Luiz Alfredo e o Holocausto Brasileiro

Fotógrafo da revista “O Cruzeiro” registrou os horrores vividos pelos pacientes do Hospital Colônia de Barbacena em 1961

Fotógrafo da revista “O Cruzeiro” registrou os horrores vividos pelos pacientes do Hospital Colônia de Barbacena em 1961
Em 13 de maio de 1961, a revista “O Cruzeiro” chocava o país com a reportagem “Hospital de Barbacena: A Sucursal do Inferno” que revelava as condições insalubres em que viviam os pacientes confinados no complexo manicomial de Barbacena. Hoje, lembrado como um verdadeiro campo de concentração, palco de um holocausto, com 60 mil vítimas em Minas Gerais.
Imagem de um dos pátios do manicômio. A foto em preto e branco mostra um muro à frente de algumas árvores, alguns pacientes dispostos ao fundo estão na sombra, outros, expostos ao sol, e, à frente está um paciente, que aparenta ser uma criança, olhando para cima.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
O Hospital Colônia de Barbacena foi fundado em 1903 na cidade mineira – com o intuito de tratar pacientes vítimas de tuberculose. Entretanto, com o tempo, o lugar foi se tornando um local para aqueles que precisavam de ajuda psiquiátrica.
Contudo, o que se via no complexo manicomial estava longe de ser um tratamento médico. Para lá, eram enviadas, contra a própria vontade, pessoas que eram consideradas descartáveis para a sociedade. Chegavam de trem: mães solteiras, homossexuais, pobres, indígenas, inimigos políticos, mendigos, viciados em drogas, entre outros.
Vista de uma das janelas do manicômio. Entre suas grades de ferro, vemos pessoas aglomeradas num pátio tomando sol e cercadas por outras construções do complexo.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
Os “tratamentos” dados a essas pessoas – que na maioria nem tinham algum diagnóstico pra estar ali – variavam entre todas as possibilidades de um filme de terror, indo desde tratamentos de choque com cadeiras elétricas até camisas de força. Ainda, as condições de vidas eram as piores possíveis: expostos ao frio intenso da região muitos viviam nus, os pacientes dormiam sobre colchões de palha improvisados, passavam sede e fome e, quando eram alimentados, eram servidos de comida triturada (fator pelo qual muitos perdiam os dentes).
Imagem de uma das alas do hospital. Nela, vemos paredes envelhecidas abrigando muitos pacientes praticamente amontoados sobre as camas precárias. É possível ver alguns pacientes em pé ou sentados no chão. E, ao fundo, dois homens de terno conversando.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
Um paciente do Colônia está agachado numa poça d’água insalubre cuspindo esse mesmo líquido. Dando a entender que ele havia ingerido essa água. Atrás dele, está parte daconstrução do hospital e um cano que passa por essa poça.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
Uma criança está deitada no chão de concreto do hospital. Ela, ao contrário do que pode parecer, está dormindo e há mosquitos por todo o seu corpo.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
Quando “Hospital de Barbacena: A Sucursal do Inferno” – feita pelos jornalistas Luiz Alfredo e José Franco – chegou aos leitores de todo Brasil, os olhares voltaram-se para a questão dos tratamentos psiquiátricos no país, esse assunto era um grande tabu naquela época. Por isso, a reportagem extremamente denunciativa da revista é lembrada como uma grande contribuição na história da saúde brasileira e da imprensa nacional.
Com a Reforma Psiquiátrica no Brasil, o hospital Colônia de Barbacena foi mudando até se tornar o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena e uma parte da antiga estrutura chegou a ser desativada, em 1996, e transformada no Museu da Loucura. Em 2013, a jornalista Daniela Arbex publicou o livro Holocausto Brasileiro que conta em detalhes a história do Colônia e os bastidores da reportagem do “O Cruzeiro”.
Pacientes do Colônia em seus leitos improvisados. Ao centro, temos em destaque um homem sentado em sua cama olhando para o lado com atenção. Podemos supor que ele está olhando para alguém da equipe do jornal naquele momento. Seu olhar sério rouba a atenção.

Luiz Alfredo | O Cruzeiro

 
Foto tirada em ângulo picado de crianças deitadas em berços do Colônia.

Luiz Alfredo | O Cruzeiro

 
Um funcionário raspa a cabeça de um paciente do Colônia, que nu olha para o chão. Seu corpo está curvado e ao fundo vemos mesas com pratos empilhados e uma porta aberta  com outra pessoa (possívelmente um funcionário).
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
Uma janela com a grade de ferro está na frente de um paciente do Colônia. Essa pessoa está sentada e apoiada sobre a estrutura de ferro. Ela olha para sua mão e sorri.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
O cemitério do Hospital Colônia. Túmulos de concreto descuidados e envoltos por arbustos que cresceram desproporcionalmente.
Luiz Alfredo | O Cruzeiro
#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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MAIA, Amanda. Luiz Alfredo e o Holocausto Brasileiro. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/luiz-alfredo-e-o-holocausto-brasileiro/>. Publicado em: 09 de maio de 2023. Acessado em: [informar data].

Superinteressante: capas que marcam gerações

Enxergando além do óbvio desde 1987 e encantando leitores por todas as bancas do país.

A Superinteressante chegou ao Brasil há mais de 30 anos com a proposta de ser uma revista que falasse sobre ciência e cultura, e, logo na primeira edição, já foi um sucesso de vendas. Sendo uma versão nacional da espanhola Muy Interesante, a Super – como é carinhosamente chamada desde 1994 – é famosa por suas capas: sempre intrigantes e convidativas, seguindo a ideia de fazer o leitor se aprofundar no conteúdo da revista.

Com a manchete “A Revolução dos Supercondutores” sob o céu azulado, a imagem mostra um trem-bala vermelho sobre uma linha ferroviária num campo verde.
Capa da primeira edição | Superinteressante

A Super também é reconhecida internacionalmente por toda a arte que a compõe. Entre os pontos mais marcantes podemos citar as infografias que já são uma marca da revista e fizeram com que ela recebesse o Prêmio Malofiej – conhecido como o “oscar dos infográficos” – mais de uma vez. E as capas são uma verdadeira obra a ser analisada, misturando fotografias, desenhos, efeitos em photoshop entre outros.

Esta edição traz a manchete “Smartphone - o novo cigarro”. Nela, em plano médio, um homem está numa posição de semi perfil, num fundo azul escuro e olha para o smartphone cuja tela brilha intensamente. O aparelho parece sugar o rosto do jovem.
Edição de outubro de 2019 | Superinteressante
A manchete da revista é “Hipnose: como ela pode ajudar na sua vida” e traz o rosto de uma moça que está flutuando na água. Ela traz um sorriso tímido e olha em nossa direção, iluminada por uma luz amarelada à sua direita e uma luz azulada à sua esquerda.
Edição de abril  de 2022 | Superinteressante
Com a manchete “A Era da Mentira”, temos uma fotografia de peças que compõem um boneco de madeira do Pinocchio dispostas sobre uma peça, aparentemente uma mesa, de madeira amarela.
Edição de agosto de 2015  | Superinteressante
Com a manchete “Magnetorrecepção: o sexto sentido”, a capa apresenta uma moça em semi perfil olhando para um ponto à nossa direita. Ainda nesse lado, está iluminada por uma luz rosada e, do outro, por uma luz azulada. No centro, um laser branco pontilhado traça um desenho no rosto da mulher.
Edição de dezembro de 2021  | Superinteressante
A manchete “O enigma do Alzheimer” traz na capa uma senhora olhando para um espelho arredondado no qual seu reflexo está se desintegrando.
Edição de janeiro de 2022  | Superinteressante
Com a manchete “O lado sombrio dos Contos Infantis”, uma moça está posando vestida com uma roupa característica da personagem infantil Chapeuzinho Vermelho e segura uma máscara de lobo próxima ao rosto.
Edição de novembro de 2016  | Superinteressante
Links, Referências e Créditos
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MAIA, Amanda. Superinteressante: capas que marcam gerações. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/superinteressante-capas-que-marcam-geracoes/>. Publicado em: 14 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

Uma vítima do sensacionalismo

A capa da Veja que “matou” Cazuza antes da hora é, hoje, um exemplo sobre os limites necessários na cobertura jornalística

A capa da Veja que “matou” Cazuza antes da hora é, hoje, um exemplo sobre os limites necessários na cobertura jornalística

“Uma vítima da Aids agoniza em praça pública” era a manchete que estampava a capa da revista Veja em Abril de 1989. A edição leva o rosto de um dos maiores ídolos do rock nacional, o cantor Cazuza, ex-integrante do Barão Vermelho e autor de clássicos como Ideologia (1988), O Nosso Amor A Gente Inventa (1987) e Exagerado (1985). A capa assustou muita gente por passar a imagem de que o artista, que havia se declarado soropositivo naquele mesmo ano, havia falecido em decorrência da Aids.

Revista Superinteressante

A edição, na época, causou enorme polêmica quanto ao conteúdo da matéria sobre o cantor. O texto trouxe uma forma sensacionalista de abordar a luta de Cazuza contra a doença e é objeto de críticas, até hoje, sobre os limites necessários para se manter a ética no jornalismo.

Analisando a capa sob a ótica da atualidade, isoladamente do texto, notamos o cantor magro, pesando cerca de 40 quilos, em decorrência da AIDS e a forma exagerada como a Veja notícia a sua enfermidade já é suficiente para chocar qualquer um que passasse em frente às bancas de revista  na época.

Mas o que vejo é uma postura serena de uma pessoa que não se deixou abater mesmo passando pela fase mais amarga de sua vida. O olhar de Cazuza é fixo, imponente e corajoso. Ele me olha nos olhos e me passa a sensação de resistência e de que não se entregaria às delimitações e ao terror que a AIDS, ainda sem um tratamento adequado, passava naqueles tempos.

Com a afirmação da revista, que de forma infeliz abordou esse assunto, penso que se o propósito era falar, de forma a esclarecer, ajudar, informar, sobre a doença que acometeu o músico e que, na época, carregava diversos mitos, inverdades e preconceitos em relação às suas vítimas. Poderia não ter se rendido ao apelativo e ao sensacionalismo. Numa tentativa absurda de chamar atenção do público e vender mais às custas de uma pessoa em grande vulnerabilidade.

Cazuza morreu um ano depois do ocorrido. E ainda vemos muitos exemplos jornalísticos tão apelativos quanto este. Basta ligar a televisão para nos depararmos com programas que exploram diversos assuntos sérios da mesma forma que a Veja fez em 1989. Portanto, que essa capa seja lembrada e debatida na sociedade brasileira até os dias de hoje para que possamos avançar na reflexão dos limites entre a informação e o sensacionalismo para que não façamos mais vítimas dessa irresponsabilidade.

Links, Referências e Créditos
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MAIA, Amanda. Uma vítima do sensacionalismo. Cultura Fotográfica. Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2023/03/Uma vitima do sensacionalismo.html>. Publicado em: 2 de mar. de 2023. Acessado em: [informar data].

As icônicas capas da revista LIFE

O periódico semanal americano que marcou a história do jornalismo e do fotojornalismo ao redor do mundo. 

A revista LIFE foi originalmente fundada em 1883 por John Ames Mitchell e Andrew Miller, mas só ganhou a forma como a conhecemos, a de uma revista focada em fotografias, em 1936 sob o comando de Henry Luce. Ganhando as bancas toda semana com novas edições até 1972 e, mais tarde, mensalmente até os anos 2000.
Entre as características mais marcantes da LIFE estão suas capas estampadas por fotógrafos como Alfred Eisenstaedt, Margaret Bourke-White e James Burke. Nelas, foram estampados rostos de grandes personalidades do século XX como Winston Churchill, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor, Angela Davis e Michael Jackson. Assim como fotografias de marcos importantes da História contemporânea, como o beijo na Times Square após o fim da Segunda Guerra Mundial e a chegada do homem à lua com a missão Apollo 11.
A revista conta com 2.237 edições e mantém um site que conta um pouco de cada fotógrafo que passou pela LIFE, além de novos textos que carregam a mesma essência da revista. Por fim, o portal abriga o The Life Picture Collection que reúne todas as icônicas fotografias já publicadas pela LIFE para que esse rico acervo perpetue para o conhecimento de gerações posteriores.
A gigantesca represa Fort Peck nos Estados Unidos. A imagem em preto e branco mostra a estrutura de concreto com duas pessoas olhando para baixo. As pessoas estão muito pequenas por conta da distância em que a foto foi tirada.
Primeira capa da revista LIFE | Margaret Bourke-White
Foto mostra o então presidente dos Estados Unidos e a primeira dama andando de carro enquanto uma multidão acena para eles.
John Kennedy e Jacqueline Kennedy |  LIFE
Foto em preto e branco do famoso beijo na Times Square ao fim da Segunda Guerra Mundial. Na imagem há um marinheiro beijando uma enfermeira em meio a uma multidão na famosa rua nova iorquina.
O beijo na Times Square| LIFE
Foto colorida de um astronauta da missão Apollo 11 em solo lunar (primeiro plano).

Edição especial | LIFE

Foto em preto e branco do casal de dançarinos Veloz e Yolanda, ambos sorriem e estão vestidos elegantemente, ele segura sua parceira pela cintura e ela se curva abrindo a saia rodada de seu longo vestido.
Veloz e Yolanda | LIFE

Imagem em cores de Elizabeth II em seu retrato oficial de sua coroação como rainha na década de 1950. Ela usa um vestido formal branco, uma faixa azul e sua coroa.
Rainha Elizabeth II | LIFE
Foto em preto e branco de crianças indígenas, cujo povo originário não está indicado na fotografia, parecem dançar. Elas usam vestimentas correspondentes à sua cultura e movimentam os braços. Todas olham para direções diferentes, mas o destaque vai para a criança ao centro que tem o rosto direcionado para cima.
Dutch East Indies | LIFE
Foto colorida do ícone do cinema no século XX, Elizabeth Taylor segurando sua filha bebê nos braços. Ela está deitada e olha para a filha amorosamente.
Elizabeth Taylor e sua filha, Liza Todd | LIFE
Foto em preto e branco de um atleta em posição de corrida. Ele veste um short e calçados próprios para o esporte.
Capitão dos Campiões | LIFE
Foto colorida do interior da Capela Sistina onde diversos cardeais se reunem. Há uma pequena procisão em direção ao então recém nomeado Papa da Igreja Católica, Paulo VI.
Na Capela Sistina, cardeais prestam homenagens a Paulo VI | LIFE
Foto em preto e branco do ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill pintando um quadro num estúdio. Ele olha para a câmera e segura alguns instrumentos para pintar, Winston também veste um terno, chapéu e fuma um charuto. Atrás dele, há outros quadros e uma janela.
Winston Churchill  | LIFE

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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MAIA, Amanda. As icônicas capas da revista LIFE. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/As iconicas capas da revista LIFE.html>. Publicado em: 14/02/2023. Acessado em: [informar data].

Fotojornalismo na guerra

A importância da reflexão sobre a função da fotografia na vida das vítimas de conflitos armados
Aqui no Cultura Fotográfica, já publicamos diversos textos sobre o fotojornalismo na guerra. Essa profissão é desafiadora, uma vez que requer do fotógrafo o cuidado ao captar momentos extremamente delicados, buscando extrair um retrato fiel da guerra em determinado país. Ainda, é possível refletir sobre os dilemas dessa profissão, já que, a cada viagem, o profissional tem de lidar com a possibilidade de não retornar vivo para sua família e as pessoas que ama.
Um homem segura uma bandeira da palestina com amão direita e com aesquerda gira uma funda. Ele está sem camisa e sua blusa está amarrada na cintura. Atrás dele nota-se agentes da polícia e outros civis. Uma nuvem acinzentada cobre o espaço atrás dele, parecendo ser uma fumaça.

Mustafa Hassona

No blog, foram publicados inúmeros artigos nas colunas leitura e galeria que refletem sobre essas questões e dualidades da profissão. Há reflexões voltadas para filmes sobre o assunto, como na análise de Mil Vezes Boa Noite em que nos deparamos sobre estes diversos dilemas da vida dos fotógrafos de guerra através da história do protagonista. Conseguimos nos questionar se seríamos capazes de seguir tal profissão. Ainda, podemos refletir sobre a saúde mental desses profissionais enquanto se deparam com cenas terrívelmente caóticas de uma guerra. Este é outro ponto que podemos ressaltar na análise de “A Menina e o Abutre”. Nela podemos nos perguntar quais consequências são vividas pelo jornalista ao longo da vida por seu trabalho. Segue a lista de artigos aqui no Cultura Fotográfica acerca do fotojornalismo da guerra e, adiante, questões para te orientar nesse percurso.

Lista de postagens que compõem o percurso

Questões orientadoras

Quais os desafios que os fotojornalistas de guerra enfrentam hoje em dia para executar o seu trabalho? E com isso, qual seria o preparo mental desses profissionais em meio a tantas tragédias a serem retratadas?
Qual o poder das fotografias diante de importantes episódios históricos?
Qual é a importância de fotografar os refugiados de uma guerra? A partir daí,  de que forma o jornalismo pode atuar para reconhecer e levar ao público a dor do outro que sofre com a guerra sem promover uma espetacularização da tragédia?

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MAIA, Amanda. Fotojornalismo na guerra. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/12/Fotojornalismo na guerra.html>. Publicado em: 23 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

Alfred Eisenstaedt

O polonês que marcou a fotografia através de registros de grandes personalidades.

Alfred Eisenstaedt (1898-1995) se consolidou na fotografia trabalhando para agências como Associated Press e Pacific and Atlantic Picture Agency, e, posteriormente, para a revista americana LIFE, na qual teve mais de 2.500 fotos publicadas, entre elas 90 capas. Em seus trabalhos, Alfred é lembrado pelo olhar perspicaz para fotografar e por ser um dos pioneiros no uso da câmera de 35 milímetros no fotojornalismo; além, é claro, do uso da luz natural.
Fotografia em preto e branco de Alfred Eisenstaedt tirada de baixo para cima. Nela, Alfred segura uma câmera antiga com as duas mãos. Ele olha para o horizonte, num ângulo distante e a foto não mostra para nós. O fundo está desfocado, mas percebe-se um céu atrás dele.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Ele nasceu em Dirschau na antiga Prússia, território atualmente polonês, e é de origem judaica. Alfred se mudou com a família ainda criança para Berlim, onde, mais tarde, estudou na Universidade de Berlim e serviu a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Após o conflito, ele começou a trabalhar como fotojornalista freelancer, caminho que o faria se consolidar como um nome marcante da fotografia mundial.
De acordo com o Centro Internacional de Fotografia, Alfred Eisenstaedt é lembrado pelo seu olhar ágil e pela habilidade de fotografar em qualquer situação ou evento. Essas características não só o destaca de outros fotógrafos do período pós-guerra, como também fazem de seu trabalho documentos memoráveis de uma era tanto estética quanto historicamente.
Fotografia em preto e branco do ex-presidente John Kennedy, sentado numa cadeira em frente a uma mesa, e sua filha Caroline ainda criança que está mais próxima da câmera. Ambos sorriem e olham para um ponto à direita deles. O ambiente possui janelas e cortinas, além de um quadro à nossa esquerda.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Imagem em preto e branco do ativista Martin Luther King e Kenneth Kaunda, político e o primeiro presidente de Zâmbia. Eles parecem estar conversando e Kenneth está de perfil e com o rosto virado para Martin cuja face podemos ver. Eles parecem estar num escritório, pois, ao fundo, percebe-se uma estante com livros, uma porta à nossa esquerda e à frente dos personagens está uma mesa cheia de papéis.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Fotografia em preto e branco de sete crianças seguindo um Drum Major, equivalente a uma líder de uma banda marcial num gramado com muros e algumas árvores à nossa direita, atrás das crianças. Eles andam de forma divertida e descontraída.

Alfred Eisenstaedt | LIFE

 
Foto da estrela de cinema Marilyn Monroe em preto e branco. Marilyn olha para a câmera, seu braço esquerdo está apoiado na cintura e a mão direita está apoiada em um objeto que não aparece. Ao fundo vemos uma cerca de madeira.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Imagem em preto e branco de Adolf Hitler apertando a mão de Benito Mussolini. Mussolini veste roupas militares e Hitler está de casaco. O ambiente é um gramado e os dois estão à frente daquilo que parece ser um avião.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Foto em preto e branco de uma mãe e sua criança, 4 meses após o bombardeio atômico em Hiroshima. A mãe aparenta uma profunda triteza no rosto enquanto a criança aparenta medo. Ao redor, percebe-se destroços do ataque.
Alfred Eisenstaedt | LIFE
Como citar esta postagem
MAIA, Amanda. Alfred Eisenstaedt. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/Alfred Eisenstaedt.html>. Publicado em: 20 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

Um clique que eternizou o ódio

Através das lentes de Alfred Eisenstaedt, somos impactados pelo ódio que sustentou o período mais sombrio do século XX.

A ideologia nazista serviu de base para o governo totalitário de Adolf Hitler que iniciou um dos conflitos mais importantes de toda a História: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entretanto, muito antes da guerra começar, com a invasão dos alemães à Polônia, o ódio contra as minorias que fugiam do padrão ariano “ideal” de Hitler já reverberavam fortemente entre os membros de seu governo. O registro de Joseph Goebbles, feito pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt para a revista LIFE em 1933, é a prova que temos dessa ojeriza propagada pelo regime nazista. Já que a foto foi tirada no exato momento em que o ministro da propaganda de Hitler descobre que estava sendo fotografado por um judeu.
Foto em preto e branco do nazista Joseph Goebbles sentado numa cadeira com as duas mãos apoiadas nos braços do assento. Ele veste terno e olha para a câmera com um olhar que transita entre a raiva, o desconforto e o ódio.  À sua direita, um homem está curvado para mostrar a ele o que parece ser um documento. Ainda, atrás de Joseph, vemos um homem com a cabeça baixa, olhando para o papel. O ambiente é um gramado e percebe-se uma construção ao fundo com uma pessoa observando a reunião pela janela, além de outros homens conversando ao fundo. Por fim, há arbustos e alguns pinheiros ao fundo.
Alfred Eisenstaedt
A fotografia foi tirada durante a conferência da Liga das Nações, antecessora das Nações Unidas, na Suíça. O fotojornalista judeu estava cobrindo as notícias e tirando fotos da conferência quando registrou o membro do Terceiro Reich. 
Sobre o acontecido ele contou em seu livro “Eisenstaedt on Eisenstaedt: A Self-Portrait” de 1985, “Em 1933, eu viajei de Lausanne para Genebra para a décima quinta sessão da Liga das Nações. Lá, sentado no jardim do hotel estava Dr. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Ele sorriu, mas não para mim. Ele estava olhando para alguém à minha esquerda… De repente, ele me encontrou e eu o encarei. Sua expressão mudou. Aqueles eram os olhos do ódio. Eu era um inimigo? Atrás dele estava seu secretário pessoal, Walter Naumann, com um cavanhaque e o intérprete de Hitler, Dr. Paul Schmidt… Eu devo ter sido perguntado como me senti fotografando esses homens. Naturalmente, não tão bem, mas quando eu tenho minha câmera em minhas mãos eu não tenho medo.”
Analisando essa foto nos dias de hoje, noto como toda a minha atenção se direciona para o rosto de Goebbles que está justamente no centro da imagem. Seu olhar me passa um misto de sensações, sendo o medo a mais marcante. Naquele momento, a forma como ele encara Eisendat é cortante, direta e maligna na essência da palavra. É como se lhe perguntasse “Por que você existe?”
Ainda, sinto que qualquer pessoa que olhe para a foto se colocará no lugar do fotógrafo, como se esse ódio de Joseph fosse direcionado para nós. Pois essa é a expressão pura e simples do que é negar o outro como seu semelhante.
Além disso, o momento rouba toda a atenção do ministro de Hitler: ele não foca no intérprete do Fuher ao seu lado, e sim direciona toda a sua energia na aversão ao judeu. Outro ponto que torna tudo ainda mais triste nesta análise é pensar que anos depois o mundo iria descobrir a forma do governo alemão lidar com aqueles “inferiores à raça pura”. Alfred, felizmente, não foi capturado e mandado para um campo de concentração, mas muitos de seus irmãos não tiveram o mesmo destino. Sentindo em seus corpos toda a energia maligna que estes olhos carregavam através de torturas e assassinatos, entre tantas outras barbáries que ainda assombram a história contemporânea.
Por isso, creio na grande importância de mantermos essa parte da História viva em nossa memória. Afinal, ainda há pessoas que defendem, mundo afora, as mesmas ideias apoiadas por Joseph Goebbles. Portanto, posso dizer que Alfred Eisenstaedt conseguiu eternizar em um clique a maior mensagem da concretização do ódio que assombrou a humanidade e que merece ser deixado no passado; porém, jamais esquecido. 

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Um percurso fotográfico pela ótica do cinema

Amnésia, Parasita, Cidadão Kane e Cidade de Deus: o que esses filmes têm em comum? Todos ganharam análises aqui no Cultura Fotográfica!


A composição imagética no cinema também constitui aquilo que chamamos de fotografia. Por isso, o percurso de hoje será sobre esse tema tão peculiar e interessante. Vamos criar um caminho para que você possa viajar pelos textos sobre cinema que já foram publicados aqui no blog e levantar questões sobre a fotografia no cinema.
O protagonista Charles Foster Kane está de pé sobre várias pilhas de jornais espalhadas pelo chão. O personagem veste um terno e usa um chapéu. O plano está de baixo para cima e ele olha numa direção próxima à nossa. Podemos notar que ao fundo, à nossa esquerda, está a parte de uma carroça e, do lado direito, um pedaço de um muro de tijolos.
Cidadão Kane (1941)

Afinal, a tarefa de transmitir suas ideias e a essência de uma história através da lente de uma câmera não é uma tarefa fácil. E por meio dos textos analisando obras cinematográficas como O Grande Hotel Budapeste (2014), Pássaro do Oriente (2014) e Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar (2019) observamos o modo como os diretores trabalharam para atingir esse objetivo. Utilizando artifícios de luz e sombra, jogo de cores, posicionamento dos atores e ângulos de filmagem que fizeram toda a diferença no resultado final.

Ainda, podemos, através das reflexões sobre O Fotógrafo de Mauthausen (2018), O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) e Carta para Jane (1972) pensar sobre a importância que a fotografia tem em nossas vidas. Afinal, essa técnica tem o poder de contar histórias, inspirar pessoas e transformar outras vidas, além de deixar um legado para a humanidade.
Portanto, antes de começar a desbravar a vasta coleção de textos aqui do Cultura sobre esse tema, aqui vão algumas questões que podem servir de guia durante esta jornada. Aproveite! 

Lista de postagens que compõem o percurso

Questões orientadoras

No decorrer dos anos, o que se pode ver no modo de filmagem que permanece nos filmes de hoje? Com isso, de que forma os diretores de obras passadas contribuíram para o que hoje é conhecido como cinema?
De que maneira podemos pensar a fotografia como forma de transformação a partir de histórias reais ou fictícias retratadas no cinema?
De que forma o trabalho desses diretores pode ser adaptado de acordo com a fotografia produzida pel_ leit_r?

Links, Referências e Créditos

Filmes – Cultura Fotográfica

Sobrevivência a qualquer custo

Qualquer lugar é uma nova casa quando se enfrenta a perseguição e os horrores da guerra.

Há seis anos o mundo vivia uma das maiores crises humanitárias desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Guerra Civil na Síria, conflito que teve seu estopim em 2011 e permanece até os dias de hoje, teve como uma das principais motivações a revolta contra o presidente do país, Bashar al-Assad. Trazendo um número alarmante de pessoas que tentavam deixar a Síria a qualquer custo, com a destruição e perigo constante causados pelo conflito, para recomeçar a vida em outros lugares. Entretanto, muitos países adotaram políticas que barravam a entrada desses refugiados. 
Refugiados sírios tentam passar por debaixo de uma cerca de arame para chegar à Hungria. Há uma mulher agachada passando por debaixo da cerca. Ela toca o chão com uma das mãos e olha para o lado com o rosto sério. A mulher ainda segura, com o outro braço, uma criança de colo. Atrás dela, vemos uma menina loira que se prepara para cruzar a cerca em seguida. Ela parece estar chorando. Ao lado da menina, um homem tenta passar por debaixo da cerca. Uma de suas mãos levanta o arame com cuidado e outra está prestes a tocar o chão. Atrás de todos eles está um homem de pé segurando uma manta. Todos os presentes na cena vestem roupas de frio apesar dos raios de sol sobre eles. Estão todos sujos de terra e envoltos em mato.
Bernadett Szabo/Reuters

A foto acima é da fotógrafa Bernadett Szabo para a agência de notícias Reuters, sendo premiada pelo Pulitzer em 2016, na categoria Fotojornalismo. Naquela edição, o tema central foi a questão dos refugiados. A imagem mostra sírios que atravessam a cerca tentando entrar na Hungria, país que buscava reforçar suas fronteiras para impedir que refugiados adentrassem em seu território. 

Sem dúvidas, uma das primeiras sensações que me atingem quando olho para esta imagem é a de tensão. Não só pela situação agonizante. Afinal, se descobertos, aqueles imigrantes poderiam ser mortos, presos ou retornar para o seu país. Como também, pelo fato de haver uma criança chorando. Seu rosto transparece toda a energia daquele momento: o medo, a ansiedade e a incerteza que essas pessoas sentem ao tentar atravessar aquela cerca do modo mais imperceptível possível. 

Outro ponto que me chama atenção na imagem é a expressão da mulher e como ela se porta naquele momento. Pois, parece agir da forma mais fria possível, segurando uma criancinha em um de seus braços e com os olhos atentos a qualquer presença que possa colocar tudo a perder.  O que traz uma certa estabilidade, um equilíbrio com o desespero expressado pela menina atrás dela.

Outra coisa que não me escapa à mente enquanto observo a imagem é a reflexão sobre todo o contexto em que a foto foi tirada. Aquelas pessoas cujos direitos mais básicos para uma vida digna foram violados parecem ter perdido sua humanidade segundo o olhar dos outros. Vivendo em meio ao caos político que dura no país há tantos anos, não houve outra solução a não ser a fuga, mesmo que para um lugar em que eles não são bem-vindos. Penso que talvez eles jamais se imaginaram nessa situação e a sensação de estar na pele deles me atinge como um golpe físico. 

Sinto também que, mesmo que eles tenham conseguido cruzar aquela fronteira, os problemas vão continuar em grande escala. A sensação de que podem ser deportados a qualquer momento e o preconceito perseguirão essas pessoas por muito tempo. Saber que esse problema perdura até hoje só reforça a ideia de que, independente da razão, numa guerra não há vencedores. Todos perdemos de alguma forma e alguns, infelizmente, muito mais do que outros.

#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

MAIA, Amanda. Sobrevivência a qualquer custo. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/07/Sobrevivencia a qualquer custo.html>. Publicado em: 27 de out. de 2022. Acessado em: [informar data].
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