Mulheres no Fotojornalismo Brasileiro

Em uma profissão estruturalmente machista, mulheres buscam destaque desde 1910

Em uma profissão estruturalmente machista, mulheres buscam destaque desde 1910

A fotografia no Brasil nasceu enraizada no ato de documentar a realidade. Com a chegada dos equipamentos em 1840, foi-se desenvolvendo a cultura da documentação fotográfica e, em meados da década de 1890, começou a ser utilizada com intuito jornalístico. Alguns dos jornais e revistas que ganham destaque neste início são “A Revista da Semana” e “O Cruzeiro”.

Hildegard Rosenthal

Todavia, essa não era uma profissão que incluía as mulheres de forma pacífica. O machismo institucional arraigado na sociedade brasileira foi e ainda é responsável pelo apagamento de diversas mulheres na história e, entre elas, também se incluem as fotojornalistas.

Por isso, o atual percurso busca mapear algumas das profissionais que marcam a história do fotojornalismo brasileiro com muito profissionalismo, criticidade e, acima de tudo, força e coragem para caminhar contra um sistema que busca, sem êxito, condicioná-las em caixas que não cabem suas grandiosidades.

Começando por Hildegard Rosenthal, a fotógrafa nasceu na Suíça e emigrou para o Brasil em 1937. Em terras brasileiras, Hildegard atuou como fotojornalista (profissão ainda em seu desenvolvimento) em meios de comunicação influentes da época. A fotógrafa Alice Brill também teve uma história parecida com a anterior, nasceu na Alemanha, mas precisou emigrar para o Brasil junto de sua família. Aqui  também atuou retratando a urbanização da cidade de São Paulo. Além de fotojornalista, também era fotógrafa e artista plástica.

Já a fotojornalista Alice Martins é natural do Brasil. Saiu do Rio Grande do Sul para fotografar os conflitos armados no oriente médio e é uma das poucas mulheres que atua na linha de frente fazendo cobertura da guerra na Síria. Gabriela Biló também nasceu no Brasil, seu foco é fotografar a política brasileira. Com um acervo de imagens críticas (e por vezes ácidas), Gabriela é um dos grandes nomes do fotojornalismo da atualidade.

Por fim, Paula Sampaio tem um viés mais documental. A mineira começou a trabalhar com fotografia em meados da década de 80, quando também começou a trabalhar para revistas. Suas fotografias buscam evidenciar a realidade brasileira em suas mais variadas formas.

Postagens do Percurso

Questões Orientadoras

  • Da primeira até a segunda fotógrafa citada neste percurso são referentes a mulheres que, mesmo não tendo nascido em solo brasileiro, se naturalizaram no país e atuaram ativamente no desenvolvimento da profissão de fotojornalismo.
  • Da terceira a quinta fotógrafa citada neste percurso são referentes a mulheres que nasceram em solo brasileiro e atuam no fotojornalismo dentro e fora do país.

#percurso é uma coluna de caráter formativo. Trata-se de pequenos roteiros pelos conteúdos publicados no Cultura Fotográfica, elaborados para orientar o leitor em sua caminhada individual de aprendizado. Quer conhecer melhor a coluna #percurso? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

GANDRA, Nikolle. Mulheres no Fotojornalismo Brasileiro . Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/12/mulheresnofotojornalismo.html>. Publicado em: 9 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

Um clique que eternizou o ódio

Através das lentes de Alfred Eisenstaedt, somos impactados pelo ódio que sustentou o período mais sombrio do século XX.

A ideologia nazista serviu de base para o governo totalitário de Adolf Hitler que iniciou um dos conflitos mais importantes de toda a História: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entretanto, muito antes da guerra começar, com a invasão dos alemães à Polônia, o ódio contra as minorias que fugiam do padrão ariano “ideal” de Hitler já reverberavam fortemente entre os membros de seu governo. O registro de Joseph Goebbles, feito pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt para a revista LIFE em 1933, é a prova que temos dessa ojeriza propagada pelo regime nazista. Já que a foto foi tirada no exato momento em que o ministro da propaganda de Hitler descobre que estava sendo fotografado por um judeu.
Foto em preto e branco do nazista Joseph Goebbles sentado numa cadeira com as duas mãos apoiadas nos braços do assento. Ele veste terno e olha para a câmera com um olhar que transita entre a raiva, o desconforto e o ódio.  À sua direita, um homem está curvado para mostrar a ele o que parece ser um documento. Ainda, atrás de Joseph, vemos um homem com a cabeça baixa, olhando para o papel. O ambiente é um gramado e percebe-se uma construção ao fundo com uma pessoa observando a reunião pela janela, além de outros homens conversando ao fundo. Por fim, há arbustos e alguns pinheiros ao fundo.
Alfred Eisenstaedt
A fotografia foi tirada durante a conferência da Liga das Nações, antecessora das Nações Unidas, na Suíça. O fotojornalista judeu estava cobrindo as notícias e tirando fotos da conferência quando registrou o membro do Terceiro Reich. 
Sobre o acontecido ele contou em seu livro “Eisenstaedt on Eisenstaedt: A Self-Portrait” de 1985, “Em 1933, eu viajei de Lausanne para Genebra para a décima quinta sessão da Liga das Nações. Lá, sentado no jardim do hotel estava Dr. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Ele sorriu, mas não para mim. Ele estava olhando para alguém à minha esquerda… De repente, ele me encontrou e eu o encarei. Sua expressão mudou. Aqueles eram os olhos do ódio. Eu era um inimigo? Atrás dele estava seu secretário pessoal, Walter Naumann, com um cavanhaque e o intérprete de Hitler, Dr. Paul Schmidt… Eu devo ter sido perguntado como me senti fotografando esses homens. Naturalmente, não tão bem, mas quando eu tenho minha câmera em minhas mãos eu não tenho medo.”
Analisando essa foto nos dias de hoje, noto como toda a minha atenção se direciona para o rosto de Goebbles que está justamente no centro da imagem. Seu olhar me passa um misto de sensações, sendo o medo a mais marcante. Naquele momento, a forma como ele encara Eisendat é cortante, direta e maligna na essência da palavra. É como se lhe perguntasse “Por que você existe?”
Ainda, sinto que qualquer pessoa que olhe para a foto se colocará no lugar do fotógrafo, como se esse ódio de Joseph fosse direcionado para nós. Pois essa é a expressão pura e simples do que é negar o outro como seu semelhante.
Além disso, o momento rouba toda a atenção do ministro de Hitler: ele não foca no intérprete do Fuher ao seu lado, e sim direciona toda a sua energia na aversão ao judeu. Outro ponto que torna tudo ainda mais triste nesta análise é pensar que anos depois o mundo iria descobrir a forma do governo alemão lidar com aqueles “inferiores à raça pura”. Alfred, felizmente, não foi capturado e mandado para um campo de concentração, mas muitos de seus irmãos não tiveram o mesmo destino. Sentindo em seus corpos toda a energia maligna que estes olhos carregavam através de torturas e assassinatos, entre tantas outras barbáries que ainda assombram a história contemporânea.
Por isso, creio na grande importância de mantermos essa parte da História viva em nossa memória. Afinal, ainda há pessoas que defendem, mundo afora, as mesmas ideias apoiadas por Joseph Goebbles. Portanto, posso dizer que Alfred Eisenstaedt conseguiu eternizar em um clique a maior mensagem da concretização do ódio que assombrou a humanidade e que merece ser deixado no passado; porém, jamais esquecido. 

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Prêmio Aquisição do Museu Nacional da República

Festival Mês da Fotografia realiza concurso para brasileiros e estrangeiros


Dezenas de participantes da edição anterior do evento em frente ao Museu Nacional do Conjunto Cultural da República.
Jefferson D. Modesto

Foi aberto o edital para o Prêmio Aquisição do Museu Nacional da República, chamada organizada pelo Festival Mês da Fotografia, que nesta edição está aberta para todo o território nacional, como também para estrangeiros. O prêmio possui quatro categorias: Categoria individual, categoria jovens fotógrafos, categoria ensaios e a categoria fotografia inclusiva.


A participação do evento pode ser feita diretamente no site do Festival Mês da fotografia: https://festivalmesdafotografia.com.br/. Como informado pelos organizadores, o edital foi aberto com bastante antecedência de modo a facilitar a criação e viabilizar a produção dos participantes. Os prazos para inscrições vão até o dia 30 de Abril de 2023.

Local: Musel Nacional da República
Data: Os artistas selecionados serão informados no dia 30 de Maio de 2023




Como citar esta postagem

BRITO, C. S. Prêmio Aquisição do Museu Nacional da República. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: https://tinyurl.com/z3r73wyb. Publicado em: 07 de Dezembro de 2022. Acessado em: [informar data].

Diane Arbus

Fotografia em preto e branco. Mulher de cabelo curto carregando uma bolsa e segurando uma câmera fotográfica antiga. Ela parece estar em um parque. Atrás dela está uma lixeira e muitas pessoas.

Fotógrafa que retrata pessoas marginalizadas na sociedade

 

Nascida em Nova York, Diane Arbus foi uma fotógrafa e escritora norte-americana que procurava mostrar, por meio de suas imagens em preto e branco, aquilo que era considerado feio e não era exposto nas galerias de arte.

Diane Arbus segurando uma câmera, despojada olha fixamente para a câmera. Ela tem o cabelo curto e veste uma blusa bonita. Aparentemente está  numa praça pública
Diane Arbus

Seu trabalho tinha como foco registrar os indivíduos excluídos socialmente: travestis, homossexuais, pessoas portadoras de alguma deficiência ou qualquer outro grupo à margem. Trabalho que pode ser considerado uma forma de revolução, visto que traz à tona a imagem de cidadãos que devem ser devidamente respeitados.
 
A profissional temia ter que desviar o foco de sua arte para ser mais valorizada financeiramente. Essa situação agravou seu quadro depressivo e, então, infelizmente, Arbus cometeu suicídio em 26 de julho de 1971, aos 48 anos. Após o ocorrido, suas obras ganharam bastante destaque popular e, por isso, a fotógrafa foi a primeira norte-americana a ter seu seu trabalho exposto na Bienal de Veneza. 

Travesti negro e maquiado com bobbies no cabelo. Ele segura um cigarro e está com os olhos arregalados em direção à câmera.
Diane Arbus
Descrição: Casal lésbico se abraçando com ternura. Ambas olham fixamente para a câmera e têm o cabelo curto. Elas estão cobertas de manchas pretas, que simbolizam luta, dor e sofrimento.
Diane Arbus
Descrição: Há três pessoas na cena: um homem muito alto e, possivelmente, seus pais. Eles estão em um cenário que parece ser a sala de uma casa.
Diane Arbus

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

Soares, Maria Clara. Diane Arbus. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/diane-arbus>. Publicado em: 6 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

O Grande Vizinho, o colosso siderúrgico de Ipatinga

Fotolivro de Rodrigo Zeferino, artista visual ipatinguense, mostra a paisagem industrial da cidade.

A Usiminas é uma das maiores usinas siderúrgicas do mundo e está localizada exatamente no centro do município de Ipatinga, em Minas Gerais. Foi fundada em 1960, quatro anos antes da fundação da cidade, em um projeto do então presidente Juscelino Kubitschek.


A imagem mostra um cemitério com um grande gramado com várias placas distribuídas sob a grama, elas se localizam em cima de túmulos. Ao fundo, é possível ver as chaminés da usina e algumas residências. O céu está em tons de roxo e laranja, e suas cores se mesclam com a fumaça das chaminés.
Rodrigo Zeferino

A fotografia acima foi feita num cemitério da cidade de Ipatinga, mesmo lugar onde meu avô foi enterrado há 18 anos. Escolhi essa imagem justamente por ter um grande significado para mim. 

É engraçado que, antes de ver essa fotografia, nunca fui capaz de notar que era possível ver parte do complexo industrial da Usiminas de lá. Talvez por estar tão imersa no ambiente, eu não fosse capaz de percebê-lo. Mas, agora que estou em outra cidade, ver essa imagem chega a ser um pouco assustador.

A cidade foi construída em torno da usina siderúrgica e, a maioria dos bairros, de alguma forma, depende dela. Esse lugar carrega muitas histórias, muitas vidas dependem dela e outras muitas já foram perdidas por conta dela também. 

Em entrevista com Rodrigo, ele me contou sua intenção ao construir esse projeto: “Em ‘O Grande Vizinho’ tratei de criar uma narrativa que discorre sobre as relações da cidade de Ipatinga com a usina siderúrgica que ocupa seu centro geográfico. A proximidade absurda entre zona urbana e arquitetura industrial produz imagens de alto teor distópico, algo ficcional, de um realismo fantástico. Dediquei-me a explorar essas propriedades inerentes à paisagem local e trazer à tona o estranhamento que jaz inerte no olhar do ipatinguense nativo.”

A indústria cresce ao seu redor e você, como um pequeno ipatinguense, cresce junto dela. Lembro-me de que em 2019 e 2020, estudei em uma escola que ficava bem ao lado da Usiminas. Foi nesse período que senti na pele a coexistência do grande vizinho – era bem comum sentir pequenas partículas de minério frio caindo na pele logo pela manhã e meus tênis tinham que ser lavados semanalmente por conta do pó.

Essa imagem é capaz de mostrar não somente o óbvio, mas também que muitas das pessoas que residem em Ipatinga, dependem da Usiminas. Em muitos desses túmulos, jazem trabalhadores e trabalhadoras siderúrgicas, como meu avô fora um dia. Com muito sangue, suor e lágrimas, todos ajudaram a construir a cidade, a construir uma história, a construir nosso Grande Vizinho.


A imagem mostra o telhado de uma casa. Ao fundo, é possível ver o complexo industrial da Usiminas, um céu alaranjado com uma grande nuvem de fumaça proveniente da usina da cidade.
Rodrigo Zeferino

A imagem parte da prefeitura municipal da cidade de Ipatinga, assim como o pátio e outros prédios. Ao fundo, é possível ver grandes chaminés da Usiminas.
Rodrigo Zeferino
A imagem mostra um complexo residencial cinza escuro. Ao fundo, é possível ver o céu roxo com grandes nuvens de fumaça proveniente da usina da cidade e grandes chaminés.
Rodrigo Zeferino

A imagem mostra parte da Usiminas vista de cima de um morro. É possível ver um garoto observando a paisagem. Ao fundo, no complexo, vê-se fogo, fumaça e muitas luzes.
Rodrigo Zeferino

A imagem mostra um complexo residencial cinza escuro. Ao fundo, é possível ver o céu alaranjado com uma grande nuvem de fumaça proveniente da usina da cidade.
Rodrigo Zeferino

Ao ver todas essas fotografias incríveis, é possível concluir que a Usiminas não é apenas uma usina siderúrgica, mas sim, um onipotente e onipresente Grande Vizinho. O que o fotojornalista, Rodrigo Zeferino, captou com suas objetivas é de fazer cair o queixo e, com certeza, mudou minha forma de ver Ipatinga. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


Links, Referências e Créditos


Como citar esta postagem

CARVALHIDO, Sofia. O Grande Vizinho: o colosso siderúrgico de Ipatinga. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/blog-post.html>. Publicado em: 1 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

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