Liberdade de ser mulher

Fotografia que representa a liberdade das amarras sociais.

A autora dessa imagem, Claudia Regina, é conhecida por retratar apenas mulheres, com o pré-requisito de que as fotografias sejam feitas de forma natural e sem modificações estéticas virtuais. O motivo é a discordância de Claudia aos padrões corporais e psicológicos estabelecidos para as mulheres na sociedade. Além disso, ela acredita que a modelo fique mais confortável e à vontade em um contexto no qual sabe que sua aparência é respeitada.

Mulher gargalhando enrolada em uma cortina transparente. Aparentemente ela está nua e confortável com a exposição.
Claudia Regina
 

Sinto felicidade ao analisar esse retrato, porque, ao meu ver, ela sorri expressando confiança. Me passa a sensação de que não se importa com julgamentos alheios, que sabe se divertir sozinha e aproveitar os reais valores da vida.

Apesar de não conhecê-la, tenho admiração por essa mulher. Admiração pela leveza com que ela parece levar a vida. Admiração pela autoestima e confiança de se deixar ser fotografada nua. Admiração por esse sorriso tão sincero e singelo em um lugar no qual é tão difícil ser mulher, como o Brasil.

Quando a olho, de certo modo, me sinto convidada a gargalhar junto, pois ver o cenário em que ela está e a forma em que se encontra é acolhedor e reconfortante.

Lugar onde existe o machismo, a vulnerabilidade e a sexualização da mulher de forma potencializada. Lugar onde a mulher é vista como um objeto sexual, que deve seguir comportamentos e padrões físicos para agradar aos homens. Lugar onde a mulher tem seu corpo constantemente julgado e exposto a procedimentos estéticos para alterar o que é natural e socialmente visto como “feio”. Não é à toa que o país lidera o ranking mundial de cirurgias plásticas, sendo a lipoaspiração a mais frequente.

Por isso, a exalto pela entrega, de corpo e alma, ao momento do retrato. De certo modo, até a invejo pelo sentimento que desperta em mim: o de sentir-se autossuficiente. A impressão que tenho ao visualizar esta foto é que a modelo está extremamente contente consigo mesma, que tem consciência de seu valor como pessoa, profissional e que, como mulher, sabe reconhecer sua sensualidade. Não exclusivamente física, mas a de um ser humano empoderado, que se conhece e não tem medo de afirmar seus limites.

Além disso, a liberdade que ela aparenta é convidativa. Me faz refletir sobre os limites ou a falta deles ao longo da vida. Será que são todos realmente necessários? Será que permanecer em uma situação desconfortável é falta de limites? Até que ponto estamos nos privando da verdadeira felicidade?  São questionamentos que a imagem me faz ter. 

Espero que, no futuro, todas as mulheres, assim como a modelo, se sintam confortáveis e livres para sorrir tão verdadeiramente. 

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Claudia Regina

Fotógrafa feminista que retrata mulheres ao natural, sem modificações estéticas em manipulações de imagem.

“Quero captar a essência da mulher. E quero que ela se reconheça com alegria nessa imagem. Sem tabus”, afirma Cláudia em seu blog de fotografia: Apaixonadarte.

Suas fotos buscam representar a beleza dos diferentes tipos de corpos, cabelos e peles. Trazem diversidade e representatividade de mulheres à mídia.

Claudia Regina posicionada de perfil. Ela está maquiada e tem o cabelo raspado. Em suas costas, há uma tatuagem, aparentemente de uma árvore, que chama atenção na fotografia.
Claudia Regina

Claudia começou sua carreira editando imagens em um estúdio, mas, inicialmente, não tinha desenvolvido interesse pela arte de fotografar, era exclusivamente pelo salário. Naturalmente, esse cenário mudou e ela começou a dedicar-se ao retrato.

Hoje, dona de um site chamado “Dicas de Fotografia”, Regina dá enfoque a fotos em preto e branco e ao registro de mulheres fora do padrão estabelecido pela sociedade. Ela usa seu trabalho como uma forma de luta feminista e de oposição às amarras sociais, físicas e psicológicas que as mulheres sofrem.

Ela ressalta o quanto as mulheres são vítimas do patriarcado: são ensinadas a se vestir, a se maquiar, a se comportar, além de terem seus corpos sexualizados e desrespeitados simplesmente por serem meninas. Por isso, ela fotografa com a intenção de quebrar algumas dessas “obrigações sociais”.

Mulher sem blusa de costas para a câmera. Em suas costas há duas tatuagens: uma maior de flores e um escrito em inglês. Ela está em um ambiente que parece ser um quarto e coloca a mão no rosto como se quisesse se esconder.
Claudia Regina
Mulher sentada em um sofá com as pernas cruzadas. Ela veste uma blusa branca e está com acessórios. Seu cabelo é claro e ondulado nas pontas, e ela sorri espontaneamente para a foto, como se estivesse tendo uma crise de riso.
Claudia Regina

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos

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