São Paulo sobre as lentes de German Lorca

Os grandes e pequenos encontros da maior capital brasileira são assimilados pelo fotógrafo paulista


O preto e branco era usado por German Lorca para registrar a beleza melancólica e acinzentada de São Paulo. Entre 1940 e 2000, o fotógrafo acompanhou o crescimento da capital. O jeito romântico de flagrar cada cena e o modernismo da época, tornaram essa leitura de São Paulo uma das mais belas no cenário fotográfico brasileiro. Ficam aqui sete imagens para nunca esquecer. 
German Lorca nasceu em São Paulo, cidade onde viveu até o momento de sua morte. A princípio, o filho de imigrantes espanhóis se formou como contador, mas logo largou essa carreira para focar em sua paixão pela fotografia.  O seu nascimento ocorreu poucos meses depois da Semana da Arte Moderna, em 1922, uma possível influência para a característica modernista em seu trabalho. 
Sua trajetória de vida foi marcada pela sua entrada no Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB), fotocineclube que experimentou novas técnicas e mudou o modo de fazer fotografia no Brasil. Desde então, Lorca se tornou uma das figuras mais importantes da fotografia contemporânea, chegando a ganhar prêmios como o Prêmio de Colunistas pela revista Meio e Mensagem. 
German Lorca
German Lorca
German Lorca
German Lorca
German Lorca

German Lorca

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A fotografia em Estou me guardando para quando o Carnaval chegar

Documentário conta com uma esplêndida fotografia que revela o interior do Brasil.

A delicada narração de Marcelo Gomes em “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” pode ser resumida em uma só fotografia. Desde as cores até o posicionamento dos trabalhadores, cada detalhe da imagem emite uma mensagem silenciosa que está à espera de ser decifrada.
 
Marcelo Gomes


No sexto minuto do filme somos apresentados a uma rotina de produção de jeans. Os estímulos que antes se misturavam entre barulhos ensurdecedores e a rapidez dos trabalhadores, são guiados apenas para a imagem acima, revelando a intrínseca mensagem do longa sobre uma cidadezinha pernambucana chamada Toritama, também conhecida como a Cidade dos Jeans.
O registro chega a transmitir certa calmaria, apesar dos movimentos dos trabalhadores fazerem o leitor imaginar o barulho por trás de tal exercício. É incerto o que os operários fazem a seguir, mas o enquadramento cria a sensação de que seja qual for a atividade, ela não acabará tão cedo, como em um processo contínuo que começa no último homem da imagem, mas não termina no primeiro.
Não é mera coincidência que a paleta de cores das roupas dos trabalhadores, azul e branco, se misturem com as mesmas cores da parede, mesas e acessórios. Na verdade, a escolha de relacionar os personagens da fotografia com seu ambiente, parece insinuar uma perda de identidade. Quase como se os quatro homens da imagem, que estão curvados em um tom sério, ao ficarem imersos em suas tarefas não podem mais ser distinguidos do local onde trabalham. Se fundindo e tornando-se invisíveis.
A placidez e neutralidade da imagem é também um manifesto para os sentimentos. Não existe entusiasmo ou alegria. Apenas uma indestrutível concentração. É claro que nem todos os trabalhos equivalem a um parque de diversões, isso também não significa que as pessoas da imagem odeiam seus trabalhos, apenas que a escolha visual ressalta uma rotina enfadonha e frustrante. Não são apenas efeitos físicos, longas e exaustivas horas de trabalho podem afetar a saúde mental de qualquer pessoa também.
Os movimentos de braço, repetidos por todos os trabalhadores, criam a impressão de uma coreografia bem ensaiada. Como se todos, propositalmente ou não, tivessem sido programados para a mesma rotina. O foco aqui não é no rosto desses indivíduos ou suas histórias únicas, é em como esses homens se transformam durante o trabalho, abrindo mão de tudo a fim de uma boa produção.
A fotografia explicita um dilema na indústria atual brasileira. Boa parte da produção de vários tipos de produtos ainda é baseada no uso de mão de obra barata. Porém, enquanto esse fato acaba gerando muitos empregos para pessoas de baixa escolaridade, como para os moradores da cidade de Toritama, os trabalhadores doam todo o seu corpo e alma para a indústria. Perdem sua identidade e se tornam apenas em força de trabalho. Ao mesmo tempo que precisam do emprego para viver, perdem parte de suas vidas em condições desumanas e salários que não pagam por seus devidos esforços. 

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#leitura é uma coluna de caráter reflexivo. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, histórica, política, social. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor as postagens de coluna? É só seguir este link.

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Sérgio Jorge: ícone do fotojornalismo brasileiro

7 fotografias que narram um pouco sobre o Brasil pelas lentes de Sérgio Jorge.

É difícil falar sobre a história do Brasil sem citar Sérgio Jorge. Com mais de 60 anos de carreira, foram inúmeros acontecimentos marcantes registrados pela lente do fotógrafo, como o milésimo gol do Pelé, a inauguração de Brasília e o incêndio do Edifício Joelma. Relembrar as fotos do artista é olhar para um pedacinho do Brasil que nunca será esquecido.
Retrato de Sérgio Jorge/ Foto: Ricardo Beccari
Nascido em Amparo, interior de São Paulo, Jorge fotografava como um caipira descobrindo as belezas da cidade grande. Foi o primeiro vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo, em 1960, com o flagrante de um garoto apavorado em ver seu cachorro sendo levado pela carrocinha. A escolha de fotografar esses momentos singelos e cotidianos configura a maneira como o fotógrafo via o mundo. Sérgio Jorge faleceu com 83, no dia 30 de novembro de 2020, em decorrência de complicações causadas pela covid-19.
Sérgio Jorge
Sérgio Jorge
Sérgio Jorge
Sérgio Jorge
Sérgio Jorge
Sérgio Jorge
Sérgio Jorge

#galeria é uma coluna de caráter informativo. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, histórica, política ou social, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer outras postagens desta coluna? É só seguir este link.

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Aida Muluneh e as Narrativas Visuais Africanas

As belezas da Etiópia são representadas por um olhar cuidadoso e sensível da fotógrafa Aida Muluneh.

Sensível, belo e marcante são poucos adjetivos para descrever o incrível trabalho artístico de Aida Muluneh. Em um olhar profundo sobre a psique humana, a fotógrafa adentra cicatrizes da sociedade moderna enquanto evoca elementos de sua ancestralidade. Utilizando pintura corporal, cores saturadas e personagens em suas fotografias, Muluneh apresenta uma África desconhecida pelo restante do mundo.
Aida Muluneh
Aida Muluneh é uma fotógrafa e artista nascida em 1974 na Etiópia. Seu portfólio vai desde o fotojornalismo, sendo seu trabalho no Washington Post bem conhecido, até fotografias artísticas de exposição. Graduou-se no departamento de comunicação com especialização em cinema na universidade de Howard em Washington D.C.
É uma das especialistas em fotografia mais importantes do cenário africano atual. Além de fazer diversos trabalhos expressivos, que contribuem para o reconhecimento de seu país de origem, Muluneh também já foi a primeira mulher negra a ser co-curadora do prêmio Nobel da Paz em 2019. Além disso, ela é a fundadora e diretora do primeiro festival fotográfico internacional da África Oriental, criado em 2010 e realizado na capital etíope, Addis Ababa.

Aida Muluneh

    Aida Muluneh
Aida Muluneh

Aida Muluneh
Aida Muluneh
Aida Muluneh
Aida Muluneh

Desde sempre somos bombardeados com fotografias que mostram apenas as mazelas do continente África como um todo, fato que Aida Muluneh tenta subverter em seus trabalhos. É possível que as fotografias detenham o poder de modificar como vemos um país?

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Aida Muluneh: Infâncias ao redor do mundo

Um olhar sobre a foto de Aida Muluneh que evoca uma doce nostalgia e ao mesmo tempo uma curiosidade sobre os personagens por trás do momento capturado.

A imagem abaixo faz parte do portfólio fotojornalístico da fotógrafa Aida Muluneh, um lado bem diferente do apresentado na sua galeria que você pode encontrar aqui no blog, mas que também foca em criar uma nova perspectiva sobre a Etiópia. Ao se mudar ainda nova do país, algumas lembranças de sua infância são misturadas com narrativas sobre a África que seus colegas conheciam. Essas histórias que reduzem todas as diferentes culturas do continente a problemas humanitários, fez com que Muluneh resolvesse fotografar o dia a dia da Etiópia por uma lente mais otimista.

Aida Muluneh

“Garoto pulando no banho de Fasiladas durante o Timkat”, mostra um garoto pulando dentro de um lago no qual vários outros homens estão se banhando. A princípio, esta fotografia me lembrou de minha infância. De quando minha mãe me levava para ver o meu tio-avô em Taquaraçu de Minas e as tardes se resumiam a nadar no rio Taquaraçu. Era tanta gente se banhando nas cachoeiras e no rio que a quantidade de pessoas mostradas na imagem naturalmente me fizeram lembrar desses momentos doces. Comecei a refletir sobre a infância etíope, sobre como ela deveria ser ou sobre o quão parecida ela é em relação à brasileira.

O preto e branco, assim como o foco centralizado no garoto, emitem um estado reconfortante, quase como uma lembrança tirada do fundo de uma memória. Há algo de muito comum em um menino se divertindo no lago, o que torna a obra ainda mais nostálgica. Esses signos quase universais, como o ato de brincar com a água ou o de pular com os amigos, fortalecem a comunicação da imagem com lembranças de infâncias ao redor do mundo.

O fato de todos no registro serem homens nus é um tanto curioso, porém longe de ser uma coincidência. Ao pesquisar um pouco mais sobre o trabalho descobri que a imagem foi registrada na província de Beghemidir em Gondar, Etiópia, durante uma data festiva chamada Timkat. O Timkat é uma celebração da Epifania da Igreja Ortodoxa Etíope e da Igreja Ortodoxa Tewahedo da Eritreia. É comemorado em 19 de janeiro, que corresponde ao 11º dia de Terr no calendário Ge’ez. Timkat celebra o batismo de Jesus no rio Jordão, por isso todos os homens no lago estão nus, como em uma reconstituição do batismo sagrado. 
A quantidade de similaridades só aumentou com esse fato. O Brasil, que é um país cuja população é, em sua maioria, cristã, compartilha de várias comemorações religiosas como o Timkat. A Festa do Batismo do Senhor, por exemplo, também comemora o batismo sagrado, porém não existe nenhum ritual parecido como o etíope, seria apenas um encerramento do ciclo natalino. A Lavagem do Bonfim, a Festa do Sairé e a Festa da Nossa Senhora das Águas são outras festividades que envolvem algum tipo de afluente em sua prática.
Entretanto, é importante ressaltar que não foi necessário pesquisar sobre a imagem para que, como leitora, me identificasse com essa. E é aí que está a mágica, criar conexões imediatas através de interpretações singulares feitas por cada leitor, mas que evocam um sentimento universal, de familiaridade. Muluneh cumpre o que pretendia com o projeto e apresenta a verdadeira Etiópia para o mundo, a Etiópia que é como todos os outros países, com suas mazelas e defeitos, mas também com a sua beleza única. Uma maneira eficiente de aproximar culturas diferentes é mostrando as suas semelhanças. A artista faz isso quando mostra elementos de identificação e ativa o imaginário do leitor, que lê a fotografia da sua maneira, remetendo à própria vida e cultura. 
Não existem interpretações fixas quando o assunto é leitura de imagens. Sendo assim, ao olhar para a fotografia de Aida Muluneh, com quais elementos você se identifica?

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