Borrar um movimento

Muitos fotógrafos adoram a técnica de borrar o movimento. Neste método, o rastro do movimento do objeto principal é registrado. Para conseguir esse efeito, é preciso uma velocidade baixa do obturador, isto é, um tempo de exposição longo.

Muitos fotógrafos adoram a técnica de borrar o movimento. Neste método, o rastro do movimento do objeto principal é registrado. Para conseguir esse efeito, é preciso uma velocidade baixa do obturador, isto é, um tempo de exposição longo.
Uma árvore centralizada numa foto noturna. Devido à longa exposição, as estrelas parecem estar se movendo em espiral.
The shortest night | Andrew Whyte

A velocidade ideal vai depender do que você estiver fotografando. Para  registrar os rastros de faróis de carros em uma fotografia noturna, por exemplo, é necessário que a exposição leve vários segundos ou até minutos.
Ao optar por velocidades baixas, é muito recomendado que você utilize um tripé ou tente apoiar a câmera em alguma superfície estável. Isso porque um mínimo movimento da câmera pode resultar numa foto inteiramente tremida.
Nas câmeras em geral, existe um modo “prioridade de velocidade do obturador”, em que você define apenas a velocidade e a máquina ajusta o ISO e a abertura automaticamente de acordo com a situação. Se preferir, pode também utilizar o modo manual e configurar esses controles da maneira que achar mais adequado.
Andrew Whyte é um fotógrafo britânico, apaixonado por fotografias de longa exposição. Seu portifólio contém fotos de cidades, do céu noturno e trabalhos com luz.
Fotografia do Big Ben, em Londres, durante uma noite chuvosa. Á direita, vê-se vários rastros de luz coloridos. São os faróis dos veículos que passaram enquanto o obturador ficou aberto
Ben 10 | Andrew Whyte

Na imagem Ben 10, Andrew registrou uma noite em Londres, bem em frente ao icônico Big Ben. Com uma longa exposição, o artista capturou diversos feixes de luzes dos carros que passaram durante o tempo em que o obturador ficou aberto. Pode-se ver tons de verde, vermelho, azul, amarelo, laranja e rosa. Essas cores vibrantes dão um aspecto mais vivo à cena. Percebe-se também reflexos de luz no chão e pingos na lente, que indicam chuva no instante em que a fotografia foi feita.
Que tal agora praticar? Pegue sua câmera, pense em algo legal, como os próprios carros à noite ou até mesmo a água corrente (para dar o efeito de véu de noiva) e pratique! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

Referências

• Leia isto se quer tirar fotos incríveis – Henry Carroll
Não é para qualquer um. A técnica exige equipamento profissional, experiência fotográfica e, talvez, conhecimentos de edição.

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#1min1foto – Cartiê Bressão

A coluna dessa semana, traz um fotógrafo das ruas e do cotidiano!


A coluna #1min1foto é inspirada no projeto “Une minute pour une image” de Agnes Varda. Aqui, o participante é desafiado a olhar para uma foto, de escolha da editoria, durante um minuto e depois escrever suas impressões.

A fotografia neste caso assume à qualidade de espontaneidade. Uma captura de um detalhe da vida de tantos corpos inseridos na imagem mas que não tem intenção quanto as ações dele. O foco da imagem parece estar apenas no olhar vago e fixado da mulher de blusa azul marinho. Em direção ao olhar da personagem, há algumas flores amarelas, e interessante pensar neste contexto a simbologia em torno da cor. Que remete ao vibrante e é constantemente associada a alegria e energia, símbolo de agradecimento, lealdade para com o outro. 
Não há vestígios de semelhança entre o significado da cor e a fisionomia da personagem, que carrega em sua feição sentimentos vagos, e difíceis de decifrar. O enquadramento é recluso mas alguns detalhes trazem aspectos de ambientação para imagem. Os corpos de modo geral, estão voltados para o horizonte, como se estivessem contemplando o momento.

Mulher negra, olhando para fotografia, com feições serias. Ela está em um culto a Iemanjá em Copacabana, Rio de Janeiro.
Cartiê Bressão, Copacabana, 2016

A fotografia parece remeter ao culto a Rainha dos oceanos, Iemanjá. Esta divindade, que no Brasil, anualmente recebe uma procissão até seu templo, o mar. Os devotos usam branco e azul em sua homenagem, e a ela levam oferendas como flores, sabonetes, bijuterias. A imagem te leva a devaneios contém poucos detalhes mas sugere a sensação de que mais coisas acontecem fora do que está registrado. O horizonte é um destes detalhes, é uma mistura de contrastes, pouco se vê o mar, mas muito o céu. E numa linha tênue eles se fundem. No entanto, a mulher não se mostra apreciadora do fenômeno como os outros, algo preenche seu olhar, mas em contrapartida sua feição fechada não diz muito sobre o quê se passa em sua vida. 
Bom, à título de curiosidade, após a experiência de analisar, durante 1 minuto, a fotografia. Dediquei-me a uma rápida pesquisa sobre o autor da imagem. Cartiê Bressão é pseudônimo do fotógrafo carioca Pedro Garcia de Moura, o nome é uma homenagem antropofágica ao também fotógrafo de rua do século xx, o francês Henri-Cartier Bresson. Em suas composições, o artista brasileiro tenta retratar o cotidiano carioca de uma maneira leve, como uma captura do momento. A imagem analisada foi retirada de sua página no  Instagram, “cartiêbressão” . A legenda que acompanha a fotografia é um trecho de um poema do escritor Vinicius de Moraes que diz: “Uma beleza que vem da tristeza. De se saber mulher. Feita apenas para amar. Para sofrer pelo seu amor. E pra ser só perdão”. A fotografia foi tirada na praia de Copacabana em 2016. 
 E aí, o que acharam da fotografia? Façam esse exercício de observar uma foto por um minuto e compartilhe o resultado em nossas redes!!


Somos bombardeados por imagens a todo momento. A coluna #1min1foto dessa semana, traz um fotógrafo das ruas e do cotidiano, não deixe de ler!
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ISO

Você já deve ter percebido uma configuração em sua câmera chamada ISO, certo? ISO  é a sigla da International Standard Association, e que na fotografia ela define os padrões de sensibilidade do sensor da câmera com a luz.

Você já deve ter percebido uma configuração em sua câmera chamada ISO, certo? ISO  é a sigla da International Standard Association, e que na fotografia ela define os padrões de sensibilidade do sensor da câmera com a luz.

Você já deve ter percebido uma configuração em sua câmera chamada ISO, certo? ISO  é a sigla da International Standard Association, e que na fotografia ela define os padrões de sensibilidade do sensor da câmera com a luz.

A imagem mostra prédios fotografados a noite, de baixo para cima. Os prédios possuem janelas de vidro iluminadas.
Robyn Rayn – Old World New World

Para registrar uma imagem com luminosidade adequada, é necessário controlar três elementos: a abertura, a velocidade e o iso. De uma maneira geral, a sensibilidade é inversamente proporcional a intensidade da luz captada e ao tempo de exposição da superfície fotossensível a luz. Ou seja, quanto maior a intensidade da luz captada, menor pode ser a sensibilidade ou quanto maior o tempo de exposição a luz, menor pode ser a sensibilidade.

Em um ambiente bem iluminado, é mais fácil de fotografar do que em um ambiente com menos luz. Quanto menor o número do ISO, menor será sua sensibilidade à luz.  Contudo, não é necessário ter muita luz no ambiente para que a fotografia fique clara. É necessário captar muita luz para que a fotografia fique clara, isto é, superexposta. Se o número do ISO é aumentado, a sensibilidade do sensor aumenta, e, mesmo captando pouca luz é possível fotografar o que se deseja.

Apesar disso, existem algumas consequências ao se usar o ISO de forma imprudente. Um ISO menor capta pouca luz e não apresenta ruídos na imagem. O ISO maior permitirá fotografar com pouca luz, porém a imagem poderá ter um ruído perceptível, o que pode prejudicar a nitidez de sua fotografia. Por isso é necessário pensar sempre no uso da fotografia. Uma fotografia para uso profissional de casamentos, por exemplo, não é desejável que haja ruídos, há não ser que o fotógrafo deseja que o ruído produza sentidos na fotografia. Já fotografias caseiras ou somente para redes sociais, um pouco de ruído não atrapalharia na finalidade da fotografia, mas mais uma vez, é de acordo com o desejo do fotógrafo. Na dúvida, use sempre o ISO menor para tirar fotos externas e não correr o risco de estragar sua imagem.

Robyn Ryan, é um fotógrafo de Vancouver, no Canadá. Ele se descobriu apaixonado pela fotografia noturna e pela profundidade das cores oferecidas por ela. Em suas fotos, utiliza um tripé, lentes grandes angulares, uma lanterna para iluminar áreas escuras e a imaginação.

A foto mostra uma região portuária, fotografada a noite. As luzes da cidade refletem na água, formando diversos formatos e cores.
Robyn Ryan – Vancouver in the Night

Na foto acima, o fotógrafo utilizou o ISO alto para se fotografar a noite, sem auxílio de um flash. O ruído causado era desejado para causar diferentes efeitos de luz, sombras e produzir sentidos na fotografia.

#artigos é uma coluna de caráter ensaístico e teórico. Trata-se de uma série de textos dissertativos por meio do qual o autor propõe uma reflexão fundamentada acerca de um ou mais elementos que constituem a cultura fotográfica. Quer conhecer melhor a coluna #artigos? É só seguir este link.

#fotografetododia Agora, faça você uma foto utilizando o ISO a seu favor e nos mostre seus resultados marcando a nossa rashtag!

Referências:

FOLTS, James A; LOVELL, Ronald P.; ZWAHLEN, Fred C. Manual de fotografia. São Paulo: Pioneira 2007.
LANGFORD, Michael John; FOX, Anna; SMITH, Richard Sawdon. Fotografia básica de Langford: guia completo para fotógrafos. 8.ed. Porto Alegre: Bookman 2009.
https://www.tecmundo.com.br/internet/7978-fotografia-para-que-serve-o-iso-.htm
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Fotógrafas nas linhas de frente: Lee Miller, Gerda Taro e Alexandra Boulat

Convencionalmente, a guerra é pensada como um espaço masculino: homens guerreiam, disputam territórios, confrontam-se nos campos de batalha, escondem-se em trincheiras.

A guerra é geralmente pensada como um espaço masculino. Na contramão dessa convenção, encontramos mulheres que desempenharam papéis importantes na fotografia de guerra.    

Convencionalmente, a guerra é pensada como um espaço masculino: homens guerreiam, disputam territórios, confrontam-se nos campos de batalha, escondem-se em trincheiras. Às mulheres fica reservado o papel de esperá-los, de sofrer pelas perdas familiares, pelas devastações de suas casas, de suas cidades, quando não são violentadas, aprisionadas, torturadas. De acordo com Susan Sontag (2003, p. 11), “a máquina de matar tem um gênero, e ele é masculino”.

Habitualmente, também são os homens que fotografam a guerra. A atuação das mulheres como fotógrafas de guerra, se comparada à dos homens, é bastante limitada, embora  a história da fotografia seja marcada com nomes importantes como de Lee Miller (1907-1977), Gerda Taro (1910-1937) e Alexandra Boulat (1962-2007), entre várias outras. Cobrindo conflitos diferentes, em épocas e perspectivas distintas, cada uma dessas fotógrafas contribuiu para a conquista do espaço da mulher na cobertura de guerra.

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Treinamento de milicianos republicanos na praia. Gerda Taro. 1936.

Lee Miller

Lee Miller (1907-1977) teve múltiplas faces: modelo revolucionária e fotógrafa consagrada, participou da vanguarda cultural europeia nos campos da literatura, música, pintura, fotografia e artes em geral. Foi correspondente de guerra, passou por alguns relacionamentos, entre eles dois casamentos, e teve um filho. Foi dona de casa e graduou-se na escola de gastronomia Le Cordon Bleu. Diante dos problemas que enfrentou na infância, optou por sair de sua zona de conforto e enfrentar o mundo. Nunca se acomodou no contexto de “mulher, branca, bonita, rica e frágil”, tendo sempre lutado contra esse tipo de enquadramento, desafiando, causando espanto e revolucionando a sociedade dos anos 1920, 1930 e 1940.

Por sua coragem e forte personalidade, a fotógrafa americana foi exuberante em tudo que se dispôs a fazer. Miller foi uma das quatro fotojornalistas credenciadas como correspondentes da Segunda Guerra Mundial dos EUA. Conseguiu a credencial pela British Vogue, a mais improvável publicação a mandar uma mulher para guerra. Documentou a movimentação nos hospitais de campanha na Normandia, a vitória de Saint-Malo, a libertação de Paris, o avanço aliado na Alemanha, a batalha de Alsácia. Juntamente com o fotógrafo David E. Scherman (1916-1997), da revista Life, fotografou os campos de concentração de Dachau e Buchenwald, após a libertação dos sobreviventes.

O fato de ser mulher foi determinante no seu modo produção. Usando uniforme e botas masculinas, Lee Miller era sempre o centro das atenções. Naquela época, era impensável a presença de uma mulher na cobertura de uma guerra, por isso eles a protegiam, cuidavam dela. Tal circunstância facilitava o acesso da fotógrafa a momentos reservados, restritos aos soldados. Ajudava também que ela conseguisse imagens exclusivas, em ambientes que dificilmente outras pessoas teriam acesso, como mostra a fotografia de dois artilheiros norte-americanos deitados na cama do apartamento do Hôtel Ambassadeurs, falando no telefone e observando pela janela o momento para lançar fogo.

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Tropas americanas dirigem fogo mortal do Hôtel Ambassadeurs. St Malo. Lee Miller. 1944.

Gerda Taro

A relação da alemã de origem judaica Gerda Taro (1910-1937) com a fotografia teve início a partir do encontro com o jovem fotógrafo Andre Friedmann. Apaixonados, Friedmann ensinou seus conhecimentos à Taro e os dois passaram a fotografar juntos. Logo, Friedmann trocou seu nome para Robert Capa, personagem inventado pelos dois para capitalizarem melhor suas fotografias.

Em 1936, com o começo da Guerra Civil Espanhola, Taro e Capa mudaram-se para a Espanha com o objetivo de cobrir o conflito. Eles documentaram diferentes episódios da guerra, suas fotografias foram publicadas em revistas como a Regards e a Vu. Muitas vezes, eles fotografavam as mesmas cenas. No início era possível distinguir a autoria das fotografias, pois usavam câmeras que produziam negativos de formatos diferentes. Taro utilizava uma Rolleiflex, de formato quadrado, e Capa uma Leica, de formato retangular. Depois, os dois passaram a trabalhar com câmera de 35 mm, dificultando identificar quem havia feito determinada fotografia.

Em sua trajetória como fotógrafa, Gerda Taro procurou dar visibilidade à mulher. Como podemos observar na fotografia abaixo que mostra quatro jovens mulheres armadas e posicionadas em uma trincheira durante um combate. As protagonistas femininas demonstram entusiasmo e coragem. O olhar de Taro buscava sempre cenas como essa que rompessem com estereótipos.

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Mulheres milicianas durante a Guerra Civil Espanhola. Gerda Taro. 1936.

Na Batalha de Brunete, Gerda Taro estava trabalhando sozinha. Ela fotografou o front e assistiu terríveis bombardeamentos da aviação nacional, colocando em risco sua vida em várias ocasiões. Acabou perdendo a vida aos 27 anos, quanto voltava da batalha. Acidentalmente, um tanque republicano derrubou-a do carro, esmagando o seu corpo.

Alexandra Boulat

A francesa Alexandra Boulat (1962-2007) formou-se em artes gráficas e história da arte e iniciou sua carreira como fotojornalista em 1989, influenciada pelo pai, o fotógrafo Pierre Boulat, que trabalhou na revista Life. Boulat trabalhou na Sipa Press durante 10 anos. Em 2001, juntamente com outros fotógrafos, co-fundou a VII Photo, uma agência de fotojornalismo. Boulat cobriu vários conflitos em todo o mundo (Oriente Médio, Afeganistão, Iraque e antiga Jugoslávia), Atuou também como fotógrafa em Ramallah, na Faixa de Gaza. Publicou imagens em veículos como a Time, Newsweek, The Guardian, National Geographic, entre outros. Alexandra Boulat morreu em de 2007, vítima de um aneurisma.

Um dos temas recorrentes nas coberturas que fazia era relacionado às vítimas de conflitos, particularmente as mulheres. Seu último trabalho importante foi sobre as mulheres muçulmanas na Ásia Menor e Oriente Médio. A sensibilidade do olhar de Boulat é marcante em seu trabalho. A fotógrafa parece encontrar humanidade na face da tragédia. Como acontece na fotografia em que uma luz suave incide sobre o rosto de uma senhora com um semblante abatido e desconfiado. Em segundo plano, outra mulher, mais jovem, parece compartilhar o mesmo sentimento. O plano plongée transmite a condição de inferioridade e vulnerabilidade das mulheres refugiadas.

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Refugiadas afegãs em Quetta. Paquistão. Alexandra Boulat. 2001.

Ao longo dos séculos XX e XXI, a participação da mulher no campo do fotojornalismo, principalmente na cobertura de guerras, vem crescendo expressivamente. Seguindo o exemplo de suas antecessoras, que romperam condições normativas e desafiaram a vulnerabilidade do corpo, a mulher vai timidamente conquistando respeito e espaço nos veículos de comunicação.

Como Butler (2015), acreditamos que a vida excede aos esquemas normativos e enquadramentos. Pensando assim, o papel da fotojornalista contemporânea é o de procurar romper velhos esquemas e fazer emergir outras possíveis formas de chamar a atenção para as atrocidades da guerra. Nesse sentido, a vida e a obra de Lee Miller, Gerda Taro, Alexandra Boulat, de suas antecessoras e sucessoras, é um convite à produção de novos enquadramentos na fotografia de guerra.

Clique nos nomes das fotógrafas citadas neste artigo para saber mais sobre a vida e a obra de cada uma delas: Lee Miller, Gerda Taro e Alexandra Boulat.

Links e referências

Chamada de Conteúdo de Colaboradores

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Sobre as autoras

Kátia Lombardi é fotógrafa e professora do curso de Jornalismo e do PROMEL (UFSJ). Doutora pelo PPGCOM da UFMG. Pesquisadora em imagem, fotografia e memória.

Thais Andressa é graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). É fotógrafa e pesquisadora sobre o tema ” mulheres na fotografia”. Possui especialização (Senac) e trabalha com produção cultural. Realizou exposições individuais no Centro Cultural UFSJ (2018), no Museu Regional de São João del-Rei (2018) e no Centro Cultural Sesi Minas Ouro Preto (2019). Tem trabalhos fotográficos publicados nas revistas “Mais Saúde & Bem-Estar” e “Mais Vertentes”.  Obteve o 2º lugar no Concurso Cultural fotográfico (2019) promovido pelo site “Tudo pra foto” e teve uma de suas fotos como semifinalista do Brasília Photo Show (2019). Atuou na cobertura fotográfica do Inverno Cultural UFSJ nos anos de 2017, 2018 e 2019.

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Três ações para desenvolver a imaginação fotográfica

Talvez, o principal recurso que dispomos para produzir fotografias seja a imaginação. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a imaginação não é uma capacidade que algumas delas possuem e outras não.

O principal recurso que dispomos para produzir fotografias é a imaginação. Neste artigo, apresentamos uma estratégia para desenvolvê-la.
Talvez, o principal recurso que dispomos para produzir fotografias seja a imaginação. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a imaginação não é uma capacidade que algumas delas possuem e outras não. Todos nós a temos. Trata-se de nossa capacidade de articular os elementos que compõem nosso repertório simbólico para interagirmos com os diferentes aspectos do mundo em que vivemos.
Contudo, se, para articular os elementos de nosso repertório em novas criações é necessário que realizemos um grande investimento imaginativo, para esquecê-las e repetir aquelas que conhecemos e temos o hábito de mobilizar basta que fiquemos desatentos por um instante. Por isso, é fundamental praticar a imaginação.
Neste artigo, apresentamos uma estratégia para desenvolvermos nossa imaginação como fotógrafos. Provavelmente, você já realiza uma, duas ou todas as ações que a compõe. Contudo, o mérito da metodologia que aqui expomos não está em cada processo isoladamente, mas em sua execução consciente e na articulação de cada um deles em uma rotina fotográfica estruturada. Dessa maneira, cada atividade passa a produzir os recursos que orientam a sua própria realização ou a das outras.

Pesquisa (arquivo pessoal e caderno de notas)

Em um livro acerca da importância da pesquisa na sustentação do trabalho fotográfico, Anna Fox e Natasha Caruana, comentam que uma obra fotográfica é o resultado do conhecimento criado enquanto se explora conscientemente o ambiente. Esse conhecimento também contribui para a construção do olhar de fotógrafas e fotógrafos, orienta-os em relação a o que ver, a como ver e a porque ver. Por essa razão, as autoras afirmam que é importante transformar a investigação em um recurso disponível para seu próprio autor e para outros pesquisadores. Para isso, é fundamental que ela seja arquivada.
Documentos e fotografias afixados em uma parede cinza. Uma maquete, uma bola de linha e livros diversos espalhados sobre a mesa.
Alec Soth – Arquivo da pesquisa para o projeto “Broken Manual
Por isso, recomendamos a manutenção de um arquivo pessoal, físico e/ou digital, cuja composição pode abranger desde registros espontâneos a documentos formais, passando por versões de trabalho de tratamentos e edições de fotografias e ensaios, e a utilização caderno de notas, onde possamos guardar os rascunhos, os planos e os resultados de coberturas, projetos e sessões fotográficas, as impressões de nossas leitura de produtos culturais diversos, as elucubrações acerca da fotografia, da arte, da cultura, da vida. Examinar atentamente e com regularidade o conjunto dessas informações reunidas deve ser parte de uma rotina de desenvolvimento de nossas competências fotográficas.

Leitura (de fotografias e de textos sobre fotografias)

As competências necessárias para ler uma fotografia são semelhantes àquelas empregadas na leitura de uma cena a ser fotografada. Se uma pessoa é capaz de compreender os elementos contextuais, morfológicos, compositivos e enunciativos presentes em uma fotografia, provavelmente também será capaz de apreendê-los enquanto age no mundo e de manejá-los enquanto fotografa.
Uma boa maneira de aprimorar essas competências é deixando-se inspirar por grandes artistas. Por essa razão, sugerimos que pesquise a vida e a obra de importantes autoras e autores. Não limite sua pesquisa apenas a profissionais da fotografia, amplie-a para diferentes domínios artísticos. Aproveite para se aprofundar na bibliografia acerca das histórias, das técnicas e das teorias da fotografia e da arte. Dedique um tempo para observar criticamente uma fotografia ou um ensaio fotográfico. Tome notas de suas descobertas, impressões e reflexões para que, eventualmente, possa retornar a elas.

Prática (reflexiva)

A tecnologia fotográfica, desde o anúncio de sua invenção, em 1839, desenvolveu-se com o objetivo de alcançar a automatização de seus processos. Disso decorre a falsa impressão de que para fotografar com competência não é necessário estudo, nem prática. Sabemos, no entanto, que o ato de fotografar mobiliza, ainda que de maneira inconsciente, um grande número de ferramentas conceituais e técnicas. Para desenvolver um conjunto de hábitos mentais que orientem o fotógrafo no manejo do aparelho e lhe permitam dedicar sua atenção à cena que ele pretende registrar, tão importante quanto a prática regular de suas competências fotográficas é a reflexão acerca dela.
Cena do filme Janela Indiscreta de Alfred Hitchcock. James Stewart interpreta o fotojornalista L. B. Jeff.
Alfred Hitchcock – James Stewart interpreta o fotojornalista L. B. Jeff em “Janela Indiscreta”
Desde que realizada de maneira reflexiva, isto é, mediante a exploração do mundo consciente do que, do como e do porque fotografar, a prática fotográfica também pode se constituir como um processo de pesquisa. Nessa perspectiva, ela nos oferece a oportunidade de tomar o nosso fazer como problema e de revisá-lo com base nas respostas elaboradas para os questionamentos que nos colocamos.
Disso decorre que uma etapa fundamental da prática fotográfica como processo de pesquisa é a avaliação do trabalho produzido, que pode ser realizada pelo próprio autor ou por algum leitor competente e de sua confiança. No entanto, para examinar o próprio trabalho é preciso estabelecer um distanciamento crítico, ou seja, afastar-se dele subjetivamente para poder abordá-lo de maneira objetiva. Essa não é uma tarefa fácil, por isso muitos fotógrafos recorrem à avaliação de colegas. Lembre-se de tomar notas dos questionamentos que lhe forem colocados e das respostas que elaborar.

Referências

Para redigir esta postagem consultamos os livros “Por trás da imagem: pesquisa e prática em fotografia”, escrito por Anna Fox e Natasha Caruana, e “Como criar uma fotografia”, escrito por Mike Simmons, ambos editados pela Gustavo Gili, o livro “Photographers Sketchbooks”, escrito por Stephen McLaren e Brian Formhals e editado pela Thames & Hudson, e o site “OSCARenFOTOS”, editado pelo professor da Universidad Panamericana (México), Oscar Colorado Nates.

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