Luisa Dörr

Nascida no município de Lajeado, no ano de 1988, Luisa Dörr desde bem pequena era apaixonada pela fotografia. Começou sua carreira trabalhando no estúdio da tia, cuja especialidade era casamentos e recém nascidos. Em 2014, trabalhou como freelancer para veículos como Folha de São Paulo, Estadão, El País e Vice.

Fotógrafa responsável por fazer 12 fotos de capa para a revista Time, com apenas um smartphone.

Nascida no município de Lajeado, no ano de 1988, Luisa Dörr desde bem pequena era apaixonada pela fotografia. Começou sua carreira trabalhando no estúdio da tia, cuja especialidade era casamentos e recém nascidos. Em 2014, trabalhou como freelancer para veículos como Folha de São Paulo, Estadão, El País e Vice.

Luisa Dörr

Em 2014, conheceu a modelo Maysa Martins Leite enquanto cobria um concurso de beleza infantil. Ela, então, inicia a série Maysa, na qual a fotógrafa acompanha a trajetória da garota de apenas 11 anos de idade, em seu sonho de se tornar Miss Brasil. As fotografias feitas por Dörr possuem um caráter extremamente intimista e retratam uma história de superação e empoderamento da menina que saiu da comunidade da Brasilândia rumo às passarelas.

Em 2015, ela começa o projeto #womantopography, focado em estudar as feições femininas como paisagens complexas e com isso, contar as histórias das mulheres que encontra em suas viagens. Com o sucesso de seus dois trabalhos, em 2017 ela foi convidada pela revista Time, para  fazer 46 retratos de influentes mulheres do cenário político atual. O que ela fez utilizando apenas um smartphone, 12 de suas fotos foram selecionadas para estampar a edição especial da revista que recebeu diversas capas.

Luisa Dörr
Luisa Dörr
Luisa Dörr
Luisa Dörr

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Luisa Dörr. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/luisa-dorr/>. Publicado em: 01 de nov. de 2021. Acessado em: [informar data].

Os Flagelados da Seca no Ceará

A foto de Juca Martins mostra o abismo econômico que existe entre as classes mais ricas e mais pobres no Brasil

A foto de Juca Martins mostra o abismo econômico que existe entre as classes mais ricas e mais pobres no Brasil

Tirada em 1983, pelo fotojornalista Juca Martins, quando ele foi cobrir os impactos de um dos mais longos períodos de estiagem que atingiu o país, a foto mostra pessoas com vestes simples, à beira de uma estrada. Elas erguem suas mãos em súplica na direção de um Chevrolet Opala, um dos carros mais luxuosos de sua época, o carro apenas entra na contramão para se distanciar e segue seu caminho. 

Juca Martins

Na época retratada, o nordeste do país estava passando por um dos piores períodos de seca de sua história. Ele durou de 1979 a 1985, atingindo seu ápice em 1981. Criações de animais e plantações inteiras morreram, deixando milhares de famílias sem ter o que comer. Diante desta situação, João Figueiredo, presidente do regime ditatorial, declarou que “Só nos resta rezar para chover”.

Além da seca, o país também sofria com índices altíssimos de inflação. Com o intuito de contê-la, os militares criaram um modelo econômico que levou ao que ficou conhecido como “milagre econômico”, período com índices de inflação baixíssimos e com o PIB elevado. Porém, o modelo era mal planejado e por mais que a inflação tivesse caído a desigualdade social disparou e a economia ficou extremamente dependente da exportação de commodities. Em 1979, com a segunda crise do petróleo, a economia despencou, a inflação chegou a 200% e o país se viu afundado em dívidas.

O suposto “milagre econômico”, responsável por enfraquecer sindicatos e privar milhares de trabalhadores de seus direitos, acabou deixando o país em uma situação econômica ainda pior, na qual o 1% mais rico da sociedade detinha 30% de toda a renda do país.

Com essa composição, o fotojornalista traz uma mistura entre o chocante e o sutil. A fotografia com toda certeza tece críticas fortes ao governo da época, juntamente com seus modelos econômicos, mesmo sem fazer menção a ele. Isso era essencial para todos os profissionais de imprensa da época, devido a forte censura feita pelos militares, que, mesmo reduzida na época, ainda poderia ser perigosa para os jornais, mas principalmente para os jornalistas.  Na foto,

Juca Martins capta uma síntese de todos esses 20 anos de história. A direita vemos um Chevrolet Opala, fabricado em 1976, período auge do “milagre econômico”, representando o melhor da industrialização desenfreada, ocorrida com a vinda das montadoras automobilísticas para o Brasil. E a esquerda, separados do Opala por uma linha contínua, uma família faminta e sedenta, que, diferentemente da indústria, não recebeu nenhum auxílio governamental e apenas implora ajuda para uma elite econômica que insiste em ignorá-la.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Os Flagelados da Seca no Ceará. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/os-flagelados-da-seca-no-ceara/>. Publicado em: 06 de out. de 2021. Acessado em: [informar data].

Evandro Teixeira

Fotojornalista documentou importantes períodos da história do Brasil

Fotojornalista documentou importantes períodos da história do Brasil

Nascido na cidade de Irajuba, na Bahia, no ano de 1935, ainda muito novo, teve como professor de fotografia Teotônio Rocha, primo do diretor Glauber Rocha. Sua carreira como fotojornalista iniciou-se 1958,  no jornal Diário da Noite, onde era encarregado de fotografar casamentos que eram comentados nas páginas do periódico.

Evandro Teixeira

Em 1963, ele entra para o Jornal do Brasil, onde segue trabalhando até o ano de 2010. Sua obra possui uma pluralidade inegável, já que se destacou em vários campos relacionados à cobertura jornalística, desde temas referentes à política até fotografias de esporte. Em 1964, cobriu o golpe civil militar responsável por instaurar uma ditadura no país. Foi o único fotógrafo a ter acesso ao forte de Copacabana na madrugada do dia 1º de abril, onde registrou a chegada de Castelo Branco para seu pronunciamento e tomada de posse.

Também registrou as manifestações estudantis de 1968 e a derrubada do governo de Salvador Allende em 1973. Durante sua carreira publicou livros icônicos como “Fotojornalismo”, “Canudos 100 anos” e “68 destinos : passeata dos 100 mil”. Sua obra também foi imortalizada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, que dedicou a ele um dos poemas do livro “Amar se aprende amando”.

Evandro Teixeira
Evandro Teixeira
Evandro Teixeira
Evandro Teixeira

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Evandro Teixeira. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/evandro-teixeira/>. Publicado em: 04 de out. de 2021. Acessado em: [informar data].

-20.3775546-43.4190813

A força de Ynet Nili

A história por trás da fotografia vencedora do prêmio Pulitzer de 2007 

A história por trás da fotografia vencedora do prêmio Pulitzer de 2007

A fotografia foi feita em 2006 pelo fotógrafo israelense Oded Balilty enquanto ele cobria a desocupação de um acampamento ilegal de palestinos chamado Amona, em Israel. A ordem de desocupar o acampamento veio do governo de Israel, sob a alegação de que sua construção nunca havia sido aprovada. A garota na foto é Ynet Nili, que na época tinha 16 anos e estava tentando desesperadamente salvar a sua casa que ficava a poucos metros de onde a foto foi tirada.

Oded Balilty, Amona, Israel, 2006

Quando a foto foi publicada, ela teve uma gigantesca repercussão. O fotógrafo Oded Balilty se tornou o primeiro israelense a vencer o prêmio Pulitzer, o que não é nada surpreendente considerando a mensagem de força e resistência que a foto passa.  

Essa mensagem de força está muito ligada à forma desbalanceada da composição. Ynet ocupa uma parte muito pequena da foto e está muito à direita da foto, já os soldados, ocupam uma grande área que sai desde o lado esquerdo e vai até o direito. Isso ajuda a ressaltar a desvantagem na qual a garota estava.

Porém, apesar de toda essa diferença de força, temos a impressão de que ela está segurando todo o pelotão. Isso se deve a maneira com que os corpos estão dispostos. O de Ynet encontrava-se inclinado contra os soldados, já o corpo do soldado que está mais à frente, parece estar inclinado para trás. Com isso a garota parece estar mais firme, enquanto os soldados parecem estar caindo.

Contudo, ao ser perguntada sobre o momento dessa foto, Ynet diz que foi derrubada e espancada pelos soldados, que agiram de maneira violenta com todos os moradores do acampamento. Poderíamos, então, concluir que a foto é inverídica, já que passa uma mensagem de resistência intransponível, mesmo que a garota não tenha segurado os soldados ?

A fotografia vencedora do prêmio poderia, por exemplo, ter sido a do espancamento de Ynet logo depois desse momento, mas uma foto assim faria jus à coragem da menina de correr em direção aos escudos? Por mais que ela mostre o que realmente ocorreu com Ynet, ela teria a mesma força, simbolizaria também a resistência dos oprimidos?

Essa é uma foto que segue muito bem o conceito de momento decisivo criado pelo fotógrafo Henri Cartier Bresson. Mesmo que isso não seja mostrado, não é difícil perceber que a garota não conseguiu segurar a investida militar por muito tempo, mas também mostra a sua coragem de sair de sua casa e correr em direção a soldados armados com o único intuito de proteger seu lar e sua família. No fim, a foto, mesmo mostrando apenas alguns milésimos de segundo, conta toda uma narrativa com começo, meio e fim.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Shomei Tomatsu e a Globalização. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/shomei-tomatsu-e-a-globalizacao/>. Publicado em: 25 de maio de 2022. Acessado em: [informar data].

As fotografias de Sofia Tolstói

Fotógrafa teve o trabalho eclipsado pelas exigências de seu marido, o escritor Liev Tolstói. 

Fotógrafa teve o trabalho eclipsado pelas exigências de seu marido, o escritor Liev Tolstói.

Sophia Andreyevna Tolstaya nasceu em Moscou no ano de 1844, ela era  filha de um importante médico, famoso por atender os Czares russos. Desde criança recebeu uma educação tradicional, focada em aprender tarefas domésticas. Porém, ela também era muito estudiosa e aos 16 anos já tinha recebido  um diploma de preceptora da universidade de Moscou.

Sofia Tolstói, autorretrato, Yasnaya Polyana, 1903

Foi nessa época que ela  ganhou sua primeira câmera e aprendeu todos os processos necessários para fotografar. Aos 18 anos, se casou com o escritor Liev Tolstói. Seu casamento foi conturbado, já que Tolstói acreditava que a mulher deveria ser totalmente devota ao marido. Além das tarefas domésticas ela era responsável por negociar os direitos de impressão e tradução dos livros do escritor. 

Mesmo não podendo se aprofundar na fotografia, devido às demandas da vida doméstica, suas fotos possuíam composições muito bem pensadas e uma grande sensibilidade com as pessoas fotografadas. A principal área de concentração de sua obra foi a documentação da vida de seu marido e do cotidiano das regiões agrárias da velha Rússia Czarista.

Sofia Tolstói, Liev Tolstói, Graspa, Criméia, 1901
Sofia Tolstói, Rio Voronca, 1897.
Sofia Tolstói, Vila de Yasnaya Polyana, 1896
Sofia Tolstói, Liev Tolstói, Vila de Yasnaya Polyana, 1902
Sofia Tolstói, Yanaya Polyana, 1893

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Link, Referências e Créditos

  • BENDAVID-VAL, Leah. TOLSTÓI, Sofia. Song Without Words: The Photographs & Diaries of Countess Sophia Tolstoy. National Geographic; Illustrated edition, 2007

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Shomei Tomatsu e a Globalização. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/shomei-tomatsu-e-a-globalizacao/>. Publicado em: 25 de maio de 2022. Acessado em: [informar data].

-20.3775546-43.4190813

Ansel Adams

Famoso por suas fotografias de paisagens grandiosas e pelo rigor na execução de procedimentos técnicos.

Famoso por suas fotografias de paisagens grandiosas e pelo rigor na execução de procedimentos técnicos.

Ansel Adams nasceu em 20 de Fevereiro de 1902, em São Francisco, Califórnia. Na sua adolescência sempre foi fascinado por parques naturais, em especial pelo de Yosemite, famoso por suas sequoias gigantescas. A pulsão por capturar as belezas do parque foi o principal motivo para ele ganhar sua primeira câmera e começar sua carreira na fotografia.

Mount Clarence King, Southern Sierra, Ansel Adams, 1924

Seus primeiros trabalhos como fotógrafo  foram para o Sierra Club, uma organização não governamental que visava a preservação ambiental. Por causa do clube, Adams conseguiu expor suas primeiras obras, o que o ajudou a criar uma reputação no meio fotográfico.

Em 1941, Ansel desenvolveu seu famoso Sistema de Zonas, visando obter o melhor resultado entre a exposição e o processamento de um filme fotográfico. Além de sua técnica impecável, que envolvia sempre uma profundidade de campo enorme, ele também ficou conhecido por sua militância pelas causas ambientais e por ter sido responsável pela criação do primeiro departamento de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova  York.

Ansel Adams, Austrália, 1960
Ansel Adams, Great Smoky Mountain Natural Park, 1948
Ansel Adams, El Capitan, 1916
Ansel Adams, Vale de Yosemite, 1937

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Ansel Adams. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/ansel-adams/>. Publicado em: 05 de jul. de 2021. Acessado em: [informar data].

Atrás da Estação de Saint-Lazare

Fotografia de Cartier-Bresson é uma síntese do “momento decisivo”.

Fotografia de Cartier-Bresson é uma síntese do “momento decisivo”.

A fotografia “Atrás da Estação de Saint-Lazare” tomada por Henri Cartier-Bresson é considerada uma de suas obras mais importantes. Ela retrata o momento em que um homem, saltando sobre uma poça, tem seus pés a prestes a tocar na água.

Henri Cartier-Bresson, Paris, 1932

Além do homem saltando, a composição da foto mostra vários elementos interessantes. A começar pelo reflexo da água parada, um importante fator para compor o ar misterioso da foto. Um pouco mais atrás, podemos ver o cartaz de um circo e nele o desenho de um dançarino, que parece mimetizar o movimento do homem em uma direção contrária e isso parece complementar o reflexo na água. Além de formas geométricas que trazem a foto um caráter surrealista, como os círculos em primeiro plano e as formas triangulares formadas pelos telhados ao fundo.

Por que essa fotografia é tão cultuada como sendo a síntese do pensamento de Bresson em relação ao momento decisivo? Em “O Momento Decisivo”, ele diz “Tinha, sobretudo, o desejo de captar numa única imagem o essencial de uma cena que emergia” (BRESSON, 1952, p. 147), ou seja, para ele o momento decisivo seria um exato ponto de uma cena, capaz de resumi-la como um todo, momento esse que só poderia ser captado por puro instinto do fotógrafo, quase que como uma premonição.

Na foto, o homem está eternamente preso no meio de seu salto, fadado a estar a milímetros do chão sem nunca tocar a água, porém, quem a olha consegue com clareza “ver” seus pés encontrando a água e a deixando turva. Confesso que, depois de tanto tempo olhando para ela, já consigo até ouvir o som da água respingando por todos os lados. É a isso que Bresson se refere ao dizer “uma cena que emerge”.

Outro ponto importante, cuja existência reforça ainda mais a ideia do momento decisivo, é o fato de a foto ter sido feita através de um buraco em uma cerca, isto sugere que Bresson não utilizou nada além de instinto para captar a cena. Além disso, ao analisar os detalhes das formas e do desenho do dançarino ao fundo, que casam perfeitamente na composição da foto, fica impossível não relacionar diretamente essa fotografia ao seguinte trecho:

Para mim, uma fotografia é o reconhecimento simultâneo, numa fração de segundo, tanto do significado de um fato quanto de uma organização rigorosa das formas, percebidas visualmente, que exprimem esse fato. (BRESSON, 1952, p. 153)

Talvez o único detalhe presente nessa fotografia que a distancie de uma síntese do momento decisivo seja o fato de que Bresson precisou cortá-la, ato raríssimo em todo seu trabalho, já que em muitos textos e entrevistas ele deixa claro seu repúdio por qualquer alteração da fotografia original. Segundo ele, a foto foi feita através de um buraco em uma cerca, que não era aberto o suficiente, por isso boa parte da foto não tinha nenhuma informação.

Não obstante, vemos uma fotografia capaz de resumir toda uma cena em apenas alguns milésimos de segundo, com uma composição tão rigorosa que parece ter sido montada, vemos um universo de possibilidades e conexões, capturado em um pequeno retângulo de 36x24mm.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Atrás da Estação de Saint-Lazare. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/atras-da-estacao-de-saint-lazare/>. Publicado em: 30 de jun. de 2021. Acessado em: [informar data].

Gabriela Biló

Mesmo que o mercado de trabalho do fotojornalismo seja dominado por homens, ela se mantém na linha de frente, produzindo excelentes fotografias!

Mesmo que o mercado de trabalho do fotojornalismo seja dominado por homens, ela se mantém na linha de frente, produzindo excelentes fotografias!

Gabriela Biló nasceu em São Paulo no ano de 1989, começou sua carreira na fotografia aos 21 anos, quando trabalhou como freelancer para a agência Futura. Hoje, ela é fotógrafa do jornal Estadão, com base em Brasília, onde acompanha a rotina do presidente da república, Jair Bolsonaro.

 Ex ministro da saúde Eduardo Pazuello depõe na CPI da COVID no Senado,
Gabriela Biló, 2021

Sua paixão por imagens e seu incessante impulso por contar histórias foram os principais fatores para a escolha da carreira. Elementos que, mesmo com o ambiente de trabalho tóxico causado pela misoginia e pela baixa remuneração, falam mais alto até hoje.

Em sua trajetória cobriu vários momentos importantes para a história do país. Em 2013 fotografou as manifestações do movimento Passe Livre, um pouco depois, em 2015, fez a cobertura do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em que acompanhou a lama até o oceano. No ano de 2020, com seus retratos do presidente Jair Bolsonaro venceu o troféu Mulher Imprensa na categoria de fotojornalismo, e concorreu ao prêmio Vladimir Herzog na categoria de fotografia. 

A tosse Atroz, Gabriela Biló, 2020
Líder indígena Antônio Tenharim nas cinzas de uma queimada na floresta Amazônica,
Gabriela Biló, 2019
O presidente Jair Bolsonaro em inauguração de usina de energia fotovoltaica,
Gabriela Biló, 2020
Jair Bolsonaro aponta o dedo em forma de arma para a cabeça de Sérgio Moro,
Gabriela Biló, 2019
Ato do Movimento Passe Livre contra o Aumento da Tarifa, Gabriela Biló, 2013

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. Gabriela Biló. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/gabriela-bilo/>. Publicado em: 07 de jun. de 2021. Acessado em: [informar data].

A Mãe Migrante

A história por trás da mais famosa foto de Dorothea Lange.

A história por trás da mais famosa foto de Dorothea Lange.

A fotografia Mãe Migrante foi feita em Março de 1936 pela fotojornalista Dorothea Lange enquanto ela cobria a migração de trabalhadores rurais que estavam indo para o leste dos Estados Unidos em busca de emprego. Ela retrata Florence Thompson, que só foi identificada anos após a foto ser publicada.

A Mãe Migrante, Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936

Lange havia sido contratada pela Resettlement Administration (RA), agência criada pelo governo dos Estados Unidos em 1935 para reassentar familias carentes de zonas urbanas e rurais e que posteriormente integraria a Farm Security Administration (FSA), por. A cobertura tinha o objetivo de comover a população e incentivar políticas de amparo para essas famílias. A foto cumpriu bem seu papel, pouco depois de sua publicação, o governo americano enviou ajuda médica e alimentos para os acampamentos dos Pea Peckers, como eram conhecidos esses trabalhadores rurais.

Mesmo que muitas outras fotos tenham sido feitas na campanha, esta foi a que mais se destacou. Provavelmente, devido ao olhar distante da mãe, que nos sugere que ela está perdida em seus pensamentos. Seus três filhos se apoiam sobre seu corpo.  A despeito de sua expressão cansada, temos a impressão de que essa mulher não irá desistir.

Graças a essa mistura de empoderamento e sofrimento, muitos dos americanos passaram a ver nesse rosto uma representação do povo estadunidense, que enfrentava uma das maiores crises econômicas da história do país. Por isso, a fotografia de Lange passou a ser um dos maiores símbolos de sua época.

Em 1975,  Florence Owens Thompson finalmente se identificou como sendo a “Mãe Migrante” da fotografia de Dorothea. Ela entrou em contato com a Associated Press, concedendo uma entrevista sobre o seu lado da história. Segundo ela, a história sobre sua vida havia sido contada de maneira errada. Ela diz que não era uma Pea Pecker e que passou anos envergonhada por ter sua imagem associada a uma situação de pobreza extrema. Em sua versão, ela estava viajando com o marido e seus 6 filhos quando o carro quebrou na beira da estrada. Enquanto, seu esposo foi até a cidade mais próxima para comprar uma peça de reposição, ela montou uma tenda e preparou o almoço.Foi nesse momento que Lange apareceu e tirou a foto.

Com esse novo depoimento, muitas pessoas passaram a criticar o posicionamento ético de Lange. Acusaram-na de não ter coletado informações suficientes sobre a mulher e de ter orquestrado as poses da foto. Infelizmente, a fotógrafa já havia falecido há 10 anos e nunca pôde rebater as críticas.

Pensando na ética envolvida na produção desta fotografia e utilizando os depoimentos que temos junto às seis fotos feitas no encontro de Lange e Thompson, fica difícil apoiar apenas um lado como sendo o correto. Mesmo que Lange não tenha necessariamente contado a história exata, ela fez uma foto que serviu como simulacro para todo um grupo que acabou se beneficiando da repercussão da imagem. Florence, que mesmo tendo se sentindo envergonhada por causa da foto por um longo período de sua vida, também se beneficia dela, já que, nos anos 80, ela precisou se submeter a uma cirurgia que somente através da venda de cópias da foto foi possível de ser paga. No final, a foto carrega duas histórias, a de um povo sofredor, que conseguiu passar por um dos mais terríveis períodos da história dos Estados Unidos e a de uma mulher, que sem querer virou um símbolo de luta depois de um encontro de 15 minutos com uma fotógrafa.

Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936
Dorothea Lange, Nipomo, California, EUA, 1936

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Link, Referências e Créditos

Como citar uma postagem

CAVALHEIRO, Pedro Olavo Pedroso. A Mãe Migrante. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/a-mae-migrante/>. Publicado em: 02 de jun. de 2021. Acessado em: [informar data].

Sair da versão mobile
Pular para o conteúdo
%%footer%%