Os princípios compositivos em O Grande Hotel Budapeste

No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma luxuosa fachada de hotel. A parede é cor-de-rosa e o telhado azul.

No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma luxuosa fachada de hotel. A parede é cor-de-rosa e o telhado azul.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
Descrição: Uma luxuosa fachada de hotel.

Centralização

Já ensinamos em Regra dos Terços que nem sempre o elemento precisa estar centralizado para receber destaque, porém, Wes Anderson prova que tendo criatividade é possível centralizar tudo e qualquer coisa sem tornar a imagem entediante. Na sua cinematografia, a centralização coopera para um efeito propositalmente exagerado, que faz parte da ideia de um mundo próprio do filme, onde o absurdo é naturalizado, além de realçar a perfeição dos cenários extremamente simétricos.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma rua de uma cidade europeia, há casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma rua com casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.

Simetria

A simetria, aliás, é outra característica da composição cinematográfica do diretor. É o modo pelo qual o diretor enfatiza os ambientes que em suas obras são sempre parte importante das ações, quase personagens. Na cena abaixo, por exemplo, o personagem Zero está correndo pelo hotel, mas a cena é filmada em plano aberto e centralizada, em vez de seguir o personagem.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra o lobby do hotel. As paredes são de madeira e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que se divide em duas. É um ambiente luxuoso.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Lobby do hotel. As paredes são de mármore e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que, em cima, se divide em dois outros lances de escadas.

Linhas

É importante citar que a ênfase à simetria conta com a ajuda das linhas, assunto diversas vezes já abordado no #fotografetododia e que estão presentes por todo o canto no filme.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra dois personagens dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Dois personagens do filme, um jovem e um homem de meia idade, dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.

Formas

Além das linhas, a fotografia do filme brinca bastante com as formas, mas sempre simétricas.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.

Quadro dentro de quadros

Uma das maneiras que o filme explora as formas geométricas é através da utilização do framing ou de quadros dentro de quadros. Esse é um recurso que aparece muitas vezes para ajudar a manter o aspecto cômico do filme e, de certa maneira, é uma forma lúdica de transmitir o enredo do filme, que nada mais é do que uma história que nos é contada por um autor, que, por sua vez, a ouviu de outra pessoa. Ou seja, quadro dentro de quadros.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma janela oval com um funcionário olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome "Grand Budapest" está escrito em um letreiro dourado.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma janela oval com um funcionário do hotel olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome “Grand Budapest” está escrito em um letreiro dourado.

Regra dos Terços

Mesmo prezando pelos personagens e objetos centralizados, nas poucas cenas em que deseja descentralizá-los, o filme utiliza a boa e velha Regra dos Terços. Observe no frame abaixo como Monsieur Gustave (à frente) e Zero (atrás) estão nos pontos de interseção, assim como o nome do hotel. O ambiente, porém, está simétrico e centralizado, se mantendo fiel ao estilo do filme.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais nove está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais novo está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.

Fundo

O fato do ambiente ser mantido centralizado expõe uma preocupação de Anderson e da equipe técnica do filme com o plano de fundo. Essa é uma preocupação que deve ser copiada na fotografia. Especialmente na fotografia de pessoas, é um erro comum planejar a composição para o plano principal, deixando os planos interiores de lado. Em todas as cenas do filme o plano de fundo é muito bem planejado.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.

Ponto de Fuga

Essa preocupação com o ambiente se traduz em um importante conceito para a construção da profundidade: o ponto de fuga. Observe na cena abaixo como mesmo as laterais do carro parece que convergirão em algum ponto no infinito, passando a ideia de profundidade.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.

Paleta de Cores

Outro ponto importante para a fotografia dos filmes de Wes Anderson é a paleta de cores. Sempre muito colorido, seus filmes abusam de cores inusuais para transmitir a ideia de fantasia. Porém, dentro de cada cena as cores seguem um padrão, de forma que o colorido não seja confuso ou irritante. As roupas imitam o padrão de cores do ambiente, determinando dessa forma quem faz parte do lugar e que não faz. Os trabalhadores do hotel e o próprio hotel, por exemplo, apresentam uma coesão.
Além disso, as cores também ajudam a construir a história. As cores do hotel, que ilustram o seu luxo, servem de padrão para determinar se os outros ambientes também são luxuosos. As cenas na prisão, por exemplo, têm tons cinzentos. Uma brecha para uma sequência afetuosa entre o jovem casal do filme, por sua vez, utiliza tons pastéis, como a imagem abaixo.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra um homem e uma mulher jovens dentro de uma caçamba de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Um homem e uma mulher jovens estão dentro de uma carroceria de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.

Pontos de Vista

A comédia encontra espaço em outro elemento de composição: o uso de pontos de vista inusitados. O uso de plongè e contra plongè é bem difuso no filme, geralmente seguindo o ponto de vista de um personagem, ainda que outras vezes antecipe uma surpresa e em outras apenas nos apresente um objeto específico.
Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Mostra uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.
Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.

Descrição: Uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.

Objetiva

Por último, a fotografia do filme também permite observar a importância da escolha da objetiva para o resultado final. Se o filme não tivesse sido rodado com uma grande angular, seria completamente diferente. O hotel não seria capturado em suas grandes dimensões e também não haveria a pequena distorção que faz os personagens que estão perto da câmera parecerem maiores e, consequentemente, cômicos.
Assista ao filme e nos conte aqui nos comentários quais os outros princípios que pode ser observados no filme!
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Linhas

Linha é a trajetória de um ponto no espaço ou o espaço que liga dois pontos. É um elemento visual que transmite movimento e guia o olhar do leitor.


Linha é a trajetória de um ponto no espaço ou o espaço que liga dois pontos. É um elemento visual que transmite movimento e guia o olhar do leitor.
Fotografia em preto e branco tirada do sexto andar em que se pode visualizar as escadas rolantes de todos os andares abaixo. Cada andar possui um par de escadas, cada uma de um lado, exceto pelo térreo em que as escadas ficam juntas no centro do local.
Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Escadas Rolantes


Na fotografia, as linhas se apresentam como o contorno das formas; uma divisão entre duas partes da fotografia (como a linha do horizonte); ou a linha imaginária representada pelo caminho entre dois ou mais elementos da foto. As linhas podem ser retas ou curvas; verticais, horizontais ou diagonais. Na fotografia do Cristiano Mascaro, abaixo, as prateleiras, os livros, o chão, o corrimão e o teto são exemplos da utilização das linhas na fotografia. Neste caso, as linhas verticais, o contorno dos livros, transmitem a fartura das estantes e as linhas diagonais, prateleiras e corrimão, levam o olhar do leitor à estante do fundo.

Fotografia em preto e branco de uma biblioteca. Há uma estante de cada lado, elas ficam de frente uma para outra e ambas estão cheias de livros. O chão e o teto possuem um trilho e no meio da cena há dois corrimões. As estantes e os corrimões formam linhas que apontam para o fundo da biblioteca, espaço cuja a perspectiva faz parecer menor.
Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – A Biblioteca da Faculdade de Direito
De modo geral, as linhas são um direcionamento dentro da fotografia que enfatizam a profundidade e tamanho do objeto fotografado e provocam a sensação de divisão entre os elementos. Alguns elementos da paisagem possuem linhas naturais que ajudam a compor a imagem, como construções arquitetônicas e seus componentes, além de estradas, montanhas, a linha do horizonte, etc. Escadas são um exemplo de elemento cotidiano formado por diversas linhas. Tente fotografá-las de forma que o caminho dos degraus seja também o caminho dos olhos do leitor, como na fotografia a seguir, em que nossos olhos perfazem a espiral.
Fotografia em preto e branco de uma escada em espiral que desce por uma parede arredonda com painéis retangulares.
Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Escada do Edifício Esther

A linha, como recurso, também pode ser utilizada para criar divisão na cena. Deixar um espaço no meio da cena, entre duas pessoas ou dois objetos, cria uma linha imaginária, o que pode ser um artifício para estabelecer uma divisória, indicando, por exemplo, divergência entre esses dois elementos.

Para acentuar a direção das linhas e obter todo o potencial de composição delas, combine a orientação da fotografia e a direção das linhas. Utilize a orientação horizontal para enfatizar linhas horizontais e a orientação vertical para realçar as linhas verticais. No caso de elementos verticais, como prédios, a orientação vertical também faz com que pareçam maiores.

Fotografia em preto e branco e uma parte do Edifício Copan. A proximidade das linhas curvas do monumento faz a imagem parecer uma obra de artes abstrata.
Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Detalhe do Copan

Para construir uma boa composição de linhas, você pode se inspirar nas fotografias de Cristiano Mascaro, o fotógrafo que ilustra este post. Cristiano é um fotógrafo paulista. Ele foi repórter fotográfico na Revista Veja em 1960, mas atualmente se considera fotógrafo independente e se dedica a projetos pessoais. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, as construções citadinas são o principal tema das obras de Cristiano, exaltando as paisagens urbanas. E, como podemos notar, ele sabe muito bem enfatizar as linhas das construções de São Paulo para compor suas fotografias. Para saber mais sobre Cristiano, acesse o seu site.

Bora treinar! Utilize as linhas da paisagem ao seu redor para fazer fotografias que enfatizem a profundidade dos objetos ou acentuem as suas proporções. Depois, utilize as mesmas linhas para fazer fotografias que guiem o olhar do leitor.



Referências

  • Blog Emania
  • ELLEN, Lupton; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
  • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.


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Linhas horizontais, verticais e diagonais

As linhas são capazes de produzir sentido dentro da fotografia ao guiar o olhar do leitor. A direção das linhas, entretanto, pode fortalecer ou suavizar a imagem.

As linhas são capazes de produzir sentido dentro da fotografia ao guiar o olhar do leitor. A direção das linhas, entretanto, pode fortalecer ou suavizar a imagem.

Fotografia de um homem sentado na grade de um píer, de costas, olhando um lago com patos.
Cornell Capa – Alec Guiness studying his lines (Alec Guiness estudando suas linhas), Londres, Inglaterra, 1952.
Tendemos a associar linhas horizontais com o ato de estar deitado e linhas verticais com o ato de estar em pé. Por isso, linhas horizontais remetem a calma, tranquilidade e descanso. É o caso, por exemplo, da linha do horizonte.
As linhas horizontais são indicadas para dar ênfase às paisagens naturais como na fotografia acima, de Cornell Capa. Nascido em uma família judaica em Budapeste, Cornell Capa iniciou sua carreira em 1937 na Agência Pix Photo, passando a trabalhar depois na câmara escura da revista Life. Se tornou fotógrafo da Life em 1946. Capa considerava que já havia muitos fotógrafos de guerra em sua família, como o famoso fotógrafo Robert Capa, então se dedicou a fotografar a paz.
Na fotografia, o homem contemplando o mar aparenta estar relaxado. A paisagem ajuda a transmitir a sensação, mas as linhas horizontais na grade do píer, nas montanhas, nas nuvens e da própria linha do horizonte levam essa impressão ao máximo.
As linhas verticais transmitem o oposto das linhas horizontais: força, poder e grandiosidade. Na imagem abaixo, a mensagem de guerra e potência passada pelos mísseis é completada com o fato deles estarem dispostos verticalmente e de haver, no fundo, um amontoado de árvores, também linhas verticais.
Fotografia de misseis em frente a uma floresta.
Cornell Capa – The 69th Tactical Missile Squadron (O 69º Esquadrão Tático de Mísseis), Near Hahn, Alemanha Ocidental.
As linhas mais inusuais são as linhas diagonais e é exatamente isso que elas transmitem: inovação, modernidade e dinamismo. Já falamos aqui no blog sobre uso das diagonais e como elas podem evitar que sua fotografia fique monótona e dar destaque a objetos descentralizados.
A fotografia abaixo, por exemplo, poderia ser entediante caso a linha que corta o casal fosse vertical ou se não houvesse linha, mas a presença da linha diagonal produz uma quebra de expectativas e dinamiza a imagem.
Fotografia da rainha Elizabete e do príncipe Charles. Elizabeth e Charles estão de costas, sentados em cadeiras distantes e olhando um para o outro. Entre eles é possível ver a faixa da rua a frente deles.
Cornell Capa – Queen Elizabeth and Prince Phillip during the Queen’s visit to the United States (Rainha Elizabeth e Príncipe Phillip durante a visita da rainha aos Estados Unidos), cidade de Nova Iorque, EUA, 1957.
As linhas diagonais também são importantes para criar a sensação de profundidade que constitui um elemento de composição muito importante, o ponto de fuga.
Se as linhas guiam o olhar do leitor pela imagem, é necessário lembrar que na nossa cultura lemos da esquerda para direita, de cima para baixo. Leve este fato em consideração ao dispor os objetos em uma composição com linhas. Como na fotografia abaixo, em que vemos primeiro os pés da esquerda e em seguida os acompanhamos ao centro até o fundo da fotografia. Isto cria um ritmo que é quebrado apenas pelo garoto, que nos devolve o olhar. Se esta foto tivesse sido feita com os pés começando pela direita e indo em direção ao centro, não teria o mesmo efeito rítmico.

Fotografia de uma rua comprida, na calçada pode-se ver uma fileira de pés.
Cornell Capa – The Funeral of William “Bojangles” Robinson (O funeral de William Bojangles Robinson), Nove Iorque, 1948.
Para mais dicas, acesse a postagem sobre linhas. Lá falamos por exemplo da combinação de direção das linhas e orientação da fotografia.
Agora que você sabe o significado de cada tipo de linha, faça duas fotografias para cada uma. Tire a primeira fotografia focando apenas nas linhas verticais, já a segunda tente combinar com a mensagem que ela passa. Depois, repita o processo utilizando linhas horizontais e, por último, linhas diagonais. Veja a diferença entre as fotos e compartilhe as suas observações no nosso instagram.

Referências

  • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.
  • Lightroom
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Melissa Spitz

Melissa Spitz encontrou na fotografia a oportunidade de “pausar o caos”, registrando a doença mental de sua mãe.
Fotografia de uma mulher loira de meia idade tomando sol na parte rasa da piscina. A mulher veste um maiô rosa e óculos escuros.


Melissa Spitz encontrou na fotografia a oportunidade de “pausar o caos”, registrando a doença mental de sua mãe.
Fotografia de uma mulher loira de meia idade tomando sol na parte rasa da piscina. A mulher veste um maiô rosa e óculos escuros.
Melissa Spitz – Pool Day (Dia na piscina), 2015
“Pausar o caos”, foi como Melissa Spitz, fotógrafa americana nascida no Missouri em 1988, definiu o ato de fotografar a sua mãe na sua conferência no TEDxIndianopolisWomen. Desde a infância Melissa conviveu com os altos e baixos da genitora, diagnosticada com esquizofrenia paranoide, depressão e transtorno bipolar. Ela se acostumou ao fato de que algumas vezes sua mãe iria comprar cigarros para que ela parecesse legal entre os amigos, outras vezes a tentaria apunhalar com uma tesoura por ter contado para a mãe de uma amiga que seus pais brigavam muito.

Melissa começou a fotografar no Ensino Médio. “Eu sempre matava aulas e gostava da detenção porque pelo menos eu não precisava ir para casa. Mas logo eu encontrei uma aula que eu não queria matar e ela oferecia atividades extra curriculares: Fotografia. Eu tinha sido exposta a fotos através do meu avô, que tinha uma câmara escura em seu porão, e minha avó frequentemente me mostrava fotos da parte da família de Viena que não escapou (dos campos de concentração). Então eu sabia que esse veículo tinha essa maravilhosa capacidade de misturar o presente e o passado. Aos dezesseis anos eu entrei de cabeça. Eu fui a todas as aulas de fotografia que minha escola oferecia. Eu frequentemente continuava na escola depois das aulas”, contou Melissa Spitz no TED.

Apesar das dificuldades em casa por conta do comportamento instável da mãe, Melissa sabia que a vida podia ser pior. Ainda na sua conferência para o TED, ela contou que: “Eu não havia nascido na época da minha avó. Eu não era uma mulher nascida em uma sociedade misógina, uma refugiada separada dos meus pais ou uma adolescente crescendo em uma América em guerra. Eu era uma garota branca judia de classe média, com um carro, uma terapista. Eu tinha minha liberdade de expressão. Minha avó tinha tido a capacidade de manter a cabeça dela erguida quando ela tinha muito com o que se preocupar. Por que eu não poderia?”.

E não é a toa que ela ficou famosa com um ensaio chamado “You Have Nothing to Worry About”, ou Você não Precisa se Preocupar com Nada. O ensaio teve início em 2009, quando um professor da universidade passou um trabalho que requeria tirar fotos de algo privado. No começo, Melissa chegou a se perguntar se tirar as fotos era correto, mas os anos de abusos  sofridos a deram confiança para continuar.

Segundo Melissa, o ensaio não só permitiu que ela se graduasse com honras e fizesse seu mestrado, como lhe ensinou sobre empatia. Com as fotos ela teve oportunidade de “pausar todo o caos”, de olhar para o passado e para o presente, de entender como era lidar com uma doença mental e de descobrir mais sobre a mulher que lhe deu a luz.

Confira algumas fotos do ensaio “You Have Nothing to Worry About”:
Fotografia de uma mulher loira em frente a um lago usando um casaco até aos pés.
Melissa Spitz – Mom at the lake Creeve (Mamãe no lago Creeve), 2016
Fotografia de uma mulher loira de perfil. Seu maxilar tem contusões e há um pequeno corte na sua testa.
Melissa Spitz – “I fell down and broke my jaw” (“Eu caí e quebrei o meu maxilar), 2012
Fotografia de uma mulher loira, de olhos fechados e com um pequeno sorriso segurando uma máscara com uma expressão parecida com a sua.
Melissa Spitz – Mom’s mask, part 1 (A máscara da mamãe, parte 1), 2011

Fotografia de duas mulheres em frente ao espelho. A mulher da frente é loira e idosa, usa bobs nos cabelos e está passando creme no rostoa de trás é morena e jovem e segura a câmera para tirar a foto.
Melissa Spitz – Mom’s mask, part 2 (A máscara da mamãe, parte 2), 2016

Retrato de uma mulher loira idosa.
Melissa Spitz – St Augustine, 2016

Referências


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A better camera

A Better Camera promete deixar a câmera do seu celular com características de câmera profissional. Será que dá certo?

A Better Camera promete deixar a câmera do seu celular com características de câmera profissional. Será que dá certo?
Imagem promocional que mostra o aplicativo sendo rodado em um smartphone e todas as funções que ele oferece.
Foto promocional. Créditos: A Better Camera.
Apesar de adorar fotografia, eu preciso ser sincera: eu nunca compraria um celular baseado em sua câmera. Na minha opinião, grande parte da graça das fotografias mobile é usar a criatividade para superar as desvantagens da câmera do celular em relação as DRLS e colocar a composição em evidência. Mas às vezes eu gostaria que a câmera do meu celular tivesse algumas funções a mais. Por isso, resolvi testar o aplicativo “A Better Camera” e comparar as fotos tiradas com ele com as da câmera do meu celular sem utilizar nenhum aplicativo.

A Better Camera

A Better Camera é um aplicativo somente para Android que, como a tradução do seu nome diz, te oferece “uma câmera melhor”. O aplicativo é grátis, mas certos recursos são pagos e os preços variam de R$ 0,99 a R$ 3,99. Sua versão grátis possui:
  • 4 modos de medição de luz (automático, matrix, balanceado ou pontual);
  • 8 tipos de balanço de branco (automático, incandescente, fluorescente, fluorescente quente, luz do dia, dia nublado, crepúsculo e sombra);
  • 5 modos de foco (automático, infinito, macro, contínuo e trava de foco);
  • 3 tipos de flash (auto, manual, tocha);
  • 8 efeitos de cor (monocromático, negativo, ensolarado, sépia, posterização, whiteboard, blackboard e água);
  • compensação de exposição;
  • ISO até 1600;
  • DRO;
  • ferramenta de grid;
  • ferramenta de histograma;
  • ferramenta de nivelamento;
  • modo noturno;
  • best shot;
Além disso, na versão grátis é possível tirar uma quantidade limitada de fotos utilizando os modos HDR, panorama e multidisparo inteligente. Dentro do multidisparo inteligente existem as opções remoção de objetos, foto de grupo e sequência.
A câmera do meu celular tem ISO (se não sabe o que é, descubra aqui) máximo 800, controle de exposição, três modos de medição (centro ponderado, matricial e ponto) e cinco tipos de balanço de branco (auto, luz do dia, nublado, incandescente e fluorescente).

Primeiras impressões

Confesso que a interface me deixou um pouco confusa. O menu (que fica na parte de cima) possui uma seta para baixo paa acessar as configurações, porém, em determinado momento, o grid e o histograma saíram da tela e eu só descobri que para colocá-los de volta eu deveria deslizar a tela para o lado dias depois (e por acaso). Esse aspecto do aplicativo é pouco intuitivo.
A primeira coisa que resolvi testar foi uma comparação do modo automático do meu celular e do aplicativo. E, como você pode ver abaixo, não há diferença entre o modo automático de um e de outro.
Fotos tiradas com todas as configurações no automático: à esquerda foto da câmera do meu celular; à direita, do aplicativo.
Duas fotografias de uma capela branca à noite. As fotografias parecem iguais.
Fotos tiradas com todas as configurações no automático: à esquerda foto da câmera do meu celular; à direita, do aplicativo.

Foco

O que mais me impressionou foram os focos. Meu celular só consegue focar objetos que estão a aproximadamente 20 centímetros de distância da câmera. Utilizando o aplicativo e configurando o foco para o modo macro eu consegui focar objetos a um mínimo de 6 centímetros de distância.
Fotografia de uma flor cor-de-rosa.
Fotografia com foco macro.
O foco infinito não fez nada de especial. Na verdade, em algumas fotos utilizando o foco infinito, a imagem nem parece estar focada. O modo contínuo e a trava de foco, porém, funcionam muito bem.
A razão pela qual eu gostei tanto dos focos é que, independente de qual eu escolhesse, os focos reduzem a profundidade de campo, deixando apenas um plano em foco e resto embaçado. A profundidade não é reduzida drasticamente, mas é mais do que já consegui fazer com a câmera do meu celular. Gosto de como o efeito enfatiza aspecto do que está sendo fotografado como a textura.
Fotografia de algo que parece grades ou metais amarelos paralelos ao chão, que está ligeiramente desfocado.
Fotografia utilizando trava de foco para reduzir ligeiramente a profundidade de campo.
Foto utilizando trava de foco para reduzir ligeiramente a profundidade de campo.

DRO, HDR e Best Shot

As funções mais interessantes do aplicativo me pareciam ser o DRO, Dynamic Range Optimization (Otimização do Alcance Dinâmico), e o HDR, High Dynamic Range (Altíssimo Alcance Dinâmico). Ambos são tecnologias para ajustar a exposição quando uma parte da fotografia possui muita sombra e a outra muita luz. A diferença entre os dois é que o DRO faz o balanço diretamente na foto, enquanto o HDR tira duas fotos com exposição calculada para áreas diferentes e as junta em uma única foto. Além disso, no aplicativo, o DRO é grátis, enquanto o HDR é limitado a cinco fotografias.
Minha experiência com ambos, porém foi insatisfatória. O DRO baixava a qualidade da fotografia, a deixando granulada. O HDR, por sua vez, dava a aparência de uma pintura às fotos, o que pode ser legal quando proposital, mas não era a minha intenção.
Além desses dois elementos, o aplicativo possui um terceiro muito parecido: o “Best Shot”. Essa configuração faz várias fotos após o obturador ser pressionado, mas processa apenas a que tiver o melhor foco e nitidez. Para mim, o recurso cumpriu a mesma função do automático, porém demorando mais tempo para processar a imagem e impossibilitando que outras fotos fossem tiradas até lá.

Considerações finais

Ainda que o aplicativo tenha muitas configurações que a câmera do meu celular não oferece, a maioria delas não é necessária na maior parte do tempo ou não funcionam, se mostrando um excesso de funções. Elas servem para chamar atenção para o aplicativo, mas, na prática, poucas seriam usadas.
Para uma pessoa que busca apenas deixar fotografias mais nítidas ou corrigir problemas de exposição, as funções úteis se tornam ainda mais escassas, já que o DRO e HDR não funcionam bem. O aplicativo também pode ser difícil para alguém que não conhece termos como ISO ou exposição, porque o aplicativo só oferece manual para as funções originais.
Eu, porém, gostei muito da experiência criativa que o aplicativo proporciona. Mesmo utilizando poucas funções, as opções de balanço de branco, foco e flash aumentaram imensamente as minhas opções criativas para produzir uma foto.
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Farzana Wahidy

Farzana Wahidy, Afeganistão, 1984, cresceu sob a repressão do talibã e hoje é uma das pioneiras no fotojornalismo internacional no Afeganistão.

Farzana Wahidy, Afeganistão, 1984, cresceu sob a repressão do talibã e hoje é uma das pioneiras no fotojornalismo internacional no Afeganistão.

Fotografia de um bebê de bruços, olhando para a frente, atento. O bebê está usando uma blusa cinza com glitter. Sua mão está enfeitada com uma pulseira feita de miçangas coloridas que vai do pulso aos dedos. Em sua cabeça há uma touca azul enfeitada com pompoms coloridos.
Farzana Wahidy – Série “Afghanistan Single Images”.

Farzana Wahidy é uma mulher afegã. Isso diz muito sobre sua arte. Ter crescido durante o regime talibã lhe inspirou a começar a fotografar, como declarou em entrevista ao Open Society Foundation: “Foi durante o Talibã, que foi o tempo mais difícil para as mulheres, não era permitido que elas fossem à escola, ou trabalhassem, ou até mesmo apenas saíssem de casa, todas essas coisas estavam acontecendo ao meu redor naquela época, então a fotografia se tornou uma maneira para eu compartilhar essas histórias e me expressar”.

Quando o talibã caiu no Afeganistão, ela terminou o ensino médio e ingressou em um curso de fotografia. Em 2004, já era a primeira fotojornalista afegã a trabalhar para agências internacionais e, em 2007, ganhou uma bolsa para estudar fotojornalismo no Canadá. Suas fotos já foram publicadas no The Guardian, Sunday Times, Le Monde, entre outros jornais pelo mundo. Em 2012, o grupo MOBY a declarou uma das 100 mulheres afegãs mais bem sucedidas no Afeganistão.


Farzana luta para apresentar seu país e a situação das mulheres afegãs para o resto do mundo. Entre o seus ensaios mais populares estão “Burqa”, que mostra o cotidiano das mulheres utilizando a peça, e “Women of Afghanistan” (Mulheres do Afeganistão), que alerta para a violência de gênero no país e a relação das mulheres com o trabalho, com o casamento e com os padrões de beleza. Como ela declarou para a Smithsonian Magazine: “Eu acho que a fotografia é uma linguagem internacional e todo mundo pode lê-la. Eu a amo porque eu encontrei uma maneira de expressar meus sentimentos e de compartilhar as histórias e problemas que estão acontecendo no meu país para outras pessoas no mundo”.


Veja algumas das suas fotografias:

Fotografia de duas mulheres usando burcas azuis. Elas estão de frente uma para outra. A da esquerda tem a mão erguida e parece estar falando. Atrás delas estão penduradas outras burcas azuis, idênticas as delas, indicando se tratar de uma loja da peça de vestuário.
Farzana Wahidy – Série “Burqa”

Fotografias de mulheres de burca, enfileiradas de costas a uma parede diagonal do lado direito. A segunda mulher, de frente para trás, segura um bebê que veste um casaco vinho. O bebê brinca com a burca da mulher, na parte em que os olhos ficam cobertos..
Farzana Wahidy – Série “Burqa”
Fotografia de uma mulher e um homem em uma casa. As paredes da casa estão manchadas e  descascando. O chão não tem piso. A mulher está agachada na cômodo onde a fotografia foi tirada, lavando louça em uma tigela. Ela usa véu apenas no cabelo. O homem está em cômodo ao fundo. Não é possível saber o que está fazendo, mas também está agachado.
Farzana Wahidy – Série “Women of Afghanistan”
Fotografia de mãos femininas sobre o colo. As mãos estão abertas com as palmas viradas para cima e parecem pertencer a uma idosa. Há queimaduras por toda a mãos.
Farzana Wahidy – Série “Women of Afghanistan”
Fotografia de três mulheres utilizando roupas pretas e véu islâmico branco. Elas estão andando em direção à frente da imagem e  tentam segurar seus véus enquanto passam por uma tempestade de vento.
Farzana Wahidy – Série “Women of Afghanistan”
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Linha do Horizonte

Em fotografias de paisagens, salvo raras ocasiões, a linha do horizonte está presente. Aprenda a usá-la para transmitir naturalidade e equilíbrio.

Em fotografias de paisagens, salvo raras ocasiões, a linha do horizonte está presente. Aprenda a usá-la para transmitir naturalidade e equilíbrio.
Fotografia de três skatistas, um homem ao centro e mais a frente e duas mulheres, uma em cada lado, andando de skate em uma estrada. Eles estão de costas, andando em direção ao fim da estrada.
Foto de Daniel Espírito Santo

Na fotografia acima, de Daniel Espírito Santo, a linha do horizonte é bem definida pela divisão entre a estrada e o céu, não podendo ver o fim da rua a impressão é de que o caminho é bem longo. Mas nem sempre essa divisão será visível, podendo se tratar de uma linha do horizonte perceptiva. Ou seja, quando uma fotografia de paisagem não apresenta o horizonte bem definido, temos a tendência a acrescentá-la à imagem, imaginando o lugar onde ela ficaria, como na fotografia abaixo.


Fotografia de um barco com um aspecto retrô no mar. Há um pequeno barco a motor amarrado nele. O mar está calmo, mas há muita névoa.
Foto de Daniel Espírito Santo


Para utilizar a linha do horizonte a seu favor a principal regra é manter a linha do horizonte reta. Uma linha do horizonte torta causa desconforto no leitor, como se algo estivesse errado, tira a naturalidade da cena e transmite a sensação de desequilíbrio. Mesmo em uma foto em que o horizonte não seja visível, é indicado que a linha do horizonte seja perceptivelmente reta. Há casos específicos em que a linha do horizonte torta cria uma sensação de conformidade com o resto da cena, como na fotografia abaixo, em que a linha segue as ondas do mar, transmitindo o seu dinamismo e, por isso, está inclinada.


Fotografia de uma onda se formando, tirada de dentro do mar. O sol se põe no fundo da cena.
Foto de Daniel Espírito Santo

A linha do horizonte também pode ser utilizada como um auxiliar da regra dos terços, que pode ser aprendida aqui. Ela divide a cena em duas partes, mas essas partes não precisam ser iguais, deixe dois terços para a parte mais chamativa ou que você considere mais importante para a mensagem. Em uma fotografia em que o sol reflete na água talvez fosse mais interessante colocar a linha do horizonte acima, dando dois terços da imagem para o mar e um terço para o céu. Já em uma fotografia de pôr do sol, para colocá-lo em destaque, o céu poderia receber dois terços da imagem e o oceano um. Já uma fotografia em que se dá a mesma importância entre o céu e o mar poderá ter a linha do horizonte exatamente no centro. Na fotografia abaixo, por exemplo, não havia muito destaque nem no céu quanto no mar, por isso, o fotógrafo distribui igualmente o espaço da fotografia para os dois.

Fotografia do mar tirada no próprio oceano. A metade inferior da foto mostra apenas água, dando a impressão de que se está dentro do mar.
Foto de Daniel Espírito Santo

Desta maneira, a linha do horizonte transformará as suas fotografias de paisagens, trazendo para a imagem toda a beleza da vida real, como nas fotografias de Daniel Espírito Santo que citamos neste post. Daniel é um fotógrafo que mora em Portugal. Suas fotografias retratam os seus interesses: o oceano, esportes, viagens e aventuras. Como ele mesmo as descreve em seu site: “As fotografias que eu faço se distinguem pelas paisagens energéticas, momentos de êxtase e espírito de aventura”. Saiba mais sobre ele em: https://www.danielespiritosanto.com/. Agora é sua vez: fotografe paisagens usando a linha do horizonte para pôr elementos em evidência. Não se esqueça de mantê-la sempre reta e de explorar o horizonte perceptivo.


Referências

-20.3775546-43.4190813
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