O Milagre de Rose Smith

Fotografia que carrega marcas e traumas da violência das gangues.

Tirada pela fotógrafa Barbara Davidson, a imagem retrata a cena de Miracle (Milagre em português) ajudando sua mãe a se sentar na cadeira de rodas. Uma foto que poderia facilmente significar uma cena apenas de carinho, mas que traz uma história de muita luta e sofrimento.

Descrição: A foto evidencia uma criança, de aparentemente com idade por volta dos 3 anos, ajudando uma mulher a acomodar-se na cadeira de rodas. É nítido que existe uma afinidade entre as duas, visto que o processo está sendo realizado com muita cautela e carinho. Elas estão em um quarto humilde. Nele, há uma cama grande com travesseiros em cima, um ventilador no canto esquerdo e itens pessoais ao redor do ambiente.
Barbara Davidson

A fotografia foi publicada em uma matéria da agência de notícias Los Angeles Times, em 31 de Dezembro de 2010. Nela, continham informações sobre o caso de Rose Smith, a mulher da foto. Rose morava no conjunto habitacional Watts Nickerson Gardens (Los Angeles) quando teve sua mandíbula, suas costas e braços alvejados por tiros.

Smith é uma mulher inocente e, mesmo assim, sofreu as consequências da violência e criminalidade das gangues em Los Angeles. Ela nunca mais poderá andar. Triste fato que exemplifica a vulnerabilidade de muitas pessoas que moram no subúrbio. Além de ter sua própria saúde violada, a forte mulher da imagem teve de lidar com o medo de perder o ser que mais amava na vida: a bebê que carregava em seu ventre.

Rose estava grávida de três meses quando foi atingida pelos tiros. Por um milagre, a criança não sofreu traumas físicos. Esse é o motivo para o nome de Miracle. Mas, apesar da sobrevivência da bebê ter sido uma vitória, ela não ficou alheia ao mal causado pela violência. Miracle nasceu viciada no remédio que sua mãe tomava para a dor que sentia.

Olhando exclusivamente para a foto, eu sinto amor e compaixão: ver uma criança tão pequena já sabendo o que fazer para cuidar da pessoa que lhe deu a vida. Me pego refletindo o quanto elas devem ser próximas uma da outra. Mas, quando associo a imagem que vejo à história por trás, sinto tristeza e revolta. Essa mãe tem suas tarefas dificultadas devido a uma ocorrência na qual não teve responsabilidade nenhuma. Ela foi apenas a vítima.

Me traz angústia pensar no quanto as pessoas que moram nas favelas, não só em Los Angeles, mas no mundo todo, estão vulneráveis a ter seu bem estar violado. Vivem entre guerras e conflitos, dificilmente conseguem paz e descanso. O medo de “estar na hora e no local errado” assombra os moradores. Infelizmente, foi o que aconteceu com Rose, pois ela estava prestes a entrar em casa quando foi alvejada pelas costas.

É difícil não associar essa situação à criminalidade que assola grande parte dos países, dentre eles, o Brasil. O Rio de Janeiro, por exemplo – uma das metrópoles brasileiras – atingiu a marca de 100 vítimas de bala perdida em 2021, sendo 58% homens, 38% mulheres e 4% com o gênero não identificado. Entre elas, 5 crianças e 5 adolescentes. É desolador pensar na quantidade de pessoas que são feridas ou que perdem a vida todos os dias em razão de conflitos entre policiais e gangues. Pessoas que, muitas vezes, não têm conhecimento do que está acontecendo, como pode ser o caso das crianças.

Além das marcas físicas, há também as psicológicas. Famílias perdem seus parentes para a violência, crianças perdem seus direitos básicos: brincar na rua, ir à escola, ter o sono tranquilo…  Espero que, no futuro, o mundo seja um lugar mais seguro de se viver.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link

Links, Referências e Créditos

SOARES, Maria Clara. O Milagre de Rose Smith. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/o-milagre-de-rose-smith/>. Publicado em: 10 de ago. de 2022. Acessado em: [informar data].

Sebastião Salgado e o ativismo ambiental

Fotógrafo, economista e ativista ambiental.

Hoje, Sebastião Salgado vive em Paris, mas ele é natural da cidade de Aimorés, interior de Minas Gerais e nasceu no dia 8 de fevereiro de 1944. Além de ser um grande fotógrafo, ele é formado no curso de Economia pela Faculdade de Economia de Vitória (ES).

Retrato do fotógrafo Sebastião Salgado, na qual ele está olhando diretamente para a câmera enquanto dá um leve sorriso. Um senhor de cabelos grisalhos vestindo uma blusa azul.
Autor(a) desconhecido

Salgado não se destaca apenas por ser um excelente fotógrafo, mas também pelo seu ativismo ambiental. Sebastião e sua esposa, Lélia Wanick, trabalham desde os anos 90 na recuperação de uma pequena parte da Mata Atlântica. Juntos, eles reflorestaram uma parcela de terra que possuíam e, em 1998, ela foi transformada numa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). No mesmo ano, eles criaram o Instituto Terra que tem como missão reconstituir o ecossistema florestal da região de Aimorés, através de diferentes formas de intervenção, recuperando os processos ecológicos e contribuindo para a manutenção da biodiversidade local. 

Ele também fez diversos registros fotográficos com essa temática. O projeto fotográfico “Amazônia”, por exemplo, mostra a importância da preservação da floresta e da demarcação de terras indígenas. 

Foto do Sebastião Salgado olhando para a câmera com um indígena atrás
Autor(a) desconhecido

Foto de Sebastião Salgado e sua esposa em um campo olhando para o nada
Autor(a) desconhecido


Foto de diversas árvores fechando a mata
Sebastião Salgado

Indígenas andando em um barco no rio
Sebastião Salgado

Chamada para ação

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos



Como citar esta postagem

{SILVA, Jade Iasmin}. {Sebastião Salgado e o ativismo ambiental}. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<{https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/sebastiaosalgadoeoativismoambiental.html}>. Publicado em: {08/08/2022}. Acessado em: [informar data].

Exemplo de acolhimento e hospitalidade: venezuelanos não encontram abrigo no Brasil

Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença.

Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença.

Um garoto cabisbaixo se destaca no grupo aglomerado na calçada de uma loja na cidade de Pacaraima, em Roraima. Assim como a Branca de Neve, princesa presente na coberta colorida na qual o garoto está enrolado, ele parece estar em busca de um lugar melhor.

Fotografia de um grupo de desabrigados na calçada de uma loja. A frente da foto está um garoto de braços cruzados enrolado em uma coberta colorida. A foto foi tirada de um ângulo um pouco acima do nível dessas pessoas.

Mathilde Missioneiro/Folhapress 

Dois elementos se destacam ao observarmos a foto acima. O garoto enrolado na coberta colorida que está em primeiro plano e que ocupa a parte central da imagem e o aglomerado de pessoas ao seu redor que compõem o fundo da imagem. A foto em plano aberto nos permite visualizar que eles estão em uma calçada e o fato de ter pessoas deitadas em pedaços de papelão nos faz perceber que estas pessoas estão desabrigadas.

O movimento migratório, apesar de estar presente em tratados e acordos nacionais e internacionais como um direito humano, ainda hoje não é plenamente respeitado. No Brasil, segundo a Constituição de 88 e a Nova Lei de Migração instituída em 2017, é garantida às pessoas em deslocamento interno ou transfronteiriço direitos fundamentais como educação, saúde, liberdade, moradia e trabalho. Além disso, cabe ao Conare, Comitê Nacional para os Refugiados, garantir assistência e proteção às pessoas refugiadas no país. Apesar disso, como é possível perceber através da foto, um incontável número de indivíduos não recebe a assistência necessária. Para ser mais exata, ao ler a reportagem, somos informados que estes são apenas alguns dos 2065 migrantes e refugiados desabrigados em Pacaraima, cidade brasileira que faz fronteira com a Venezuela.

A cidade, mencionada pelo Presidente Bolsonaro como exemplo de acolhimento, não parece se esforçar para garantir o mínimo de dignidade aos imigrantes, pois as vagas oferecidas para os abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo exército, não atendem nem metade da demanda e o governo municipal, por sua vez, não oferece nenhuma estrutura para quem está fora dos abrigos. Sendo assim, para a maioria dos imigrantes, a única ajuda parte de iniciativas voluntárias, como a ONG Médicos Sem Fronteiras e a Caritas, uma organização católica que apoia migrantes e refugiados.

Além disso, a foto, feita por Mathilde Missioneiro e publicada em 6 de agosto de 2021, foi tirada durante a pandemia de covid-19, onde as recomendações principais eram: fique em casa, evite aglomerações e use máscara. Coisas que parecem simples, para quem não tem o básico se tornam impossíveis.

A imagem nos faz questionar o lema já conhecido e atribuído à Pacaraima pelo presidente. Será mesmo que somos um país acolhedor? E por que essas pessoas não são dignas de terem seus direitos mais básicos respeitados? Infelizmente, cenas como essas são comuns, e não só aqui. Uma fotografia de venezuelanos no Brasil, um retrato da indiferença humana.

Links e referências

Chamada de Conteúdo de Colaboradores

Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.

Sobre a autora

Larissa Caroline Lopes Fonseca é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Ordem e progresso

São Paulo – A história do Brasil contada por meio da fotografia. Esta é uma das propostas da exposição Um olhar sobre o Brasil – A fotografia na construção da imagem da nação, que será apresentada até 27 de janeiro do próximo ano no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo

Lembranças de um passado ditatorial nem tão distante.

A imagem abaixo foi fotografada por Orlando Brito em 1991, em Brasília, e mostra soldados militares marchando em frente a bandeira do Brasil. As fotografias do autor retratam momentos e personagens marcantes da história brasileira, narrando temas como política, sociedade e cultura.

 

Fotografia em preto e branco de soldados militares fardados e em filas segurando armas apontadas para cima, ao fundo encontra-se a bandeira do Brasil.
Orlando Brito

A bandeira do Brasil possui uma frase, com conotação positivista, que clama por ordem e progresso. Sempre ao olhar para a bandeira, essa frase me vem à mente, sem mesmo a ler, ela já é um elemento associado. Policiais e soldados são outros objetos que constantemente também são associados à ordem. A fotografia de Orlando Brito faz uma combinação dos dois objetos na fotografia, ligando-os por esse elemento em comum: a ordem.

A ligação entre esses dois elementos pode ser percebida facilmente ao olhar a imagem, a forma como os soldados estão alinhados com suas armas apontadas para cima e no fundo a bandeira gigante em comparação com eles. Em primeiro plano, as sombras se destacam mais, sombreando o rosto dos soldados, e ao fundo, a bandeira se ilumina, em contraste.

Essa imagem me faz refletir sobre como não estamos distantes desse passado, onde a ordem estava acima dos direitos civis. A cada dia que passa, a democracia que se diz ter no país é mais uma vez agredida por políticos e policiais que passam por cima da população para garantirem os seus próprios benefícios. A ordem que muitos políticos dizem que é necessária se instaurar no país é apenas uma forma de calar novamente a sociedade que clama por seus direitos.

Diante da ordem em favor do progresso, muitos se veem sem saída ou como reclamar de sua situação, pois o que o país está passando, segundo a classe dominante, é em benefício de algo maior. Os direitos vão sendo revogados, assim como a liberdade de expressão e a liberdade de fazer questionamentos. Ao mínimo sinal de revolta a polícia é acionada para deter os protestos de uma população oprimida. 

Ao olhar os jornais é possível ver que não estamos tão distantes dessa realidade, pessoas são agredidas, presas e mortas, pois estavam violando a ordem estipulada pelas atuais políticas. Tudo o que se vê, não é ordem, mas sim uma dissimulação da palavra que é usada contra o povo.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

 

Links, Referências e Créditos

Continue lendo “Ordem e progresso”

Barbara Davidson

Fotógrafa que retrata mulheres e crianças atingidas pela violência das gangues em Los Angeles.

“Aprendi muito cedo a lutar contra a rejeição, a nunca desistir e nunca deixar ninguém me impedir de me tornar uma fotojornalista”. Assim declara Barbara Davidson, no ano de 2019, em sua colação de doutorado.

Nascida em Montreal, Canadá, Barbara lutou muito para ascender profissionalmente em um ramo predominantemente masculino. 

Descrição: Barbara sorrindo de forma singela, seu rosto é marcado por expressões de felicidade. Ela olha diretamente para a câmera e usa brincos popularmente conhecidos como argolas. Seu cabelo é loiro ondulado e, na parte da frente, está parcialmente preso.
Barbara Davidson

Famosa por suas imagens sobre a crise humanitária, Davidson captura principalmente fotos de guerras, da violência causada pelas gangues e dos desastres naturais. A fotógrafa ganhou bastante destaque midiático após ganhar seu primeiro Prêmio Pulitzer devido a sua cobertura do furacão Katrina. Em 2007, Barbara entrou como fotojornalista na agência de notícias Los Angeles Times, mas, dez anos depois, deixou o cargo relatando que “Era hora de me recalibrar para abrir novos caminhos”.

Segundo a profissional, a arte de fotografar é baseada em contar boas histórias e ter paixão pelo trabalho. Neste contexto, ela utilizou seu amor pela fotografia em prol de denunciar a negação dos direitos básicos, especialmente a crianças e mulheres.

Barbara Davidson
Dois meninos, de idade aparentemente próxima, em um lugar que parece ser um campo com arbustos. O menino da esquerda aponta uma arma para a cabeça do outro, que está de braços abertos e olhos fechados.
Barbara Davidson
Cinco crianças dormem amontoadas em uma cama de casal. Aparentemente desconfortáveis, em razão do pouco espaço disponível. Duas das crianças dormem curvadas para a esquerda e as outras dormem de barriga para cima com os braços levantados. Na cama também há três almofadas escuras.
Barbara Davidson

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Até onde se pode ir para conseguir comer

Fome é exposta durante a pandemia.

Fome é exposta durante a pandemia.

Uma fotografia costuma ser capaz de dizer mais coisas que milhões de palavras e quando uma fotografia tem muito a dizer, há uma história por trás. É isso que a fotografia do Danilo Verpa, que busca retratar como a fome leva famílias a revirar lixo e buscar alimentos próximos do descarte, trazendo uma sensação constante de revolta, e um certo pavor, temendo que amanhã seja a nossa vez de não ter o que comer.  Conhecendo esse fato é preciso analisar como as políticas públicas deixaram a desejar no que tange a segurança alimentar.

5 pessoas em volta de um lixeiro com resíduos,  algumas delas usam luvas,  estão com as mãos dentro da lixeira, aparentemente estão revirando em busca de algo para comer.
Danilo Verpa

 

A fotografia do Danilo Verpa permite observar 5 pessoas, em volta de um lixeiro, no que entende – se por ambiente urbano, pela composição das ruas, e carros, uma das mulheres coleta algo que aparenta ser uma fruta, a luz ambiente é característica do dia isso no que se refere aos elementos observáveis mais técnicos, com significação formal, pode – se destacar que a fotografia está na horizontal, no plano médio, sob ponto de vista superior e a expressão de movimento congelada.

Mas para além dos elementos visíveis, o contexto no qual a foto foi tirada significa muito, ver essa fotografia causa revolta e certa repulsa a pensar que provavelmente o alimento de algumas pessoas vem dos restos de outras pessoas. Conhecendo o contexto da fotografia, o sentimento de revolta fica ainda mais evidente, a foto foi tirada no 23 de outubro de 2021 no contexto pandêmico a situação do Brasil no que tange a fome se tornou ainda mais agravante.

Já quanto à significação cultural é preciso considerar que a saída do Brasil do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014 foi um marco mundialmente reconhecido no caminho à promoção do direito humano à alimentação adequada e saudável. Durante a pandemia de COVID – 19, o Brasil retornou para o mapa da fome. Os dados são da pesquisa “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, elaborada pela Rede Penssan e mostram que o Brasil retrocedeu 15 anos em cinco, voltando a ter a fome como problema estrutural.

Urge no Brasil uma ação mais incisiva para garantir a segurança alimentar para a população. O brasileiro sente o descaso na pele. São 19 milhões de brasileiros passando fome no nível mais grave, cerca de 9% da população. Não basta se revoltar, é preciso agir, o que pode ser feito para que as necessidades associadas ao sentimento de revolta é cobrar uma ação dos órgãos públicos, exigir do ministério da economia investimentos em projetos para assegurar a alimentação do brasileiro.

A prerrogativa de segurança alimentar é uma questão tão forte quanto a de 15 anos atrás, isso causa revolta, mas é função do fotojornalismo retratar isso, evidenciar questões que afetam a população vulnerável. Portanto, a fotografia analisada exige sensibilidade de compreender que além de entender o problema é preciso buscar soluções que viabilizem a segurança alimentar da população brasileira.

Chamada de Conteúdo de Colaboradores

Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.

Sobre a autora

Maria Eduarda Gomes é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Bandeira LGBTQIA+

A importância das simbologias

A importância das simbologias

Na imagem abaixo podemos ver uma bandeira sendo tremulada de uma varanda cheia de pessoas. A foto, tirada de um ângulo baixo em comparação à varanda, mostra parte do céu, desse modo as cores do fundo, de maioria cinza-azulado, acabam por contrastar com as cores vibrantes da bandeira representante do movimento LGBTQIA+ centralizada na foto.

Descrição: A imagem retrata uma varanda na qual diversas pessoas se apoiam no parapeito, levemente descentralizada podemos ver uma bandeira LGBTQIA+ sendo agitada por alguém. Devido a fotografia foi tirada de um ângulo abaixo do nível da varanda vemos boa parte do céu nublado que, juntamente com a cor da varanda compõe uma imagem majoritariamente em tons azul claro e cinza.
Sofia Santoro

Foi em 25 de junho de 1978, Dia da Liberdade Gay nos Estados Unidos, que a bandeira gay, hoje símbolo da comunidade LGBTQIA+, foi vista nas ruas pela primeira vez.

A primeira versão, contendo 8 cores – rosa, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta -, foi obra do artista e designer Gilbert Baker que buscava um símbolo que promovesse a ideia de diversidade e inclusão. Antes da década de 70, a comunidade gay utilizava um triângulo rosa como símbolo do movimento. A marca do triângulo rosa classificava homossexuais dentro dos campos de concentração no período da Alemanha Nazista.

Nesse sentido, é nítida a rápida aceitação e adesão da bandeira ao movimento, pois ela sugere uma história de representação e orgulho, pensada para incluir e não segregar. Um símbolo proposto com respeito e admiração, além de projetado por um integrante da comunidade.

Com o tempo, devido a dificuldade de se reproduzir a bandeira com tantas cores, as cores rosa e anil acabaram por serem retiradas da bandeira, mas esta ainda carrega o caráter de representação e respeito merecidos pela comunidade LGBTQIA+.

Pessoalmente, esta imagem me chama a atenção de diversas formas, tanto o contraste entre as cores da bandeira em relação ao fundo acinzentado, como o contraste de movimento. Se olharmos bem a imagem, percebemos que as pessoas apoiadas no parapeito parecem estar apertadas, sem muito espaço para se movimentar. Entretanto, a mão sem dono que tremula a bandeira parece ter todo o espaço necessário para tal movimentação.

Muitos não percebem a importância de bandeiras para movimentos político-sociais, mas o peso carregado pela simbologia e a rápida ligação feita entre esta e o movimento em si é de extrema relevância. As associações feitas são parte do movimento e é dessa forma que a bandeira acaba por se tornar um símbolo de liberdade amorosa, de respeito e aceitação.

É preciso valorizar e enaltecer nossas simbologias.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar este artigo

COUTO, Sarah. Bandeira LGBTQIA+. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/bandeira-lgbtqia/>. Publicado em: 27/07/2022. Acessado em: [informar data].

Orlando Brito

Fotógrafo que documentou o passado ditatorial brasileiro.

Fotógrafo que documentou o passado ditatorial brasileiro.

 
Orlando Brito é um artista visual nascido em Minas Gerais, em 1950. Ele começou seus trabalhos na fotografia de modo autodidata, iniciando na profissão em 1965, no jornal Última Hora de Brasília. Entre seus objetos de estudo, o fotógrafo abordava temas como política, economia e questões sociais, como a vida urbana e do interior, além de retratar os indígenas. 

Fotógrafo Orlando Brito segurando uma câmera na frente de um dos olhos, ele se encontra na vertical na frente de um fundo branco. Seus cabelos são grisalhos e ele veste uma roupa azul.
Orlando Brito

Orlando Brito iniciou seus trabalhos durante os primeiros momentos da ditadura, onde retratou importantes momentos da história brasileira, acompanhando as personalidades políticas e fotografando os bastidores do Palácio do Planalto. Ele retratava os presidentes em situações não protocolares, em momentos de distração, em que era possível ver o indivíduo longe de sua personagem pública. Seus retratos mostram, de forma alegórica, as relações políticas e sociais no Brasil, tornando-se comentários críticos. Brito trabalhou em importantes veículos como o jornal O Globo e na revista Veja, onde publicou um total de 113 fotografias de capa. Em 1979, o fotógrafo ganhou o prêmio World Press, concedido pelo Museu Van Gogh, na Holanda, e recebeu o Prêmio Abril de Fotografia por onze vezes, além de outros prêmios.

Imagem de uma  passeata, no meio da rua se encontra um homem que posa em cima de um carro e acena para as pessoas em volta, no carro há também três militares. Ao redor do carro, uma multidão se reúne para ver o homem passar.  O primeiro plano da fotografia contem um homem com trajes militares de costa, ele parece olhar em direção ao carro.
Orlando Brito

Militares se reúnem em fileira, enquanto um homem de terno acompanhado de mais dois militares passam. Um coturno preenche o primeiro plano da fotografia.
Orlando Brito

Cinco silhuetas de homens fardados, no escuro, um deles segura um rádio comunicador. Ao fundo o Congresso Nacional iluminado.
Orlando Brito

Militares fardados, em fileira, aparentemente recitando algo. No meio deles há um homem com terno que também parece declamar.
Orlando Brito

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

A cor da morte é preta

Do pardo ao preto, da marginalização ao genocídio, o negro.

Do pardo ao preto, da marginalização ao genocídio, o negro.

No Brasil a cor da morte é preta e a violência segue essa paleta de cor à risca, que define o critério de morte ou vida, de negar ou permitir, de ser bom ou mau de clarear ou denegrir.

Manifestantes durante o ato Vidas Negras Importam, ocupam ruas na Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo. Em primeiro plano há uma mulher com um megafone em sua mão direita que parece gritar, ela mantém sua máscara de proteção abaixo do queixo para falar ao aparelho. Ao fundo vemos um grupo de pessoas em sua maioria identificável, mulheres negras que utilizam máscaras de proteção, segurando cartazes com frases, nomes, idades, e fotos, podemos identificar completamente os dizeres de pelo menos um cartaz que traz a frase: "Felipe Santos 18 anos ???” e uma foto de um menino negro abaixo. Em relação a outros cartazes, podemos deduzir que estão escritas as frases “Paulo Gabriel 6 anos” “Paulo Amaral 8 anos violência Policial” e “No brasil um jovem preto é assassinado a cada 23 minutos”. No plano ao fundo, pode-se ver construções, casas e prédios, uma fiação de rede elétrica em uma altura baixa, e algumas árvores.
Bruno Santos/Folhapress

O autor da imagem é o fotógrafo Bruno Santos, e a fotografia ilustra uma matéria publicada pela Folha de São Paulo com o título “Parem de matar nossos filhos”. A fotografia mostra manifestantes carregando cartazes, com nomes de jovens mortos em ações policiais durante o ato “Vidas Negras Importam”.   

A foto, tirada no ano de 2020, na cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, me traz a impressão de que poderia ter sido tirada esse ano, ou nos próximos, em qualquer cidade do Brasil. Pois ela retrata a reivindicação de respostas ao genocídio de pessoas pretas, que são assassinadas a cada 23 minutos em todo país, e na maioria esmagadora dos casos, são acontecimentos invisibilizados e esquecidos.

Os cartazes presentes na imagem, apesar de estarem em segundo plano, são os primeiros a chamarem minha atenção. Por se tratarem de códigos linguísticos, eles nos convidam a lê-los. Os cartazes estampam frases, nomes, números, e dores. Estampam vidas perdidas e desaparecidas. Estampam a morte e reivindicam respostas sobre ela, trazem voz ao silêncio mantido sobre essas mortes, e transformam o medo em revolta. Escrevem, em cima do apagamento desses assassinatos, “reivindicação”.

O grupo de manifestantes composto majoritariamente de mulheres negras, que seguram os cartazes, é o segundo ponto da imagem que meus olhos percorrem. Essas pessoas trazem semblantes pesados e de sofrimento e demonstram que além da pele de quem morre ser preta, a dor acima de tudo, quem sente são corpos pretos. Esses indivíduos reivindicam o direito à vida de pessoas negras, sua importância e acima de tudo sua dignidade. 

A mulher que ganha destaque no primeiro plano da fotografia, é a próxima parada da minha observação. Ao falar em um megafone ela traz em seu rosto uma expressão carregada de força e dor. A imagem grita, ainda que sem qualquer som, a dor que o povo preto sente e tem que transformar em força. Grita como essas mulheres, e acima de tudo essas mães que perderam seus filhos, tem que lutar por eles para reivindicar a vida, ainda que na morte. E ter esperança para transformar todo seu sofrimento, nessa luta.

Toda a cena presente na fotografia me tira o ar e o chão, me imprime cansaço e desespero, me traz a dor de saber que o meu povo precisa lutar apenas pelo direito de viver. Esses jovens assassinados tem uma pele como a minha, que carrega tanto significado, tanta vida, tanta gente, que me carrega também. Ao ver essa imagem, ela me fere. Mas como mulher negra, essa imagem também me traz força, a força que é necessária mesmo na dor e especialmente nela. A força para lutar, para que mais mães não percam seus filhos pretos, para que mais negros não tenham suas vidas roubadas. Que possamos ter essa força para reivindicar nossos direitos.

Chama de Conteúdo de Colaboradores

Quer publicar em nosso blog? Acesse nossa Chamada de Conteúdos de Colaboradores para saber como enviar seus trabalhos.

Sobre a autora

Isadora Lúcia de Souza Silva é bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Cultura Fotográfica

Grupo de Cultura, Ensino, Extensão e Pesquisa visa oferecer valor a sociedade mediante a produção de conhecimentos úteis ao campo da cultura e da fotografia.

Pular para o conteúdo ↓

Sair da versão mobile
%%footer%%