Dupla Exposição

Dupla Exposição é um livro que adquiri por acaso. Encontrei-o em uma livraria na minha cidade natal meio largado em um canto. 

O #dicade dessa semana é sobre um livro que une a linguagem verbal e a visual em uma narrativa sensível e nostálgica.

Dupla Exposição é um livro que adquiri por acaso. Encontrei-o em uma livraria na minha cidade natal meio largado em um canto.  A capa me chamou a atenção por ser uma daquelas edições cobertas por uma película semi-transparente (que guardei separada em casa com medo de estragá-la), mas foi só quando o abri para folheá-lo e li o texto de apresentação, escrito por Maria Esther Maciel, escritora e professora de Teoria da Literatura e Literatura Comparada da UFMG, que senti que precisava mergulhar naquela leitura.

A imagem mostra o livro Dupla Exposição sobre uma mesa branca ao lado de uma xícara de porcelana. Na fotografia da capa, uma mulher de costas usando blusa larga e branca é vista de costas. Sobre ela é projetada uma imagem com uma mulher em pé em um campo aberto.
Capa do livro Dupla Exposição, Editora Rocco. Imagem de capa por Elisa Pessoa, 2016.

No tal texto, Maciel começa falando sobre como o livro não cabe em classificações, com textos e imagens mantendo uma relação instável, ora afastando-se, ora aproximando-se. Desejei ver de perto como funcionaria uma obra em que texto e imagem se comunicam, não com as imagens servindo ao texto como ilustração nem mesmo como complemento, mas como parte integrante e igualmente relevante dos caminhos narrativos.  Além disso, é anunciada a ideia de mistura entre real e ficção, que é algo que já me chama a atenção a bastante tempo em obras literárias.

O livro é composto por diversos textos curtos, escritos por Paloma Vidal, escritora e professora de Teoria Literária na UNIFESP, nascida em Buenos Aires e residente do Brasil desde os dois anos de idade. São eles: Please Come Flying; EFA; Sun In An Empty Room; Sempre a Partida; Venice; Tavistock Square; 10 Exercícios Para; Un Petit Noir Comme Celui-Là; Melancolia: Modo de Usar. Cada um deles escrito em primeira pessoa, revelando os pensamentos da narradora-personagem e promovendo uma sensação de intimidade por parecerem ter saído de cartas, diários e anotações pessoais.

Enquanto isso, as imagens são obra de Elisa Pessoa, brasileira que, em Paris, formou-se em Artes Plásticas e começou seu trabalho com a fotografia e o vídeo, continuados após o retorno para o Brasil com produções em forma de vídeo-instalações e intervenções urbanas. Distribuídas ao longo das páginas, seja dividindo espaço com os textos, seja ganhando destaque sozinhas, as fotos apresentam personagens femininas com ares de mistério, utilizando os efeitos de dupla exposição e hologramas, assemelhando-se em muitos momentos a uma performance, em que a mulher vista em muitas das imagens movimenta-se frente a projeções de cidades e fotos antigas.

O livro é visto aberto sobre uma mesa branca, onde há também um arranjo de flores e uma xícara de porcelana. Uma mão segura o livro do lado esquerdo. Na página esquerda há uma fotografia mostrando a silhueta de uma mulher em movimento. Sobre ela, é projetada uma imagem de prédios urbanos com arquitetura européia.
Visão interna do livro Dupla Exposição, Editora Rocco. Foto de Elisa Pessoa, 2016.

É curiosa a forma como os temas são trabalhados nos textos e nas imagens, evocando a ideia de uma dupla exposição fotográfica em ambos os casos. Já no primeiro texto esse aspecto é revelado, baseando-se em um ensaio da escritora e poetisa Elizabeth Bishop sobre sua relação com a também poeta Marianne Moore. Em uma mistura de recorte do texto da autora e observações de uma leitora desejosa por mostrar o seu fascínio por ele, há a formação de um “dupla exposição textual” revelando que o título do livro não justifica-se apenas pela estética do conteúdo visual. É ainda mais fascinante notar os diferentes artifícios usados para evocar tal ideia, utilizando tempos diferentes (passado e presente), diálogos e pensamentos, além de fluxos mentais.

As fotografias revelam muito da nostalgia que os textos carregam. Quando a narradora lembra suas passagens por Paris ou Alemanha e os acontecimentos que a deixaram de alguma forma marcada, há imagens em que são projetadas cenas urbanas que lembram a arquitetura européia. A narradora deixa claro ao longo de todo o livro como arquivos pessoais são importantes para ela. Fotografias, cartas e diários são constantemente evocados e vemos imagens que parecem ter sido retiradas de um álbum de família empoeirado.

Assim, Dupla Exposição, fruto desta parceria entre artistas de duas áreas distintas, consegue funcionar quando lidos apenas os textos; apenas as imagens ou, como proposto, ambos juntos, sem perder a aura nostálgica e a ideia de uma viagem temporal em pensamento, como o sentimento que toma conta da mente ao observar nossas fotos antigas e lembranças carregadas de afetos.

Se interessou pelo livro? No site da Editora Rocco tem a lista de lojas on-line em que você pode comprá-lo: https://www.rocco.com.br/livro/?cod=2803 

Referência:

VIDAL, Paloma; PESSOA, Elisa. Dupla Exposição. 1ª ed. Rio de Janeiro: Anfiteatro – Editora Rocco, 2016.
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