Virginia de Medeiros

Artista que utiliza da fotografia documental para produzir novos sentidos.
Virginia de Medeiros, nascida em 1973, em Feira de Santana, Bahia, vive em São Paulo. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela concentra seu trabalho na fotografia documental, extrapolando sua característica meramente testemunhal para criar novos significados da realidade.
A imagem apresenta a composição de fotos da performance da obra “Jardim das torturas”. Sequencialmente, é possível visualizar diversas partes do corpo de uma mulher que é dominada em uma prática sexual sadomasoquista. A mulher possui suas mãos e seus pés atados na maioria das fotos, e sua face é envolvida por uma mordaça.
Virginia de Medeiros

A artista já participou de bienais e residências artísticas e já recebeu prêmios no Brasil e no exterior. O documentário “Sérgio e Simone” (2009) foi agraciado com o Prêmio de Residência ICCo no 18º Festival de Arte Contemporânea Videobrasil. Em 2006, sua obra “Studio Butterfly” participou da 27a Bienal de São Paulo e do Programa Rumos Itaú Cultural. A profissional também ganhou o Prêmio Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2009 com a vídeo-instalação “Fala dos Confins”. 

Virginia fez residências em Timor-Leste, no Canadá e nos Estados Unidos, onde ganhou o Prêmio de Residência ICCo – Instituto de Cultura Contemporânea no Residency Unlimited. Também participou da 2ª Trienal de Luanda “Geografias Emocionais, Arte e Afectos”. 


A fotografia, pintada digitalmente, representa uma mulher negra, de cabelo liso e preso para trás com um laço azul de bolinhas brancas. Ela está maquiada, com sombra azul, blush rosa e batom alaranjado, e sorri olhando para seu lado direito. Sua roupa possui a mesma estampa do laço, e em seu lado esquerdo, na altura dos seios, há um broche de rosa vermelho.
Virginia de Medeiros | Júlio Santos

A foto, em preto e branco, representa uma mulher negra, de tranças, que olha projetando um sorriso para seu lado direito, enquanto segura uma bandeira do Movimento Sem Teto do Centro. Ela está em um ambiente aberto, com uma árvore e um prédio por detrás dela.
Virginia de Medeiros


A imagem , em preto e branco, retrata uma mulher negra em uma cozinha, atrás de uma mesa que possui 5 bolos postos. Ela não olha diretamente para a câmera nem sorri.
Virginia de Medeiros

A fotografia representa a vídeo-instalação “Studio Butterfly”, na qual há diversos porta-retratos pendurados na parede, ao redor de um espelho que reflete a imagem de uma mulher que aparenta ser negra e que está com os seios à mostra.
Virginia de Medeiros


Esta fotografia é da vídeo-instalação “Fala dos Confins”. Nela, há uma Kombi dentro de um galpão, localizada no centro da imagem. O veículo é branco com azul, e dentro dele, há duas pessoas, sendo uma mulher e um homem.
Virginia de Medeiros

#galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.


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“Sexo frágil”: mulher, negra e sem teto

Elizabete Afonso Pereira, uma mulher comum, demonstra o verdadeiro significado do que é ser ‘guerrilheira’. 

A fotografia do projeto Alma de Bronze, série “Guerrilheiras”, da artista visual Virginia de Medeiros, mostra uma mulher negra, aparentemente alta e forte, olhando desconfiada para o seu lado direito, enquanto segura facilmente três tijolos. 


A imagem, em preto e branco, apresenta, primeiro, 4 sacos de cimento. Em segundo plano, há uma mulher com traços negróides, fisicamente forte, que segura 3 tijolos enquanto desvia seu olhar da câmera. Ao seu redor, há uma pilha de tijolos. Ela está dentro de um lugar já  construído, o que sugere que ela irá fazer uma reforma no local.
Virginia de Medeiros


A mulher em questão é Elizabete Afonso Pereira, integrante do Movimento Sem Teto do Centro, em São Paulo. Sua postura é emblemática, pois, ao segurar os tijolos, não demonstra nenhum esforço. Seu olhar distraído da câmera delata que ela não estava confortável em ser fotografada, o que me abre margem para pensar que isso não é algo comum em sua vida, que ela foi invisibilizada por algum tempo e não está acostumada a aparecer tão publicamente. Por outro lado, a confiança e a determinação ultrapassam o aspecto de desconforto. Essa mulher que já aparenta ser forte, torna-se ainda mais vigorosa. Ela é uma das “guerrilheiras” fotografadas por Virginia. Inicialmente, partindo do pressuposto de que “guerrilha” é um tipo de luta armada contra um governo ou invasor de um território, mobilizada pelo lado mais fraco e oprimido, compreende-se que, metaforicamente, essas mulheres estão lutando contra aqueles que as impedem de ocupar os espaços a que têm direito.

As pessoas que lutam por seu direito de moradia, os chamados “sem-teto”, ocupam residências que, conforme a constituição federal, não cumprem com sua função social. Em São Paulo, principalmente na área central, são muitos os imóveis abandonados, que são invadidos e, posteriormente, ocupados pelos sem-teto. Diante de uma luta árdua e muitas vezes inglória, construir a própria casa, com suas próprias mãos, é um verdadeiro prazer para essas pessoas. É como se um sonho de tantos anos se materializasse em seus braços. 

Por isso, acredito que Elizabete está determinada a construir sua casa, como alguém que tem consciência dos percalços que sofreu no caminho para chegar até ali. Me sinto inspirada por essa mulher de postura altiva, que representa exatamente o que desejo ser. Sua cabeça erguida e sua firmeza, sua tranquilidade em segurar algo que é sabidamente pesado, serve de exemplo para mim, que tenho carregado outros “tijolos” para construir meus sonhos agridoces.


#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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Jesus estava com sede

Jesus Cristo foi encontrado estirado em uma calçada em São Paulo e estava com sede.

Esta é a legenda da fotografia abaixo, de autoria do fotógrafo Daniel Kfouri, postada pelo padre Julio Lancellotti em suas redes sociais no dia 3 de outubro de 2021. A imagem mostra um homem deitado na calçada, de corpo coberto mas com os pés expostos, encolhido para o lado do muro enquanto o padre abaixa-se e toca seu ombro. 


Em primeiro plano há um carrinho com papelão. Em segundo plano, um homem idoso com traços caucasianos, usando máscara de proteção facial e jaleco, toca um homem que está deitado na calçada, coberto mas com os pés de fora.
Daniel Kfouri

Esta fotografia expressa a contradição entre o claro e o escuro, entre as luzes e as trevas, entre o abandono e o acolhimento. O homem, morador de rua, possui o chão como seu anteparo, dali ele não passa. Excluído da vida social, após infringidos seus direitos, o homem parece alheio à sua própria situação, como em um gesto de conformismo. Daí, surge o padre, com um jaleco branco resplandecente que ilumina o ambiente, estende seu braço até o homem e, ao encostar nele, o retira da indiferença. Naquele homem que ninguém vê nada, o padre vê Jesus e, após um breve diálogo, descobre que ele tem sede.


Em primeiro plano, um idoso vestindo jaleco e máscara de proteção facial segura um copo dágua na boca de um homem negro, que levanta a parte superior do corpo para tomar água.
Daniel Kfouri

Então o padre entrega um copo d’água ao Jesus sedento.

A fome, a sede e a marginalização são um calvário que Jesus carrega hoje. Há outros desertos e outras cruzes, atravessados de solidão. Da mesma forma, ainda existem os soldados romanos, agora eles colocam pregos e pedras embaixo de viadutos e em cima de bancos. Mais de 2000 anos se passaram, mas todo dia nasce e morre um Cristo no mundo, sem que ninguém perceba.

Ao ver as duas fotos, sinto, ao mesmo tempo, tristeza e esperança. Lembro-me dos moradores de rua que enxerguei da janela do ônibus em Belo Horizonte, carregando seus carrinhos, sujos, maltrapilhos, abandonados. E nós sendo meros espectadores daquela desgraça. É difícil alguém enxergar quem está excluído, é mais fácil fingir que não vê, que não é problema nosso, isso é o que muitas pessoas fazem. Então acho bonito e reconfortante que alguém consiga ver Jesus em um morador de rua. Que possamos fazer o mesmo. 

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  • https://twitter.com/pejulio/status/1444716668991721479/photo/1


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Daniel Kfouri: a fotografia enquanto denúncia

Fotógrafo registra o trabalho do padre Julio Lancellotti em prol dos moradores de rua, na capital paulista.

Nascido em São Paulo, em 1975, Daniel Kfouri é filho de Juca Kfouri, jornalista esportivo brasileiro. Enquanto fotojornalista, recebeu o prêmio World Press Photo de Esportes de Ação em 2010. No ano seguinte, ganhou o Picture of the Year Latin America.

Em primeiro plano há um idoso com traços caucasianos, usando máscara, distribui marmitas em uma fila. Atrás dele, um homem negro de touca sorri ao receber sua marmita. Depois,  há uma fila em que a maioria das pessoas são adultas e negras.

Daniel Kfouri


Atualmente, o fotojornalista tem se destacado no audiovisual com a produção de documentários que tratam de problemáticas sociais, como o rompimento da barragem de Brumadinho. 

Em parceria com o padre Julio Lancellotti – da paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, em São Paulo – o fotógrafo registra o cotidiano da obra social. O padre Julio é conhecido no país por seu trabalho em favor dos moradores de rua da capital paulista. Inspirado pela Teologia da Libertação, o presbítero presta serviço aos marginalizados, denunciando o que ele chama de “crise humanitária em São Paulo”. Além de ser um registro, esse trabalho fotográfico é capaz de dar visibilidade a realidade miserável e desumana em que se encontra a população de rua da maior cidade brasileira. 

Em primeiro plano, um cachorro vira-lata parece estar latindo enquanto olha para frente, em cima de um carrinho cheio de papelão. Atrás dele, desfocados, há homens puxando outros carrinhos com papelão e sucatas.

Daniel Kfouri


Há três pessoas em primeiro plano, sendo dois homens de traços negros - o do meio é retinto - enquanto a pessoa da direita parece ser uma mulher. Estão agasalhadas com cobertores e toucas, e as pessoas das laterais amparam o homem do centro, que segura uma marmita. Atrás deles, há um homem de barba fumando e outras pessoas agasalhadas e de máscara.

Daniel Kfouri

Em primeiro plano, há um carrinho com papelão. Em segundo plano, um homem idoso com traços caucasianos, de máscara de proteção facial e jaleco, toca um homem que está deitado na calçada, coberto, mas com os pés de fora.

Daniel Kfouri


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