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  • Janela Indiscreta

     Em Janela Indiscreta, L.B. Jeffries, um fotógrafo profissional, observa seus vizinhos quando vê alguns acontecimentos que o fazem desconfiar de um assassinato.

    Janela Indiscreta conta a história de Jeff (James Stewart), um fotógrafo confinado em seu apartamento em Nova York devido a um acidente de trabalho que resultou em sua perna quebrada. Sem nada para fazer, ela começa a observar seus vizinhos.

    Jeff (o personagem principal) com uma câmera na direção do rosto, olhando para frente
    Cena de “Janela Indiscreta”, 1954

    Pela janela de cada um deles ele descobre muito sobre a vida de todos.  Mas o hobbie de Jeff se torna muito mais sério quando ele começa a suspeitar que havia acontecido um assassinato. Com a ajuda de sua noiva Lisa (Grace Kelly) e sua enfermeira Stella (Thelma Ritter), Jeff inicia uma investigação do suposto assassinato, até que acaba descobrindo a verdade.

     
    Jeff sentado em sua cadeira de rodas, de pijama azul, apontando o dedo para frente, e sua namorada, de vestido preto, conversando com ele apoiada na cadeira
    Cena de “Janela Indiscreta”, 1954

    O filme, produzido e dirigido por Alfred Hitchcock, é, na minha opinião, uma das maiores obras-primas do diretor. Janela Indiscreta nos leva para uma viagem dentro do filme. Sua narrativa faz com que sejamos cúmplices das ações das personagens, fazendo com que a gente se prenda na história. Hitchcock deixa muito claro nossa posição como observadores silenciosos ao nos colocar sobre os ombros de um outro observador passivo, nesse caso, o L.B. Jeffries.

    Eu pessoalmente gostei muito desse ponto de vista. Tem uma cena em que Lisa vai até o apartamento do suposto assassino para tentar conseguir informações e acaba sendo descoberta por ele, e Jeffries, vendo tudo de seu apartamento, não consegue fazer nada para ajudá-la. Nós acabamos nos sentindo tão impotentes quanto ele, vendo tudo acontecer.
    É um filme muito instigante, e que vale muito a pena conferir.

    Agora é com você! Assista ao filme e fale para a gente o que achou, tanto da história quanto da sua ligação com a fotografia.

     

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    COSTA, Clara. Janela Indiscreta. Cultura Fotográfica. Publicado em: 22 de mai. de 2020. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/janela-indiscreta/. Acessado em: [informar data].

  • Introdução ao Flash

    Introdução ao Flash

    Já tentou utilizar o flash e não curtiu o resultado? Acredite, isso é bastante comum.

    O flash é bastante conhecido e utilizado na produção fotográfica, mas existem muitas dúvidas relacionadas ao seu uso por quem não tem muita intimidade com o acessório. Por este motivo, este artigo dedica-se a esclarecer um pouco as funções do flash e seus modos de uso.

    Retrato do ator Otaviano Costa produzido pelo fotógrafo Jorge Bispo. O ator é visto em pé contra um fundo branco, trajando vestimentas no estilo esporte fino. É  visível o uso de flash e o ator, de forma cômica, estende os braços com as mãos abertas em direção à fonte de luz, como se buscasse  proteger-se dela.
    Jorge Bispo. Otaviano Costa. 2012.

    É bastante comum que o flash seja utilizado em fotos, principalmente durante os momentos de baixa incidência de luz como o amanhecer e o anoitecer e durante a noite, porém os resultados obtidos são muitas vezes decepcionantes, em geral porque deixam o primeiro plano muito destacado do segundo, criando um efeito estranho que diminui ou mesmo anula a percepção de profundidade nas fotos.

    O flash é um recurso que pode ser utilizado para um maior controle sobre a luz da cena que será fotografada. Assim, pode ser utilizado tanto quando não há uma disponibilidade de luz satisfatória (mesmo com os ajustes na câmera de diafragma, obturador e ISO), quanto em situações onde apesar de haver luz disponível, ela não se comporta da maneira almejada – como quando há sombras indesejadas ou uma disparidade entre a iluminação do primeiro e segundo plano.

    Em geral, fotógrafos não utilizam o flash embutido – aquele que já vem na câmera – e investem em flashes externos (conhecidos também como speedlight). Isso porque o embutido oferece poucas opções de controle ao fotógrafo, enquanto um flash externo pode ser ajustado em diferentes posições difundindo a luz, iluminando partes e ângulos específicos, criando efeitos e podendo ser usado tanto acoplado à câmera quanto de forma externa. Tem também o fato que o flash embutido possui uma luz frontal e dura e é daí que surgem características indesejáveis como um primeiro plano muito estourado e com aspecto bidimensional, perdendo a noção de profundidade.

    Para usar o flash externo, que permite um controle maior sobre a luz que será aplicada, é preciso saber que existem as funções TTL e manual. A primeira é uma função automática que irá calcular quanto de luz será necessário para a foto. Já a função manual permite que o flash seja configurado de forma personalizada através dos controles de potência e zoom. Faremos um post só para falar destas duas funções, então fique ligado nas publicações do Cultura Fotográfica para aprender mais sobre o flash, seus usos e possibilidades!

    O fotógrafo Jorge Bispo é filho de atores e percebeu que gostava de fotografar após comprar uma câmera para registrar momentos de ensaios e viagens da companhia de teatro da família. Possui diversos trabalhos  que vão de editoriais  e peças publicitárias à retratos de artistas como os atores Otaviano Costa e Rodrigo Santoro, que são utilizadas neste #fotografetododia. Formado em Artes Plásticas pela UFRJ, é reconhecido por imprimir sua personalidade em suas fotografias. Na foto abaixo, é possível observar o uso de flash sem que os planos fiquem excessivamente destacados um do outro.

    Retrato do ator Rodrigo Santoro feito pelo fotógrafo Jorge Bispo. Na foto, o ator é visto de corpo inteiro e em pé em uma rua a céu aberto. Usa traje social na cor preta e encara a câmera com o corpo estático. O chão é irregular e há poças de água. Logo atrás do ator, um homem de guarda-chuva passa com um borrões indicando movimento.
    Jorge Bispo. Rodrigo Santoro. 2009.

    Enquanto o retrato de Otaviano Costa que abre este #fotografetododia é feito em estúdio, com fundo neutro e flash bastante visível e estourado, o retrato de Rodrigo Santoro foi feito em ambiente externo, onde há presença de luz natural. Ainda assim, é visível o uso de iluminação artificial sobre o ator, sobretudo no rosto. É interessante perceber que, mesmo em ambiente externos o flash é bem vindo para que haja uma boa compensação de luz entre os planos. Neste caso, se o flash não tivesse sido utilizado, o rosto do ator teria a mesma luminosidade do restante da foto que é um pouco mais escura uma vez que o dia parece estar nublado, como indicam as poças d’água e o uso de guarda-chuva pelo homem ao fundo. Além disso, ele apareceria borrado assim como o transeunte. Também deve-se notar que a sombra projetada no lado esquerdo do ator indica a posição em que o flash foi disparado. Logo, trata-se de um flash externo, do tipo que permite controle da intensidade da luz e do ângulo desejado.

    Como podemos perceber, o flash pode ser um grande aliado na produção fotográfica tanto provendo iluminação extra quanto compensando a iluminação entre planos. Deve-se ter cuidado controlando a intensidade da luz e direcionado bem o ângulo  para que não formem-se sombras ou efeitos indesejados, como a perda de profundidade. Em breve, traremos mais informações sobre o flash! Até a próxima!

    Dificuldade: É aqui que o bicho pega. Você vai precisar de uma boa câmera e alguns conhecimentos.

    Referências:

    MYRRHA, Camilla. Flash TTL x Manual | FOTO DICAS. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YEmI_HLdnd8>. Acesso em 06 de Abr. de 2020

    Links:

  • Born into brothels: Calcutta’s red light kids

    Está procurando um documentário interessante que una fotografia e intervenção social? Temos um dicade certo para você, a produção Born into brothels: Calcutta’s red light kids. Confira! 

    Capa do documentário Born into brothels (Nascidos em Bordéis), na foto aparece oito crianças indianas em pé, sorrindo.
    Born into brothels, 2004

    Born into brothels: Calcutta’s red light kids (Nascidos em bordéis: as crianças da luz vermelha de Calcutá)  é um documentário de 2004, dirigido por Zana Briski e Ross Kauffman que ilustra bem o sentido de intervenção social. Ganhador do Oscar de 2005, a produção retrata a vida a margem das crianças, nascidas no ambiente de prostituição, no distrito Vermelho, em Calcutá – Índia. 
    O foco do documentário, que antes era, o de retratar a vida das prostitutas e condições de trabalho no distrito, toma novos rumos, quando Briski nota a realidade marginalizada das crianças, que crescem esquecidas nos guetos/bordéis da zona vermelha e inicia o projeto fotográfico.   
    Com cenas marcantes, Born into brothels busca narrar o engajamento da fotógrafa ao mostrar uma nova realidade as crianças. Os pequenos, assim, aprendem a olhar suas vidas sob um novo foco, ao vivenciarem e registrarem à partir da arte da fotografia, a beleza ignorada de suas realidades. 

    Para além do entretenimento, Born into brothels, trará uma narrativa que te convida a refletir sobre intenção, ética, e o impacto da fotografia no meio em que vivemos. Para quem gosta de documentário, ao longo dos oitenta e seis minutos, o longa metragem permitirá uma imersão pela imagem, podendo inspirar e/ ou emocionar o telespectador. 

    O documentário transita entre drama e aventura, mostrando uma realidade pouco desconhecida da Índia. Para alguns, a iniciativa da fotógrafa pode parecer uma autopromoção. No entanto, o documentário não perde a capacidade de levar a reflexão sobre a importância de uma boa iniciativa para além do ato de documentar histórias. 
    O que acharam do #dicade dessa semana? Compartilha com a gente, comente, ou se preferir acesse nosso grupo de discussão e deixe suas impressões. Até logo!

  • Retrato e autorretrato

    Retrato é um gênero das artes visuais onde a intenção é destacar pessoas. Seja em um estúdio repleto de recursos ou numa pequena confraternização de família, o desafio consiste em como representar o fotografado da melhor forma.

    Retrato é um gênero das artes visuais onde a intenção é destacar pessoas. É, particularmente, um gênero que eu gosto muito porque cada pessoa é única e é possível captar diferentes expressões. Além do retrato, existe também o autorretrato (selfie), que se popularizou desde que Ellen Degeneres tirou aquela icônica foto na cerimônia do Oscar de 2014. O principal motivo, creio eu, é a autonomia. Não é preciso “incomodar” outra pessoa para pedi-la que tire uma foto sua.

    Uma garota guatemalteca posa para o retrato. Usa uma blusa azul, cheia de detalhes coloridos. Na cabeça, equilibra uma cesta de palha. Ela está escorada em uma parede azul e rosa, que se assemelha às cores de suas roupas.
    Young Girl, Atitlan, Guatemala | Joel Santos

    Como disse, retratos tem a ver com pessoas. Seja em um estúdio repleto de recursos ou numa pequena confraternização de família, o desafio consiste em como representar o fotografado da melhor forma. Para isso, é importante prestar atenção em alguns detalhes, como a luz, o foco nos olhos e a posição da câmera. Além disso, o cenário não desempenha um papel fundamental, isto é, dá para se fazer ótimos retratos sem se preocupar com plano de fundo.
    Veja que não é preciso muito para se tirar um bom retrato. No entanto, quanto mais conhecimento e recursos disponíveis, melhor serão os resultados.
    Joel Santos é um fotógrafo português. Desde 2003 trabalha com fotografia de viagem. Em um de seus trabalhos, chamado “Into The Eyes”, ele fotografa pessoas de diversos países, como Índia, China, Guatemala, Níger e Camboja. A descrição do projeto, segundo o autor, diz que somos diversos, mas não essencialmente diferentes. Abaixo temos um dos retratos deste trabalho.
    Retrato de um homem de cerca de 50 anos, moreno, de olhos azuis, cabelo e barba longos, com fios grisalhos. Em sua testa, uma pintura religiosa. Usa vários colares, brincos e um turbante.
    Blue eyes, Sadhu, Holy man, Jaipur, India | Joel Santos
    Nesse retrato, Joel fecha o enquadramento no rosto do fotografado. Os olhos azuis causam impacto imediato. A barba, cheia e grisalha, indicam que é um homem de mais idade. Nessa composição, não há cenário ao fundo, apenas seu rosto. A pintura na testa, seus colares e o turbante são demonstrações de sua cultura indiana.
    Aproveite a leitura e o fato de estarmos em quarentena, devido à pandemia causada pela COVID-19, para praticar retratos! Mesmo em casa, é possível fazer bons retratos! Não se esqueça de utilizar a tag #fotografetododia!

    Referências

  • Linha do Horizonte

    Em fotografias de paisagens, salvo raras ocasiões, a linha do horizonte está presente. Aprenda a usá-la para transmitir naturalidade e equilíbrio.

    Em fotografias de paisagens, salvo raras ocasiões, a linha do horizonte está presente. Aprenda a usá-la para transmitir naturalidade e equilíbrio.

    Fotografia de três skatistas, um homem ao centro e mais a frente e duas mulheres, uma em cada lado, andando de skate em uma estrada. Eles estão de costas, andando em direção ao fim da estrada.
    Foto de Daniel Espírito Santo

    Na fotografia acima, de Daniel Espírito Santo, a linha do horizonte é bem definida pela divisão entre a estrada e o céu, não podendo ver o fim da rua a impressão é de que o caminho é bem longo. Mas nem sempre essa divisão será visível, podendo se tratar de uma linha do horizonte perceptiva. Ou seja, quando uma fotografia de paisagem não apresenta o horizonte bem definido, temos a tendência a acrescentá-la à imagem, imaginando o lugar onde ela ficaria, como na fotografia abaixo.


    Fotografia de um barco com um aspecto retrô no mar. Há um pequeno barco a motor amarrado nele. O mar está calmo, mas há muita névoa.
    Foto de Daniel Espírito Santo


    Para utilizar a linha do horizonte a seu favor a principal regra é manter a linha do horizonte reta. Uma linha do horizonte torta causa desconforto no leitor, como se algo estivesse errado, tira a naturalidade da cena e transmite a sensação de desequilíbrio. Mesmo em uma foto em que o horizonte não seja visível, é indicado que a linha do horizonte seja perceptivelmente reta. Há casos específicos em que a linha do horizonte torta cria uma sensação de conformidade com o resto da cena, como na fotografia abaixo, em que a linha segue as ondas do mar, transmitindo o seu dinamismo e, por isso, está inclinada.


    Fotografia de uma onda se formando, tirada de dentro do mar. O sol se põe no fundo da cena.
    Foto de Daniel Espírito Santo

    A linha do horizonte também pode ser utilizada como um auxiliar da regra dos terços, que pode ser aprendida aqui. Ela divide a cena em duas partes, mas essas partes não precisam ser iguais, deixe dois terços para a parte mais chamativa ou que você considere mais importante para a mensagem. Em uma fotografia em que o sol reflete na água talvez fosse mais interessante colocar a linha do horizonte acima, dando dois terços da imagem para o mar e um terço para o céu. Já em uma fotografia de pôr do sol, para colocá-lo em destaque, o céu poderia receber dois terços da imagem e o oceano um. Já uma fotografia em que se dá a mesma importância entre o céu e o mar poderá ter a linha do horizonte exatamente no centro. Na fotografia abaixo, por exemplo, não havia muito destaque nem no céu quanto no mar, por isso, o fotógrafo distribui igualmente o espaço da fotografia para os dois.

    Fotografia do mar tirada no próprio oceano. A metade inferior da foto mostra apenas água, dando a impressão de que se está dentro do mar.
    Foto de Daniel Espírito Santo

    Desta maneira, a linha do horizonte transformará as suas fotografias de paisagens, trazendo para a imagem toda a beleza da vida real, como nas fotografias de Daniel Espírito Santo que citamos neste post. Daniel é um fotógrafo que mora em Portugal. Suas fotografias retratam os seus interesses: o oceano, esportes, viagens e aventuras. Como ele mesmo as descreve em seu site: “As fotografias que eu faço se distinguem pelas paisagens energéticas, momentos de êxtase e espírito de aventura”. Saiba mais sobre ele em: https://www.danielespiritosanto.com/. Agora é sua vez: fotografe paisagens usando a linha do horizonte para pôr elementos em evidência. Não se esqueça de mantê-la sempre reta e de explorar o horizonte perceptivo.


    Referências

  • Mil Vezes Boa Noite

    Mil Vezes Boa Noite

    Rebecca, uma fotógrafa de guerra, se vê obrigada a escolher entre a profissão pela qual possui uma verdadeira adoração e sua família.

    O  premiado filme Mil Vezes Boa Noite (A Thousand Times Good Night), do diretor Erik Popper, é um drama que conta história de Rebecca, uma fotógrafa de guerra que se vê obrigada a escolher entre a profissão e sua família, que não suporta mais vê-la arriscando a vida pelo trabalho. Contudo, apesar de amar sua família, possui uma verdadeira e sincera adoração pelo seu trabalho.

    A imagem mostra um casal heterossexual abraçado no meio do que parece ser um campo de refugiados em uma área de deserto. O homem é loiro, alto e possui cabelo na altura do maxilar. A mulher tem cabelos castanhos, curtos e é mais baixa.
    Divulgação do filme.

    O drama se inicia no Oriente Médio, onde se encontra a nossa protagonista, Rebecca, que acompanha o preparo de uma adolescente para se tornar uma mulher bomba. A fotógrafa registra cada momento desse preparo. Contudo, seu lado emocional se impõe ao profissional, e ela decide interferir, fazendo um alarde sobre o que estava para acontecer.

    A intervenção leva a  uma consequência que faz a protagonista pensar sobre seu trabalho, os riscos que corre, e sobre seu papel de mãe e esposa dentro do grupo familiar. Podemos observar que ao voltar para casa, Rebecca encontra problemas em seu casamento e um distanciamento afetivo das suas filhas, particularmente com Steph, filha mais velha, que possui um comportamento mais reservado com relação aos seus sentimentos e medos.

    A imagem mostra uma mulher com roupa cinza, um véu preto cobrindo os cabelos andando no meio do que parece ser um campo de refugiados. Nas mãos leva um câmera fotográfica. Seu olhar parece de curiosidade sobre o que está acontecendo ao seu redor.
    Cena do filme

    Desde seu início percebi o cuidado para a interpretação de uma personagem fotógrafa. Vemos a troca das lentes da câmera para cada tipo de foto, o distanciamento afetivo entre o fotógrafo e o fotografado e a tentativa de dar certa humanidade a um povo sofrido através da fotografia. Rebecca, a personagem, diz que fotografa regiões abaladas por conflitos, para mostrar ao mundo o horror da guerra, da fome entre outras coisas. Toda sua revolta com as injustiças sociais, são mostradas através das fotografias, assim como bem vemos várias pessoas fazendo na atualidade.

    Fotografar além de ser uma paixão e uma profissão, pode ser também uma arma, uma forma de revelar problemas através da lente, registrando pessoas e histórias para se mostrar ao resto do mundo como grande catástrofes regionais ou mundiais, como a pandemia que estamos vivenciando hoje, que afeta a todos, principalmente a aqueles que são vulneráveis econômica e socialmente.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Assista o premiado filme e nos conte suas observações. Deixe seu comentário e nos acompanhe em nosso grupo de discussão no Facebook e em nossa página no Instagram.

    Referências:

    www.adorocinema.com/filmes/filme-227515/
    https://caxias.rs.gov.br/noticias/2015/01/mil-vezes-boa-noite-e-o-primeiro-filme-do-ano-a-sala-de-cinema-ulysses-geremia

    https://culturafotografica.com.br/mil-vezes-boa-noite/

  • Borrar um movimento

    Muitos fotógrafos adoram a técnica de borrar o movimento. Neste método, o rastro do movimento do objeto principal é registrado. Para conseguir esse efeito, é preciso uma velocidade baixa do obturador, isto é, um tempo de exposição longo.

    Muitos fotógrafos adoram a técnica de borrar o movimento. Neste método, o rastro do movimento do objeto principal é registrado. Para conseguir esse efeito, é preciso uma velocidade baixa do obturador, isto é, um tempo de exposição longo.

    Uma árvore centralizada numa foto noturna. Devido à longa exposição, as estrelas parecem estar se movendo em espiral.
    The shortest night | Andrew Whyte

    A velocidade ideal vai depender do que você estiver fotografando. Para  registrar os rastros de faróis de carros em uma fotografia noturna, por exemplo, é necessário que a exposição leve vários segundos ou até minutos.
    Ao optar por velocidades baixas, é muito recomendado que você utilize um tripé ou tente apoiar a câmera em alguma superfície estável. Isso porque um mínimo movimento da câmera pode resultar numa foto inteiramente tremida.
    Nas câmeras em geral, existe um modo “prioridade de velocidade do obturador”, em que você define apenas a velocidade e a máquina ajusta o ISO e a abertura automaticamente de acordo com a situação. Se preferir, pode também utilizar o modo manual e configurar esses controles da maneira que achar mais adequado.
    Andrew Whyte é um fotógrafo britânico, apaixonado por fotografias de longa exposição. Seu portifólio contém fotos de cidades, do céu noturno e trabalhos com luz.

    Fotografia do Big Ben, em Londres, durante uma noite chuvosa. Á direita, vê-se vários rastros de luz coloridos. São os faróis dos veículos que passaram enquanto o obturador ficou aberto
    Ben 10 | Andrew Whyte

    Na imagem Ben 10, Andrew registrou uma noite em Londres, bem em frente ao icônico Big Ben. Com uma longa exposição, o artista capturou diversos feixes de luzes dos carros que passaram durante o tempo em que o obturador ficou aberto. Pode-se ver tons de verde, vermelho, azul, amarelo, laranja e rosa. Essas cores vibrantes dão um aspecto mais vivo à cena. Percebe-se também reflexos de luz no chão e pingos na lente, que indicam chuva no instante em que a fotografia foi feita.
    Que tal agora praticar? Pegue sua câmera, pense em algo legal, como os próprios carros à noite ou até mesmo a água corrente (para dar o efeito de véu de noiva) e pratique! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

    Referências

    • Leia isto se quer tirar fotos incríveis – Henry Carroll

    Não é para qualquer um. A técnica exige equipamento profissional, experiência fotográfica e, talvez, conhecimentos de edição.

  • ISO

    ISO

    Você já deve ter percebido uma configuração em sua câmera chamada ISO, certo? ISO  é a sigla da International Standard Association, e que na fotografia ela define os padrões de sensibilidade do sensor da câmera com a luz.

    Você já deve ter percebido uma configuração em sua câmera chamada ISO, certo? ISO  é a sigla da International Standard Association, e que na fotografia ela define os padrões de sensibilidade do sensor da câmera com a luz.

    A imagem mostra prédios fotografados a noite, de baixo para cima. Os prédios possuem janelas de vidro iluminadas.
    Robyn Rayn – Old World New World

    Para registrar uma imagem com luminosidade adequada, é necessário controlar três elementos: a abertura, a velocidade e o iso. De uma maneira geral, a sensibilidade é inversamente proporcional a intensidade da luz captada e ao tempo de exposição da superfície fotossensível a luz. Ou seja, quanto maior a intensidade da luz captada, menor pode ser a sensibilidade ou quanto maior o tempo de exposição a luz, menor pode ser a sensibilidade.

    Em um ambiente bem iluminado, é mais fácil de fotografar do que em um ambiente com menos luz. Quanto menor o número do ISO, menor será sua sensibilidade à luz.  Contudo, não é necessário ter muita luz no ambiente para que a fotografia fique clara. É necessário captar muita luz para que a fotografia fique clara, isto é, superexposta. Se o número do ISO é aumentado, a sensibilidade do sensor aumenta, e, mesmo captando pouca luz é possível fotografar o que se deseja.

    Apesar disso, existem algumas consequências ao se usar o ISO de forma imprudente. Um ISO menor capta pouca luz e não apresenta ruídos na imagem. O ISO maior permitirá fotografar com pouca luz, porém a imagem poderá ter um ruído perceptível, o que pode prejudicar a nitidez de sua fotografia. Por isso é necessário pensar sempre no uso da fotografia. Uma fotografia para uso profissional de casamentos, por exemplo, não é desejável que haja ruídos, há não ser que o fotógrafo deseja que o ruído produza sentidos na fotografia. Já fotografias caseiras ou somente para redes sociais, um pouco de ruído não atrapalharia na finalidade da fotografia, mas mais uma vez, é de acordo com o desejo do fotógrafo. Na dúvida, use sempre o ISO menor para tirar fotos externas e não correr o risco de estragar sua imagem.

    Robyn Ryan, é um fotógrafo de Vancouver, no Canadá. Ele se descobriu apaixonado pela fotografia noturna e pela profundidade das cores oferecidas por ela. Em suas fotos, utiliza um tripé, lentes grandes angulares, uma lanterna para iluminar áreas escuras e a imaginação.

    A foto mostra uma região portuária, fotografada a noite. As luzes da cidade refletem na água, formando diversos formatos e cores.
    Robyn Ryan – Vancouver in the Night

    Na foto acima, o fotógrafo utilizou o ISO alto para se fotografar a noite, sem auxílio de um flash. O ruído causado era desejado para causar diferentes efeitos de luz, sombras e produzir sentidos na fotografia.

    #artigos é uma coluna de caráter ensaístico e teórico. Trata-se de uma série de textos dissertativos por meio do qual o autor propõe uma reflexão fundamentada acerca de um ou mais elementos que constituem a cultura fotográfica. Quer conhecer melhor a coluna #artigos? É só seguir este link.

    #fotografetododia Agora, faça você uma foto utilizando o ISO a seu favor e nos mostre seus resultados marcando a nossa rashtag!

    Referências:

    FOLTS, James A; LOVELL, Ronald P.; ZWAHLEN, Fred C. Manual de fotografia. São Paulo: Pioneira 2007.
    LANGFORD, Michael John; FOX, Anna; SMITH, Richard Sawdon. Fotografia básica de Langford: guia completo para fotógrafos. 8.ed. Porto Alegre: Bookman 2009.
    https://www.tecmundo.com.br/internet/7978-fotografia-para-que-serve-o-iso-.htm
  • Fotógrafas nas linhas de frente: Lee Miller, Gerda Taro e Alexandra Boulat

    Fotógrafas nas linhas de frente: Lee Miller, Gerda Taro e Alexandra Boulat

    A guerra é geralmente pensada como um espaço masculino. Na contramão dessa convenção, encontramos mulheres que desempenharam papéis importantes na fotografia de guerra.    

    Convencionalmente, a guerra é pensada como um espaço masculino: homens guerreiam, disputam territórios, confrontam-se nos campos de batalha, escondem-se em trincheiras. Às mulheres fica reservado o papel de esperá-los, de sofrer pelas perdas familiares, pelas devastações de suas casas, de suas cidades, quando não são violentadas, aprisionadas, torturadas. De acordo com Susan Sontag (2003, p. 11), “a máquina de matar tem um gênero, e ele é masculino”.

    Habitualmente, também são os homens que fotografam a guerra. A atuação das mulheres como fotógrafas de guerra, se comparada à dos homens, é bastante limitada, embora  a história da fotografia seja marcada com nomes importantes como de Lee Miller (1907-1977), Gerda Taro (1910-1937) e Alexandra Boulat (1962-2007), entre várias outras. Cobrindo conflitos diferentes, em épocas e perspectivas distintas, cada uma dessas fotógrafas contribuiu para a conquista do espaço da mulher na cobertura de guerra.

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    Treinamento de milicianos republicanos na praia. Gerda Taro. 1936.

    Lee Miller

    Lee Miller (1907-1977) teve múltiplas faces: modelo revolucionária e fotógrafa consagrada, participou da vanguarda cultural europeia nos campos da literatura, música, pintura, fotografia e artes em geral. Foi correspondente de guerra, passou por alguns relacionamentos, entre eles dois casamentos, e teve um filho. Foi dona de casa e graduou-se na escola de gastronomia Le Cordon Bleu. Diante dos problemas que enfrentou na infância, optou por sair de sua zona de conforto e enfrentar o mundo. Nunca se acomodou no contexto de “mulher, branca, bonita, rica e frágil”, tendo sempre lutado contra esse tipo de enquadramento, desafiando, causando espanto e revolucionando a sociedade dos anos 1920, 1930 e 1940.

    Por sua coragem e forte personalidade, a fotógrafa americana foi exuberante em tudo que se dispôs a fazer. Miller foi uma das quatro fotojornalistas credenciadas como correspondentes da Segunda Guerra Mundial dos EUA. Conseguiu a credencial pela British Vogue, a mais improvável publicação a mandar uma mulher para guerra. Documentou a movimentação nos hospitais de campanha na Normandia, a vitória de Saint-Malo, a libertação de Paris, o avanço aliado na Alemanha, a batalha de Alsácia. Juntamente com o fotógrafo David E. Scherman (1916-1997), da revista Life, fotografou os campos de concentração de Dachau e Buchenwald, após a libertação dos sobreviventes.

    O fato de ser mulher foi determinante no seu modo produção. Usando uniforme e botas masculinas, Lee Miller era sempre o centro das atenções. Naquela época, era impensável a presença de uma mulher na cobertura de uma guerra, por isso eles a protegiam, cuidavam dela. Tal circunstância facilitava o acesso da fotógrafa a momentos reservados, restritos aos soldados. Ajudava também que ela conseguisse imagens exclusivas, em ambientes que dificilmente outras pessoas teriam acesso, como mostra a fotografia de dois artilheiros norte-americanos deitados na cama do apartamento do Hôtel Ambassadeurs, falando no telefone e observando pela janela o momento para lançar fogo.

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    Tropas americanas dirigem fogo mortal do Hôtel Ambassadeurs. St Malo. Lee Miller. 1944.

    Gerda Taro

    A relação da alemã de origem judaica Gerda Taro (1910-1937) com a fotografia teve início a partir do encontro com o jovem fotógrafo Andre Friedmann. Apaixonados, Friedmann ensinou seus conhecimentos à Taro e os dois passaram a fotografar juntos. Logo, Friedmann trocou seu nome para Robert Capa, personagem inventado pelos dois para capitalizarem melhor suas fotografias.

    Em 1936, com o começo da Guerra Civil Espanhola, Taro e Capa mudaram-se para a Espanha com o objetivo de cobrir o conflito. Eles documentaram diferentes episódios da guerra, suas fotografias foram publicadas em revistas como a Regards e a Vu. Muitas vezes, eles fotografavam as mesmas cenas. No início era possível distinguir a autoria das fotografias, pois usavam câmeras que produziam negativos de formatos diferentes. Taro utilizava uma Rolleiflex, de formato quadrado, e Capa uma Leica, de formato retangular. Depois, os dois passaram a trabalhar com câmera de 35 mm, dificultando identificar quem havia feito determinada fotografia.

    Em sua trajetória como fotógrafa, Gerda Taro procurou dar visibilidade à mulher. Como podemos observar na fotografia abaixo que mostra quatro jovens mulheres armadas e posicionadas em uma trincheira durante um combate. As protagonistas femininas demonstram entusiasmo e coragem. O olhar de Taro buscava sempre cenas como essa que rompessem com estereótipos.

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    Mulheres milicianas durante a Guerra Civil Espanhola. Gerda Taro. 1936.

    Na Batalha de Brunete, Gerda Taro estava trabalhando sozinha. Ela fotografou o front e assistiu terríveis bombardeamentos da aviação nacional, colocando em risco sua vida em várias ocasiões. Acabou perdendo a vida aos 27 anos, quanto voltava da batalha. Acidentalmente, um tanque republicano derrubou-a do carro, esmagando o seu corpo.

    Alexandra Boulat

    A francesa Alexandra Boulat (1962-2007) formou-se em artes gráficas e história da arte e iniciou sua carreira como fotojornalista em 1989, influenciada pelo pai, o fotógrafo Pierre Boulat, que trabalhou na revista Life. Boulat trabalhou na Sipa Press durante 10 anos. Em 2001, juntamente com outros fotógrafos, co-fundou a VII Photo, uma agência de fotojornalismo. Boulat cobriu vários conflitos em todo o mundo (Oriente Médio, Afeganistão, Iraque e antiga Jugoslávia), Atuou também como fotógrafa em Ramallah, na Faixa de Gaza. Publicou imagens em veículos como a Time, Newsweek, The Guardian, National Geographic, entre outros. Alexandra Boulat morreu em de 2007, vítima de um aneurisma.

    Um dos temas recorrentes nas coberturas que fazia era relacionado às vítimas de conflitos, particularmente as mulheres. Seu último trabalho importante foi sobre as mulheres muçulmanas na Ásia Menor e Oriente Médio. A sensibilidade do olhar de Boulat é marcante em seu trabalho. A fotógrafa parece encontrar humanidade na face da tragédia. Como acontece na fotografia em que uma luz suave incide sobre o rosto de uma senhora com um semblante abatido e desconfiado. Em segundo plano, outra mulher, mais jovem, parece compartilhar o mesmo sentimento. O plano plongée transmite a condição de inferioridade e vulnerabilidade das mulheres refugiadas.

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    Refugiadas afegãs em Quetta. Paquistão. Alexandra Boulat. 2001.

    Ao longo dos séculos XX e XXI, a participação da mulher no campo do fotojornalismo, principalmente na cobertura de guerras, vem crescendo expressivamente. Seguindo o exemplo de suas antecessoras, que romperam condições normativas e desafiaram a vulnerabilidade do corpo, a mulher vai timidamente conquistando respeito e espaço nos veículos de comunicação.

    Como Butler (2015), acreditamos que a vida excede aos esquemas normativos e enquadramentos. Pensando assim, o papel da fotojornalista contemporânea é o de procurar romper velhos esquemas e fazer emergir outras possíveis formas de chamar a atenção para as atrocidades da guerra. Nesse sentido, a vida e a obra de Lee Miller, Gerda Taro, Alexandra Boulat, de suas antecessoras e sucessoras, é um convite à produção de novos enquadramentos na fotografia de guerra.

    Clique nos nomes das fotógrafas citadas neste artigo para saber mais sobre a vida e a obra de cada uma delas: Lee Miller, Gerda Taro e Alexandra Boulat.

    Links e referências

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    Sobre as autoras

    Kátia Lombardi é fotógrafa e professora do curso de Jornalismo e do PROMEL (UFSJ). Doutora pelo PPGCOM da UFMG. Pesquisadora em imagem, fotografia e memória.

    Thais Andressa é graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). É fotógrafa e pesquisadora sobre o tema ” mulheres na fotografia”. Possui especialização (Senac) e trabalha com produção cultural. Realizou exposições individuais no Centro Cultural UFSJ (2018), no Museu Regional de São João del-Rei (2018) e no Centro Cultural Sesi Minas Ouro Preto (2019). Tem trabalhos fotográficos publicados nas revistas “Mais Saúde & Bem-Estar” e “Mais Vertentes”.  Obteve o 2º lugar no Concurso Cultural fotográfico (2019) promovido pelo site “Tudo pra foto” e teve uma de suas fotos como semifinalista do Brasília Photo Show (2019). Atuou na cobertura fotográfica do Inverno Cultural UFSJ nos anos de 2017, 2018 e 2019.