Aida Muluneh e as Narrativas Visuais Africanas

As belezas da Etiópia são representadas por um olhar cuidadoso e sensível da fotógrafa Aida Muluneh.

Sensível, belo e marcante são poucos adjetivos para descrever o incrível trabalho artístico de Aida Muluneh. Em um olhar profundo sobre a psique humana, a fotógrafa adentra cicatrizes da sociedade moderna enquanto evoca elementos de sua ancestralidade. Utilizando pintura corporal, cores saturadas e personagens em suas fotografias, Muluneh apresenta uma África desconhecida pelo restante do mundo.
Aida Muluneh
Aida Muluneh é uma fotógrafa e artista nascida em 1974 na Etiópia. Seu portfólio vai desde o fotojornalismo, sendo seu trabalho no Washington Post bem conhecido, até fotografias artísticas de exposição. Graduou-se no departamento de comunicação com especialização em cinema na universidade de Howard em Washington D.C.
É uma das especialistas em fotografia mais importantes do cenário africano atual. Além de fazer diversos trabalhos expressivos, que contribuem para o reconhecimento de seu país de origem, Muluneh também já foi a primeira mulher negra a ser co-curadora do prêmio Nobel da Paz em 2019. Além disso, ela é a fundadora e diretora do primeiro festival fotográfico internacional da África Oriental, criado em 2010 e realizado na capital etíope, Addis Ababa.

Aida Muluneh

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Aida Muluneh
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Aida Muluneh
Aida Muluneh

Desde sempre somos bombardeados com fotografias que mostram apenas as mazelas do continente África como um todo, fato que Aida Muluneh tenta subverter em seus trabalhos. É possível que as fotografias detenham o poder de modificar como vemos um país?

Links, Referências e Créditos.

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Aida Muluneh: Infâncias ao redor do mundo

Um olhar sobre a foto de Aida Muluneh que evoca uma doce nostalgia e ao mesmo tempo uma curiosidade sobre os personagens por trás do momento capturado.

A imagem abaixo faz parte do portfólio fotojornalístico da fotógrafa Aida Muluneh, um lado bem diferente do apresentado na sua galeria que você pode encontrar aqui no blog, mas que também foca em criar uma nova perspectiva sobre a Etiópia. Ao se mudar ainda nova do país, algumas lembranças de sua infância são misturadas com narrativas sobre a África que seus colegas conheciam. Essas histórias que reduzem todas as diferentes culturas do continente a problemas humanitários, fez com que Muluneh resolvesse fotografar o dia a dia da Etiópia por uma lente mais otimista.

Aida Muluneh

“Garoto pulando no banho de Fasiladas durante o Timkat”, mostra um garoto pulando dentro de um lago no qual vários outros homens estão se banhando. A princípio, esta fotografia me lembrou de minha infância. De quando minha mãe me levava para ver o meu tio-avô em Taquaraçu de Minas e as tardes se resumiam a nadar no rio Taquaraçu. Era tanta gente se banhando nas cachoeiras e no rio que a quantidade de pessoas mostradas na imagem naturalmente me fizeram lembrar desses momentos doces. Comecei a refletir sobre a infância etíope, sobre como ela deveria ser ou sobre o quão parecida ela é em relação à brasileira.

O preto e branco, assim como o foco centralizado no garoto, emitem um estado reconfortante, quase como uma lembrança tirada do fundo de uma memória. Há algo de muito comum em um menino se divertindo no lago, o que torna a obra ainda mais nostálgica. Esses signos quase universais, como o ato de brincar com a água ou o de pular com os amigos, fortalecem a comunicação da imagem com lembranças de infâncias ao redor do mundo.

O fato de todos no registro serem homens nus é um tanto curioso, porém longe de ser uma coincidência. Ao pesquisar um pouco mais sobre o trabalho descobri que a imagem foi registrada na província de Beghemidir em Gondar, Etiópia, durante uma data festiva chamada Timkat. O Timkat é uma celebração da Epifania da Igreja Ortodoxa Etíope e da Igreja Ortodoxa Tewahedo da Eritreia. É comemorado em 19 de janeiro, que corresponde ao 11º dia de Terr no calendário Ge’ez. Timkat celebra o batismo de Jesus no rio Jordão, por isso todos os homens no lago estão nus, como em uma reconstituição do batismo sagrado. 
A quantidade de similaridades só aumentou com esse fato. O Brasil, que é um país cuja população é, em sua maioria, cristã, compartilha de várias comemorações religiosas como o Timkat. A Festa do Batismo do Senhor, por exemplo, também comemora o batismo sagrado, porém não existe nenhum ritual parecido como o etíope, seria apenas um encerramento do ciclo natalino. A Lavagem do Bonfim, a Festa do Sairé e a Festa da Nossa Senhora das Águas são outras festividades que envolvem algum tipo de afluente em sua prática.
Entretanto, é importante ressaltar que não foi necessário pesquisar sobre a imagem para que, como leitora, me identificasse com essa. E é aí que está a mágica, criar conexões imediatas através de interpretações singulares feitas por cada leitor, mas que evocam um sentimento universal, de familiaridade. Muluneh cumpre o que pretendia com o projeto e apresenta a verdadeira Etiópia para o mundo, a Etiópia que é como todos os outros países, com suas mazelas e defeitos, mas também com a sua beleza única. Uma maneira eficiente de aproximar culturas diferentes é mostrando as suas semelhanças. A artista faz isso quando mostra elementos de identificação e ativa o imaginário do leitor, que lê a fotografia da sua maneira, remetendo à própria vida e cultura. 
Não existem interpretações fixas quando o assunto é leitura de imagens. Sendo assim, ao olhar para a fotografia de Aida Muluneh, com quais elementos você se identifica?

Links, Referências e Créditos.

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