Joan E. Biren

Fotógrafa e cineasta homossexual que lutou pelos direitos e pela visibilidade de mulheres lésbicas.

Nascida no ano de 1944, em Washington, Joan – também conhecida como JEB –  é uma profissional com uma vasta carreira acadêmica. Estudou ciência política em Massachusetts, onde realizou seu bacharelado em 1966. Anos mais tarde fez mestrado em comunicação em sua cidade natal e, após finalizar 0 doutorado em Oxford, Biren fez um curso de fotografia por correspondência e começou a trabalhar em uma loja de câmeras. Com este emprego, JEB tinha o objetivo de aprender a fotografar e retratar, com veracidade, o cotidiano de casais lésbicos.

Joan E. Biren, já com idade mais avançada e cabelos grisalhos, sentada em um ambiente que parece ser uma biblioteca e olhando um livro de fotografias. Ela está com o semblante sério e atento, o que passa a impressão de que procura alguma imagem específica.
Joan E. Biren

O interesse pela temática surgiu pela falta de representatividade de mulheres lésbicas reais nas fotografias, nos livros e filmes. Joan, como integrante da comunidade LGBTQIA+, sentia-se incomodada por não se enxergar propriamente em nenhum espaço. Com isso, começou um trabalho revolucionário: mudar o olhar da sociedade em relação às mulheres homossexuais.

A fim de atingir sua meta com êxito, Biren lançou seu primeiro livro, em 1979, nomeado: Eye to Eye: Portraits of Lesbians. Nele, foram retratadas  famílias lésbicas em sua rotina diária: os olhares apaixonados, o carinho com os filhos e os afazeres domésticos. Segundo as palavras da própria JEB, ela “tornou visível o que era invisível”. Ou seja, trouxe representatividade e acolhimento para pessoas que são colocadas à margem da sociedade.

Duas mulheres, brancas e idosas, trocando carinho. Ambas vestem roupas de frio, o que remete a ideia de viverem num lugar que tenha temperatura amena.  A mulher da direita segura o cabelo de sua parceira e tem uma expressão facial que passa a impressão de estar sentindo um cheiro doce e agradável: o de sua amada. A mulher da esquerda, já grisalha, usa uma trança e olha para sua companheira com um semblante carismático: olhar fixo e sorriso entre os dentes.
Joan E. Biren
Duas mulheres pretas deitadas e abraçadas, em um lugar que parece ser um campo. A imagem transmite a sensação de aconchego, carinho e amor, pois aparentemente este abraço é um lugar de apoio e segurança para ambas.
Joan E. Biren
Mulher parcialmente nua, com os seios amostra, cortando um pedaço de madeira com um serrote. A modelo tem o cabelo curto e encaracolado, e utiliza luvas para o trabalho braçal. A imagem transmite um sentido de revolução e empoderamento, uma vez que, embora fosse julgada negativamente, a pessoa retratada aparenta estar confortável em estar sem blusa publicamente e em realizar uma tarefa considerada “masculina”.
Joan E. Biren

JEB nunca teve apoio institucional. Em razão de sua orientação sexual, sofreu homofobia na pele: não era devidamente valorizada como pessoa e profissional, nem recebia bolsas ou prêmios. Seu trabalho era todo auto-atribuído e auto-financiado. Por isso, Joan realizava apresentações pelos Estados Unidos, nas quais mostrava suas fotos, livros e filmes. Não recebia patrocínio, mas teve o apoio financeiro da comunidade lésbica com a compra de suas obras, o que a ajudou a sobreviver.

Joan e as mulheres fotografadas se mostraram muito corajosas, pois aceitaram o risco de se expor publicamente diante de uma sociedade que era ainda mais machista e homofóbica que nos dias atuais. Afinal, na década de 70, ser identificada como lésbica poderia colocá-las em diversos riscos: perder o emprego, os filhos, ser deserdada e até deportada. Ativistas na causa como Joan trazem esperança de que, em um futuro, todas possamos ser livres e respeitadas.

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos


Como citar esta postagem

SOARES, Maria Clara. Joan E. Biren. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/joan-e-biren/>. Publicado em: 30 de mai. de 2022. Acessado em: [informar data].

Orgulho e Paixão

Fotografia que é símbolo de luta, resistência e amor entre mulheres na década de 70.

A imagem, tirada pela fotógrafa lésbica e ativista Joan E. Biren (JEB), representa um marco: a luta por visibilidade e respeito das mulheres homossexuais. A foto foi capa do livro “Eye to Eye: Portraits of Lesbians” em uma época na qual a discriminação e o preconceito eram ainda mais acentuados que nos dias atuais.

Joan E. Biren

As mulheres da imagem são Pagã e Katie, um casal lésbico que foi fotografado por Joan. Na figura, Pagã, a senhora de cabelos curtos e escuros, segura firmemente o rosto de sua amada e olha profundamente seus olhos. Katie, a mulher posicionada na esquerda, tem o cabelo longo e grisalho, o qual está trançado em volta de seu pescoço. Ela corresponde ao olhar apaixonado de sua companheira e esboça um sorriso singelo e delicado.

A foto me faz sentir paz e tranquilidade. O olhar das modelos me remete a lembrança de quando eu admirava assim alguém que amo, com aconchego e carinho. Me pego refletindo sobre o quanto elas devem se amar. Expressar publicamente um carinho que incomoda a tantos, em uma sociedade tão preconceituosa… acredito que é um símbolo de luta e enfrentamento da opressão.

Ambas as mulheres tinham o desejo de ter seu amor fotografado e registrado, uma vez que não se enxergavam representadas em nenhum espaço. Então, Joan – que também é uma mulher lésbica que se sentia excluída socialmente – teve a ideia de criar um livro com imagens de mulheres homossexuais reais. O álbum foi intitulado como “Eye to Eye: Portraits of Lesbians” e retratava o cotidiano dos casais. Mas, por essa época se caracterizar por ser extremamente homofóbica e preconceituosa, a fotógrafa e as modelos corriam muitos riscos: desde perder a guarda dos filhos a serem deportadas do país.

Nesse contexto, o livro torna-se ainda mais lindo e emocionante para mim, porque mesmo diante do perigo, as modelos assumiram o risco em prol de validar suas existências. Ou seja, perante tanta discriminação e discurso de ódio; o respeito, o carinho e o afeto prevaleceram.

O ensaio fotográfico, feito na década de 70, segundo JEB, tinha o objetivo de mudar como a sociedade enxergava as lésbicas. Lendo este livro, me peguei refletindo se hoje – Abril de 2022 – a sociedade  teve ou não uma evolução considerável em relação àquela época. Afinal, ainda nos dias atuais, o Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo. Não nos sentimos livres nem para amar. Não nos sentimos livres para viver, porque temos que estar atentos para sobreviver.

Além disso, a representação do grupo LGBTQIA + é limitada. Falando estritamente do recorte lésbico, há poucos romances sáficos, por exemplo. A maior parte é clichê heteronormativo, que restringe-se a abordar a vivência de apenas uma parcela da população. Enquanto as outras, são excluídas socialmente de diversas maneiras. Filmes também são em sua maioria heterossexuais. Os poucos que abrangem a comunidade queer, trazem uma visão pejorativa, mais voltada para o sentido da libertinagem.

Por isso, ativistas como Joan E. Biren exercem um trabalho tão importante: o de promover o respeito na sociedade. Movimentos acolhedores como esse trazem esperança de um futuro livre e com muito amor.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

SOARES, Maria Clara. Orgulho e Paixão. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/orgulho-e-paixao/>. Publicado em: 18 de mai. de 2022. Acessado em: [informar data].
Sair da versão mobile
Pular para o conteúdo
%%footer%%