada, com os braços esticados pedindo esmolas, enquanto um carro de luxo troca de faixa para se distanciar deles. 
Juca Martins. Flagelados da seca do Ceara, 1983
A imagem é composto por vários rostos dos operários parados um do lado do outro. 
Juca Martins, Greve de metalúrgicos da Volkswagen São Bernardo do Campo 1985
Na foto podemos ver 4 policiais armados em primeiro plano e ao fundo uma criança carregando uma arma de brinquedo.
Juca Martins, Intervenção Policial no Sindicato Dos Metalúrgicos São Bernardo do Campo 1980
Na foto em primeiro plano estão quatro policiais acompanhados de cachorros, na frente deles há mais um cordão formado por policiais e logo depois manifestantes parados lado a lado nas escadas de uma igreja. 
Juca Martins, Movimento contra o custo de vida Praça da Sé 1978
Na foto vemos vários trabalhadores em fila, estando 3 deles em primeiro plano e apoiados em uma pedra olhando para câmera.
Juca Martins, Garimpo de Ouro Serra Pelada Pará  1980
Na foto podemos ver dois policiais se ajoelhando em cima de uma travesti, que esta no chão com as mão atrás das costas
Juca Martins, Prisão de uma Travesti, São Paulo SP Juca Martins 1980

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Links, Referências e Créditos

  • https://utopica.photography/pt/artistas/juca-martins/
  • https://ims.com.br/titular-colecao/juca-martins/
  • http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8369/juca-martins
  • http://jucamartins.com/
  • https://focusfoto.com.br/o-fotojornalismo-independente-os-novos-caminhos-e-as-agencias-de-fotografos/

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Juca Martins. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/galeria-juca-martins/(abrir em uma nova aba)>. Publicado em: 27 de jan. de 2021. Acessado em: [informar data].

Tom Beard

Tom Beard é um fotógrafo britânico conhecido por seus trabalhos com artistas da cena musical londrina.

 Conheça Tom Beard, fotógrafo britânico que trabalhou com Florence + The Machine e Adele.

Tom Beard é um fotógrafo britânico conhecido por seus trabalhos com artistas da cena musical londrina. Conheci seu trabalho através de suas fotografias para capas de álbuns e singles da banda Florence + The Machine, que já acompanho a algum tempo. Uma delas, feita para a capa de Ceremonials (2011) faz parte atualmente do acervo permanente do National Portrait Gallery, em Londres, sendo uma fotografia da vocalista Florence Welch feita em uma sala escura com espelhos, que traduziu muito bem a estética sonora e visual da banda nesse trabalho. 

Beard começou a fotografar em um centro para jovens após as suas aulas escolares e conviveu com uma cena musical bastante efervescente onde tornou-se amigo de pessoas como o cantor indie Jamie T e a aclamada Florence Welch, que conheceu quando ainda frequentava a faculdade de artes de Camberwell. Desistiu da faculdade para acompanhar as bandas em suas turnês e fez trabalhos com nomes como Mystery Jets e Larrikin Love, tendo também feito  fotos para a cantora Adele na época em que divulgava seu primeiro álbum de estúdio. O fotógrafo chegou a dizer que só começou a fotografar por “estar no lugar certo e na hora certa”, mas depois esclareceu que disse isso na época por ainda ter dificuldade em crer estar ganhando a vida com algo que gostava tanto.

Um diferencial bastante interessante de Beard é seu uso de filme fotográfico para seus trabalhos, tanto relacionados à música, quanto editoriais e seus recentes trabalhos com o audiovisual. Apesar de não desprezar o valor do digital, ele vê os métodos analógicos com sentimentalismo e defende sua materialidade, já que não se dá bem com arquivos de computador e celular. Confira abaixo algumas dessas fotografias.

A cantora Florence Welch é vista em uma sala escura, com sua imagem refletida em espelhos. Usa um vestido de lantejoulas escuras com uma grande fenda. Está de olhos fechados; a cabeça inclinada para a esquerda e uma mão sobre o braço esquerdo. 
Tom Beard. Capa do álbum “Ceremonials”, de Florence + The Machine, 2011
A cantora Adele é vista sentada em frente a uma mesa, usando vestido preto e com uma expressão de tédio. O ambiente, com um balcão ao fundo e homens em uniformes brancos, e os objetos, como uma xícara branca e um cardápio na mesa, indicam que trata-se de um bar ou lanchonete.
Tom Beard. Capa do single “Hometown Glory”, de Adele, 2008
Colagem com diversas fotos mostrando os integrantes da banda Larrikin Love sobre fundo preto. Aos cantos, há imagens com temas circenses como palhaços, mágicos e um cavalo enfeitado. 
Tom Beard. Capa do álbum “Edwould”, banda Larrikin Love, 2006
O cantor Jamie T é visto usando camisa branca, calça jeans, blusa xadrez azul e sapatos pretos pulando de um sofá com listras brancas e vermelhas. Há uma guitarra recostada no sofá e a bandeira do Reino Unido ao fundo.
Tom Beard. Foto da sessão para o álbum “Kings & Queens”, de Jamie T, 2009
A cantora Florence Welch é vista sentada no chão de uma floresta, com as mãos apoiadas em um joelho e olhando para a câmera. Veste uma fantasia de palhaço e está rodeada por flores, folhas, raízes de árvores, figuras de animais desenhados e uma gaiola dourada.
Tom Beard. Florence Welch no set do videoclipe de Dog Days Are Over, 2008
Dois rapazes usando roupas de moletom e tênis são vistos sentados em uma calçada. Tem as cabeças baixas e cobertas pelos braços que estão cruzados sobre os joelhos. Outras pessoas são parcialmente visíveis caminhando ao lado direito da imagem. 
Tom Beard. Foto de arquivo
Foto feita durante o festival Glastonbury. O campo aberto é visto durante o nascer do sol de um dia nublado. Há várias pessoas deitadas e algumas em pé e há sujeira por toda a área. Uma bandeira e algumas árvores são vistas ao fundo.
Tom Beard. Nascer do sol de segunda-feira, Glastonbury.
A cantora Florence Welch é vista posando com uma mão delicadamente repousada sobre seu ombro direito e o mão esquerda erguida na altura dos olhos. A cabeça está voltada para o lado direito da imagem e está de olhos fechados. Usa uma blusa semitransparente de pequenas correntes prateadas e um adereço em forma de pulmões que cobre seus seios. O fundo é composto por um tecido pesado com estampa floral e há galhos com flores e pássaros. 
Tom Beard. Capa do álbum “Lungs”, de Florence + The Machine. 2009

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Profundidade de Campo

A profundidade de campo é a área antes e depois do plano focado que pode ser considerada em foco.

A profundidade de campo é um assunto importantíssimo na hora de fotografar, nessa postagem vamos analisar vários fatores relativos a ela.

Essa é a segunda publicação do Cultura Fotográfica sobre este assunto, então para melhor compreendimento vale a pena ler a primeira, na qual falamos sobre como aplicar o efeito de fundo desfocado configurando a lente para uma abertura máxima, com a maior distância focal possível e se aproximando o máximo possível do objeto. Agora vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto.

Em primeiro plano vemos um homem encostado em uma parede, com uma placa no pescoço. Mais ao fundo, mesmo estando desfocadas, vemos várias pessoas transitando.
Henri Cartier-Bresson, Desempregado em Hamburgo, Alemanha 1952-1953

A profundidade de campo é a área antes e depois do plano focado que pode ser considerada em foco. Pense que um plano focado de uma imagem é formada por milhares de pequenos pontos, e conforme a distância em relação a ele vai aumentando os pontos se tornam círculos, quando esses ficam muito grandes, temos o que chamamos de círculo de confusão, a partir daí a imagem está desfocada.

O círculo de confusão poderá variar de tamanho devido a vários fatores. O tamanho no qual a foto será exibida é um deles por isso uma foto que pareça desfocada na tela de um computador pode não parecer vista em um celular.

Entender bem esses conceitos ajuda na hora de decidir a configuração que vamos usar na hora de fotografar. No caso de paisagens, por exemplo, é ideal usar grandes profundidades de campo para que toda a cena esteja nítida, também é necessário pensar bem onde colocar o foco da câmera, se você focar em um objeto próximo, mesmo com uma grande profundidade de campo, é possível que os objetos mais distantes estejam desfocados e vice versa.

Já no caso de retratos, muitas vezes uma curta profundidade de campo pode ser a melhor escolha, mas cuidado, caso ela seja muito curta pode ser que uma boa parte do rosto de uma pessoa fique desfocado.

Henri Cartier-Bresson, famoso fotógrafo francês responsável por algumas das mais icônicas fotos da história e um dos fundadores da agência Magnum, que é considerada uma das mais importantes agências de fotografia da história, tem em seu portfólio várias imagens na qual podemos observar profundidades de campo muito bem calculadas.

Quatro mulheres vestindo roupas brancas que cobrem todo o corpo, estão paradas na encosta duma colina. Uma delas está com as mão erguidas em sinal de oração. Ao fundo podemos ver uma vale cheio de árvores e um rio, além da silhueta de uma cadeia de montanhas.
Henri Cartier-Bresson, Mulher muçulmana na encosta da colina Hari Parbal 1948

Ainda que nessa foto os objetos principais sejam as quatro mulheres, percebesse o uso de uma longa profundidade de campo. Mesmo não estando completamente nítidos, o vale  abaixo delas e o céu contribuem muito para a composição, se eles tivessem sido retratadas com um fundo completamente desfocado a foto não teria tanto impacto.

Na foto vemos dois homen, um deles está de costas e desfocada, já  o outro está em foco de frente para a câmera, ele está vestindo um grosso casaco de pele e fuma um cachimbo. Atrás podemos ver alguns lampiões de iluminação e o telhada de alguma construção.
Henri Cartier-Bresson Jean-Paul Sartre, Paris, 1946

Essa situação é diferente, o objeto principal da foto é o escritor Jean-Paul Sartre, mas há  um homem entre a câmera e ele. Utilizando uma pequena profundidade de campo Bresson consegue contornar esse fator,  mesmo não estando em primeiro plano Sartre é colocado como principal objeto da foto. 

Então na hora de sair para fotografar não se esqueça de prestar muita atenção  na profundidade de campo, ela é um fator importantíssimo na hora de destacar ou esconder detalhes. E vale lembrar que, assim como o círculo de confusão varia com o tamanho com que uma foto é impressa, a profundidade de campo também varia.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. #fotografetododia – Profundidade de Campo. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em <https://culturafotografica.com.br/fotografetododia-profundidade-de-campo/>. Publicado em: 18 de jan. de 2021. Acessado em: [informar data].

Revista Zum

Uma revista de fotografia que traz reflexões críticas, além de diversas entrevistas com fotógrafos muito interessantes. 

A revista Zum é uma revista de fotografia que se propõe a apresentar uma reflexão crítica do assunto, “entrecruzando a fotografia com as áreas da literatura, do cinema e de outras formas de expressão artística” (PEREIRA, 2018). Criada em outubro de 2011 pelo Instituto Moreira Salles (IMS), dedicado à divulgação de arte, fotografia e literatura nacionais, a revista semestral já tem 18 edições publicadas. 
Legenda: capa da revista Zum edição #18
Descrição: colagem de várias fotos de pessoas e de paisagens naturais com o nome da revista escrito na parte superior esquerda.
Ela traz diversos artigos, ensaios fotográficos e entrevistas com fotógrafos, grande parte deles também publicados no site da revista, podendo ser lidos a vontade, embora a experiência de ler a revista como um todo seja bem mais interessante, devido ao design do veículo que destaca muitos as fotografias.
A revista sempre traz entrevistas e análises muito bem escritas, que não cansam o leitor e te incitam a pesquisar cada vez mais sobre fotógrafos e técnicas da área. Inclusive, algumas entrevistas da revista já foram usadas de base em textos do blog, como as galerias de Bernd e Hilla Becher e de Cristina de Middel. 
A Zum pode ser comprada em versão impressa na loja online do Instituto Moreira Salles, com faixa de preço variando entre 45 e 55 reais. Devido a pandemia, a 18º edição também foi publicada digitalmente e distribuída de forma gratuita no site. A leitura online é muito prática e tem até um efeito de passar a página como em uma revista física.
Legenda: print da tela do computador mostrando a edição online da revista.
Descrição: revista aberta mostrando uma fotografia forma por colagem. 
A Revista Zum traz um conteúdo intrigante e acessível ao mesmo tempo, não só por estar disponível para a leitura em um site, mas também por ter uma linguagem compreensível mesmo para os mais leigos no assunto. Se você se interessa por fotografia e quer aumentar seu repertório, principalmente de fotógrafos e fotógrafas, é uma leitura fundamental. 
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Links, Referências e Créditos

 

Vivendo com o Inimigo

Nos anos 80, Donna Ferrato registrou cenas de violência doméstica. Infelizmente, agressões deste tipo continuam sendo constantes em todo o mundo.

Donna Ferrato – Westchester County, New York, 1982

Em 1982, a fotógrafa americana Donna Ferrato viveu durante um tempo com um casal, Garth e Lisa, com o objetivo de registrar a sua vida sexual para a revista Playboy Japão. Um dia, Garth agrediu Lisa no banheiro e Donna, ao escutar o grito, correu com a sua câmera nas mãos. O registro do momento é impactante. Garth se projeta na direção de lisa com a mão se movimentando para culminar no que em poucos segundos seria um tapa. Somos espectadores assistindo a ação do canto do banheiro que, por sua vez, é contornado por espelhos que mostram a cena acontecendo em outros ângulos. Assim, vemos diversas Lisas sendo violentadas naquele instante sem fim. Os espelhos, porém, também são os responsáveis por desfazer o encanto da fotografia, aquele que implica no esquecimento da presença do fotógrafo, quase como se a fotografia se criasse sozinha, pois, é possível ver a imagem de Donna, disparando sua câmera, no reflexo do espelho. Para não provocar gatilho nos leitores, a fotografia não será vista no post, mas você pode acessá-la neste link.
Registrar em fotos é um pacto de não envolvimento do fotógrafo e, neste caso, uma negação de auxílio. A atitude de Donna é moralmente dúbia ao abrir mão de ajudar a vítima em prol de documentar a violência (ou, como definiu, de abrir o livro da hipocrisia da sociedade) para que pudessem acreditar nela, mas, em uma sociedade que acredita mais em imagens do que em fatos, suas fotografias podem ter ajudado a confirmar a existência da violência doméstica como um problema social sistemático e não uma exceção a regra, principalmente porque, depois dessa fotografia, Donna Ferrato passou 30 anos visitando conferências, tribunais, emergências hospitalares, grupos de terapia e aulas de defesa pessoal para mulheres, coletando histórias e fotos sobre violência doméstica, algumas delas foram publicadas em 1991 no livro “Living with the Enemy” ou Vivendo com o Inimigo.
Sobre o livro, Donna disse que: “a maior parte de “Vivendo com o Inimigo” nasceu da frustração — primeiro porque eu me sentia impotente para enfrentar a violência que eu via, e, segundo porque por muito tempo nenhuma revista publicaria as fotos”. Para a revista Time, relatou também: “Agora (a partir do livro), eu também tinha um sonho: algum dia o mundo ia acordar para a desvantagem que as mulheres têm nas suas relações íntimas com os homens. Eu iria fazer todos olharem em seus olhos”.
Donna encontrou a sua forma de tentar expor o assunto transformando-o em provas inegáveis e desenvolvendo instrumentos de empatia, mas deve ser sempre lembrado que a melhor maneira de ajudar uma mulher vítima de violência doméstica é fazer a denúncia e ajudá-la a ter acesso aos mecanismo que a justiça prevê para protegê-la.

Confira algumas das fotografias de “Vivendo com o Inimigo”:

Aviso: foram escolhidas fotografias que não retratassem graficamente a violência, para evitar gatilhos emocionais nos leitores, mesmo assim as imagens podem ser fortes para algumas pessoas.
Donna Ferrato – Minneapolis, Minnesota, 1988

O relatório da polícia saiu assim: 7:30 a.m. O pelotão 510 recebeu uma ligação de uma agressão acontecendo… “Eu te odeio” Nunca volte à minha casa”, gritou o garoto de oito anos para seu pai enquanto a polícia prendia o homem por atacar a sua mãe.

Donna Ferrato – Boulder, Colorado, 1985
O marido de Janice a espancava impiedosamente …
Donna Ferrato – Mulher com seu bebê, olhos fechados – 1988
Kim temia que a tensão que ela sentia após deixar seu marido violento e recomeçar sozinha fosse perigoso para o seu bebê. “Eu poderia agarrá-lo agora mesmo se ele fizesse algo ruim e atirá-lo contra a parede”, ela disse no Mulheres contra o Abuso, um abrigo na Filadélfia. “Em momentos como esse, eu acho que meu pai costumava fazer isso comigo, agora eu talvez faça isso com essa criança”.  O funcionários do abrigo ajudam as mulheres a lidarem com tais sentimentos.
Donna Ferrato – Mulher com a sombra do policial – Filadélfia, Pensilvânia, 1986.
Uma esposa espancada reclamou para o policial que  suas ligações por ajuda raramente eram atendidas. Apesar de uma ordem judicial para se manter longe, seu marido invadiu a sua casa pela janela.
Donna Ferrato – Mulheres e crianças com mural – Minnesota, 1988.
Não existe uma residente de abrigo típica, assim como não existe uma mulher espancada típica. No Defensores das Mulheres, em Saint Paul, o primeiro abrigo do país, mulheres podem se abrigar por seis semanas e ter acesso a assistência legal, financeira, médica e trabalhista. O mural da casa foi pintado por uma residente há dez anos.
Donna Ferrato – Policial com um panfleto – 1988
Ativistas pressionam a polícia a passar por um treinamento de violência doméstica e distribuir panfletos sobre o abuso de parceiros, listando as fontes locais de ajuda.
Denuncie!
Quarenta anos depois da foto em que Garth agride Lisa, a violência doméstica continua sendo um grave problema social em todo o mundo e os dados mostram que o confinamento social por causa da pandemia de Covid-19, que fez com as mulheres tivessem que passar mais tempo sozinhas com seus agressores, fizeram os números da violência aumentarem. No Brasil, houve um aumento de denúncias de violência doméstica de 34% por mês, além de um aumento de 5% do feminicídios, ocorrendo só no estado do Pará um aumento de 100%, segundo o monitoramento feito pelo Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Portal Catarinas e Ponte Jornalismo.
Neste contexto, é importante lembrar que no Brasil vigora a Lei Maria da Penha, voltada para a proteção e justiça de mulheres que sofrem violência doméstica. A lei, que só entrou em vigor em 2006, é considerada bem abrangente em termos legislativos, ainda que haja problemas em sua execução.
Se você ou alguma conhecida está passando por essa situação, saiba que a Lei Maria da Penha torna obrigatória a instauração de um inquérito quando uma denúncia de violência doméstica é recebida, que a polícia também deve oferecer encaminhamento médico à mulher, se necessário, e requerer ao judiciário medidas protetivas e de prisão preventiva. Além disso, a vítima só poderá fazer uma retratação (ou seja, retirar a queixa) em uma audiência marcada com esse propósito e, mesmo assim, os magistrados avaliarão se ela corre algum risco, antes de decidir pelo arquivamento do processo. Isso acontece porque a violência doméstica é entendida como um ciclo que engloba a etapa de tensão, que é a fase dos insultos e ameaças; a fase de explosão, quando a violência acontece; o distanciamento, etapa em que a mulher pode procurar ajuda; e a reconciliação, quando o agressor pede desculpas, age carinhosamente e, às vezes, convence a vítima de que a violência não se repetirá, levando-a a tentar retirar a queixa. Mas depois de um tempo de tranquilidade o ciclo sempre recomeça e, segundo uma pesquisa feita com mulheres de Belo Horizonte, o tempo entre as agressões diminui a cada ciclo.
Saber como funciona o ciclo é muito importante para reconhecer quando se está presa a ele, mas, se a agressão física não se concretizar, qualquer outra forma de violência pode ser denunciada, pois, segundo a Lei Maria da Penha, é considerada violência doméstica contra a mulher, qualquer violência física, psicológica, verbal, sexual, moral ou patrimonial contra qualquer mulher, independente de sua orientação sexual, raça, credo ou classe social, cometida por alguém de seu círculo familiar e afetivo.
Por isso, em qualquer fase do ciclo ou sofrendo qualquer uma das violências citadas acima, denuncie ligando para o número 180 ou se dirigindo à Delegacia da Mulher do seu estado. Se não existe a possibilidade de telefonar ou visitar uma delegacia, a partir deste ano as farmácias começaram a receber denúncias, basta desenhar um “x” vermelho na sua mão e mostrar ao farmacêutico e a polícia será imediatamente acionada.

Padrões

 Existem padrões por todo lado e ao fotografar não se deve ignorá-los. Mas, o que são padrões?

 Existem padrões por todo lado e ao fotografar não se deve ignorá-los. Mas, o que são padrões?

German Lorca – New York
Descrição: Fotografia em preto e branco. Varandas e colunas de uma construção se repetem formando um padrão. Na varanda de baixo e do meio há um relógio.

Padrão nada mais é do que toda repetição de um elemento. Pode ser a repetição natural da textura de um objeto, como os espinhos do abacaxi; uma repetição de cor ou de sequência de cores, como as listras na casca de uma melancia; ou uma repetição de formas, como as janelas de um prédio, etc. Pode ser também uma repetição proposital de um objeto comum, fazendo, às vezes, com que ele perca o significado isolado para se transformar em um resultado estético.

German Lorca – Paralelepípedo, 1970
Descrição: Fotografia em preto e branco. Mostra paralelepípedos amontoados.
Outra possibilidade encerrada na composição com padrões é a criação de um cenário composto por repetição de um único elemento que dará a impressão de uma estampa ou gravura.
German Lorca – 062 Coqueiros
Descrição: Fotografia colorida. Mostra uma floresta de coqueiros.
Na fotografia, a presença de um padrão costuma atrair a atenção, podendo ser usado em torno de algo que se deseja enfatizar. Por outro lado, algumas composições optam por enquadrar apenas o padrão e, como nas fotografias em que os padrões são propositalmente arranjados, torna o significado mais abstrato, já que o leitor olhará a combinação como um todo e não os elementos individualmente. Essa construção de homogeneidade favorecida pela repetição de elementos, leva a uma cenário em que para enfatizar um objeto dentro da composição, basta que esse objeto destoe dos demais em cor, forma, tamanho ou simplesmente por ser um objeto diferente dos outros. Na fotografia abaixo, por exemplo, a mulher poderia ter sido fotografada sozinha na areia vazia, mas a presença dos quiosques formando um padrão ao seu redor deixa a fotografia mais chamativa e a destaca.
German Lorca – 040 Praia Canoa Quebrada
Descrição: Fotografia colorida. Em uma praia vista de cima, diversos quiosques de teto de palha estão espalhados pela arei. Há uma mulher sentada entre eles.
As fotografias deste post são de German Lorca, fotógrafo paulista nascido em 1922. German começou a frequentar o Foto Cine Clube Bandeirante em 1948 e isso o influenciou a começar a fotografar profissionalmente em 1949. Encerrou a carreira em 2003, mas não deixou de fotografar por prazer. Algumas de suas fotos trabalham com múltiplas exposições e, por vezes, essa técnica é a responsável por produzir o padrão da fotografia. A fotografia abaixo, por exemplo, cria o padrão repetindo três vezes a cena.
Vamos treinar? Escolha um objeto e faça fotografias com padrões utilizando-os, desde fotografar os padrões presentes nele a transformá-lo em um padrão. Compartilhe sua foto marcando o nosso instagram (@d76_cultfoto).

Referências:

  • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.

Cristina de Middel

 

Cristina de Middel questiona a relação da verdade com a fotografia em seus projetos documentais que misturam realidade e ficção.

Cristina de Middel nasceu em 1975 na Espanha e estudou fotografia na Universidade de Oklahoma nos EUA e arte na Universidade Politécnica de Valência na Espanha. Por muitos anos trabalhou como fotojornalista, mas em 2012 publicou o livro “Afronautas”, no qual explora um estilo menos realista de contar os fatos. Desde então ela mistura projetos documentais, em trabalhos para ONGs e projetos mais pessoais.
Legenda: Cristina de Middel em Londre. Ione Saizar (2013).
Descrição: uma mulher em frente a uma parede onde vemos vários quadros com fotografias.
O livro “Afronautas”, um dos primeiros projetos mais experimentais da fotógrafa, reúne uma série de fotografias contando a história de um programa espacial na Zâmbia nos anos sessenta, desafiando as representações tradicionais do continente africano. A obra teve grande repercussão e chegou a ser indicado ao renomado prêmio de fotografia Deutsche Börse em 2013.
Em seus projetos seguintes, Middel continuou misturando a linguagem mais artística com um propósito documental, até mesmo dentro de um único projeto, sendo um exemplo o seu primeiro trabalho no Brasil: o livro “Sharkification”. Publicado em 2016, o livro registrou o cotidiano de favelas recém-pacificadas do Rio de Janeiro como se fosse um ambiente aquático. Peixes e tubarões aparecem como figuras metafóricas, que representam a população daqueles locais convivendo com as unidades de polícia pacificadoras.
A fotógrafa também fez outros trabalhos no Brasil. Foi no nosso país que ela começou a série “Clube dos Cavalheiros”, mais realista e documental, uma série de fotografias de clientes de prostitutas. Na entrevista com a revista Zum, Middel explica a proposta: mostrar o lado da prostituição que geralmente fica oculta nos registros.
Também foi no Brasil que ela conheceu o parceiro Bruno Moraes, com quem elaborou um de seus projetos pessoais mais interessantes: a série Exu. A série de fotografias conta a jornada de Exu, um espírito que representa transformação, e suas diferentes representações passando por Benim, Cuba, Brasil e Haiti, retratando espiritualidade de forma poética e quase surreal, mas claramente contando uma história.
Cristina de Middel é uma fotógrafa muito interessante justamente por fugir das linguagens convencionais, explorando os limites entre ficção e fato em seus projetos. Ela tem vários outros trabalhos cativantes, que podem ser conferidos em seu site, que também tem uma estética diferente da maioria.

Confira alguns trabalhos da fotógrafa:

Legenda: de série Clube de Cavalheiros, Cristina de Middel.
Descrição: um homem encosta em um espelho manchado em um ambiente que remete a um quarto simples.

Legenda: da série Exu, Cristina de Middel e Bruno Morais (Brasil, 2016).
Descrição: vemos um homem de terno branco e chapéu tampando o rosto saindo do mar no Rio de Janeiro.

Legenda: da série Exu, Cristina de Middel e Bruno Morais (Benim, 2016).
Descrição: vemos uma pessoa de costas segurando um pano vermelho sendo soprado pelo vento na praia.
Legenda: da série Afronautas, Cristina de Middel (2011).
Descrição: um homem com um traje que remete a um astronauta, porém com materiais mais caseiros. O capacete está aberto e o cabelo cacheado tampa os olhos da pessoa. Ao fundo vemos um campo e um muro que parece cercar um lixão.

Legenda: do livro Sharkification  (2016), Cristina de Middel
Descrição: colagem com um menino sem camisa correndo por uma rua com um filtro azulado e um tubarão passando na frente.

Legenda: da série Afronautas, Cristina de Middel (2011)
Descrição: um homem com um traje de astronauta colorido e estampado. 

Já conhecia o trabalho de Middel? Comente outros fotógrafos que você gostaria de ver em uma galeria aí embaixo. E se você gostou do nosso conteúdo siga o nosso perfil no Instagram e assine a newsletter para receber uma seleção de textos temática em seu email todo mês.

Links, Referências e Créditos

A Cores ou P&B

Já ficou em dúvida na hora de optar por fotos a cores ou em preto e branco? O texto de hoje é para você!

Já ficou em dúvida na hora de optar por fotos a cores ou em preto e branco? O texto de hoje é para você!

Já ficou em dúvida na hora de optar por fotos a cores ou em preto e branco? O texto de hoje é para você!

Os primeiros filmes fotográficos coloridos a serem comercializados foram os autocromos dos irmãos Lumiére que suurgiram em 1907, mas a fotografia colorida só começou a fazer mais sucesso com o grande público em 1942 com o lançamento do Kodacolor. Muitos fotógrafos se recusaram a fotografar com filmes coloridos em um primeiro momento. Henri Cartier Bresson foi um deles. Ele escreveu em seu livro “O Momento Decisivo” (1952) que filmes coloridos não deveriam ser usados devido aos tempos de exposição mais longos que eram necessários. Hoje, com a tecnologia digital, o sensor capta as informações de cor que podem ou não ser desprezadas caso deseje-se que a fotografia seja em PB. O próprio Bresson acabou cedendo e fotografou em cores posteriormente.

As fotos em cores caíram no gosto popular, e ao longo da década de 70 a maioria esmagadora das revistas publicaram fotos coloridas em suas capas e fotorreportagens, já que elas eram mais atrativas para o público e a tecnologia avançou e permitiu a impressão de fotos em alta definição. Com isso, o preto e branco passou a ser considerado obsoleto. Ainda assim, a fotografia em P&B não foi totalmente abandonada. Hoje, a decisão de  se produzir uma imagem com cores ou sem elas não implica necessariamente uma limitação tecnológica. Ao contrário, princípios de composição e sentidos estéticos as tornam distintas da fotografia em cores.

Talvez você já tenha ouvido falar em cores primárias e secundárias, em tons quentes e tons frios e até mesmo na psicologia das cores. É  possível começar a perceber que a composição visual e as cores presentes na foto podem fazer toda a diferença no resultado final. As fotos coloridas são ideais caso deseje-se passar sensações térmicas como calor e frio, sendo responsáveis pela sugestão de sensações que podem dizer tanto de um horário ou localidade geográfica, clima e até mesmo emoções humanas. Uma foto tirada durante o dia, em uma praia, mostrando uma família brincando feliz, usualmente trará a presença de cores quentes, como o laranja e o amarelo, enquanto uma foto mostrando uma pessoa em estado introspectivo, lendo um livro em um dia frio e chuvoso provavelmente terá cores frias, como tons de azul.

Ainda nesse sentido, as cores podem auxiliar na produção de uma narrativa fotográfica, já que as cores carregam significados, sendo cores quentes usualmente ligadas à sentimentos alegres, festivos e apaixonantes, enquanto as cores frias estão ligadas à tranquilidade, à introspecção ou à tristeza. Em geral, as fotos coloridas também prendem a atenção, em especial quando são trabalhados os contrastes e harmonias entre as cores.

Um exemplo de fotógrafo que trabalha bastante com a cor  é o norte-americano David LaChapelle, que vem trabalhando com fotografia desde a década de 80 e tem um trabalho que mistura referências da arte clássica, barroca e elementos da cultura pop. LaChapelle trabalha sobretudo com fotos com cenários montados e muita pós produção, com tratamento de imagem e um uso de contraste forte, brilhante e chamativo nas cores, o que as dá ares de fantasia.

Uma mulher adulta negra está com uma mão dada à uma menina negra em meio à uma rua. Ambas estão de frente para a câmera, usam roupas cor de rosa chamativas que contrastam com o restante da imagem. Há quatro casas ao fundo, sendo a primeira do lado direito encoberta por um tecido da mesma cor que a das roupas das modelos. 
David LaChapelle. This is My House. 1977.

Na fotografia “This is My House”, é possível notar como a cor é um elemento chamativo e importante. Há uma harmonia nos tons pastéis do ambiente, como nas três casas vistas ao fundo, mas o tom de rosa elétrico presente nos trajes das modelos, uma mulher adulta e uma menina, ambas negras, também presente na casa na extremidade direita da imagem, roubam a cena e fazem com que a atenção concentre-se sobretudo nelas, permitindo também compreender que a casa, aparentemente envolta por completo em um tecido cor de rosa, é provavelmente a mencionada no título da obra. A casa onde residem as personagens retratadas, que posam para a câmera com atitude.

Já as fotos em preto e branco não transmitem a temperatura de uma cena, mas elas tem suas vantagens. Cores podem desviar a atenção do objeto principal da foto, mas isso não acontece no caso das fotos em preto e branco. Muitos fotógrafos preferem a ausência de cores na hora de fazer retratos, pois assim, há destaque para as expressões faciais ou padrões e formas geométricas.

Outra vantagem da ausência de cores nas fotos é que o contraste entre os locais iluminados e escuros fica muito mais claro. Por isso, fotos em preto e branco são excelentes quando o objetivo principal é retratar como a luz está se comportando. Do ponto de vista técnico, o preto e branco tem a vantagem de apresentar menos ruído que as fotos coloridas, além de ser uma escolha interessante para fotógrafos que pretendem usar a técnica do High Dynamic Range nos softwares de edição, já que o resultado da mesclagem de fotos em preto e branco tende a ser mais sutil que o das fotos coloridas.

O famoso fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é um dos principais nomes da fotografia em preto e branco da atualidade. Todos os seus fotolivros publicados até hoje são compostos inteiramente de imagens em P&B. Segundo ele, esse tipo de fotografia faz com que o espectador tenha uma conexão maior com o objeto fotografado, seja ele uma pessoa, um animal ou uma paisagem. Muitos ainda consideram Salgado como sendo o responsável por reviver a fotografia em preto e branco depois que as coloridas tomaram conta dos jornais e revistas.

Na foto podemos ver um homem parado com as mãos na cintura olhando diretamente para a câmera. Ele está coberto de lama, em sua cabeça está amarrado um pano, ele usa uma camiseta que está amarrada, e um short. O fundo está desfocado, mas podemos perceber que existem vários homens trabalhando no local.

Sebastião Salgado, Serra Pelada, 1986

Nessa foto, podemos ver várias das mais importantes características das fotos em preto e branco. O olhar do homem é o que mais chama a atenção devido ao grande contraste entre o branco da esclera e todo o ambiente à sua volta. A textura de suas roupas também é muito importante para a composição da foto, pois mostra bem como o homem está coberto de lama e isso ajuda a perceber as difíceis condições de trabalho em Serra Pelada.

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Texto escrito em co-autoria com Pedro Olavo. 

Links, Referências e Créditos

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Não me lembro quando, onde, e muito menos por que assisti pela primeira vez “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, mas sei que esse filme me marcou de uma maneira indizível – embora ironicamente eu esteja escrevendo tentando colocar tal sentimento em palavras.

 Entenda como a fotografia marca a história do filme francês que conquistou pessoas ao redor do mundo e tornou-se referência cult. 

Não me lembro quando, onde, e muito menos por que assisti pela primeira vez “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, mas sei que esse filme me marcou de uma maneira indizível – embora ironicamente eu esteja escrevendo tentando colocar tal sentimento em palavras. A história de uma jovem que, devido a um equivocado diagnóstico de doença cardíaca, cresce longe do convívio com outras crianças e constrói para si um mundo próprio, aprendendo também a encontrar prazeres em coisas simples da vida, talvez até quase imperceptíveis aos outros em suas vivências cotidianas. De relato biográfico, para fábula sobre fazer boas ações sem esperar nada em troca, para um romance açucarado, o filme francês de 2001, dirigido por Jean Pierre Jeunet, foi um sucesso de público e crítica, tendo sido indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, e outros. Com uma personagem sensível aos pequenos detalhes ao seu redor, uma direção de arte marcada por uma paleta de cores de verdes e vermelhos contrastante, e uma história que pouco a pouco vai nos conquistando, gerando identificação e choque ao notar como deixamos passar o dia sem notar suas pequenas maravilhas, o filme tornou-se uma referência cult, tendo uma boa quantidade de fãs e recentemente, adaptado para um musical na Broadway. Mas é a fotografia – e aqui não me refiro à cinematografia, um dos destaques mencionados, mas à imagem fotográfica, sua materialidade e seu poder de carregar afetos, que me rouba a atenção e me motiva a escrever esse texto. Acontece que quando criança, Amélie ganha de presente de sua mãe uma câmera, mas um vizinho, agindo de má fé, faz com que ela, após fotografar a tarde toda e presenciar um acidente de carro, acredite que a máquina causava acidentes. A fotografia volta a marcar presença ao longo do filme e mostra-se relevante uma vez que um dos principais eixos da narrativa gira em torno de um álbum de fotografias misterioso.

 
Cena de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). O curioso álbum de fotografias desperta o interesse de Amélie e muda seu destino.

Um dia, Amélie se depara com um homem que catava pedaços rasgados de fotografias do chão de uma cabine fotográfica. Ela se apaixona por ele ali mesmo, sem jamais ter o conhecido ou sequer falado com ele. Quando o jovem sai correndo tentando parar um homem que esqueceu alguma coisa, ela vai atrás e acaba pegando uma mala que cai da bicicleta do rapaz desconhecido. O que há dentro da mala muda seu destino que, até então, parecia ter seu sentido em fazer pequenos gestos de bondade aos outros, sem no entanto mudar a solidão de Amélie, que cultivava uma relação de pouca comunicação com o pai, que por sua vez, recusava-se a viver a vida e viajar após a morte da esposa. 

O álbum desperta o fascínio de Amélie por possuir uma vasta coleção de fotografias de estranhos que haviam sido descartadas, rasgadas, e ali estavam coladas e catalogadas. Há ali fotografias de um homem misterioso, que surgia diversas vezes, sempre com a mesma expressão. É interessante como em certo momento, ao conversar com o velho pintor Raymond sobre quem poderia ser o sujeito, Amelie chega à conclusão que só poderia ser um morto que manda sua imagem vinda do além temendo cair em esquecimento pelos vivos, o que parece remeter ao pensamento de que a fotografia seria uma maneira de superar a própria ação do tempo e da morte, mantendo congelado um momento da história para a eternidade.  

Ao mesmo tempo que Amélie quer descobrir a identidade do estranho, inicia um plano para conhecer seu amado, em que a fotografia faz parte crucial para isso, uma vez que é através dela que começa a comunicar-se com ele, sempre disfarçada e segurando mensagens escritas para que possa vê-lo em um determinado local e horário. Além disso, Amélie busca fazer com que o pai viaje pelo mundo e aproveite a vida, contando para isso com a ajuda de uma amiga aeromoça que leva consigo o querido anão de jardim do Sr. Poulain, enviando para a sua casa fotos do gnomo em pontos turísticos ao redor do mundo. No final, o médico aposentado que não queria sair de casa termina por fazer as malas e tomar um táxi em direção ao aeroporto internacional. 

Cena de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). O Sr. Poulain recebe em casa fotos de seu anão de jardim viajando o mundo.

É curioso como, não sendo um filme cujo assunto seja a fotografia, ela esteja presente de forma tão marcante. É mais um dos detalhes fabulosos do icônico filme francês que ainda consegue me emocionar ao assisti-lo pelo que acredito ser a 10ª vez. Não espero convencer nenhum leitor a assistir a esse filme com grandes expectativas que se espera de uma grande produção mainstream hollywoodiana. Sugiro que assista despretensiosamente, mas com o coração aberto. Trata-se de um filme feito de sutilezas, como o próprio olhar da personagem que lhe dá nome antevê, onde até mesmo uma fotografia sem graça rasgada pode levar a uma pequena reviravolta do destino. 

Você já assistiu ao filme? Conta pra gente nos comentários o que achou! E não se esqueça de seguir o Cultura Fotográfica no Instagram!

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