Oxum resiste com classe à intolerância religiosa no Brasil.
Oxum é uma orixá do panteão africano, cultuada pelas religiões de matriz africana no Brasil, como o Candomblé e a Umbanda. Ela é considerada a rainha das águas doces e seu culto se dá principalmente nas cachoeiras. Oxum é representada como uma mulher que utiliza muitos adornos e o amarelo é a cor predominante em suas vestes, simbolizando a riqueza. Ela tem por características a sensualidade e a vaidade, e representa a feminilidade, a maternidade e o amor.
Cristian Maciel |
A modelo que posa para essa foto é uma mulher negra do Rio de Janeiro, estado que, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019, possuía 9,3 milhões de negros, o que representa cerca de 54% da população estimada. Em 2021, um relatório da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa revelou que, dentre 47 denúncias de intolerância religiosa no estado, 43 eram referentes a ataques sofridos por religiões de matriz africana.
Essa violência escancara o racismo incutido na sociedade brasileira que, apesar de possuir uma expressiva população negra, não valoriza sua cultura. Mesmo havendo aparato jurídico para punir a intolerância religiosa, como a Lei 7.716/89, que prevê os crimes de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, as religiões com raízes africanas ainda sofrem com o preconceito.
Por isso, penso que é importante a colaboração da fotografia para a transmissão dessa cultura relegada à marginalidade e à ruptura com as narrativas hegemônicas. Essas que durante muito tempo reforçam as estruturas racistas em nossa organização social. A fotografia também constrói narrativas e discursos e instrui novas maneiras de pensar e de ser. É preciso mostrar o que há de melhor e mais belo na cultura negra: toda sua potencialidade, força, virtudes, sua ancestralidade e grandeza.
Ao ver uma fotografia tão linda como esta sinto-me inspirada, curiosa, com vontade de entrar na cena. Oxum me hipnotiza. Mas, diante de dados tão alarmantes, me sinto indignada. Sendo boa parte da população negra, as religiões afro-brasileiras deveriam ser mais respeitadas, mas o que se vê, na prática, é a valorização de uma cultura majoritariamente branca, ainda com orientação colonizadora. Reflexo do racismo estrutural, os ataques contra as religiões trazidas pelos negros demonstram o quão longe estamos da democracia racial. No entanto, apesar dos pesares, Oxum e outros orixás resistem bravamente à intolerância religiosa no país.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
Links, Referência e Créditos
- Estudo mostra que religiões de matrizes africanas foram alvo de 91% dos ataques no RJ em 2021 – G1
- Pretos e pardos representam quase 70% dos desempregados no RJ, diz IBGE; Veja iniciativas para capacitação – G1
- LEI Nº 9.459, DE 13 DE MAIO DE 1997 – Presidência da República, Casa Civil
Como citar este artigo
GARCIA MORAIS, Isabella. Negritude: poder, beleza e ancestralidade. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/07/negritude-poder-beleza-e-ancestralidade.html>. Publicado em: 13 jul. de 2022. Acessado em: [informar data].