Haruo Ohara

Registro de uma vida no interior.

Registro de uma vida no interior.

 

O fotógrafo Haruo Ohara, em meio aos campos do interior do Paraná, onde viveu sua vida, fotografava o cotidiano de sua família. Ele utilizava como plano de fundo de suas imagens as lavouras de café e os campos, com um olhar delicado para os momentos singelos do dia a dia. 

 
Descrição: Homem segurando uma fotografia em uma mão e uma xícara em outra, na boca, ele segura um palito de dentes. Ele se encontra de lado e está olhando para a foto em sua mão.
Haruo Ohara

 

Haruo Ohara era filho de imigrantes japoneses e começou a fotografar em 1951 o dia a dia de sua família, sendo um fotógrafo amador. Ele costumava sair pelos arredores da cidade com outros amantes da fotografia para explorar os ambientes. Além de fotografar, ele também anotava todo o processo em seus diários. 

Depois de alguns momentos difíceis em sua vida, como a perda de sua esposa, Ohara começou a fazer um álbum de fotografias dedicado a cada um dos filhos, contando a história da família e suas particularidades. O autor produziu cerca de oito mil negativos em preto e branco, dez mil negativos coloridos.

 
Descrição: Homem caminhando em um campo, ele segura uma enxada apoiada no ombro e carrega na mão um embornal.  A figura veste uma calça escura, uma camisa e um chapéu de palha.
Haruo Ohara

Descrição: A imagem mostra uma pessoa andando em uma estrada de terra, à esquerda deste caminho há uma plantação de café, e à direita há algumas árvores e um matagal.
Haruo Ohara

Descrição: Três crianças segurando galhos com frutas nas pontas, elas posam para a foto. No fundo da fotografia, uma pessoa segura a mão de duas das crianças, aparecendo apenas a parte inferior de seu corpo.
Haruo Ohara

Descrição: Duas meninas sorridentes, uma delas usa um chapéu e um vestido com mangas bufantes, a outra usa um vestido listrado. Elas caminham sob um campo onde a grama chega até os joelhos delas.
Haruo Ohara

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda terça-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

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PAES, Nathália. Haruo Ohara. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/10/haruo-ohara.html>. Publicado em: 1 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].

Ordem e progresso

São Paulo – A história do Brasil contada por meio da fotografia. Esta é uma das propostas da exposição Um olhar sobre o Brasil – A fotografia na construção da imagem da nação, que será apresentada até 27 de janeiro do próximo ano no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo

Lembranças de um passado ditatorial nem tão distante.

A imagem abaixo foi fotografada por Orlando Brito em 1991, em Brasília, e mostra soldados militares marchando em frente a bandeira do Brasil. As fotografias do autor retratam momentos e personagens marcantes da história brasileira, narrando temas como política, sociedade e cultura.

 

Fotografia em preto e branco de soldados militares fardados e em filas segurando armas apontadas para cima, ao fundo encontra-se a bandeira do Brasil.
Orlando Brito

A bandeira do Brasil possui uma frase, com conotação positivista, que clama por ordem e progresso. Sempre ao olhar para a bandeira, essa frase me vem à mente, sem mesmo a ler, ela já é um elemento associado. Policiais e soldados são outros objetos que constantemente também são associados à ordem. A fotografia de Orlando Brito faz uma combinação dos dois objetos na fotografia, ligando-os por esse elemento em comum: a ordem.

A ligação entre esses dois elementos pode ser percebida facilmente ao olhar a imagem, a forma como os soldados estão alinhados com suas armas apontadas para cima e no fundo a bandeira gigante em comparação com eles. Em primeiro plano, as sombras se destacam mais, sombreando o rosto dos soldados, e ao fundo, a bandeira se ilumina, em contraste.

Essa imagem me faz refletir sobre como não estamos distantes desse passado, onde a ordem estava acima dos direitos civis. A cada dia que passa, a democracia que se diz ter no país é mais uma vez agredida por políticos e policiais que passam por cima da população para garantirem os seus próprios benefícios. A ordem que muitos políticos dizem que é necessária se instaurar no país é apenas uma forma de calar novamente a sociedade que clama por seus direitos.

Diante da ordem em favor do progresso, muitos se veem sem saída ou como reclamar de sua situação, pois o que o país está passando, segundo a classe dominante, é em benefício de algo maior. Os direitos vão sendo revogados, assim como a liberdade de expressão e a liberdade de fazer questionamentos. Ao mínimo sinal de revolta a polícia é acionada para deter os protestos de uma população oprimida. 

Ao olhar os jornais é possível ver que não estamos tão distantes dessa realidade, pessoas são agredidas, presas e mortas, pois estavam violando a ordem estipulada pelas atuais políticas. Tudo o que se vê, não é ordem, mas sim uma dissimulação da palavra que é usada contra o povo.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

 

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Orlando Brito

Fotógrafo que documentou o passado ditatorial brasileiro.

Fotógrafo que documentou o passado ditatorial brasileiro.

 
Orlando Brito é um artista visual nascido em Minas Gerais, em 1950. Ele começou seus trabalhos na fotografia de modo autodidata, iniciando na profissão em 1965, no jornal Última Hora de Brasília. Entre seus objetos de estudo, o fotógrafo abordava temas como política, economia e questões sociais, como a vida urbana e do interior, além de retratar os indígenas. 

Fotógrafo Orlando Brito segurando uma câmera na frente de um dos olhos, ele se encontra na vertical na frente de um fundo branco. Seus cabelos são grisalhos e ele veste uma roupa azul.
Orlando Brito

Orlando Brito iniciou seus trabalhos durante os primeiros momentos da ditadura, onde retratou importantes momentos da história brasileira, acompanhando as personalidades políticas e fotografando os bastidores do Palácio do Planalto. Ele retratava os presidentes em situações não protocolares, em momentos de distração, em que era possível ver o indivíduo longe de sua personagem pública. Seus retratos mostram, de forma alegórica, as relações políticas e sociais no Brasil, tornando-se comentários críticos. Brito trabalhou em importantes veículos como o jornal O Globo e na revista Veja, onde publicou um total de 113 fotografias de capa. Em 1979, o fotógrafo ganhou o prêmio World Press, concedido pelo Museu Van Gogh, na Holanda, e recebeu o Prêmio Abril de Fotografia por onze vezes, além de outros prêmios.

Imagem de uma  passeata, no meio da rua se encontra um homem que posa em cima de um carro e acena para as pessoas em volta, no carro há também três militares. Ao redor do carro, uma multidão se reúne para ver o homem passar.  O primeiro plano da fotografia contem um homem com trajes militares de costa, ele parece olhar em direção ao carro.
Orlando Brito

Militares se reúnem em fileira, enquanto um homem de terno acompanhado de mais dois militares passam. Um coturno preenche o primeiro plano da fotografia.
Orlando Brito

Cinco silhuetas de homens fardados, no escuro, um deles segura um rádio comunicador. Ao fundo o Congresso Nacional iluminado.
Orlando Brito

Militares fardados, em fileira, aparentemente recitando algo. No meio deles há um homem com terno que também parece declamar.
Orlando Brito

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Aline Motta

A fotógrafa que usa da arte para resgatar memórias ancestrais africanas.

A fotógrafa que usa da arte para resgatar memórias ancestrais africanas.

 
O acervo da artista Aline Motta combina fotografia, vídeo e instalação para discutir temas como ancestralidade e memórias familiares. Usando destes recursos, ela debate sobre a violência do passado colonial e sobre o patriarcado na sociedade brasileira.

A fotografia contém uma mão segurando um espelho que reflete o rosto de uma mulher negra que está usando um turbante; em seu rosto uma expressão séria. No fundo do cenário há água.
Aline Motta

Aline Motta é uma artista visual que nasceu em Niterói (RJ), graduada em artes visuais e pós-graduada em Cinema. Ela busca, com a arte, reconstruir memórias afetivas e ancestrais que perpassam o passado do povo negro, tanto brasileiro, quanto africano, utilizando de documentos de sua própria família. Motta também investiga corporalidades e memórias através de pesquisas em arquivos públicos e privados, de entrevistas e da ficção de narrativas.
Aline Motta combina fotografia, vídeo, instalação, performance, colagem e tecidos para dar sentido às suas criações, assim, reconstruindo as memórias afetivas dos seus antepassados. Suas obras usam cores, contrastes e sombras para evocar histórias e mostrar o passado, além de misturar elementos técnicos com cânticos africanos para voltar às origens e mostrar uma realidade geralmente não percebida.

Folhas de papel estão espalhadas no tronco de uma árvore que contém musgos e pequenas plantas. Na folha que está mais atrás, está impresso uma carta escrita à mão. Mais acima folhas que se completam formam uma parte do rosto de uma mulher negra.
Aline Motta

Mulher boiando na água, aparentemente de um rio, com um pano em cima de seu corpo  no qual está impresso o rosto de um menino negro. Este tecido é translúcido e por baixo dele é possível ver um pouco do corpo da mulher.
Aline Motta

No meio da fotografia há um tecido transparente com o rosto de uma mulher negra impresso. No ambiente ao redor, encontra-se uma construção que está em ruínas, e ao entorno, um matagal.
Aline Motta

Braços seguram um espelho que enquadra o rosto de um homem negro que encara fixamente o observador. Ao fundo da foto se encontra uma construção ribeirinha e várias canoas no mar.
Aline Motta

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PAES, Nathália. Aline Motta. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/04/aline motta.html>. Publicado em: 20 de jun. de 2022. Acessado em: [informar data].

Entre véus brancos e indecisão

Seria o sonho de muitos achar a sua alma gêmea e viver junto dela, mas às vezes pode existir a indecisão se essa é a escolha certa.

Seria o sonho de muitos achar a sua alma gêmea e viver junto dela, mas às vezes pode existir a indecisão se essa é a escolha certa.

Na imagem abaixo, fotografada por Dulce Soares, podemos ver uma moça com uma grinalda branca, ela não parece feliz, mas preocupada com algo. Não é possível saber as circunstâncias na qual a fotografia foi tirada, mas essa não é uma expressão muito comum de se ver no rosto de uma noiva, pelo menos não é uma imagem que é comumente associada ao casamento.

Fotografia, em preto e branco, contendo uma mulher negra, de costas, com cabelos curtos e usando uma grinalda de flores brancas.
Dulce Soares

Véus brancos remetem ao mundo dos sonhos, um sonho doce e tranquilo que faria qualquer um se sentir bem. É assim que a fantasia do casamento também nos é passada, desde os contos de fadas até os filmes de romance, crescemos com a ideia de que o casamento é o mesmo que achar sua alma gêmea e passar o resto da sua vida com essa pessoa. Mas a realidade pode ser muito diferente da ficção.
Na realidade, o casamento traz grandes responsabilidades, nem tudo é alegria e sonhos que sempre são associados a essa relação. Dividir sua vida com uma pessoa criada em costumes diferentes e com seus próprios medos pode ser algo extremamente difícil, pode gerar conflitos que nem mesmo poderiam ser imaginados antes de chegar a tal situação.

Os filmes nos ensinam que o amor sempre vence tudo, que mesmo com diversos problemas que assombram a relação, no final haverá um “felizes para sempre”. Essa ideia de que tudo é possível com o amor, pode prolongar relações desagradáveis que não fazem bem para nenhuma das partes.

Desde pequena eu tenho medo da  ideia do casamento, mas é no rosto dessa moça que eu me identifico, eu consigo me ver facilmente no lugar dela, com a mesma expressão. Embora eu não me deixaria chegar tão facilmente na posição dela, a ponto de estar vestida para a cerimônia. Para mim a ideia de viver uma vida solitária é bem mais doce e suave do que ter que dividir uma vida com alguém. A princípio, pode parecer um pensamento muito melancólico, mas eu já tenho medos demais para carregar comigo e lutar contra.

Pode ser que, em algum momento da minha vida, eu mude de ideia, as coisas são passageiras demais para sempre se manterem como são, principalmente pensamentos que são tão efêmeros.

Mesmo assim, eu vejo a beleza de uma união assim e, no fundo, invejo quem consegue se entregar tanto para outra pessoa, a ponto de compartilhar cada um de seus pensamentos e indecisões. Estas são pessoas que me parecem muito fortes e prontas a encarar tudo o que as espera, pois atingir tal nível de confiança não é algo fácil.

Talvez, seja sobre essas incertezas que a mulher retratada na fotografia estivesse pensando, em tudo o que está por vir. Ou, talvez, ela só estivesse se sentindo desconfortável por ser fotografada. Isto é algo que nunca dará para descobrir, mas é também esse mistério por trás de sua expressão que torna a fotografia ainda mais curiosa.

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PAES, Nathália. Entre véus brancos e indecisão. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/07/entre-veus-brancos-e-indecisao.html>. Publicado em: 08 de jun. de 2022. Acessado em: [informar data].

Dulce Soares

Fotografias que através da repetição das imagens mostram um contexto que não seria visto de outra forma

Fotografias que através da repetição das imagens mostram um contexto que não seria visto de outra forma.
Dulce Soares é uma fotógrafa brasileira nascida no Rio de Janeiro. Ela começou a atuar na fotografia em 1970 fazendo ensaios paisagísticos, sendo a maioria deles urbanos. Seu trabalho se caracteriza pela crônica visual e pelas sequências e séries de imagens que ampliam o contexto sobre o local que fotografa, através também da alternância de planos e detalhes capturados.

Fotografia de uma casa no estilo colonial com duas meninas de mãos dadas brincando no pátio. No pátio, há um jardim com árvores ao redor.
Dulce Soares

A autora cria narrativas visuais dos lugares que fotografa, mostrando a alma dos locais por meio de séries de fotografias. Com esses retratos, Dulce examina aspectos da vida cotidiana das paisagens que captura.
As duas principais exposições da fotógrafa foram: “Esquinas, fachadas e interiores” e “Vestidos de noiva”. No primeiro ensaio, ela realizou uma documentação da arquitetura do antigo bairro da Barra Funda, mostrando a importância arquitetônica da região. No segundo, foi feito um ensaio mostrando as lojas e ateliês de vestidos de noivas na rua São Caetano, onde através da repetição das imagens ela expunha a relação da mulher com o sonho do casamento.

Mulheres em uma fábrica, aparentemente, costurando vestidos de noiva. No ambiente há várias mesas onde estas mulheres trabalham, há também caixas empilhadas
Dulce Soares

Uma noiva sorridente em seu vestido posando em frente a um espelho e com vários vestidos ao seu redor pendurados em araras de roupas.
Dulce Soares

Fachada de uma casa antiga, dividida ao meio, cada metade da fotografia mostra diferentes épocas. Do lado esquerdo, a casa está mais conservada do que a do lado direito.
Dulce Soares

Quatro pessoas reunidas conversando, em frente a uma porta, há o anúncio de aluga-se.
Dulce Soares

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PAES, Nathália. Dulce Soares. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/07/dulce-soares.html>. Publicado em: 06 de jun. de 2022. Acessado em: [informar data].

Resgate da ancestralidade negra

A ancestralidade resgatada em meio às águas flui se mantendo cada vez mais viva.

A ancestralidade resgatada em meio às águas flui se mantendo cada vez mais viva.
A fotografia abaixo foi retratada pela artista visual Aline Motta, durante uma residência artística na Nigéria. Lá, desenvolveu o trabalho audiovisual chamado de “(Outros) Fundamentos”. Este projeto teve como objetivo desenvolver conexões entre o país africano e o Brasil, utilizando da água para realizar esta união.

Mulher negra com trajes coloridos remando numa canoa. Ao fundo há casas de palafitas, pessoas reunidas ao redor delas e mais canoas ancoradas.
Aline Motta

A imagem mostra uma mulher feliz remando numa canoa. Ela não parece fazer o mínimo esforço ao remar, está tranquila e mantém seu olhar no horizonte. Suas roupas coloridas contrastam com o cinza das águas, trazendo mais vida à si e aumentando o foco sobre sua figura. No fundo da fotografia encontra-se uma vila com casas de palafitas que se ligam por pontes. A vila parece ser bem simples, aparentando pertencer a uma sociedade que se mantém através da atividade pesqueira.

A água aparenta ser um importante fator na vivência dessa comunidade. Eles demonstram terem se adaptado a ela e aproveitado de seus benefícios para obter prosperidade. O oceano que permeia a vila sempre esteve ali, fornecendo alimentos para sua sobrevivência. Essas águas que ali se encontram rumam em outras direções levando as histórias daquele povo consigo, mantendo viva a cultura.

Por meio das águas, povos foram retirados de seus países de origem e trazidos à força para serem escravizados no Brasil. Apesar de toda a violência cometida contra eles, as suas culturas persistiram. Mesmo que muitas vezes apagadas, elas se mantiveram resistentes como a água.

Por meio dos trajes da mulher, é possível ver elementos da cultura africana que chegaram até o Brasil e que permanecem como símbolos de resistência ao longo da história. Esses elementos ainda necessitam ser resgatados para que não se perca as origens desses povos, bem como toda a história de luta que se encontra por trás desses símbolos.

O fluxo da água move os olhos para as casas, para o que está ficando para trás, as memórias, as lembranças de um povo vão se revolvendo com as marés. A água em seu ciclo infinito leva as tradições para todos os cantos e retorna ao seu local de origem. Para mim, a água sempre esteve presente, a cada copo d’água tomado, a cada mergulho, a cada banho quente, sempre renovando a vida, fui crescendo com sua força transmitida a mim, enquanto ela observava tudo fazendo parte quase inteiramente do meu corpo. Minha história está nela e sua história está em mim.

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PAES, Nathalia. Resgate da ancestralidade negra. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/04/resgate-da-ancestralidade-negra.html>. Publicado em: 1 de jun. de 2022 Acessado em: [informar data].

Esperança em meio a destruição

A busca por sobreviventes mostra que, mesmo contra a menor possibilidade, ainda há esperança

A busca por sobreviventes mostra que, mesmo contra a menor possibilidade, ainda há esperança.

A imagem abaixo foi registrada pelo fotógrafo Carl de Souza, durante as buscas por sobreviventes em Petrópolis (RJ), cidade onde, no dia 15 de fevereiro deste ano, ocorreu um enorme deslizamento de terra em função de um temporal. O desastre aconteceu tão rapidamente que muitas pessoas não conseguiram se refugiar e acabaram sendo soterradas pelos escombros.

Dois homens se encontram em meio a escombros procurando por sobreviventes. Estes homens estão com enxadas na mão abrindo buracos em meio a lama e entulhos em busca de pessoas. Entre os escombros é possível notar algumas bonecas  sujas de terra.
Carl de Souza | AFP

Num primeiro momento, ao olhar a imagem, vemos dois homens com enxadas cavando a lama em busca de algo. No meio dos escombros, observamos brinquedos, roupas e outros objetos cobertos de terra e espalhadas pelo ambiente.

Ao fundo da imagem só se vê a lama, o que me causa uma certa agonia, pois não se enxerga nada além do marrom da terra por todos os lados. Os homens, no centro da imagem, parecem cansados, os músculos de seus corpos estão tensionados de tanto fazer força procurando entre os entulhos. Ainda assim, continuam procurando, usando a última energia que ainda lhes resta para procurar por possíveis sobreviventes.

Os objetos que estão espalhados no ambiente dão a entender que poderia haver alguma criança por ali, o que chega a ser aflitivo, pensar que alguém tão pequeno encarou uma situação tão desesperadora. Imagine uma criança que talvez estivesse brincando tranquilamente naquele momento, sem ao menos perceber, já estaria coberta de lama. Isso não deveria ser algo vivido por uma criança, um evento tão traumático que pode levar anos para ser ressignificado.

Na imensidão de escombros, naquela situação devastadora, o que mais importava era o tempo, as pessoas mal podiam pensar no que havia acabado de acontecer, e já estavam se mobilizando o mais rapidamente possível para poder resgatar alguém ainda com vida.

Ao olhar para o fundo da imagem, aquele mar de lama atrás dos dois homens, não dá para imaginar quantas pessoas poderiam estar ali, só fica a incerteza e a indecisão se aquele é o local correto para se procurar alguém. No entanto, procurar é só o que se pode fazer, a única coisa que resta é a esperança que os move fazendo-os continuar a busca.

Observando esta imagem, eu sinto uma certa frustração pelo ocorrido, o que é agravado ainda mais ao imaginar que possam haver pessoas soterradas embaixo do lamaçal. A determinação dos dois homens, também me comove muito, porque sozinhos eles realizam um trabalho que, sem dúvidas, é desafiador, mas que precisa ser feito por alguém. Todos os elementos da imagem, unidos, representam o desespero da situação, mostram o quão grave é. Em meio ao mar de lama, procurar por pessoas, por um familiar, por um amigo, por um conhecido que ainda possa estar vivo, respirando, embaixo de tanto entulho. E, nos escombros, o que resta é a esperança de poder salvar alguém, de achar um rosto conhecido e saber que tudo ficará bem.

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PAES, Nathalia. Esperança em meio a destruição. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<{https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/06/esperancaedestruicao.html>. Publicado em: 4 de mai. de 2022. Acessado em: [informar data].

João Zinclar

O operário da fotografia que documentou a luta de classes no Brasil.

 
As produções do fotógrafo João Zinclar incluem imagens que documentam a história da classe trabalhadora brasileira entre os períodos de 1994 e 2013. Através de narrativas visuais, ele representou a luta de classes identificando suas transformações culturais.

 

A fotografia contém um homem com um capuz que cobre seu rosto segurando um cartaz, no qual está escrito: “os trabalhadores e trabalhadoras não vão pagar a conta da crise”. Ao fundo desta fotografia está ocorrendo um protesto onde só se pode ver uma fumaça escura de objetos que foram queimados.
João Zinclar

João Zinclar nasceu em Rio Grande (RS) e começou a trabalhar desde pequeno. Quando mais velho, migrou, em busca de  mais oportunidades de emprego, para os centros urbanos no sudeste do país, onde entrou em contato com as diferentes culturas dos trabalhadores. Mas apenas ao viajar pelo Brasil, com o movimento hippie, que ele percebeu as mudanças que ocorriam no país e decidiu registrá-las.
 
A partir deste momento, João Zinclar voltou a trabalhar como operário e passou a estudar sobre os movimentos sociais e a se integrar ao cenário político brasileiro. Atuou também como repórter fotográfico, principalmente na documentação das diversas lutas dos trabalhadores e dos movimentos de esquerda.
 
Uma multidão se reúne em protesto, as pessoas se encontram sentadas no chão e algumas destas seguram folhas, mas não é possível ler o que está escrito. Em frente a multidão há um cartaz com as seguintes palavras escritas em vermelho :“estamos em guerra”, e em caracteres menores está escrito:“sind. dos trab. no serv. púb. mun. de Campinas - FETAM/CUT”
João Zinclar

 

Em um campo, barracas de lona são queimadas por policiais que verificam o local. Há muita fumaça escura, mas o fogo não é visível.
João Zinclar

 

No canto direito da imagem, há uma pessoa segurando a bandeira do Brasil e a constituição brasileira, e mais ao fundo da imagem, há uma multidão em protesto próximo a uma escultura no Palácio do Planalto. Ao centro da imagem, é possível visualizar a bandeira lgbt+ cobrindo o chão.
João Zinclar

 

Há cinco pessoas na imagem, aparentemente estudantes, colocando uma faixa em uma entrada, nela está escrito: “até agora contando 87h de ocupação". A faixa também contém o símbolo da Universidade de Campinas, e ao lado, na outra parede, há um cartaz com a palavra “Campus”.
João Zinclar

 

 
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PAES, Nathália. João Zinclar. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/03/joaozinclar.html>. Publicado em: 325 de abr. de 2022. Acessado em: [informar data].
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