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“Junto dos seus”, os ricos vão à praia

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Tão perto e tão afastado de uma multidão elitista.

Quando uma criança se afastou da multidão para ver os fogos de artifício no réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, ela não poderia imaginar que iria virar tema nos principais jornais do mundo. O garoto de oito anos capturado pela câmera de Lucas Landau, da agência Reuters, era morador de uma ocupação irregular a 17 km dali e estava acompanhado de sua mãe, uma ambulante que vendia chaveiro para os turistas da praia carioca. 

Garoto negro, sem camisa e com os braços cruzados, observa algo no céu. Ele está no mar, com as águas batendo no joelho e ao fundo da imagem, distante do garoto e na areia da praia, pessoas vestidas de branco se abraçam e tiram fotos.
Lucas Landau

Na imagem uma criança negra se banha no mar enquanto olha fixamente para algo no céu. A fotografia foi tirada numa noite de réveillon na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro. O que o menino observa é a queima de fogos em comemoração ao novo ano. O garoto se encontra isolado do resto da multidão, concentrada ao fundo da imagem, e que, ao contrário dele, está bem vestida e se limita a molhar os pés; enquanto ele parece ter se molhado por inteiro.

O isolamento do garoto não se dá apenas no plano espacial. Ele aparece sozinho e desamparado, com o olhar de deslumbramento que parece ser o de quem não está habituado com a cena que vê e do não pertencimento ao espaço que ocupa.  Ao fundo, vemos o completo oposto: as pessoas representam todo o ideal de união que as tradições atribuem às festividades de ano novo. Elas se abraçam como velhas conhecidas e estão à vontade, em um  espaço que lhes parece pertencer. Em segundo plano eles estão juntos dos seus, enquanto a criança parece estar deslocada.

Em uma edição do programa Documento Especial da TV Manchete, exibido em 1989, a presença de moradores da periferia carioca nas praias da cidade é mostrada como anormal. Eram “invasores” de um espaço que não os pertencem. O comportamento dessa população, formada majoritariamente por negros e pobres, entra em choque com os da população de classe média e rica, que se consideram frequentadoras legitimas do lugar e classifica como sujeira a junção de classes sociais distintas e afirmam estar “juntos dos seus” quando frequentam esses locais.

O preconceito e a xenofobia exibidos na tela da Manchete no final da década de 1980 encontram ecos na música As Caravanas, do álbum homônimo de Chico Buarque lançado em 2017. Como na reportagem, os negros invadem um espaço alheio, sem barreiras capazes de os deter, e esbarram nos hábitos da “gente ordeira e virtuosa” , donas por direito daquele espaço.  Aos negros e pardos, 56% da população brasileira, são reservados os subúrbios e a periferia, de onde não deveriam sair.

Se em outras circunstâncias a mistura de classes nesse ambiente causaria choques, nesta, a presença da criança é ignorada pelo restante das pessoas da fotografia. A mistura sequer acontece porque enquanto eles comemoram o réveillon entre os seus, o garoto está afastado e sem querer fazer parte daquilo que está às suas costas. Ele não faz parte daquilo porque estava acompanhado da mãe, ambos negros, não como quem pertence àquele local, mas em posição de trabalho, onde negros estão habituados a se relacionar com os brancos sem causar incômodo.

 

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Sobre o autor

Pedro Henrique de Oliveira Hudson é bacharelando em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

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