Contos de fadas

Campos floridos em nós mesmos.

A imagem abaixo foi fotografada pelo artista Steven Klein para a revista Vogue em 2020. Em um ensaio com a atriz Mia Goth chamado de Fantasy and Fashion. Com cores inexistentes no mundo real e cenários deslumbrantes, Steven faz uma mistura entre a moda e os contos de fadas.

A imagem mostra uma mulher de cabelos pretos e pele muito branca trajando um vestido rosa claro, ela está sentada em uma poltrona vermelha, enquanto ilumina com uma lanterna um canto do ambiente. O cenário mostra o cômodo de uma casa, com as paredes em um tom de azul, e o chão coberto por flores rosa, amarelo e laranja.
Steven Klein

Vestidos esvoaçantes, flores de diversas cores, exuberantes florestas, tons saturados, ainda que sejam ao mesmo tempo suaves; disso são feitos os sonhos e os contos de fadas. Entrelaçados, eles quase se confundem, sendo um necessário a existência do outro. Sem a habilidade de sonhar, histórias não seriam criadas, e sem histórias os sonhos não passariam de uma breve reprise de nossa memória.

Sempre fui uma criança muito solitária, que cresceu em uma roça sem o contato de outras pessoas da mesma idade. Para passar os meus dias e para poder suprir a falta de companhia, o melhor que eu podia fazer era criar histórias.

Eu via nas flores vestidos de fadas, que se camuflavam enquanto houvessem humanos por perto. Nos galhos das árvores que se juntavam, formando um arco, enxergava um portal que poderia levar para diferentes mundos. Nas frutas, via dádivas que quando ingeridas eram capazes de conceder superpoderes. 

Ao crescer, eu converti essa minha imaginação em necessidade de livros; me apoiando neles quando precisava fugir do mundo real. Ainda é assim. É na fantasia onde posso ser outra pessoa, e, não preciso ser ninguém, ou apenas acompanhar a vida de outra pessoa enquanto me esqueço de mim mesma. Mesmo que os finais não sejam felizes para sempre, eles me confortam das dificuldades do mundo.

Ainda continuo procurando por fadas e reinos encantados. E nas horas vagas, caço borboletas coloridas. Porque sem essas histórias o mundo seria somente cinzento, sem nenhum sonho. Não haveria motivo para continuar tentando, não haveria um refúgio para se esquecer dos problemas.

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PAES, Nathália Paes. Contos de fadas. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<{colar link da postagem}>. Publicado em: {colar data de publicação}. Acessado em: [informar data]. 

Gabriela Biló: o poder da mulher na fotografia política.

O cenário político brasileiro pelas lentes desta fotojornalista carregam as doses certas de ironia e criticidade que constroem sua carreira

O cenário político brasileiro pelas lentes desta fotojornalista carregam as doses certas de ironia e criticidade que constroem sua carreira

Em Brasília, cenário dos maiores escândalos da política brasileira, a fotojornalista Gabriela Biló se arrisca para conquistar fotografias que compõem um portfólio ousado. Natural de São Paulo, se mudou para a capital, tornando-se a primeira mulher do jornal Estadão a fotografar a política em sua sede. Com criticidade e humor seu trabalho muitas vezes irrita figuras políticas.

Gabriela Biló

Formada em jornalismo na PUC de São Paulo, começou a trabalhar de forma profissional no jornal “Futura Press”. Aos poucos, foi desenvolvendo sua aptidão para o fotojornalismo, até que em 2013, devido a sua cobertura de protestos, chamou a atenção do Estadão e se transferiu para lá. Como única jornalista mulher em sua área de atuação no jornal, encara um ambiente machista, mas nunca se deixa intimidar por conta disso.

Cobre o cenário político desde 2013, porém nos últimos 4 anos deu bastante ênfase em fotografar o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que tem sido o personagem principal de seu portfólio no instagram. Apesar de sofrer constantes ataques na internet, Gabriela Biló continua produzindo um trabalho profissional cheio de criticidade, o que a levou a ganhar o troféu de Mulher Imprensa  em 2020 e ser finalista do prêmio Vladimir Herzog.

Várias facetas de Bolsonaro enquanto ele gesticula.
Gabriela Biló
Bolsonaro olhando as horas.
Gabriela Biló
Foto em preto e branco de Bolsonaro. Seu rosto não aparece, apenas a sombra, sendo o lado escuto.
Gabriela Biló

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NASCIMENTO, Nikolle. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/gabriela-bilo/>. Publicado em: 21 mar. 2023. Acessado em: [informar data].

Verticalização da cidade

A sensação de aperto proporcionada por Berenice Abbott

A sensação de aperto proporcionada por Berenice Abbott

A fotografia de Berenice Abbott, tirada em 1933, mostra uma rua nova iorquina pela qual diversas pessoas caminham. Tirada de um ângulo superior, a foto dá ênfase aos altos prédios presentes dos dois lados da rua. A autora ainda cortou as laterais da imagem, ampliando o sentimento de aperto proporcionado por ela.

A fotografia em preto e branco mostra um comprida rua com várias pessoas andando. De ambos os lados há diversos prédios altíssimos.
Berenice Abbott

A foto, possivelmente tirada de uma janela devido à altura, me fez refletir sobre a crescente e compulsória construção de prédios cada vez mais altos nos centros urbanos. Essa verticalização das cidades expressada na foto me remete à sensação de pressão, aperto, falta de ar.

Na fotografia, as pessoas são apenas pequenos pontos quando comparados à grandiosidade e altura dos edifícios. Tento me imaginar nessa rua, olhando para o céu e enxergando apenas um pequeno pedaço dele. A imagem dos prédios se agigantando sobre mim parece, ao mesmo tempo, incrível e assustadora. É daí que surge o sentimento incômodo de aperto, de se perceber minúsculo entre as grandes construções.

Além disso, a falta de coloração na imagem realça o contraste formado pela luz do sol que perpassa os vãos dos prédios, formando largas faixas de luz na rua coberta de sombras. Ao caminhar por esta rua haveriam momentos de sombra e momentos de luz intercalando-se.

Ao meu ver, esta é a atual cultura dos espaços urbanos: se sentir pequeno, às vezes impotente, apenas mais um em meio a um grande grupo de pessoas, prédios e informações; apenas mais um indistinto indivíduo, contrastando com os altos prédios das cidades e alternando entre a luz e a sombra.

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COUTO, Sarah. Verticalização da cidade. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/verticalizacao-da-cidade.html>. Publicado em: 16 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Olhares sensíveis, não delicados

De todos os olhares complexos, o de James Dean é um modelo exemplar.

De todos os olhares complexos, o de James Dean é um modelo exemplar.

James Dean foi um astro dos anos 50 e um ícone da cultura pop para qualquer tempo posterior. Famoso pela atuação, beleza e comportamento, o falecido ator, morto num acidente de carro no ano de 1955, aos 24 anos de idade, se tornou postumamente o eterno padroeiro da rebeldia e referência quando se trata de juventude. Características essas que foram muito bem captadas pela fotografia de Dennis Stock.

Dennis Stock

O ator era conhecido pela irreverência, detalhe de sua personalidade que utilizava na atuação metódica de seus personagens, também muito semelhantes ao próprio ator, como o personagem Jim Stark de Juventude Transviada, o filme mais famoso em que atuou.

Apesar da fama ascendente, na época, James Dean levantou algumas questões polêmicas. Uma delas, referia-se a vida amorosa e sexual do ator. E anos após a sua morte, muitas especulações e boatos foram levantados, em especial sobre a sua relação com Marlon Brando, outro ator consagrado e famoso pelo papel de Don Vito Corleone em O Poderoso Chefão.

Em sua biografia não autorizada, intitulada James Dean: Tomorrow Never Come (O amanhã nunca chega), escrito pelos escritores Darwin Porter e Danforth Prince, foi afirmado que Marlon Brando se apaixonou pelo olhar de James Dean, que o fizera “arder”. É afirmado também que os dois foram um casal.

Independente da veracidade dessas afirmações, a vida pública de astros do cinema, assim como a de artistas no geral, sempre estimularam o imaginário do público e sempre serviram como exemplos de vidas anônimas e privadas, mundo afora. Ao olhar para James Dean, ciente da sua suposta homossexualidade, noto que algo sempre escapa em sua discrição gritante e silêncio embriagado.

Seus olhos são sensíveis, e, não de forma rasa; seus olhos são profundamente sensibilizados. São dotados de uma sedução que quase sempre seduzem sem querer. Entretanto, seu olhar não é frágil e nem delicado. Pelo contrário, são olhos afrontosos, rebeldes, como o próprio ator fora em vida.

Para mim, James Dean é o melhor exemplo de como homens gays não são, em vias de fato, sinônimos do que é feminino ou da ausência de uma masculinidade; ainda que a escolha e a natureza de cada um não seja limitada a não ser ou ser como tal – afinal cada um possui a liberdade de se identificar como bem entende e como se reconhece intimamente.

A liberdade de escolha, expressão e identificação é justamente o cerne desta questão, pois, socialmente, existe uma pressão silenciosa de rotular determinados grupos de pessoas de forma inflexível e totalitária, que nunca condiz com a realidade individual.

James Dean é um brasão para os seus semelhantes; que é – e deveria ser visto socialmente como – a naturalidade do desejo de um homem para com outros homens. E seu olhar sedutor e penetrante – ainda que quase ingênuo – não o torna desprovido de qualidades tipicamente masculinas, como: a postura, a voz, o comportamento, a mentalidade, as roupas que veste, seus gostos pessoais e trejeitos.

Hoje a liberdade, a orientação sexual e a identidade de gênero são questões defendidas por lei. Entretanto, olhando para a época em que essa foto foi fotografada, acaba sendo muito contraditório como a virilidade de homossexuais atualmente parece ser um tabu e um incômodo a nível social.

Um exemplo muito claro disso é como, majoritariamente, o conteúdo cultural voltado para homossexuais é sempre tão feminino, tão delicado e tão limitado a estereótipos e raramente deixam de ser falocêntricos. O que faz parecer com que a orientação sexual de um indivíduo o torne incapaz de ter individualidade de escolhas, pensamentos, gostos e preferências que perpassam suas preferências sexuais.

Em outras palavras, James Dean é um totem para todos os homens gays que não se identificam com voguing, roupas femininas, saltos altos, divas pop e todas as associações culturais que lhes são atreladas. São tão pejorativas como afirmar que todo homem heterossexual gosta de futebol, por exemplo.

Sim, há muita sensibilidade em olhos como os de James Dean, mas nem sempre há delicadeza por trás desses olhares. Alguns desses olhares miram em corridas de carros, esportes, literatura, no mercado de Wall Street, em gravatas-borboleta, ou nos corpos musculosos que as vestem, com alguma malícia, com muito desejo ou com nenhuma intenção.

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BRITO, C.S. Olhares sensíveis, não delicados. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/olhares-sensiveis-nao-delicados/>. Publicado em: 09 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Steven Klein

Um toque de obscuridade e surrealismo

Um toque de obscuridade e surrealismo

Steven Klein é um cineasta e fotógrafo de moda estadunidense. Com uma técnica que ultrapassa a intenção documental da fotografia, visando uma abordagem mais artística e criando imagens icônicas. Ele é conhecido também pelo seu trabalho ao fotografar celebridades como Madonna, Rihanna, Britney Spears e Lady Gaga.

Fotografia da cantora Madonna, vestindo uma roupa preta de bolinhas brancas com um tecido transparente na parte dos ombros. Ela apoia a nuca em uma mesa enquanto toca um saxofone.
Steven Klein

O fotógrafo Steven Klein nasceu em Nova Iorque em 1962. Ele estudou desenho na Rhode Island School of Design, mas mudou para o curso de Fotografia, preferindo se dedicar a essa área. A partir da fotografia, ele pode trabalhar com marcas como Calvin Klein, D&G, Alexander McQueen e Nike, além de revistas como Vogue, i-D, Numéro, W e Arena.

As fotografias de Steven Klein trazem narrativas transgressoras capazes de desconstruir os clichês relacionados à fotografia. Suas imagens possuem um tom sensual e sombrio, misturando o mundo da moda e comercial, com o erotico e o obscuro. Fazendo uma junção do belo e do horror, em um desarranjo, que causam um certo desconforto ao observador. As maiores marcas de seu trabalho são os elementos que circundam o cinema, a cultura cyberpunk e os fetiches sexuais.

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Paes, Nathália. Steven Klein. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/03/steven-klein.html>. Publicado em: 7 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data]. 

Berenice Abbott

Fotógrafa documental da cidade de Nova Iorque

Fotógrafa documental da cidade de Nova Iorque

Natural de Ohio, Estados Unidos, Berenice Abbott produziu instigantes fotografias urbanas e retratos. Semelhante ao trabalho de Eugène Atget, em Paris, a artista ficou conhecida pelo registro da modernização da cidade de Nova Iorque na década de 30. 

A foto, em preto e branco, foi tirada de um ângulo alto e mostra uma comprida rua com altos prédios de ambos os lados. A rua está bastante iluminada pela luz solar e há diversos carros, ônibus e pessoas a pé transitando por ela.
Berenice Abbott

Em 1921, com 23 anos, Abbott abandonou a universidade de jornalismo e mudou-se para a França a fim de estudar escultura. Chegou a trabalhar de assistente no estúdio de Man Ray e, também nessa época, teve contato com as fotografias de Paris de Eugène Atget que, posteriormente, seria uma de suas principais inspirações.

Aos 32 anos, Berenice retorna aos Estados Unidos, especificamente à Nova Iorque, e resolve registrar a crescente modernização da cidade. Berenice Abbott produziu fotos que abordam desde comerciantes e suas lojas à imagens distantes de prédios e ruas nova-iorquinas lotadas de gente.

A foto em preto e branco mostra a fachada de uma loja que possui dezenas de anúncios informando produtos e seus preços. Devido à quantidade de placas de anúncio não é possível enxergar a parte interior da loja pela vitrine.
Berenice Abbott

Além de seu famigerado trabalho registrando o crescimento da cidade estadunidense, Berenice chegou a produzir diversos retratos. O mais conhecido é seu autorretrato de 1930 que ficou famoso após a fotógrafa distorcer sua imagem, em 1950.

A imagem em preto e branco é uma distorção do rosto da autora. Desse modo, seu olho esquerdo aparece alguns centímetros acima do olho direito.
Berenice Abbott
A imagem em preto e branco mostra um par de mãos parcialmente sobrepostas. Ambas estão apoiadas sobre um chapéu.
Berenice Abbott

Abbott faleceu em 1991, aos 93 anos, em sua casa em Maine, Estados Unidos, deixando um extenso e grandioso trabalho fotográfico.

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COUTO, Sarah. Berenice Abbott. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/berenice-abbott.html>. Publicado em: 28 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

Escudeiros de Sempre e a lealdade de nunca

Num mundo onde muitos valores estão sendo perdidos, a lealdade paterna é uma dádiva

Num mundo onde muitos valores estão sendo perdidos, a lealdade paterna é uma dádiva

De uma forma geral, acabamos passando a maior parcela de nossas horas almejando usufruir da companhia de quem nos é caro, mas executando as ações que podem fortalecer nosso poder de compra, nossa segurança, nossa saúde e afins, mas não passamos, de fato, acompanhados dessas pessoas nem lhes deitamos um olhar por tanto tempo quanto deveríamos.

Foto em preto e branco de um pai de mãos dadas a suas filhas na beira da praia. Uma das crianças carrega um apanhador de peixes, e a outra aparentemente pediu para o pai levar para ela.
Danny Van Vuuren

Me recordo da minha infância; como era boa a sensação de ir até a praia com os meus pais. Me lembro de pensar, ainda menino, em como queria que aqueles dias nunca chegassem ao fim. Sorrio ao recordar das ilhotas próximas da costa, de como as enxergava com olhos de criança: continentes repletos de aventura. Os peixes eram criaturas fantásticas, tão interessantes quanto aquelas criaturas que nos dias de hoje são tão mais aparentemente interessantes na televisão.

De todas as coisas que me lembro, a presença do meu pai é a que mais me traz alegria. Aqueles momentos que hoje tento encaixar na memória, como peças de um quebra cabeças, como quando surfei nos ombros do meu velho nadador, a conquistar um daqueles continentes. Consigo sentir a mesma sensação nesta fotografia de Danny Van Vuuren. Para essas crianças, a menor das ondulações da água é algo novo, ainda que não seja inédito.

Porém, conforme a vida avança, o tempo se torna um inimigo. Precisamos nos estabelecer no mundo, profissionalmente, academicamente, socialmente, e temos que dividir nossa atenção com outras pessoas, outras causas, outras coisas. Até que, quando nos damos conta, já não temos um pai ou uma mãe, e tudo o que nos resta são as lembranças de quando estávamos protegidos pela lealdade dos laços familiares e pelo amor mais honesto que se possa existir.

Penso que, como num ciclo – para aqueles que possuem essas memórias intactas, resguardadas e vistas com bons olhos -, desejamos tanto retornar para aquele cenário de proteção familiar, que queremos assumir os papéis de nossos progenitores ou criadores. E é isso o que sinto olhando esta foto. Uma mistura de saudade da proteção do meu pai e um desejo de ser eu mesmo um pai.

A lealdade desses laços não se enfraquece seja qual for a situação. O amor existe, basta olhar para a fotografia; o cuidado singelo, o medo protetivo, a união. E lealdade seria o quê se não fosse o amor? Afinal, lealdade é a fidelidade e a responsabilidade que se tem mesmo na ausência, mesmo na morte. E a figura paterna será sempre a associação-mór disto.

São como os escudeiros da idade média, sempre prontos para cumprir seus votos e agir como os homens juramentados que são. Pais são isto: leais. E para todo filho que teve a sorte de ter um pai juramentado em seu desenvolvimento e felicidade, existe também o voto de lealdade de poder refletir seus valores, honrar os ensinamentos e seguir as pegadas na beira da praia que um dia foram daquele que nos antecedeu.

Afinal, neste mundo não estamos tão sozinhos quanto nos fazem crer. Se existem aqueles que nos ajudam tanto, mesmo quando não podem, nos doam a sua própria vida, de bom grado, para nos deixar viver melhor e com mais do que eles mesmos tiveram. A abnegação de um pai, a lealdade, é um dos valores que sei que jamais se perderão, quando tantos outros se perderam, como tantas pegadas engolidas pelas ondas do mar.

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BRITO, C. S. Escudeiros de sempre e a lealdade de nunca. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://tinyurl.com/bdzzbyra. Publicado em: 23 fev. 2023. Acessado em: [informar data].

Paul Freeman

A essência da masculinidade tem nuances de erotismo e sensibilidade.

A essência da masculinidade tem nuances de erotismo e sensibilidade

O australiano, Paul Freeman, é formado em literatura inglesa e história. O trabalho atual do fotógrafo é notoriamente reconhecido pelos traços autorais em suas fotografias. De forma geral, os elementos principais das fotografias de Freeman são homens nus e seminus.

Dois homens nus e sujos de lama brincando de lutinha em cima de um tronco de árvore num pântano.
Paul Freeman

As fotografias de Freeman exibem a beleza de corpos masculinos de forma irreverente e sofisticada. Posando-os em cenários rústicos, sujos e ásperos, os modelos fotografados transmitem a sensibilidade e a vulnerabilidade que quase nunca é associada à masculinidade.

Enquanto muitos homens são temidos pelos músculos e pela aparência austera, nas fotografias de Paul Freeman, a beleza quase escultural desses corpos provam que ainda existe meninice por debaixo dos músculos e pelos corporais; e não somente isso, como também a arte, a sensibilidade e sentimentos que nem sempre são vistos sob olhares superficiais.

Dois homens nus ancorando um barquinho num lago.
Paul Freeman
Três homens nus brincam na lama.
Paul Freeman
Homem posando nu ao lado de um cavalo nu celeiro escuro.
Paul Freeman
Um homem nu sorri dentro de uma banheira. Está usando botas e suas roupas estão na borda da banheira.
Paul Freeman
Três mergulhadores estão submersos numa piscina na fotografia em preto e branco e parecem buscar por algo embaixo d’água.
Paul Freeman
Dois roqueiros parecem cantar ao microfone. Enquanto um está nu o outro está vestindo calças e um colete enquanto toca guitarra num cenário sujo e enferrujado.
Paul Freeman 
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BRITO, C. S. Paul Freeman. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://tinyurl.com/t7pen2me>. Publicado em: 21 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

Racismo Religioso e a guerra política do bem contra o mal

Shirley Stolze denuncia em sua fotografia mais um caso de racismo religioso no Brasil.

Shirley Stolze denuncia em sua fotografia mais um caso de racismo religioso no Brasil.

A fotografia abaixo é da fotojornalista Shirley Stolze, do jornal baiano A Tarde. Publicada em novembro de 2018, a foto é vinculada a uma matéria sobre um acontecimento de intolerância religiosa e mostra uma parte da área externa da Casa de Oxumarê: um dos mais importantes terreiros de Candomblé do Brasil, em Salvador (BA).
 
A fotografia mostra parte do muro do espaço de celebrações religiosas “Casa de Oxumarê” em Salvador (BA). No muro pintado de branco está pichado com tinta preta “Jesus é o Caminho”.
Shirley Stolze

No muro branco do local há a seguinte frase  pichada com tinta preta: “Jesus é o caminho”. A frase é uma afronta aos que frequentam a casa e cultuam religiões afro-brasileiras. A pichação invalida outras crenças, impondo  um ponto de vista como sendo o único a seguir. 

É importante ressaltar o racismo religioso como um elemento presente estruturalmente desde a construção do que hoje conhecemos como Brasil. Nesse sentido, não há como negar que o racismo é uma componente presente, desde o período colonial, nos discursos e nas práticas de intolerância contra religiões de matrizes não europeias. Sendo a invalidação religiosa, que era praticada pelos Jesuítas com indígenas e negros, unida à violência contra o que era considerado “diferente”, ainda permanente.  

De acordo com dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2021 foram recebidas 586 denúncias por intolerância religiosa. O estado que mais registrou ocorrências foi o Rio de Janeiro. Segundo o relatório da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, 91% dos ataques foram destinados à religiões de matriz africana. Sendo essa vertente a mais atacada em todo o país. Assim, faz-se necessário ampliar o debate da Intolerância religiosa para o Racismo religioso.

Em 2022, ano de eleições, Michelle Bolsonaro, a primeira dama do Brasil, vem sendo uma personagem ativa na campanha para a reeleição do  atual presidente da república, Jair Bolsonaro, filiado ao Partido Liberal. Com um discurso emotivo, que ressalta valores apoiados pela população mais conservadora do país, Michelle vem servindo de mediadora para atrair o eleitorado feminino e despertar a admiração e a atenção de grupos evangélicos no Brasil. 

Em agosto de 2022, Michelle compartilhou em suas redes sociais um vídeo da vereadora paulista Sonaira Fernandes, do partido Republicanos, que dissemina discurso de ódio contra religiões de matriz africana e acusa o ex-presidente Lula de ter entregado a alma para vencer as eleições. No vídeo, aparece o ex-presidente e atual candidato à presidência do país Lula recebendo de uma mãe de santo um banho de pipocas, ritual feito para saudar Omulu, orixá cultuado por religiões afro-brasileiras. Na legenda do vídeo, Michelle escreve:  “Isso pode né! Eu falar de Deus, não”. 

A frase registrada por Shirley Stolze apresenta sintomas de uma sociedade adoecida por fanatismo e agravada por discursos que rejeitam a pluralidade. Além disso, o uso da fé para a exploração política tira de campo os debates necessários para o pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito. O discurso presente na fala da primeira dama e na foto analisada afrontam a Constituição Federal que determina a liberdade religiosa para todos os cidadãos. E, o Brasil, construído em cima de sangue e suor negro, persiste em negar para essa população dignidade e respeito.

 

#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

 

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Silva, Vinícius Augusto. Racismo Religioso e a guerra política do bem contra o mal. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/02/blog-post.html>. Publicado em: 16 de fev. de 2023. Acessado em: [informar data].

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