Leitura com destino às terras férteis da imaginação
O que se vê, em primeiro plano, é um barquinho navegando no mar. Em segundo, quase imperceptível, há outro barco. Atrás dele, escondido sob uma espessa neblina, há prédios. Em terceiro e último plano, minuciosamente, é possível ver uma rocha. Sem mais perspectivas de vermos qualquer coisa, no entanto, nos deparamos com uma espessa camada de nuvem, de onde surge o emblemático Cristo Redentor.
Luiz Bhering |
A neblina, de certo modo, produziu um efeito de descontinuidade aos elementos da foto, separando o barco no primeiro plano e o Cristo Redentor, no céu, enquanto que a cidade e seu relevo tornaram-se secundários, despercebidos em um primeiro olhar. Ao menos, essa foi minha experiência.
Por causa deste efeito, céu e mar se confundem até que, inesperadamente, há uma ruptura, seja pelo barco no mar, seja pelo Cristo sobre as nuvens. Me parece uma imagem do além, onde um navegante conduz as almas protegidas por Deus. Aliás, a cidade embaçada parece ser fantasmagórica, aparecendo e sumindo.
Quando analisei essa imagem pela primeira vez, me lembrei do bordão do personagem Buzz Lightyear, da franquia Toy Story, “ao infinito e além”. É lógico que, ao pé da letra, esse bordão é mera redundância, no entanto, com a devida licença poética, seu uso parece assertivo, porque reforça a ideia de tempo e espaço infindáveis.
Essa é uma fotografia “do infinito e além”. Apesar de ser uma fotografia feita no tempo e no espaço do Planeta Terra, em nossa abstração ela pode parecer domínio de outros lugares, de outros tempos, universos que só existem graças à nossa imaginação e criatividade.
Para sentir essa fotografia é preciso entrar em estado contemplativo. Ela é potente por ser lúdica e encantadora. Ela te estende as mãos e te convida para um passeio que, se feito com sensibilidade, extrapola os limites da realidade. O que era para ser um dia nublado no Rio de Janeiro pode tomar outras formas, evocar fantasias, aguçar a imaginação.
#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.
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