Alfred Eisenstaedt

O polonês que marcou a fotografia através de registros de grandes personalidades.

Alfred Eisenstaedt (1898-1995) se consolidou na fotografia trabalhando para agências como Associated Press e Pacific and Atlantic Picture Agency, e, posteriormente, para a revista americana LIFE, na qual teve mais de 2.500 fotos publicadas, entre elas 90 capas. Em seus trabalhos, Alfred é lembrado pelo olhar perspicaz para fotografar e por ser um dos pioneiros no uso da câmera de 35 milímetros no fotojornalismo; além, é claro, do uso da luz natural.
Fotografia em preto e branco de Alfred Eisenstaedt tirada de baixo para cima. Nela, Alfred segura uma câmera antiga com as duas mãos. Ele olha para o horizonte, num ângulo distante e a foto não mostra para nós. O fundo está desfocado, mas percebe-se um céu atrás dele.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Ele nasceu em Dirschau na antiga Prússia, território atualmente polonês, e é de origem judaica. Alfred se mudou com a família ainda criança para Berlim, onde, mais tarde, estudou na Universidade de Berlim e serviu a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Após o conflito, ele começou a trabalhar como fotojornalista freelancer, caminho que o faria se consolidar como um nome marcante da fotografia mundial.
De acordo com o Centro Internacional de Fotografia, Alfred Eisenstaedt é lembrado pelo seu olhar ágil e pela habilidade de fotografar em qualquer situação ou evento. Essas características não só o destaca de outros fotógrafos do período pós-guerra, como também fazem de seu trabalho documentos memoráveis de uma era tanto estética quanto historicamente.
Fotografia em preto e branco do ex-presidente John Kennedy, sentado numa cadeira em frente a uma mesa, e sua filha Caroline ainda criança que está mais próxima da câmera. Ambos sorriem e olham para um ponto à direita deles. O ambiente possui janelas e cortinas, além de um quadro à nossa esquerda.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Imagem em preto e branco do ativista Martin Luther King e Kenneth Kaunda, político e o primeiro presidente de Zâmbia. Eles parecem estar conversando e Kenneth está de perfil e com o rosto virado para Martin cuja face podemos ver. Eles parecem estar num escritório, pois, ao fundo, percebe-se uma estante com livros, uma porta à nossa esquerda e à frente dos personagens está uma mesa cheia de papéis.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Fotografia em preto e branco de sete crianças seguindo um Drum Major, equivalente a uma líder de uma banda marcial num gramado com muros e algumas árvores à nossa direita, atrás das crianças. Eles andam de forma divertida e descontraída.

Alfred Eisenstaedt | LIFE

 
Foto da estrela de cinema Marilyn Monroe em preto e branco. Marilyn olha para a câmera, seu braço esquerdo está apoiado na cintura e a mão direita está apoiada em um objeto que não aparece. Ao fundo vemos uma cerca de madeira.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Imagem em preto e branco de Adolf Hitler apertando a mão de Benito Mussolini. Mussolini veste roupas militares e Hitler está de casaco. O ambiente é um gramado e os dois estão à frente daquilo que parece ser um avião.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Foto em preto e branco de uma mãe e sua criança, 4 meses após o bombardeio atômico em Hiroshima. A mãe aparenta uma profunda triteza no rosto enquanto a criança aparenta medo. Ao redor, percebe-se destroços do ataque.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Como citar esta postagem
MAIA, Amanda. Alfred Eisenstaedt. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/Alfred Eisenstaedt.html>. Publicado em: 20 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

Um clique que eternizou o ódio

Através das lentes de Alfred Eisenstaedt, somos impactados pelo ódio que sustentou o período mais sombrio do século XX.

A ideologia nazista serviu de base para o governo totalitário de Adolf Hitler que iniciou um dos conflitos mais importantes de toda a História: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entretanto, muito antes da guerra começar, com a invasão dos alemães à Polônia, o ódio contra as minorias que fugiam do padrão ariano “ideal” de Hitler já reverberavam fortemente entre os membros de seu governo. O registro de Joseph Goebbles, feito pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt para a revista LIFE em 1933, é a prova que temos dessa ojeriza propagada pelo regime nazista. Já que a foto foi tirada no exato momento em que o ministro da propaganda de Hitler descobre que estava sendo fotografado por um judeu.
Foto em preto e branco do nazista Joseph Goebbles sentado numa cadeira com as duas mãos apoiadas nos braços do assento. Ele veste terno e olha para a câmera com um olhar que transita entre a raiva, o desconforto e o ódio.  À sua direita, um homem está curvado para mostrar a ele o que parece ser um documento. Ainda, atrás de Joseph, vemos um homem com a cabeça baixa, olhando para o papel. O ambiente é um gramado e percebe-se uma construção ao fundo com uma pessoa observando a reunião pela janela, além de outros homens conversando ao fundo. Por fim, há arbustos e alguns pinheiros ao fundo.
Alfred Eisenstaedt
A fotografia foi tirada durante a conferência da Liga das Nações, antecessora das Nações Unidas, na Suíça. O fotojornalista judeu estava cobrindo as notícias e tirando fotos da conferência quando registrou o membro do Terceiro Reich. 
Sobre o acontecido ele contou em seu livro “Eisenstaedt on Eisenstaedt: A Self-Portrait” de 1985, “Em 1933, eu viajei de Lausanne para Genebra para a décima quinta sessão da Liga das Nações. Lá, sentado no jardim do hotel estava Dr. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Ele sorriu, mas não para mim. Ele estava olhando para alguém à minha esquerda… De repente, ele me encontrou e eu o encarei. Sua expressão mudou. Aqueles eram os olhos do ódio. Eu era um inimigo? Atrás dele estava seu secretário pessoal, Walter Naumann, com um cavanhaque e o intérprete de Hitler, Dr. Paul Schmidt… Eu devo ter sido perguntado como me senti fotografando esses homens. Naturalmente, não tão bem, mas quando eu tenho minha câmera em minhas mãos eu não tenho medo.”
Analisando essa foto nos dias de hoje, noto como toda a minha atenção se direciona para o rosto de Goebbles que está justamente no centro da imagem. Seu olhar me passa um misto de sensações, sendo o medo a mais marcante. Naquele momento, a forma como ele encara Eisendat é cortante, direta e maligna na essência da palavra. É como se lhe perguntasse “Por que você existe?”
Ainda, sinto que qualquer pessoa que olhe para a foto se colocará no lugar do fotógrafo, como se esse ódio de Joseph fosse direcionado para nós. Pois essa é a expressão pura e simples do que é negar o outro como seu semelhante.
Além disso, o momento rouba toda a atenção do ministro de Hitler: ele não foca no intérprete do Fuher ao seu lado, e sim direciona toda a sua energia na aversão ao judeu. Outro ponto que torna tudo ainda mais triste nesta análise é pensar que anos depois o mundo iria descobrir a forma do governo alemão lidar com aqueles “inferiores à raça pura”. Alfred, felizmente, não foi capturado e mandado para um campo de concentração, mas muitos de seus irmãos não tiveram o mesmo destino. Sentindo em seus corpos toda a energia maligna que estes olhos carregavam através de torturas e assassinatos, entre tantas outras barbáries que ainda assombram a história contemporânea.
Por isso, creio na grande importância de mantermos essa parte da História viva em nossa memória. Afinal, ainda há pessoas que defendem, mundo afora, as mesmas ideias apoiadas por Joseph Goebbles. Portanto, posso dizer que Alfred Eisenstaedt conseguiu eternizar em um clique a maior mensagem da concretização do ódio que assombrou a humanidade e que merece ser deixado no passado; porém, jamais esquecido. 

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O beijo na Time Square

A história por trás da mais famosa foto de Alfred Eisenstaedt

No dia quatorze de agosto de 1945, o fotógrafo Alfred Eisenstaedt registrou em Nova York, a polêmica fotografia intitulada “O Beijo na Times Square”. A imagem retrata a cena de um beijo entre um marinheiro e uma enfermeira na Times Square, após o término da segunda guerra mundial.

Alfred Eisenstaedt

O fotógrafo utilizou uma grande profundidade de campo, provavelmente para captar as reações das pessoas ao redor do casal. Ele conta, em seu livro, que um dos principais motivos para ter tirado esta foto, foi como achou interessante o contraste entre o vestido branco da enfermeira e a roupa escura do marinheiro.

Conforme a fama da imagem crescia, a identidade do suposto casal apaixonado era questionada, já que as pessoas queriam saber como e onde estavam os sujeitos daquela fotografia. Depois de muitas pesquisas, Alfred Eisenstaedt descobriu que o nome do marinheiro é George Mendonsa, tripulante do navio USS The Sullivans. Já a enfermeira se chama Greta Zimmer Friedman, na época ela trabalhava como assistente de dentista e tinha 21 anos.

 Em entrevistas, Greta conta que nunca tinha dado permissão ao marinheiro para beijá-la. Além disso, a futura esposa de George aparece na foto e seu rosto pode ser visto por cima do ombro direito dele.  A fotografia  “O Beijo na Times Square” já foi considerada extremamente romântica e muitas releituras foram feitas.

 Confesso que já achei que era simplesmente um casal apaixonado posando para o fotógrafo. Entretanto, quando pesquisei a história que estava por trás, houve uma mudança na minha percepção em relação a esta fotografia. Por causa disso, descobri que a captura da imagem aconteceu em meio às comemorações eufóricas, devido ao final da segunda guerra mundial, mas também, a demonstração de afeto que eu achava que tinha sido registrada, na realidade, era um beijo bruto e sem o consentimento de Greta, ato que, ao meu ver, foi extremamente abusivo.

Podemos pensar que esta ação praticada pelo marinheiro, pode ter sido influenciada pela simples presença do fotógrafo. Logo, um agravante para a situação preocupante que ocorre na fotografia, já que George pode ter agarrado Greta por causa da existência de Alfred na cena.

Em relação ao beijo, o que eu percebo é uma circunstância em que George agarra Greta enquanto ela estava passando pela rua. O ato não foi consensual, ou seja, esse tipo de situação não é aceitável, pois trata-se de assédio sexual. Penso que é importante e necessário problematizar para desnaturalizar essa prática que ocorreu devido à objetificação da imagem da mulher e ao machismo institucionalizado. Com isso, saber a história, com o intuito de trazer outros elementos para a fotografia, é extremamente importante para que tenhamos um olhar mais atento.

A objetificação dos corpos femininos é um problema social que está enraizado nas entranhas da nossa sociedade. No dicionário, a objetificação é definida como:  “Processo que atribui ao ser humano a natureza de um objeto material, tratando-o como um objeto ou coisa; coisificação.” Trata-se da anulação da posição de sujeito da mulher, ignorando seus desejos e emoções. É entendê-la como um objeto passivo de receber quaisquer ações de terceiros.

Em suma, a fotografia é mais um exemplo dos males que o machismo causa no cotidiano e na vida das mulheres. Greta estava em um local público, mas isso não significa que seu corpo seja público. Com isso, ressalto, mais uma vez, a importância da história, do diálogo e da luta para desnaturalizar este tipo de ação.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

Como citar essa postagem

HELENA, Beatriz. O beijo na Times Square. Cultura Fotográfica. Publicado em: 13 de out. de 2021. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/o-beijo-na-time-square/. Acessado em: [informar data].

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