No filme “O Grande Hotel Budapeste” dirigido por Wes Anderson podemos ver a aplicação de diversos princípios compositivos. Separamos alguns deles.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. Descrição: Uma luxuosa fachada de hotel. |
Centralização
Já ensinamos em Regra dos Terços que nem sempre o elemento precisa estar centralizado para receber destaque, porém, Wes Anderson prova que tendo criatividade é possível centralizar tudo e qualquer coisa sem tornar a imagem entediante. Na sua cinematografia, a centralização coopera para um efeito propositalmente exagerado, que faz parte da ideia de um mundo próprio do filme, onde o absurdo é naturalizado, além de realçar a perfeição dos cenários extremamente simétricos.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Uma rua com casas em ambos os lados e neve no chão. No meio da rua há uma cabine de jornaleiro antiga.
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Simetria
A simetria, aliás, é outra característica da composição cinematográfica do diretor. É o modo pelo qual o diretor enfatiza os ambientes que em suas obras são sempre parte importante das ações, quase personagens. Na cena abaixo, por exemplo, o personagem Zero está correndo pelo hotel, mas a cena é filmada em plano aberto e centralizada, em vez de seguir o personagem.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Lobby do hotel. As paredes são de mármore e o chão está completamente coberto com tapete vermelho. Há uma escada no meio do salão que, em cima, se divide em dois outros lances de escadas.
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É importante citar que a ênfase à simetria conta com a ajuda das linhas, assunto diversas vezes já abordado no #fotografetododia e que estão presentes por todo o canto no filme.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Dois personagens do filme, um jovem e um homem de meia idade, dentro de um vagão de trem antigo. Cada personagem está de um lado, eles se encaram.
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Formas
Além das linhas, a fotografia do filme brinca bastante com as formas, mas sempre simétricas.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Uma mesa no lobby do hotel vista de cima. A mesa é redonda e está perfeitamente centralizada. Fora da mesa o tapete forma uma moldura ao redor da mesa. Há quatro mensageiros na mesa, um deles olha para cima.
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Uma das maneiras que o filme explora as formas geométricas é através da utilização do framing ou de quadros dentro de quadros. Esse é um recurso que aparece muitas vezes para ajudar a manter o aspecto cômico do filme e, de certa maneira, é uma forma lúdica de transmitir o enredo do filme, que nada mais é do que uma história que nos é contada por um autor, que, por sua vez, a ouviu de outra pessoa. Ou seja, quadro dentro de quadros.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Uma janela oval com um funcionário do hotel olhando através dela. Detalhes na parede formam uma moldura ao redor da janela. Abaixo, o nome “Grand Budapest” está escrito em um letreiro dourado.
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Mesmo prezando pelos personagens e objetos centralizados, nas poucas cenas em que deseja descentralizá-los, o filme utiliza a boa e velha Regra dos Terços. Observe no frame abaixo como Monsieur Gustave (à frente) e Zero (atrás) estão nos pontos de interseção, assim como o nome do hotel. O ambiente, porém, está simétrico e centralizado, se mantendo fiel ao estilo do filme.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Mostra dois homens à frente do hotel. O mais velho está a frente e à direita. O mais novo está atrás e à esquerda. Ambos vestem uniformes roxos.
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Fundo
O fato do ambiente ser mantido centralizado expõe uma preocupação de Anderson e da equipe técnica do filme com o plano de fundo. Essa é uma preocupação que deve ser copiada na fotografia. Especialmente na fotografia de pessoas, é um erro comum planejar a composição para o plano principal, deixando os
planos interiores de lado. Em todas as cenas do filme o plano de fundo é muito bem planejado.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Um homem sentado a uma mesa. A parede atrás dele está coberta com estantes cheias de livros.
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Ponto de Fuga
Essa preocupação com o ambiente se traduz em um importante conceito para a construção da profundidade: o ponto de fuga. Observe na cena abaixo como mesmo as laterais do carro parece que convergirão em algum ponto no infinito, passando a ideia de profundidade.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Um homem sentado dentro de um carro de costas para o banco do motorista.
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Outro ponto importante para a fotografia dos filmes de Wes Anderson é a paleta de cores. Sempre muito colorido, seus filmes abusam de cores inusuais para transmitir a ideia de fantasia. Porém, dentro de cada cena as cores seguem um padrão, de forma que o colorido não seja confuso ou irritante. As roupas imitam o padrão de cores do ambiente, determinando dessa forma quem faz parte do lugar e que não faz. Os trabalhadores do hotel e o próprio hotel, por exemplo, apresentam uma coesão.
Além disso, as cores também ajudam a construir a história. As cores do hotel, que ilustram o seu luxo, servem de padrão para determinar se os outros ambientes também são luxuosos. As cenas na prisão, por exemplo, têm tons cinzentos. Uma brecha para uma sequência afetuosa entre o jovem casal do filme, por sua vez, utiliza tons pastéis, como a imagem abaixo.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Um homem e uma mulher jovens estão dentro de uma carroceria de caminhão cheio de caixas de doces. O caminhão é rosa claro e as caixas são rosa claro com laço azul claro.
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A comédia encontra espaço em outro elemento de composição: o uso de pontos de vista inusitados. O uso de
plongè e
contra plongè é bem difuso no filme, geralmente seguindo o ponto de vista de um personagem, ainda que outras vezes antecipe uma surpresa e em outras apenas nos apresente um objeto específico.
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Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. |
Descrição: Uma mesa redonda com guardas jogando cartas. A mesa é vista de cima e os guardas olham para cima.
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Objetiva
Por último, a fotografia do filme também permite observar a importância da escolha da objetiva para o resultado final. Se o filme não tivesse sido rodado com uma grande angular, seria completamente diferente. O hotel não seria capturado em suas grandes dimensões e também não haveria a pequena distorção que faz os personagens que estão perto da câmera parecerem maiores e, consequentemente, cômicos.
Assista ao filme e nos conte aqui nos comentários quais os outros princípios que pode ser observados no filme!