Entendendo Flash direto e rebatido

Durante a nossa série sobre os usos do flash, falamos sobre como o flash externo pode ser utilizado para controlar a iluminação sobre cenas, objetos ou pessoas fotografadas, utilizando os controles de potência e zoom.

Entenda de uma vez por todas  a diferença entre flash direto e flash rebatido!

Durante a nossa série sobre os usos do flash, falamos sobre como o flash externo pode ser utilizado para controlar a iluminação sobre cenas, objetos ou pessoas fotografadas, utilizando os controles de potência e zoom. No entanto, as diferenças entre o flash direto e o flash rebatido não foram exploradas de forma clara, motivo pelo qual o #fotografetododia dedica-se a esse assunto.

Um noivo usando roupa social preta é visto à esquerda, com olhar baixo e um leve sorriso, e uma noiva usando vestido branco, com luvas de renda e véu é vista à direita, com as mãos ao rosto enxugando lágrimas. Ao fundo são  visíveis alguns convidados. 
 Nan Goldin. Cookie and Vittorio’s wedding, New York City,1986

Usamos o flash para controlar a iluminação da cena que desejamos fotografar, sendo comum usá-lo durante a noite, em momentos como o amanhecer ou entardecer ou mesmo quando há alguma sombra indesejada se formando justo quando queremos fazer aquele registro perfeito. Mas, se você já tentou tirar fotos com o flash embutido de uma câmera digital ou com o flash do seu celular, deve ter ficado insatisfeito com os resultados ou pelo menos estranhado a forma como elas ficaram. Além de em tais fotos o primeiro plano ficar comumente superexposto (“estourado”), ocorre a formação de sombras muito marcadas/ duras.

Isso acontece porque o flash embutido produz uma luz direta e dura, ou seja, uma luz que incide diretamente naquilo que estamos fotografando, alcançando com mais intensidade objetos e pessoas próximas à ele. Tudo isso acaba deixando muito óbvio que aquela luz presente no registro é artificial e também torna a imagem bidimensional, perdendo-se a noção de profundidade. É por isso que há quem recomende evitar o uso do flash embutido (ou mesmo o flash externo usado de forma direta) para que tais (d)efeitos não ocorram.

Na foto que abre este texto, da fotógrafa americana Nan Goldin, é visível o uso do flash direto, com essa luz dura e esse resultado bidimensional. A foto, tirada durante o casamento de amigos da fotógrafa, traz um primeiro plano bastante iluminado, onde são visíveis  os dois personagens principais, sendo possível notar a formação de sombras bastante duras, marcadas, logo abaixo das mãos da noiva próximas ao rosto e seus braços, e também abaixo do queixo do noivo. Essas são as características de uma foto feita com um flash direto. Vale dizer que, apesar de tais características serem indesejáveis na maior parte do tempo, constituem marcas de estilo que tornaram a obra de Goldin famosa.

Uma mulher indiana é vista com vestimenta e joias usadas em cerimônias de casamento típicas. A cabeça está coberta pelo véu e a mão com tatuagens de henna afasta o tecido do rosto. A mulher está de olhos fechados e um leve sorriso.
Vinod Gajjar, sem título, Ahmedabad, 2019

Nesta segunda foto, feita pelo fotógrafo Vinod Gajjar de um noiva indiana, é possível que tenha sido usado o flash rebatido. Observando-a, é possível perceber que há uma iluminação sobre a noiva que difere da presente nos cantos da foto e no fundo. Essa luz não possui as sombras duras características do flash direto, ao contrário, as sombras são suaves, o que é possível através do uso de algum difusor de luz, que pode ser alguma superfície clara sobre à qual o flash é direcionado, sendo então rebatido sobre a modelo. Assim, alcançou-se uma iluminação suave e eficiente, ideal para esse tipo de ensaio fotográfico.

E aí? Entendeu melhor as diferenças entre o flash direto e o flash rebatido? Conta pra gente suas impressões e opiniões aqui nos comentários! E se quiser conhecer mais da obra da Nan Goldin, confere a #galeria dedicada a ela!

Alberto Korda

O retrato de Che Guevara, tirado quase por acaso no dia 5 de março de 1960, durante uma cerimônia em memória às vítimas da explosão de um barco que levava armamentos para a Revolução Cubana, enquanto Korda fazia fotografias para o jornal Revolución.

Conheça mais do fotógrafo consagrado por seu icônico retrato de Che Guevara na #galeria dessa semana!
 

 

É bastante provável que você já tenha visto a foto que estampa a chamada desta #galeria por aí, em algum folheto, bandeira, pichação, camiseta, adesivo… O retrato de Che Guevara, tirado quase por acaso no dia 5 de março de 1960, durante uma cerimônia em memória às vítimas da explosão de um barco que levava armamentos para a Revolução Cubana, enquanto Korda fazia fotografias para o jornal Revolución. A imagem só se tornou um “viral” em 1968, após o assassinato de Guevara. Foi quando o editor italiano Giacomo Feltrinelli a transformou em cartazes distribuídos pelas ruas européias. 

Alberto Korda é visto segurando uma câmera Nikon com as mãos, com o olhar fixado na lente que o fotografa. Veste blusa de botões e um relógio no pulso esquerdo. Olheiras embaixo dos olhos, rugas em sua testa, cabelos ralos e barba grisalha indicam sua idade já avançada. O fotógrafo tem a sobrancelha direita arqueada.
Autor Desconhecido. Retrato de Alberto Korda

Lembrado hoje como o responsável por aquela que é possivelmente a foto mais reproduzida da história, Alberto Korda nasceu em Havana, capital de Cuba, em 1928, e começou a trabalhar com fotografia fazendo registros de casamentos, aniversários e batizados. Não escondeu o fato de ter começado a trabalhar com fotografia de moda e publicidade para conhecer mulheres bonitas. Na verdade, o plano parece ter dado certo já que foi casado com uma modelo. Mas foi após se deparar com uma menina pobre fazendo de um pedaço de madeira a sua boneca que decidiu se aliar à ideologia socialista que dizia lutar contra aquele tipo de desigualdade, tornando-se o fotógrafo pessoal de Fidel Castro.  Trabalhando para o então presidente de Cuba, Korda buscou mostrá-lo em momentos de intimidade e simpatia, humanizando-o e assim, buscando desconstruir a imagem autoritária que o líder tinha nos demais países.

A modelo Norka é vista ao lado esquerdo da imagem, voltada para o lado direito, com a coluna jogada para trás e o olhar baixo acompanhando a inclinação do pescoço. Seu vestido é de renda branca. No cenário há uma bancada escura com dois jarros de vidro sobre ela e ao fundo, uma parede de tijolos brancos com um candelabro fixado.
Alberto Korda. Norka, 1956
Uma mulher usando vestido preto com bolinhas brancas, brincos e luvas brancas aparece segurando um cigarro com os dedos da mão direita. Está soprando fumaça pela boca e seu olhar, com ares de desafio, está voltado para baixo, encara a roleta de um jogo de azar. À sua frente é mostrado, parcialmente e à esquerda da imagem, um homem trajando terno e a encarando. Ao fundo, outro homem trajando terno observa ambos. É possível ver que há outras pessoas no ambiente e um lustre pendendo do teto do local.
Alberto Korda. Capa do ‘Diario de la Marina’. 1958.
Uma menina é vista segurando um pedaço de madeira como se fosse uma boneca.Seu vestido é simples e tanto o pano quanto seu rosto aparecem sujos. A menina encara a câmera com expressão triste e é possível ver lágrimas em seus olhos.
Alberto Korda. A Menina com a Boneca de Madeira, 1958
Um homem com roupas simples e chapéu é visto sentado no topo de um poste de luz. Abaixo dele há uma aglomeração de pessoas que comemoram o aniversário da Revolução Cubana.
Alberto Korda. El Quijote de La Farola, 26 de julho de 1959
Fidel Castro é visto usando camisa de botão, casaco e boné olhando para uma criança em um carrinho de bebê. Uma mulher é vista parcialmente à esquerda da imagem sorrindo e segurando o carrinho e outras pessoas são vistas no ambiente, dentre as quais um policial sorrindo enquanto olha Fidel Castro. A cena se passa no Central Park na cidade de Nova York.
Alberto Korda. No Zoológico no Bronx , New York. 24 de Abril de 1959.
Descrição: Fidel Castro é visto sorridente em uma sala com várias mulheres, estrelas da rádio em Nova York.
Alberto Korda. Fidel Castro e as rainhas da rádio em Nova York. 22 de Abril de 1959
Fidel Castro é visto discursando em um ponto elevado de um salão em forma de cúpula. À sua frente e ao redor há diversas pessoas, majoritariamente homens.
Alberto Korda. Fidel Castro discursando no Central Park, New York. 24 de Abril de 1959
Homens e mulheres são vistos em uma rua protestando contra a visita de Fidel Castro nos Estados Unidos. Seguram cartazes onde lê-se, em tradução livre: "Nós não gostamos de barbas / Barbeiros da América" e "Fidel Castro está traindo o povo de Cuba para Moscou!"
Alberto Korda. Protestando contra a visita de Fidel Castro aos E.U.A, Washington. 16 de Abril de 1959.
Homens e mulheres são vistos em uma rua segurando bandeiras da República Dominicana indicando sua nacionalidade. Trata-se de um ato de apoio à visita de Fidel Castro aos Estados Unidos.
Alberto Korda. Dominicanos exilados apoiando a visita de Fidel Castro aos E.U.A, Washington. 16 de Abril de 1959.
Manifestantes pró-cuba são vistos em uma rua. O ângulo indica que a imagem foi tirado de um ponto alto e provavelmente distante. É possível ver a multidão concentrada na parte superior da imagem enquanto na inferior há policiais. Um dos quais está com os braços estendidos e traz um bastão na mão direita, provavelmente tentando conter os manifestantes.
Alberto Korda. Manifestantes pró-Cuba no Harlem, Nova York. Setembro de 1960.
Che Guevara é visto contra um fundo branco usando um casaco e sua boina tradicional com os cabelos compridos e bagunçados surgindo debaixo dela. Seu olhar está voltado ao horizonte ao lado esquerdo na imagem. É possível ver um outro homem de perfil parcialmente ao lado esquerdo da imagem e uma planta ao lado direito.
Alberto Korda. El Guerrillero Heroico (versão sem corte). 1960.
Uma garota é vista em posição militar, vestindo camisa e boina segurando um rifle com a mão esquerda. Seu olhar está voltado para o lado direito da imagem e sua expressão é séria.
Alberto Korda. A Miliciana. 1962.

Gostou da #galeria dessa semana? Diz pra gente qual fase dos trabalhos de Alberto Korda você gostou mais lá no nosso grupo de discussão no Facebook!

Referências:

PALMA, Tiago. Como foi tirada a icónica (e influente) foto de Che Guevara. Observador, Lisboa, 09 de 0ut. de 2017. Disponível em <https://observador.pt/2017/10/09/como-foi-tirada-a-iconica-e-influente-foto-de-che-guevara/>. Acesso em: 28 de abr. de 2020

Links:

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Usando a potência do flash

Usar um flash externo pode parecer algo complicado e desafiador, mas desde que haja familiaridade com as suas funções e um olhar atento para as situações em que será utilizado pode-se obter resultados muito bons.

Na continuação da série sobre o flash, vamos entender sobre a potência e sua influência na iluminação das trabalhos fotográficos.

Usar um flash externo pode parecer algo complicado e desafiador, mas desde que haja familiaridade com as suas funções e um olhar atento para as situações em que será utilizado pode-se obter resultados muito bons. Na continuação da série sobre o flash, vamos nos concentrar em uma dessas configurações: a potência.

Usar um flash externo pode parecer algo complicado e desafiador, mas desde que haja familiaridade com as suas funções e um olhar atento para as situações em que será utilizado pode-se obter resultados muito bons. Na continuação da série sobre o flash, vamos nos concentrar em uma dessas configurações: a potência.

Um homem negro é visto no primeiro plano olhando diretamente para  a câmera. Está iluminado por um flash do lado esquerdo da imagem. Aparece trajando uma blusa branca e pulseiras no braço direito. Ao redor do pescoço há um tecido verde  esvoaçando-se  ao lado direito do corpo do homem e cobrindo o ombro esquerdo. O fundo é escuro, tornado difícil a visão da pessoa e do veículo ao fundo.
Bárbara Wagner. Sem título I (da série Jogo de Classe), 2013

A potência do flash é indicada por uma numeração conhecida como “número-guia” que indica a distância máxima que a luz produzida por aquele flash irá alcançar. Devemos ter em mente que o que irá determinar diversas características da foto, inclusive o quão longe essa luz irá alcançar, não dependerá apenas do flash e sua potência, mas dos demais fatores que deverão ser pensados e ajustados. A abertura do diafragma da lente da câmera e a velocidade do disparo do flash são extremamente importantes para isso, como mostram os exemplos mostrados neste artigo.

É importante lembrar que, quando usado no modo automático, a velocidade do disparo do flash será suficiente para iluminar apenas o primeiro plano da foto e não o fundo. Dificilmente um flash, por maior que seja a sua potência e por mais que se façam demais ajustes consegue iluminar objetos a grandes distâncias. Na tentativa de fazer isso no modo manual, o que pode acabar acontecendo é uma superexposição do primeiro plano, aparecendo como costumamos dizer, “estourado”.

Para obter um resultado em que ambos os planos apareçam de forma harmoniosa, é necessário usar os controles do diafragma para que haja uma maior captação de luz pela lente da câmera, já que assim será garantida a iluminação dos planos posteriores pela luz ambiente. Além disso, a velocidade do disparo do flash também influencia na captação da luz, sendo importante ajustá-la para conciliar essa captação de luz ambiente com a luz do flash.

Caso contrário, o primeiro plano aparecerá totalmente iluminado e até mesmo superexposto e o segundo plano, excessivamente escuro, quando não totalmente anulado. Isso acontece porque o tempo de disparo irá definir até onde a luz irá alcançar, de forma que com um flash muito rápido (como 1/40.000 segundos) apenas o primeiro plano será iluminado, enquanto, tendo em mãos um flash com grande potência e um tempo de disparo mais longo (como 1/1.000 segundos), os demais planos poderão também ser iluminados.

A imagem que abre esse #fotografetododia, assim como as demais apresentadas abaixo, são de autoria de Bárbara Wagner, fotógrafa brasileira original de Brasília que vive e trabalha em Recife e tem uma obra voltada principalmente à cultura popular e tradicional, participou de diversos projetos e bienais ao redor do mundo, tendo inclusive obras no acervo permanente dos museus MASP e MAM em São Paulo.

Analisando a primeira imagem, aparentemente tirada no período noturno, percebemos que a luz é dura e lateral, o que indica que um flash externo foi usado, localizado ao lado esquerdo da imagem. Sabemos que a combinação de flash com alta potência e diafragma aberto resulta em uma iluminação de grande alcance, o que não é o caso da foto em questão em que temos um primeiro plano bastante destacado do segundo.

Apesar de não ter como saber ao certo o quão potente é o flash utilizado, podemos observar que sombras duras são projetadas do lado oposto ao que é iluminado, cobrindo metade do rosto do modelo enquanto o segundo plano aparece muito escuro (subexposto) a ponto de não revelar quase nada dos demais elementos – uma pessoa parada, sem que seja possível identificar identidade ou gênero, e um veículo. Essas características podem indicar um tempo de disparo do flash mais rápido, iluminado com grande incidência apenas o primeiro plano.

É interessante notar também que os riscos luminosos ao canto inferior direito na imagem indicam que houve uma longa exposição do registro da lente, logo, o modelo foi congelado na foto pelo flash em velocidade de disparo alta. Nada disso, no entanto, indica falha ou má escolha por parte da fotógrafa, uma vez que tais características trazem dramaticidade ao registro, sendo este justamente o objetivo do ensaio chamado “Jogo de Classe”, que busca uma teatralidade de cena, representando visualmente as classes sociais a que os fotografados pertencem.

Nas imagens a seguir, temos mais uma fotografia para análise. Desta vez a imagem é fruto do projeto Offside Brazil em que fotógrafos estrangeiros e brasileiros buscaram registrar as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, realizada no país, revelando os entornos do evento marcado por manifestações e desigualdades sociais e assim, fazendo uma cobertura paralela às atenções voltadas aos jogos.

Uma mulher negra de pele clara é vista em pé com um bebê ao colo, olhando diretamente para a câmera com uma expressão séria. Ambos estão iluminados por flash direto. A mulher está descalça e traja shorts, uma camiseta laranja e uma touca rosa na cabeça. Segura o bebê enrolado em uma manta com o braço esquerdo e um guarda-sol com o braço direito. O chão é de terra; há um cão preto parcialmente ao lado esquerdo da imagem e  há vegetação e cabos de energia elétrica ao fundo.
Bárbara Wagner. Quilombo Castainho, Brasil. Offside Brazil, 2014

Enquanto a primeira imagem mostrada, do ensaio “Jogo de Classe”, traz um flash iluminando o personagem de forma intensa e com um segundo plano praticamente nulo, a segunda apresenta um uso muito mais sutil. Tirada no Quilombo Castainho, visivelmente durante o dia e a céu aberto, o uso do flash dá destaque à mãe e à criança fotografada, sendo perceptível o seu uso pelas sombras que se projetam de forma dura/marcada no corpo da mulher, diferente das sombras muito mais suaves/difusas a seus pés, provenientes da luz natural. Aqui, talvez coubesse o uso de um flash com potência menor ou um tempo de disparo da luz reduzido para suavizar a formação das sombras, mas não podemos deixar de levar em consideração a potência discursiva das escolhas, que tem muito a ver com revelar uma realidade que muitos não veem ou não conhecem.

Assim, chegamos ao fim de mais um #fotografetododia , segundo da série sobre flash, aprendendo mais sobre a potência e seus usos. É importante lembrar que quanto mais potente for o flash, maior a área que poderá ser iluminada, mas também, mais marcadas serão as sombras e maior será a diferença entre os planos. Daí a importância de equilibrar não apenas as configurações da velocidade de disparo do flash, mas também as da câmera, como a abertura do diafragma, a velocidade do obturador e o ISO, a fim de controlar até onde esta luz irá incidir e quanto da luz ambiente será registrada pela lente nos planos secundários.

Está gostando da série de #fotografetododia sobre flash? Não deixe de compartilhar com todo mundo que gosta de fotografia! Ah! E se tiver alguma dúvida ou dica, mande lá no nosso grupo de discussão no Facebook! Até semana que vem!

Dificuldade 4: Você vai precisar de uma boa câmera e alguns conhecimentos.

Referências:

HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia. 2ª ed. São paulo: Editora Senac, 2005. p. 168-169.

CUNHA, Juliana. Bárbara Wagner entre Deus e Estelita: dois ensaios para o OFFSIDE BRAZIL. Revista ZUM. Disponível em<https://revistazum.com.br/offsidebrazil/barbara-wagner/> Acesso em 28 de abr. de 2020

Links:

Site de Bárbara Wagner
Tumblr do Projeto Offside Brazil

Na continuação da série sobre o flash, vamos entender sobre a potência e sua influência nos resultados na iluminação das trabalhos fotográficos.
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Dupla Exposição

Dupla Exposição é um livro que adquiri por acaso. Encontrei-o em uma livraria na minha cidade natal meio largado em um canto. 

O #dicade dessa semana é sobre um livro que une a linguagem verbal e a visual em uma narrativa sensível e nostálgica.

Dupla Exposição é um livro que adquiri por acaso. Encontrei-o em uma livraria na minha cidade natal meio largado em um canto.  A capa me chamou a atenção por ser uma daquelas edições cobertas por uma película semi-transparente (que guardei separada em casa com medo de estragá-la), mas foi só quando o abri para folheá-lo e li o texto de apresentação, escrito por Maria Esther Maciel, escritora e professora de Teoria da Literatura e Literatura Comparada da UFMG, que senti que precisava mergulhar naquela leitura.

A imagem mostra o livro Dupla Exposição sobre uma mesa branca ao lado de uma xícara de porcelana. Na fotografia da capa, uma mulher de costas usando blusa larga e branca é vista de costas. Sobre ela é projetada uma imagem com uma mulher em pé em um campo aberto.
Capa do livro Dupla Exposição, Editora Rocco. Imagem de capa por Elisa Pessoa, 2016.

No tal texto, Maciel começa falando sobre como o livro não cabe em classificações, com textos e imagens mantendo uma relação instável, ora afastando-se, ora aproximando-se. Desejei ver de perto como funcionaria uma obra em que texto e imagem se comunicam, não com as imagens servindo ao texto como ilustração nem mesmo como complemento, mas como parte integrante e igualmente relevante dos caminhos narrativos.  Além disso, é anunciada a ideia de mistura entre real e ficção, que é algo que já me chama a atenção a bastante tempo em obras literárias.

O livro é composto por diversos textos curtos, escritos por Paloma Vidal, escritora e professora de Teoria Literária na UNIFESP, nascida em Buenos Aires e residente do Brasil desde os dois anos de idade. São eles: Please Come Flying; EFA; Sun In An Empty Room; Sempre a Partida; Venice; Tavistock Square; 10 Exercícios Para; Un Petit Noir Comme Celui-Là; Melancolia: Modo de Usar. Cada um deles escrito em primeira pessoa, revelando os pensamentos da narradora-personagem e promovendo uma sensação de intimidade por parecerem ter saído de cartas, diários e anotações pessoais.

Enquanto isso, as imagens são obra de Elisa Pessoa, brasileira que, em Paris, formou-se em Artes Plásticas e começou seu trabalho com a fotografia e o vídeo, continuados após o retorno para o Brasil com produções em forma de vídeo-instalações e intervenções urbanas. Distribuídas ao longo das páginas, seja dividindo espaço com os textos, seja ganhando destaque sozinhas, as fotos apresentam personagens femininas com ares de mistério, utilizando os efeitos de dupla exposição e hologramas, assemelhando-se em muitos momentos a uma performance, em que a mulher vista em muitas das imagens movimenta-se frente a projeções de cidades e fotos antigas.

O livro é visto aberto sobre uma mesa branca, onde há também um arranjo de flores e uma xícara de porcelana. Uma mão segura o livro do lado esquerdo. Na página esquerda há uma fotografia mostrando a silhueta de uma mulher em movimento. Sobre ela, é projetada uma imagem de prédios urbanos com arquitetura européia.
Visão interna do livro Dupla Exposição, Editora Rocco. Foto de Elisa Pessoa, 2016.

É curiosa a forma como os temas são trabalhados nos textos e nas imagens, evocando a ideia de uma dupla exposição fotográfica em ambos os casos. Já no primeiro texto esse aspecto é revelado, baseando-se em um ensaio da escritora e poetisa Elizabeth Bishop sobre sua relação com a também poeta Marianne Moore. Em uma mistura de recorte do texto da autora e observações de uma leitora desejosa por mostrar o seu fascínio por ele, há a formação de um “dupla exposição textual” revelando que o título do livro não justifica-se apenas pela estética do conteúdo visual. É ainda mais fascinante notar os diferentes artifícios usados para evocar tal ideia, utilizando tempos diferentes (passado e presente), diálogos e pensamentos, além de fluxos mentais.

As fotografias revelam muito da nostalgia que os textos carregam. Quando a narradora lembra suas passagens por Paris ou Alemanha e os acontecimentos que a deixaram de alguma forma marcada, há imagens em que são projetadas cenas urbanas que lembram a arquitetura européia. A narradora deixa claro ao longo de todo o livro como arquivos pessoais são importantes para ela. Fotografias, cartas e diários são constantemente evocados e vemos imagens que parecem ter sido retiradas de um álbum de família empoeirado.

Assim, Dupla Exposição, fruto desta parceria entre artistas de duas áreas distintas, consegue funcionar quando lidos apenas os textos; apenas as imagens ou, como proposto, ambos juntos, sem perder a aura nostálgica e a ideia de uma viagem temporal em pensamento, como o sentimento que toma conta da mente ao observar nossas fotos antigas e lembranças carregadas de afetos.

Se interessou pelo livro? No site da Editora Rocco tem a lista de lojas on-line em que você pode comprá-lo: https://www.rocco.com.br/livro/?cod=2803 

Referência:

VIDAL, Paloma; PESSOA, Elisa. Dupla Exposição. 1ª ed. Rio de Janeiro: Anfiteatro – Editora Rocco, 2016.
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Robert Mapplethorpe

Robert Mapplethorpe foi um fotógrafo americano que, após ter obras recusadas por galerias e museus, foi alçado à fama sendo cultuado até hoje como um dos artistas mais importantes – e polêmicos – de sua geração.

Robert Mapplethorpe foi um fotógrafo americano que, após ter obras recusadas por galerias e museus, foi alçado à fama sendo cultuado até hoje como um dos artistas mais importantes – e polêmicos – de sua geração. Criador de uma obra marcada pelo erotismo, levou aos olhos do público a cena gay sadomasoquista ao mesmo tempo que se descobriu sexualmente. Companheiro de longa data da cantora e poetisa Patti Smith, produziu arte junto a ela, como a icônica capa do disco Horses, e viveu com ela a cena punk que emergia na Nova York na década de 1970, incluindo encontros com figurões do meio artístico como Andy Warhol e Allen Ginsberg, noites agitadas em bares como o CBGB e a busca por criatividade e autenticidade em meio ao turbilhão de sexo, drogas e Rock n’ Roll no qual viviam morando juntos no lendário Hotel Chelsea. 

Auto-retrato de Robert Mapplethorpe em que o fotógrafo aparece apenas parcialmente na imagem à direita e com um braço estendido sobre um fundo branco.
Self-Portrait. 1975. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation  

Filho de pais católicos, Mapplethorpe teve uma infância regrada à qual buscou se opor em sua criação artística. “Costumávamos rir de nós mesmos quando crianças, dizendo que eu era uma menina má tentando ser boa e que ele era um bom menino tentando ser mau”. É dessa maneira que Patti Smith define a dualidade que existia entre si e Mapplethorpe no livro de memórias Só Garotos (2010). Pode-se dizer que dois acontecimentos mudaram o curso de sua vida pessoal e artística, quando após experimentar com as artes plásticas ganhou a sua primeira câmera Polaroid, encontrando-se na fotografia, e uma viagem que realizou para San Francisco quando ainda vivia ao lado de Smith, onde viveu experiências que levaram-no a descobrir-se como homossexual.

Mapplethorpe era um grande admirador de escultores como Michelangelo e buscou atingir aquele ideal de beleza em suas fotografias. Assim, algumas de suas fotografias mais famosas são nus masculinos e femininos, embora também tenha fotografado celebridades, crianças e flores, além de diversos auto-retratos. No entanto, são as fotografias que produziu representando o submundo da cultura gay sadomasoquista que se destacam em seu catálogo, sendo muitas tão explícitas que o próprio fotógrafo as considerava pornográficas. Devido ao teor de tais imagens, muitos museus e galerias se recusaram a exibi-las e quando o faziam, as expunham de forma reservada. Para contornar essa situação, contou com o apoio de um colecionador de arte chamado Sam Wagstaff, que também foi seu parceiro romântico e desempenhou uma grande influência na inserção de Mapplethorpe no mundo das artes.

Autorretrato de Robert Mapplethorpe onde ele aparece com uma corda amarrada ao seu tronco nu, como se ela o pendurasse. Suas mãos estão algemadas a uma corrente junto à corda, mantendo seus braços erguidos acima da cabeça e os olhos estão vendados. A boca levemente aberta pode ser um indício de prazer.
Untitled (Bondage). 1973. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation.
Autorretrato de Robert Mapplethorpe mostrando-o sentado semi-nu sobre um grosso tecido branco. Com a cabeça voltada para baixo e olhar distante, sua única vestimenta parece ser um tipo de colant preto com uma grande fenda revelando a maior parte de seu peito e barriga, estendendo-se até a púbis e cobrindo apenas os órgãos genitais.
Untitled (Self Portrait). 1973. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation.
Autorretrato de Robert Mapplethorpe mostrando-o com um braço erguido segurando um cabo elétrico. Apenas cabeça, ombro e braço direito são vistos, ocupando sobretudo a parte inferior da imagem. A cabeça e olhar de Mapplethorpe estão voltados para o lado direito. O fundo é formado por uma parede de tijolos cobertos por massa branca.
Self Portrait. 1974. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation.
O retrato mostra a cantora e poetisa Patti Smith, companheira de Robert Mapplethorpe durante anos, de pé diante de uma parede branca onde projeta-se um sutil triângulo de luz. Smith encara a câmera com semblante sóbrio. Traz a mão direita ao peito e a esquerda segura o paletó preto jogado por cima do ombro esquerdo.  Sua vestimenta,  camisa branca, calça preta e gravata preta desatada, assim como o corte de cabelo desgrenhado resultam em um visual andrógino. Trata-se da foto de capa do álbum Horses, o primeiro da carreira de Smith. O minúsculo cavalo prateado que enfeita o paletó faz referência ao nome do disco, uma vez que Horses significa cavalo em inglês.
Patti Smith (Horses cover). 1975. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
A cantora e poetisa Patti Smith é vista sentada nua em um chão de madeira, com o corpo magro virado para o lado esquerdo, em frente à uma janela, porém com a cabeça e olhar voltados para a câmera. Seus joelhos dobrados de forma que as pernas cobrem os seios e as mãos segurando barras de metal à sua frente.
Patti Smith. 1976. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
A foto mostra um homem ajoelhado em uma sala de aspecto sujo e escuro, segurando-se a uma escada à sua frente, com um quadrado de luz iluminado-o. O homem está sem camisa, usa calça, botas e luvas de couro e sua cabeça totalmente coberta por uma máscara do mesmo material. Tais vestimentas são comumente usadas em práticas sexuais sadomasoquistas.
Jim, Sausalito. 1977. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Autorretrato de Robert Mapplethorpe. Usando jaqueta de couro, Mapplethorpe encara a câmera com expressão sóbria. Apenas o busto é visível, com parte do rosto iluminado em contraste com um fundo preto.
Self Portrait. 1980. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Autorretrato de Robert Mapplethorpe. Em contraste com o autorretrato anterior, nesta imagem Mapplethorpe aparece travestido, usando maquiagem e um casaco de pelos de estilo feminino. Semelhantemente a foto anterior, apenas o busto é visível, com uma luz sobre o rosto e fundo preto.
Self Portrait. 1980. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Nesta fotografia, o modelo aparece de costas para câmera em frente a um fundo preto. Traja uma jaqueta preta com diversos dizeres que lembram o estilo punk que estava em alta na época.
Nick Marden. 1980. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Retrato do busto de Iggy Pop, cantor e musicista de grande influência na cena musical alternativa das décadas de 70 e 80. Conhecido por seu estilo e comportamento irreverente, aparece na fotografia de espanto ou surpresa, com os olhos arregaladas e boca um pouco aberta, sendo visíveis seus dentes desalinhados e linhas de expressão. O fundo, como na maior parte das fotografias de Mapplethorpe, é nulo.
Iggy Pop. 1981. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Autorretrato de Robert Mapplethorpe em que ele aparece apenas da cintura para cima usando um sobretudo preto de couro e luvas do mesmo material, empunhando uma espingarda. Seu olhar e expressão faciais são sérios. Ao fundo, há uma estrela de cinco pontas posicionada como o pentagrama satânico.
Self Portrait. 1983. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Retrato do tronco do corpo de um homem negro. Há uma toalha amarrada à cintura e é notável a musculatura do modelo.
Derrick Cross. 1983. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Retrato da cantora Grace Jones, famosa nas décadas de 70 e 80. Na imagem, Jones aparece com o corpo pintado com tinta branca formando desenhos tribais, usando um chapéu ritualísticos e espirais que formam cones cobrindo os seios. Seus braços estão erguidos com as palmas das mãos abertas à altura da cabeça.
Grace Jones. 1984. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Retrato de dois modelos masculinos, sendo um negro e um branco. Ambos são carecas e estão sem camisa, dando destaque para a cor da pele de ambos, sendo possível notar o forte contraste entre elas. São mostrados apenas à altura do busto,  voltados para o lado esquerdo. O negro está com os olhos fechados e o branco, encaixado logo atrás com a cabeça por cima do ombro do primeiro, está com os olhos abertos.
Ken Moody and Robert Sherman. 1984. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Retrato de um casal homossexual masculino. Ambos usam coroas em suas cabeças. O casal parece estar dançando romanticamente, abraçados, com um dos rapazes descansando a cabeça no ombro do parceiro, e braços estendidos com as mãos dadas em direção ao fundo preto.
Two Men Dancing. 1984. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Autorretrato de Robert Mapplethorpe onde é o seu busto é visto sobre um fundo preto. Seu rosto e seu olhar estão voltados para a esquerda. O tempo de exposição da lente registrou o movimento da cabeça, criando um vulto fantasmagórico na imagem.
Self portrait. 1985. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation.
Auto Retrato do busto de Robert Mapplethorpe. Ele está levemente voltado para o lado direito, iluminado por uma luz forte em contraste com um fundo preto. Seu olhar e expressão facial são sérios, até mesmo intimidadores e em sua cabeça há chifres demoníacos.
Self Portrait. 1985. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation.
Retrato de um homem negro dentro de uma forma cilíndrica. Seu corpo está completamente nu e sua pose, em pé e com as costas e cabeça inclinadas fazem com que seu rosto esconda-se entre os joelhos. As mãos tocam as paredes, estando o braço direito baixo acompanhando a inclinação na qual se encontra enquanto o braço esquerdo inclina-se opostamente, acima da cabeça.
Thomas. 1987. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation
Autorretrato de Robert Mapplethorpe. Vestido com roupas pretas, seu corpo e o fundo parecem fundir-se, havendo apenas dois pontos de visão na imagem, a mão direita, que segura um cajado com uma pequena caveira na extremidade e sua cabeça, que parece flutuar em meio a escuridão encarando a câmera. Na época de criação desta imagem, Mapplethorpe já se encontrava infectado pelo vírus HIV, tendo falecido no ano seguinte por complicações em decorrência da AIDS.
Self Portrait. 1988. © Robert Mapplethorpe/ Robert Mapplethorpe Foundation

Gostou da nossa #galeria dessa semana? Qual foto do Robert Mapplethorpe você mais gostou? Conta pra gente lá no nosso Instagram!

Referências: 

SMITH, Patti. Só Garotos. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

ROIZMAN, Ilene. Robert Mapplethorpe’s Photography: BDSM and Beyond. In: Scene 360. 2016. Disponível em: <https://scene360.com/art/91031/robert-mapplethorpe/> Acesso em: 09 de Abr. de 2020

ARN, Jackson. Why Mapplethorpe’s Photographs Remain Subversive , Even without the Shock Value. In:  Artsy. 2019. Disponível em: <https://www.artsy.net/article/artsy-editorial-mapplethorpes-photographs-remain-subversive-shock-value> Acesso em 05 de Abr. de 2020

Links: 

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Introdução ao Flash

O flash é bastante conhecido e utilizado na produção fotográfica, mas existem muitas dúvidas relacionadas ao seu uso por quem não tem muita intimidade com o acessório.

Já tentou utilizar o flash e não curtiu o resultado? Acredite, isso é bastante comum.

O flash é bastante conhecido e utilizado na produção fotográfica, mas existem muitas dúvidas relacionadas ao seu uso por quem não tem muita intimidade com o acessório. Por este motivo, este artigo dedica-se a esclarecer um pouco as funções do flash e seus modos de uso.

Retrato do ator Otaviano Costa produzido pelo fotógrafo Jorge Bispo. O ator é visto em pé contra um fundo branco, trajando vestimentas no estilo esporte fino. É  visível o uso de flash e o ator, de forma cômica, estende os braços com as mãos abertas em direção à fonte de luz, como se buscasse  proteger-se dela.
Jorge Bispo. Otaviano Costa. 2012.

É bastante comum que o flash seja utilizado em fotos, principalmente durante os momentos de baixa incidência de luz como o amanhecer e o anoitecer e durante a noite, porém os resultados obtidos são muitas vezes decepcionantes, em geral porque deixam o primeiro plano muito destacado do segundo, criando um efeito estranho que diminui ou mesmo anula a percepção de profundidade nas fotos.

O flash é um recurso que pode ser utilizado para um maior controle sobre a luz da cena que será fotografada. Assim, pode ser utilizado tanto quando não há uma disponibilidade de luz satisfatória (mesmo com os ajustes na câmera de diafragma, obturador e ISO), quanto em situações onde apesar de haver luz disponível, ela não se comporta da maneira almejada – como quando há sombras indesejadas ou uma disparidade entre a iluminação do primeiro e segundo plano.

Em geral, fotógrafos não utilizam o flash embutido – aquele que já vem na câmera – e investem em flashes externos (conhecidos também como speedlight). Isso porque o embutido oferece poucas opções de controle ao fotógrafo, enquanto um flash externo pode ser ajustado em diferentes posições difundindo a luz, iluminando partes e ângulos específicos, criando efeitos e podendo ser usado tanto acoplado à câmera quanto de forma externa. Tem também o fato que o flash embutido possui uma luz frontal e dura e é daí que surgem características indesejáveis como um primeiro plano muito estourado e com aspecto bidimensional, perdendo a noção de profundidade.

Para usar o flash externo, que permite um controle maior sobre a luz que será aplicada, é preciso saber que existem as funções TTL e manual. A primeira é uma função automática que irá calcular quanto de luz será necessário para a foto. Já a função manual permite que o flash seja configurado de forma personalizada através dos controles de potência e zoom. Faremos um post só para falar destas duas funções, então fique ligado nas publicações do Cultura Fotográfica para aprender mais sobre o flash, seus usos e possibilidades!

O fotógrafo Jorge Bispo é filho de atores e percebeu que gostava de fotografar após comprar uma câmera para registrar momentos de ensaios e viagens da companhia de teatro da família. Possui diversos trabalhos  que vão de editoriais  e peças publicitárias à retratos de artistas como os atores Otaviano Costa e Rodrigo Santoro, que são utilizadas neste #fotografetododia. Formado em Artes Plásticas pela UFRJ, é reconhecido por imprimir sua personalidade em suas fotografias. Na foto abaixo, é possível observar o uso de flash sem que os planos fiquem excessivamente destacados um do outro.

Retrato do ator Rodrigo Santoro feito pelo fotógrafo Jorge Bispo. Na foto, o ator é visto de corpo inteiro e em pé em uma rua a céu aberto. Usa traje social na cor preta e encara a câmera com o corpo estático. O chão é irregular e há poças de água. Logo atrás do ator, um homem de guarda-chuva passa com um borrões indicando movimento.
Jorge Bispo. Rodrigo Santoro. 2009.

Enquanto o retrato de Otaviano Costa que abre este #fotografetododia é feito em estúdio, com fundo neutro e flash bastante visível e estourado, o retrato de Rodrigo Santoro foi feito em ambiente externo, onde há presença de luz natural. Ainda assim, é visível o uso de iluminação artificial sobre o ator, sobretudo no rosto. É interessante perceber que, mesmo em ambiente externos o flash é bem vindo para que haja uma boa compensação de luz entre os planos. Neste caso, se o flash não tivesse sido utilizado, o rosto do ator teria a mesma luminosidade do restante da foto que é um pouco mais escura uma vez que o dia parece estar nublado, como indicam as poças d’água e o uso de guarda-chuva pelo homem ao fundo. Além disso, ele apareceria borrado assim como o transeunte. Também deve-se notar que a sombra projetada no lado esquerdo do ator indica a posição em que o flash foi disparado. Logo, trata-se de um flash externo, do tipo que permite controle da intensidade da luz e do ângulo desejado.

Como podemos perceber, o flash pode ser um grande aliado na produção fotográfica tanto provendo iluminação extra quanto compensando a iluminação entre planos. Deve-se ter cuidado controlando a intensidade da luz e direcionado bem o ângulo  para que não formem-se sombras ou efeitos indesejados, como a perda de profundidade. Em breve, traremos mais informações sobre o flash! Até a próxima!

Dificuldade: É aqui que o bicho pega. Você vai precisar de uma boa câmera e alguns conhecimentos.

Referências:

MYRRHA, Camilla. Flash TTL x Manual | FOTO DICAS. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YEmI_HLdnd8>. Acesso em 06 de Abr. de 2020

Links:

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Pinterest

O Pinterest é uma rede social criada em 2009 que rapidamente ganhou adeptos, sendo a maior parte dos usuários pessoas que trabalham com ou são interessadas em fotografia, design, arquitetura e moda.

Procurando por um site com boas referências visuais e que ainda sirva como Portfólio para os seus próprios trabalhos? O Pinterest é a #dicade dessa semana!

O Pinterest é uma rede social criada em 2009 que rapidamente ganhou adeptos, sendo a maior parte dos usuários pessoas que trabalham com ou são interessadas em fotografia, design, arquitetura e moda. Considerado como uma rede social semelhante ao Instagram, o Pinterest tem como foco a publicação e circulação de imagens, sendo possível seguir perfis e salvar conteúdos chamados de “pins”.

O Pinterest é uma rede social criada em 2009 que rapidamente ganhou adeptos, sendo a maior parte dos usuários pessoas que trabalham com ou são interessadas em fotografia, design, arquitetura e moda. Considerado como uma rede social semelhante ao Instagram, o Pinterest tem como foco a publicação e circulação de imagens, sendo possível seguir perfis e salvar conteúdos chamados de “pins”.

Montagem feita com print da tela inicial do site Pinterest e logo oficial do site. O fundo surge desfocado e com baixa saturação enquanto a logo na cor vermelha surge à frente com destaque.
Montagem autoral

Tudo no Pinterest parece como um mundo de sonhos particular de designers e fotógrafos, com uma interface muito limpa e fácil de usar dando destaque completo às imagens que formam o seu conteúdo. Como toda rede social, é necessário fazer uma conta gratuita com um e-mail e uma senha. Logo em seguida, você poderá dar nome à sua conta e classificá-la como um negócio, caso queira utilizá-la para divulgar um produto ou serviço. Em seguida, você será apresentado a algumas ferramentas para que possa fazer as suas próprias postagens e por fim, poderá escolher os seus interesses para receber recomendações do site.

Print de tela do site Pinterest mostrando algumas opções de temas para serem escolhidos. No topo,, lê-se: “Escolha interesses para seu feed inicial. O feed inicial é uma coleção de Pins, ou seja, ideias com links de toda a Web”. Abaixo, alguns temas para serem escolhidos com uma imagem representativa de cada um. Lê-se: “Decoração; Faça você mesmo; Comida saudável; Frases inspiradoras; Comida e bebida; Doces e sobremesas/ Moda feminina casual; Acessórios femininos; Casamento; Wallpaper para celular”.
Print de tela

Uma das vantagens do Pinterest que  torna-o uma  ferramenta de pesquisa de imagens interessante está na sua organização por pastas. É possível encontrar diversas pastas organizadas por usuários a partir de uma pesquisa por palavras chaves como “casa”, “natureza” ou “comida”. Eu usei essa tática para encontrar algumas das imagens que utilizei na série sobre flash do #fotografetododia e consegui chegar aos arquivos originais com informações sobre autoria, ano de publicação e contexto. Isso é possível porque a maior parte dessas imagens possuem hiperlinks para os blogs e sites onde elas foram publicadas inicialmente.

Eu particularmente utilizo o site como ferramenta de pesquisa pessoal e para inspiração tanto para fotografia quanto para ilustração. Às vezes, gosto de navegar entre as pastas de diversos usuários e encontrar imagens que nunca tinha visto antes e tenho pastas com alguns dos meus “pins” favoritos salvos. É possível criá-las clicando em “salvar” no canto da imagem escolhida.

Além disso, há várias pessoas utilizando essa rede social para mostrar o seus próprios trabalhos fotográficos ou mesmo outros tipos de arte e empreendimentos. Os conteúdos costumam ter uma vida útil maior que em redes sociais como o Instagram e o Facebook por causa da forma como os algoritmos trabalham. Um conteúdo publicado no Instagram, por exemplo, seria exibido por um dia antes de ser encoberto por outras publicações enquanto pode continuar a ser recomendado no Pinterest por mais de um mês.

Então, o Pinterest mostra-se uma boa rede social para amantes de fotografia que desejam conhecer novos trabalhos sobre  assuntos de seu interesse ou mesmo divulgar as suas próprias criações, podendo tanto achar pastas interessantes quanto formular as suas próprias. No caso de quem pretende usar para mostrar seu trampo como fotógrafo, dá pra usar o perfil como portfólio para conseguir novos trabalhos.

E aí? Gostou da #dicade dessa semana? Conta pra gente suas descobertas no Pinterest no nosso grupo de discussão no Facebook! Até mais!

Links:

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Breve História da Fotografia

Há muito por trás do simples gesto de apertar um botão em uma máquina fotográfica.

Quer saber mais sobre a história da fotografia e conhecer trabalhos de fotógrafos incríveis? Então dá uma olhada neste #dicade livro!

Há muito por trás do simples gesto de apertar um botão em uma máquina fotográfica. Para além da técnica e suas múltiplas possibilidades criativas, existe uma vasta trajetória desde os primeiros experimentos com câmaras escuras até a aparente instantaneidade das imagens que produzimos hoje. Conhecer essa história pode ser revelador, não apenas por seu valor de conhecimento pessoal, mas também – e principalmente – como meio de compreender como a fotografia caminhou em direção ao que é hoje e como forma de obter-se referências fotográficas relevantes e inspiradoras. Por isso, o livro “Breve História da Fotografia”, de Ian Haydn Smith é uma boa opção de leitura tanto para curiosos quanto para grandes amantes da prática fotográfica.

Na foto, dois rapazes são vistos de perfil olhando para o horizonte ensolarado em cima de um trampolim de mergulho. Seus rostos não são visíveis e o fundo falso aparece desfocado.
A capa do livro Breve História da Fotografia. Editora GG, 2017. Foto: Mergulhadores. George Hoyningen-Huene: Cópia em Prata.

O livro foi publicado no Brasil em 2018 pela editora Gustavo Gili (GG), especializada em livros de arte, fotografia e design. Dividido em quatro partes (Gêneros, As Obras, Temas e Técnicas) apresenta textos curtos e imagens de referência para cada um deles, sendo esta a sua maior qualidade: falar sobre fotografia utilizando de fato uma grande quantidade de imagens. Ainda assim, em alguns momentos, o formato reduzido pode deixar a experiência de olhar para estas fotos a desejar. É na seção As Obras que as imagens ganham mais destaque, sendo 50 fotografias de diversos fotógrafos em diferentes contextos, desde aquela que é considerada a primeira imagem fotográfica, produzida por Nicéphore Niépce (1765-1833), um dos diversos inventores da fotografia que fazia experiências com a câmara escura, a nomes mais conhecidos e presentes na cultura pop como Alberto Korda, que produziu o icônico retrato de Che Guevara e Nick Ut, que fotografou a menina Phan Thi Kim Phúc correndo desesperadamente por uma estrada ao lado de outras crianças e soldados enquanto o seu corpo era consumido pelas chamas invisíveis do Napalm, uma das imagens mais marcantes da guerra no Vietnã. É possível notar que diversos fotógrafos se enquadram em mais de uma categoria, estando presentes em mais de uma seção do livro. São notáveis também possíveis associações entre temas e gêneros. 

A fotografia mostra Che Guevara, guerrilheiro argentino e revolucionário marxista, em ângulo contra-plongée (de baixo para cima), pose rígida, expressão facial séria e olhar fixo à sua direita. Seus cabelos compridos e bagunçados escapam por baixo de sua boina, uma de suas marcas registradas.
Che Guevara. Alberto Korda: Cópia em Prata.
A imagem mostra crianças correndo desesperadas por uma estrada. Ao lado e atrás, soldados as acompanham. Phan Thi KIm Phúc aparece no meio da estrada, nua, com a boca e os braços abertos. Embora não seja visível, estava queimando viva após ser atingida por Napalm.
Phan Thi Kim Phúc. Nick Ut: Cópia em Prata.

Temas e Técnicas retoma o formato de Gêneros, com as imagens presentes, porém recolhidas aos cantos das páginas. Tal seção pode ser interessante para conhecer os diferentes meios e materiais usados para se obter imagens fotográficas, embora seja, de todas, a que provavelmente menos chamará atenção para uma possível produção atual, uma vez que a tecnologia nos permite fazer registros com aparelhos bem mais fáceis de transportar, como nossos próprios celulares, sem grandes riscos de acidentes ao usar materiais como, por exemplo, o colódio de alumínio que é altamente inflamável.

Boa parte do livro apresenta textos e imagens que dão ênfase à palavra “história” do título. Entre o documental, o jornalístico e a captura das mais ordinárias das cenas cotidianas, várias das imagens possuem muito mais valor devido à seu momento de produção e seu contexto que por suas qualidades estéticas (e destaco a palavra estética e não técnica, afinal, todas foram produzidas por pessoas que sabiam – mais o menos – o que estavam fazendo). Esta trata-se de uma perspectiva subjetiva; pessoal. Não identifiquei em todas as imagens o poder de serem capazes de mover algo no interior de cada cujo o olhar demora sobre elas. Particularmente, nunca vi qualquer graça no retrato de Che Guevara, por exemplo. Pouco me importa suas características iconográficas. De Korda, prefiro El Quijote de La Farola, sua imagem surreal e quase cômica (a meu ver) de um senhor de idade tranquilamente repousando sobre um poste de luz em meio a uma multidão que comemorava o aniversário da revolução cubana.

Foram imagens menos óbvias – tanto antigas quanto contemporâneas – que verdadeiramente me chamaram a atenção, e aqui, em disparidade com o que é o objetivo do livro, pois as motivações do meu interesse foram mais estéticas que históricas. Seria uma falha da leitura que cometi? Não sei dizer ao certo. Apenas digo que uma foto feita por Edward Weston de um pimentão estranhamente humana me pareceu bem mais interessante que, sei lá, as fotos que William Anders tirou da Terra enquanto estava flutuando pela Lua. Mesmo com tais ressalvas, trata-se de uma leitura válida e bastante informativa, sobretudo na seção As Obras, com suas doses de imersão em obras específicas de cada fotógrafo.

A imagem em preto e branco mostra um pimentão maduro com sinais de apodrecimento dentro de um funil, que dá a curvatura com textura áspera na parte inferior e o fundo escuro na imagem. A imagem possui um nível de abstração que permite que se assemelhe a uma figura humana retorcida.
Pimentão n° 30. Edward Weston: Cópia em prata coloidal. 24×19,1 cm. Museu de Belas-Artes, Houston, Texas, Estados Unidos.
A fotografia foi tirada da Lua, cuja superfície branca e estéril é visível na parte inferior da imagem. À frente e à distância, a superfície azul da Terra é visível, parte iluminada pela luz solar, parte escondida pela escuridão total ao redor.
Nascer da Terra. William Anders: Ektachrome Colorido. Nasa, Estados Unidos.

E aí? Gostou da dica? Você pode adquirir o livro no site oficial da editora GG: https://ggili.com.br/breve-historia-da-fotografia-livro.html

 

Links, Referências e Créditos

SMITH, Ian Hayden. Breve história da fotografia: um guia de bolso dos principais gêneros, obras, temas e técnicas. São Paulo: Gustavo Gili, 2018.

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O que é fotojornalismo?

Fotos são registros do mundo real dotados de informações visuais a respeito do que foi registrado.

Fotos são registros do mundo real dotados de informações visuais a respeito do que foi registrado. Possuem possibilidades praticamente inesgotáveis, indo de ensaios artísticos a registros de festas de casamento ou aniversários, além de momentos importantes para a história da humanidade como guerras e manifestações. As fotos registram tais eventos no momento em que eles acontecem, permitindo que possamos revisitá-los através das imagens produzidas. Mas, o que diferencia uma fotografia do cotidiano tirada despretensiosamente de um trabalho fotojornalístico?

Na imagem, policiais uniformizados, com capacetes e cassetetes fazem uma abordagem truculenta frente a um homem, no meio de uma rua e em plena luz do dia. Pessoas são vistas ao fundo, algumas assistem a cena e outras parecem correr. O homem abordado é visto no primeiro plano e cai na tentativa de fugir.
Esta fotografia de Evandro Teixeira é um dos grandes registros da ditadura militar no Brasil. Na época, opositores ao governo eram perseguidos, presos, interrogados e muitas das vezes torturados e mortos.

O professor e pesquisador Jorge Pedro Sousa (2002) escreveu muito a respeito do fotojornalismo e o define como uma atividade fotográfica em que há por fim a documentação ou a informação. Ele ainda diferencia fotojornalismo de fotodocumentarismo, sendo o tempo dedicado a cada atividade, atrelado às diferentes metodologias de trabalho, o que delimita essa diferença. Enquanto o fotodocumentarista tende a trabalhar por projeto, se dedicando por mais tempo ao tema, escolhendo métodos de elaboração e abordagem; o fotojornalista, por sua vez, lida com acontecimentos imprevistos, fatos cotidianos e ainda deve atender às demandas da empresa na qual trabalha.

Os três artistas aparecem deitados em mesas de um bar, durante a comemoração do aniversário de Vinicius de Moraes.
Nesta foto, Evandro Teixeira registrou um momento de descontração entre Chico Buarque de Hollanda, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, grandes nomes da música, composição e literatura brasileiras, respectivamente. A ocasião tratava-se do aniversário de Morais.

Nesse sentido, Angie Biondi (2014), professora e pesquisadora, no capítulo “Fotojornalismo: um campo, uma atividade ou um objeto”, do livro “Para entender o jornalismo”, deixa demarcados dois gêneros para compreender as relações que se desenvolvem entre o fotojornalista e os fatos registrados. São eles spot news e feature photos. O primeiro se refere aos flagrantes, quando o fotojornalista presencia o fato e rapidamente precisa registrá-lo no momento em que ele se desenrola, não tendo assim muito controle sobre a foto. Já o segundo é mais aplicado às reportagens, onde as imagens produzidas servem mais como modo de “ilustrar, exemplificar ou comprovar” o ocorrido, passando por uma elaboração prévia, como explica Biondi. De certo, a ideia de feature photos parece se mesclar à de fotodocumentarismo, mas é importante lembrar que tais divisões não constituem um conceito fechado, e sim, como apontado pela própria autora, servem para “orientar o entendimento sobre a produção fotojornalística”.

Jorge Pedro Sousa (2002) coloca como questão em um de seus livros se todas as fotografias publicadas em jornais e revistas seriam de fato fotojornalísticas, e esclarece que, para ser considerada como tal, a fotografia precisa possuir valor jornalístico, ou, valor-notícia, levando informações de relevância junto ao texto que constitui. Então, não basta que a foto seja um registro de um acontecimento do cotidiano, até porque, todos os dias, milhares de eventos ocorrem em todos os cantos do mundo, e não são todos que se tornam notícia, principalmente ao se fazer delimitações de relevância, como o impacto regional, nacional ou mundial. Para que a foto seja jornalística, ela precisa possuir um caráter informativo e, em geral, estar acompanhada por uma notícia ou reportagem, uma vez que não é possível passar muitas informações importantes apenas através da linguagem visual. 

No texto “Usos Jornalísticos da Fotografia”, a autora Dulcilia Buitoni (2011), usando como referência o pesquisador espanhol Pepe Baeza, explica que, para ser considerada fotojornalística, a foto tem que ter sido planejada pelo corpo editorial da mídia na qual é veiculada, seja a imagem produzida pelos jornalistas da empresa ou comprada, diferenciando-se assim das fotografias publicitárias, que também são veiculadas por esses meios.

Um bom exemplo de fotojornalista é o baiano Evandro Teixeira, que possui trabalhos diversificados na área, tendo registrado momentos marcantes da história do Brasil a partir da década de 60. As fotografias que aparecem ao longo deste artigo são de sua autoria, sendo possível notar a variedade de temas possíveis de serem trabalhados. Como última imagem, destaco este retrato feito na comunidade Vila do João, no Rio de Janeiro, em 1988. Construído como conjunto habitacional pelo Governo Federal em 1982, a comunidade tornou-se uma das favelas que compõem o Complexo da Maré, onde questões envolvendo a violência e o crime organizado são presentes até hoje. Trata-se de uma construção do fotógrafo, com o cadáver ao fundo e um menino sorrindo à frente da câmera, sendo uma representação do contraste entre a inocência das crianças que lá vivem e a realidade que as cerca.

Um menino negro, de cabelos crespos e sem camisa sorri para a câmera em primeiro plano. Ao fundo, no chão, é possível ver o cadáver ensanguentado de um homem. Ao lado do menino, uma pessoa observa a cena com os braços cruzados, e outras são vistas fazendo o mesmo, sentadas no meio-fio da calçada do outro lado da rua
Evandro Teixeira fez um registro perturbador na comunidade Vila do João, no Rio de Janeiro, em 1988. Nela, um menino sorri para a câmera enquanto um cadáver é visto no chão ao fundo.

Assim, o fotojornalismo pode ser entendido como sobretudo, imagens produzidas a fins de registro de acontecimentos em diálogo com os critérios de noticiabilidade jornalísticos, também atendendo aos propósitos editoriais da empresa que a irá publicar. Os temas possíveis de serem trabalhados são tão diversos como as múltiplas possibilidades da vida cotidiana. Muitas vezes, algo sutil pode se transformar em um grande registro, e imagens que de início destinam-se a circulação por meio de jornais, revistas e demais meios jornalísticos podem um dia serem vistas expostas em museus ou livros próprios à memória, crítica, análise e apreciação de imagens fotográficas, destacando tanto o momento histórico congelado ali quanto as características técnicas e subjetivas trabalhadas pelo fotógrafo.

Referências: 

BIONDI, Angie. Fotojornalismo: um campo, uma atividade ou um objeto. In: LEAL, Bruno; ANTUNES, Elton; VAZ, Paulo Bernardo. Para entender o jornalismo. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2014, p. 171-178.

SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. 1ª ed. Porto: Editora Letras Contemporâneas, 2002

BUITONI, Dulcilia. Usos Jornalísticos Da Fotografia: Informação, Ilustração. Expressão. In: Fotografia e Jornalismo: a informação pela imagem. São Paulo: Editora Saraiva, 2011
GUERRA de Tóxico – Vila do João, Rio de Janeiro RJ. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: 23 de Fev. de 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra28762/guerra-de-toxico-vila-do-joao-rio-de-janeiro-rj>. Acesso em: 24 de Out. de 2019.
SANTORO, Giovanna; PELLUSO, Tayana. “O pintor cria a própria arte; o fotógrafo conta com os fatos”. Portal PUC Rio Digital. Rio de Janeiro: 26 de Nov. de 2015. Disponível em: <http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=27091&sid=55> Acesso em: 24 de Out. de 2019
FOTOS de Evandro Teixeira ao longo de 50 anos de carreira. In: O Globo. São Paulo: 24 de Set. de 2014. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/cultura/fotos-de-evandro-teixeira-ao-longo-dos-50-anos-de-carreira-14033861> Acesso em 24 de Out. de 2019.

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