O Grande Vizinho, o colosso siderúrgico de Ipatinga

Fotolivro de Rodrigo Zeferino, artista visual ipatinguense, mostra a paisagem industrial da cidade.

A Usiminas é uma das maiores usinas siderúrgicas do mundo e está localizada exatamente no centro do município de Ipatinga, em Minas Gerais. Foi fundada em 1960, quatro anos antes da fundação da cidade, em um projeto do então presidente Juscelino Kubitschek.


A imagem mostra um cemitério com um grande gramado com várias placas distribuídas sob a grama, elas se localizam em cima de túmulos. Ao fundo, é possível ver as chaminés da usina e algumas residências. O céu está em tons de roxo e laranja, e suas cores se mesclam com a fumaça das chaminés.
Rodrigo Zeferino

A fotografia acima foi feita num cemitério da cidade de Ipatinga, mesmo lugar onde meu avô foi enterrado há 18 anos. Escolhi essa imagem justamente por ter um grande significado para mim. 

É engraçado que, antes de ver essa fotografia, nunca fui capaz de notar que era possível ver parte do complexo industrial da Usiminas de lá. Talvez por estar tão imersa no ambiente, eu não fosse capaz de percebê-lo. Mas, agora que estou em outra cidade, ver essa imagem chega a ser um pouco assustador.

A cidade foi construída em torno da usina siderúrgica e, a maioria dos bairros, de alguma forma, depende dela. Esse lugar carrega muitas histórias, muitas vidas dependem dela e outras muitas já foram perdidas por conta dela também. 

Em entrevista com Rodrigo, ele me contou sua intenção ao construir esse projeto: “Em ‘O Grande Vizinho’ tratei de criar uma narrativa que discorre sobre as relações da cidade de Ipatinga com a usina siderúrgica que ocupa seu centro geográfico. A proximidade absurda entre zona urbana e arquitetura industrial produz imagens de alto teor distópico, algo ficcional, de um realismo fantástico. Dediquei-me a explorar essas propriedades inerentes à paisagem local e trazer à tona o estranhamento que jaz inerte no olhar do ipatinguense nativo.”

A indústria cresce ao seu redor e você, como um pequeno ipatinguense, cresce junto dela. Lembro-me de que em 2019 e 2020, estudei em uma escola que ficava bem ao lado da Usiminas. Foi nesse período que senti na pele a coexistência do grande vizinho – era bem comum sentir pequenas partículas de minério frio caindo na pele logo pela manhã e meus tênis tinham que ser lavados semanalmente por conta do pó.

Essa imagem é capaz de mostrar não somente o óbvio, mas também que muitas das pessoas que residem em Ipatinga, dependem da Usiminas. Em muitos desses túmulos, jazem trabalhadores e trabalhadoras siderúrgicas, como meu avô fora um dia. Com muito sangue, suor e lágrimas, todos ajudaram a construir a cidade, a construir uma história, a construir nosso Grande Vizinho.


A imagem mostra o telhado de uma casa. Ao fundo, é possível ver o complexo industrial da Usiminas, um céu alaranjado com uma grande nuvem de fumaça proveniente da usina da cidade.
Rodrigo Zeferino

A imagem parte da prefeitura municipal da cidade de Ipatinga, assim como o pátio e outros prédios. Ao fundo, é possível ver grandes chaminés da Usiminas.
Rodrigo Zeferino
A imagem mostra um complexo residencial cinza escuro. Ao fundo, é possível ver o céu roxo com grandes nuvens de fumaça proveniente da usina da cidade e grandes chaminés.
Rodrigo Zeferino

A imagem mostra parte da Usiminas vista de cima de um morro. É possível ver um garoto observando a paisagem. Ao fundo, no complexo, vê-se fogo, fumaça e muitas luzes.
Rodrigo Zeferino

A imagem mostra um complexo residencial cinza escuro. Ao fundo, é possível ver o céu alaranjado com uma grande nuvem de fumaça proveniente da usina da cidade.
Rodrigo Zeferino

Ao ver todas essas fotografias incríveis, é possível concluir que a Usiminas não é apenas uma usina siderúrgica, mas sim, um onipotente e onipresente Grande Vizinho. O que o fotojornalista, Rodrigo Zeferino, captou com suas objetivas é de fazer cair o queixo e, com certeza, mudou minha forma de ver Ipatinga. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


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CARVALHIDO, Sofia. O Grande Vizinho: o colosso siderúrgico de Ipatinga. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/blog-post.html>. Publicado em: 1 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].

Rodrigo Zeferino

O trabalho do fotógrafo foi reconhecido em importantes prêmios de fotografia nos últimos 10 anos.

Nascido na cidade de Ipatinga, leste de Minas Gerais, em 1979, Rodrigo Zeferino tem graduação em Comunicação e é pós-graduação em Artes Plásticas e Contemporaneidade. O fotógrafo está na profissão desde 2005 e realizou trabalhos que trazem à tona questões da sociedade e do indivíduo,  como “O Grande Vizinho” e “Aqui de perto você me vê melhor”. 

 

A imagem mostra um menino, sem camisa e usando uma bermuda cinza. Em seu braço direito existe uma pulseira feita com dois elásticos amarelos.
Rodrigo Zeferino
Em todos os seus projetos, o autor procura colocar em evidência alguma questão pouco pensada pela sociedade, seja ela social, sentimental ou espacial. Rodrigo, através das objetivas, captura não somente o essencial, mas também pequeníssimos detalhes que trazem um certo aconchego aos olhos daqueles que veem suas obras.
 
 
Rodrigo Zeferino
Rodrigo Zeferino
A imagem mostra dois homens de costas encontrados em uma mureta, eles estão observando a paisagem residencial e industrial da cidade de Ipatinga.
Rodrigo Zeferino
 
A imagem mostra uma mulher amamentando uma garotinha.
Rodrigo Zeferino
A imagem mostra uma ponte de madeira, no meio dessa ponte, é possível ver uma luz muito forte. O céu está amarelado.
Rodrigo Zeferino

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CARVALHIDO, Sofia. Rodrigo Zeferino. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/rodrigo-zeferino.html>. Publicado em: 22 de nov. de 2022Acessado em: [informar data].

A dura fragilidade da mente e a máscara da felicidade

Como a depressão e a angústia podem ser maquiadas com um singelo e sereno sorriso enquanto corroem a mente

Como a depressão e a angústia podem ser maquiadas com um singelo e sereno sorriso enquanto corroem a mente

O fotógrafo Edward Honaker, diagnosticado com ansiedade e depressão, encontrou em seus equipamentos fotográficos uma forma de retratar como as doenças mentais acabam silenciosamente com o ser humano.

A imagem mostra um homem de terno com o rosto graficamente desconfigurado.
Edward Honaker

Aos 21 anos de idade (2015), ele lançou um trabalho recheado de autorretratos que representam suas experiências pessoais com a depressão e a ansiedade, doenças com as quais fora diagnosticado dois anos antes. Através das objetivas, ele mostra como é a realidade de quem lida diariamente com a doença. Sua finalidade ao fazer o projeto é que as pessoas começassem a falar sobre transtornos mentais e se aceitassem como portadoras, para que pudessem realizar o tratamento correto.

De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem de depressão. Isso mostra o quão importante é trazer o tópico “saúde mental” para a sociedade, também de acordo com a OPAS, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos – números alarmantes para que fechem-se os olhos. 

Através da imagem, é possível perceber o que a depressão faz com uma pessoa. Você se perde de si mesmo, não se reconhece mais e quem está a sua volta também deixa de te reconhecer. Nome? CPF? Endereço? Tudo deixa de existir e você passa a ser só mais um no meio da multidão.

A depressão é uma das principais causas de incapacidade no mundo e suas causas são diversas – desde uma predisposição genética até a síndrome de Burnout (que se caracteriza pelo esgotamento mental, mas também físico, advindo de grandes períodos de estresse). Falta ou excesso de apetite, padrão que também se aplica ao sono, desânimo, medo e/ou raiva constantes estão presentes em quadros depressivos. Entretanto, para se ter um diagnóstico concreto, deve-se procurar um profissional da área da saúde mental – psicólogos e psiquiatras.

Não existe uma forma de descrever melhor  como é lidar com a depressão senão da forma como o fotógrafo trouxe. Posso dizer – por experiência própria – que é uma angústia diária que te impede de comer, de realizar hábitos comuns como tomar banho ou colocar o lixo do lado de fora e, principalmente, de sair do quarto. Sua cama vira seu mundo e você está a mercê dos seus pensamentos, refém de si mesmo.

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CARVALHIDO, Sofia. A dura fragilidade da mente. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-dura-fragilidade-da-mente-e-a-mascara-da-felicidade/>. Publicado em: 17 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].

Walker Evans: um homem da fotografia literária

Influenciado pelo intelectualismo europeu da modernidade e pelas vanguardas da década de 1930, Evans criou um novo estilo de fotografar.

Walker Evans é um fotógrafo e fotojornalista estadunidense de intensa dramaticidade e com um olhar incomum, fato que lhe rendeu grande autenticidade em seus trabalhos. Seus registros fotográficos refinados – cujo título desconsiderou durante anos – é consagrado até os dias de hoje.

A imagem mostra um homem sentado no metrô utilizando chapéu e agasalhos. Seu olhar e sua expressão demonstram alguma indignação com um objeto fora do alcance de visão do fotógrafo.
Walker Evans

Nascido em 1903, o fotógrafo faria sucesso logo na década de 1930, quando trabalhou no programa da Farm Security Administration (FSA) programa do governo estadunidense para propagar as ações governamentais para o desenvolvimento das áreas agrícolas.

Entre os anos de 1938 e 1940, Evans produziu um compilado de retratos de pessoas no metrô na cidade de Nova Iorque, chamado de Subway Portraits. Um fato curioso sobre o trabalho é que sua câmera estava escondida em seu paletó e, dessa forma, conseguiu captar vários momentos ao longo desses dois anos de produção.

A imagem mostra uma jovem moça em um metrô, com o braço escorado na janela e apoiando sua cabeça com ele. Ela se encontra com uma expressão sonhadora mas ao mesmo tempo cansada.
Evans Walker
A imagem mostra um senhor no metrô, ele usa terno e chapéu. Sua expressão é de cansaço e traz uma pitada de insatisfação.
Evans Walker
A imagem mostra um homem adulto, usando boina e agasalhos. Ele se encontra com uma expressão fechada e o corpo está posicionado de forma rígida, como se estivesse tenso.
Evans Walker
A imagem mostra duas senhoras sentadas no metrô. A senhora da direita está trajada de chapéu e agasalho bem trabalhados, passa a impressão de ter uma boa condição financeira. Já a senhora da esquerda, veste uma touca e agasalho mais finos, o que passa a impressão de não possuir muitos bens materiais. Ambas as senhoras estão com a expressão séria.
Evans Walker

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Maya Goded e o Sagrado Feminino

Maternidade, misticismo, violência de gênero, marginalidade, desigualdade e sexualidade feminina são alguns dos temas abordados pela fotógrafa Maya Goded. 
Maya Goded é uma fotógrafa e cineasta documental mexicana reconhecida mundialmente por seus trabalhos de cunho crítico, social e cultural. Além de retratar a violência de gênero na sociedade, a profissional também trata de mulheres curandeiras e defensoras de seu território.
A imagem apresenta uma vegetação seca com um céu em tons pastéis de azul e roxo, e no centro, entre a vegetação, existe um bezerro.
Maya Goded

Maya sempre manteve o foco no sagrado feminino. Tratar de temas relacionados a mulheres e considerados tabus pela sociedade é seu objetivo. Criou o projeto Land of Witches (Terra das Bruxas) que consiste em mostrar como a conquista espanhola e o catolicismo trouxeram e intensificaram a perseguição das mulheres – espanholas e indígenas – que, supostamente, estariam ligadas à feitiçaria e/ou bruxaria. Antes de realizar esse trabalho, Maya Goded se dedicou ao projeto Missing (Desaparecidas), que busca retratar as mulheres que foram sequestradas e assassinadas na fronteira do México com os Estados Unidos e a violência de gênero na sociedade local. 

A imagem apresenta um gramado verde e uma silhueta humana pegando fogo no centro da foto.
Maya Goded
A imagem mostra um garotinho deitado num chão de terra e pedras e uma senhora em pé, próxima à sua cabeça segurando um facão com a mão direita e um crucifixo com a mão esquerda.
Maya Goded

A imagem mostra uma garotinha em frente a um altar cristão enquanto segura algum objeto. Seu posicionamento mostra que ela está prestes a destruir as imagens cristãs.
Maya Goded
A imagem apresenta um cômodo com pouca iluminação, onde contém uma mesa e uma cadeira de plástico ao fundo. Em primeiro plano, existe uma pessoa coberta dos ombros para baixo com um lençol branco.
Maya Goded

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