A dor de uma família em extrema pobreza

Fotografia que retrata a situação de vulnerabilidade de uma mãe e seus quatro filhos..

A imagem, tirada por Andy Goldstein, em São Paulo, é resultado de um trabalho que o fotógrafo realizou em 14 países da América Latina. Goldstein desejava captar os impactos da pobreza nas diferentes regiões.

 

Há quatro crianças sentadas em uma beliche e uma mulher encostada na cama. Eles estão em uma casa simples, de estrutura bastante precária.
Andy Goldstein

A foto mostra a doméstica Débora de Jesus da Silva, de 28 anos, e seus filhos, sentados em uma beliche humilde. A jovem mãe encontra-se escorada na cama, com um semblante pensativo e preocupado.

Ao visualizar esse cenário, reflito sobre o sofrimento dessa família. Débora, com 21 anos, teve sua primeira filha, hoje com 9. Seu bebê mais novo, com apenas 11 meses, já vive em uma realidade na qual seus direitos básicos são negados; o de brincar, de ter um sistema de saúde eficiente, uma escola e uma alimentação de qualidade. Daí surge o questionamento: como essas crianças poderão mudar essa realidade de pobreza se não recebem o devido suporte para ascender socialmente?

É por essa falta de assistência que muitas famílias continuam vivendo à margem da sociedade ao passar das gerações, porque falta apoio para essas pessoas crescerem, seja de forma econômica ou social. É aí que eu me pergunto: Cadê o governo para garantir os direitos dos cidadãos? Onde está o Estado que assegura o bem-estar da população?

É comum escutarmos um discurso meritocrático que diz “Fulano nasceu na favela, sem privilégios e hoje é um médico/jogador de futebol/juiz (ou qualquer outra profissão de prestígio social) bem-sucedido”. Discurso este que tenta isentar a culpa do abandono do governo, como se por falta de força de vontade, as outras pessoas no mesmo caso do exemplo citado não conseguissem atingir tal êxito.

Também é importante frisar que, devido à situação de vulnerabilidade, milhões de brasileiros sujeitam-se, por necessidade, a trabalhos informais que os exploram até a exaustão e, paradoxalmente, não recebem o suficiente para manter uma vida minimamente digna.

O que essa fala completamente equivocada não divulga, é que as pessoas que conseguem ascender socialmente em condições precárias, sem o devido auxílio, são exceções. Por isso, reproduzir esse tipo de discurso é problemático, porque pode gerar frustração e depreciar os indivíduos que, por falta de estrutura e suporte, não alcançam este lugar de prestígio.

Na imagem posta, me pego imaginando a dor dessa mãe ao, muitas vezes, não ter o que dar de comer a suas crianças ou a si mesma. Penso sobre sua revolta de residir em um país tão desigual, onde uns desfrutam dos melhores e mais caros alimentos, enquanto outros não têm nenhum. Em que algumas crianças têm o privilégio (que, na realidade, deveria ser garantido a todas) de só estudar e aproveitar a infância, enquanto outras têm que abandonar a escola para trabalhar em empregos informais e ajudar a família.

Até quando o Brasil terá sua renda tão mal distribuída entre os cidadãos? Até quando o país terá 24% de sua população vivendo em situação de pobreza? Sendo mulheres e negros – grupos históricamente marginalizados – a maior parte dessa revoltante porcentagem. São questionamentos que faço, mas, infelizmente, não encontro respostas.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

Soares, Maria Clara. A dor de uma família em extrema pobreza. Cultura Fotográfica (blog).

Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/a-dor-de-uma-familia-em-extrema-pobreza/>. Publicado em: 13 de out. de 2022 . Acessado em: [informar data].

Andy Goldstein

Fotógrafo conhecido mundialmente por retratar famílias latino-americanas em situação de extrema pobreza.

Nascido em Buenos Aires, Andy Goldstein – hoje com 79 anos – é um fotógrafo argentino. Sua obra mais famosa, intitulada como “Vivir en la Tierra”, conta, por meio do retrato, a vivência de famílias em condição de vulnerabilidade socioeconômica.

Andy em um cenário que aparenta ser uma galeria de fotos. Ele veste uma camisa preta e está centralizado na imagem, olhando diretamente para a câmera.
Andy Goldstein

Criado em uma família de ópticos, teve acesso ao mundo da fotografia desde criança, mas, não via o trabalho como uma profissão. Então, ingressou na faculdade de biologia, quando, por acaso, após realizar um ensaio para um amigo, ganhou visibilidade e começou a receber propostas de trabalho.

Em 1968, abriu seu primeiro estúdio fotográfico na avenida de Las Heras de Buenos Aires. Já na próxima década, Andy fundou a Escola de Fotografia Criativa, objetivando impulsionar a formação profissional que era pouco desenvolvida na cidade. Goldstein conta, em uma entrevista dada ao canal Fotógrafxs Argentinxs, sua relação de respeito com seu processo de inspiração. Quando está sem criatividade, ele afirma que concentra-se em si mesmo e foca em seu processo interno, para que consiga ter êxito no trabalho.

Menina de pele clara e cabelos loiros com a mão no nariz. Ela usa uma camisa de botão e manga longa, e encontra-se em um cenário pobre. Ao fundo, há latões e outros objetos metálicos.
Andy Goldstein
Há cinco pessoas na foto, dois homens, duas mulheres e um bebê. Aparentemente, são da mesma família, visto que se parecem fisicamente uns com os outros. Estão em cima de uma cama e em um cenário de pobreza e caos. Em torno, há várias outras camas, roupas e diversos pertences amontoados.
Andy Goldstein
Há quatro pessoas na foto, todas escoradas em uma poltrona. Encontram-se em uma casa humilde, com móveis simples e um buraco nítido no teto.
Andy Goldstein
Foto em preto e branco de uma menina em uma cozinha simples e deteriorada. Ela veste uma camisa branca, uma saia xadrez, e parece assustada. No cenário, há um fogão antigo, algumas panelas, um bujão de gás e uma mesinha.
Andy Goldstein


#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

Como citar esta postagem

SOARES, Maria Clara.Andy Goldstein. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/andy-goldstein/>. Publicado em: 11 de out. de 2022 . Acessado em: [informar data].

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