Sobrevivência a qualquer custo

Qualquer lugar é uma nova casa quando se enfrenta a perseguição e os horrores da guerra.

Há seis anos o mundo vivia uma das maiores crises humanitárias desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Guerra Civil na Síria, conflito que teve seu estopim em 2011 e permanece até os dias de hoje, teve como uma das principais motivações a revolta contra o presidente do país, Bashar al-Assad. Trazendo um número alarmante de pessoas que tentavam deixar a Síria a qualquer custo, com a destruição e perigo constante causados pelo conflito, para recomeçar a vida em outros lugares. Entretanto, muitos países adotaram políticas que barravam a entrada desses refugiados. 
Refugiados sírios tentam passar por debaixo de uma cerca de arame para chegar à Hungria. Há uma mulher agachada passando por debaixo da cerca. Ela toca o chão com uma das mãos e olha para o lado com o rosto sério. A mulher ainda segura, com o outro braço, uma criança de colo. Atrás dela, vemos uma menina loira que se prepara para cruzar a cerca em seguida. Ela parece estar chorando. Ao lado da menina, um homem tenta passar por debaixo da cerca. Uma de suas mãos levanta o arame com cuidado e outra está prestes a tocar o chão. Atrás de todos eles está um homem de pé segurando uma manta. Todos os presentes na cena vestem roupas de frio apesar dos raios de sol sobre eles. Estão todos sujos de terra e envoltos em mato.
Bernadett Szabo/Reuters

A foto acima é da fotógrafa Bernadett Szabo para a agência de notícias Reuters, sendo premiada pelo Pulitzer em 2016, na categoria Fotojornalismo. Naquela edição, o tema central foi a questão dos refugiados. A imagem mostra sírios que atravessam a cerca tentando entrar na Hungria, país que buscava reforçar suas fronteiras para impedir que refugiados adentrassem em seu território. 

Sem dúvidas, uma das primeiras sensações que me atingem quando olho para esta imagem é a de tensão. Não só pela situação agonizante. Afinal, se descobertos, aqueles imigrantes poderiam ser mortos, presos ou retornar para o seu país. Como também, pelo fato de haver uma criança chorando. Seu rosto transparece toda a energia daquele momento: o medo, a ansiedade e a incerteza que essas pessoas sentem ao tentar atravessar aquela cerca do modo mais imperceptível possível. 

Outro ponto que me chama atenção na imagem é a expressão da mulher e como ela se porta naquele momento. Pois, parece agir da forma mais fria possível, segurando uma criancinha em um de seus braços e com os olhos atentos a qualquer presença que possa colocar tudo a perder.  O que traz uma certa estabilidade, um equilíbrio com o desespero expressado pela menina atrás dela.

Outra coisa que não me escapa à mente enquanto observo a imagem é a reflexão sobre todo o contexto em que a foto foi tirada. Aquelas pessoas cujos direitos mais básicos para uma vida digna foram violados parecem ter perdido sua humanidade segundo o olhar dos outros. Vivendo em meio ao caos político que dura no país há tantos anos, não houve outra solução a não ser a fuga, mesmo que para um lugar em que eles não são bem-vindos. Penso que talvez eles jamais se imaginaram nessa situação e a sensação de estar na pele deles me atinge como um golpe físico. 

Sinto também que, mesmo que eles tenham conseguido cruzar aquela fronteira, os problemas vão continuar em grande escala. A sensação de que podem ser deportados a qualquer momento e o preconceito perseguirão essas pessoas por muito tempo. Saber que esse problema perdura até hoje só reforça a ideia de que, independente da razão, numa guerra não há vencedores. Todos perdemos de alguma forma e alguns, infelizmente, muito mais do que outros.

#leitura é uma coluna de caráter crítico. Trata-se de uma série de análises de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

MAIA, Amanda. Sobrevivência a qualquer custo. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/07/Sobrevivencia a qualquer custo.html>. Publicado em: 27 de out. de 2022. Acessado em: [informar data].

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