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  • Linhas

    Linha é a trajetória de um ponto no espaço ou o espaço que liga dois pontos. É um elemento visual que transmite movimento e guia o olhar do leitor.


    Linha é a trajetória de um ponto no espaço ou o espaço que liga dois pontos. É um elemento visual que transmite movimento e guia o olhar do leitor.

    Fotografia em preto e branco tirada do sexto andar em que se pode visualizar as escadas rolantes de todos os andares abaixo. Cada andar possui um par de escadas, cada uma de um lado, exceto pelo térreo em que as escadas ficam juntas no centro do local.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Escadas Rolantes


    Na fotografia, as linhas se apresentam como o contorno das formas; uma divisão entre duas partes da fotografia (como a linha do horizonte); ou a linha imaginária representada pelo caminho entre dois ou mais elementos da foto. As linhas podem ser retas ou curvas; verticais, horizontais ou diagonais. Na fotografia do Cristiano Mascaro, abaixo, as prateleiras, os livros, o chão, o corrimão e o teto são exemplos da utilização das linhas na fotografia. Neste caso, as linhas verticais, o contorno dos livros, transmitem a fartura das estantes e as linhas diagonais, prateleiras e corrimão, levam o olhar do leitor à estante do fundo.

    Fotografia em preto e branco de uma biblioteca. Há uma estante de cada lado, elas ficam de frente uma para outra e ambas estão cheias de livros. O chão e o teto possuem um trilho e no meio da cena há dois corrimões. As estantes e os corrimões formam linhas que apontam para o fundo da biblioteca, espaço cuja a perspectiva faz parecer menor.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – A Biblioteca da Faculdade de Direito
    De modo geral, as linhas são um direcionamento dentro da fotografia que enfatizam a profundidade e tamanho do objeto fotografado e provocam a sensação de divisão entre os elementos. Alguns elementos da paisagem possuem linhas naturais que ajudam a compor a imagem, como construções arquitetônicas e seus componentes, além de estradas, montanhas, a linha do horizonte, etc. Escadas são um exemplo de elemento cotidiano formado por diversas linhas. Tente fotografá-las de forma que o caminho dos degraus seja também o caminho dos olhos do leitor, como na fotografia a seguir, em que nossos olhos perfazem a espiral.
    Fotografia em preto e branco de uma escada em espiral que desce por uma parede arredonda com painéis retangulares.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Escada do Edifício Esther

    A linha, como recurso, também pode ser utilizada para criar divisão na cena. Deixar um espaço no meio da cena, entre duas pessoas ou dois objetos, cria uma linha imaginária, o que pode ser um artifício para estabelecer uma divisória, indicando, por exemplo, divergência entre esses dois elementos.

    Para acentuar a direção das linhas e obter todo o potencial de composição delas, combine a orientação da fotografia e a direção das linhas. Utilize a orientação horizontal para enfatizar linhas horizontais e a orientação vertical para realçar as linhas verticais. No caso de elementos verticais, como prédios, a orientação vertical também faz com que pareçam maiores.

    Fotografia em preto e branco e uma parte do Edifício Copan. A proximidade das linhas curvas do monumento faz a imagem parecer uma obra de artes abstrata.
    Cristiano Mascaro – São Paulo, a cidade – Detalhe do Copan

    Para construir uma boa composição de linhas, você pode se inspirar nas fotografias de Cristiano Mascaro, o fotógrafo que ilustra este post. Cristiano é um fotógrafo paulista. Ele foi repórter fotográfico na Revista Veja em 1960, mas atualmente se considera fotógrafo independente e se dedica a projetos pessoais. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, as construções citadinas são o principal tema das obras de Cristiano, exaltando as paisagens urbanas. E, como podemos notar, ele sabe muito bem enfatizar as linhas das construções de São Paulo para compor suas fotografias. Para saber mais sobre Cristiano, acesse o seu site.

    Bora treinar! Utilize as linhas da paisagem ao seu redor para fazer fotografias que enfatizem a profundidade dos objetos ou acentuem as suas proporções. Depois, utilize as mesmas linhas para fazer fotografias que guiem o olhar do leitor.



    Referências

    • Blog Emania
    • ELLEN, Lupton; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
    • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.



  • Linhas horizontais, verticais e diagonais

    As linhas são capazes de produzir sentido dentro da fotografia ao guiar o olhar do leitor. A direção das linhas, entretanto, pode fortalecer ou suavizar a imagem.

    As linhas são capazes de produzir sentido dentro da fotografia ao guiar o olhar do leitor. A direção das linhas, entretanto, pode fortalecer ou suavizar a imagem.

    Fotografia de um homem sentado na grade de um píer, de costas, olhando um lago com patos.
    Cornell Capa – Alec Guiness studying his lines (Alec Guiness estudando suas linhas), Londres, Inglaterra, 1952.

    Tendemos a associar linhas horizontais com o ato de estar deitado e linhas verticais com o ato de estar em pé. Por isso, linhas horizontais remetem a calma, tranquilidade e descanso. É o caso, por exemplo, da linha do horizonte.
    As linhas horizontais são indicadas para dar ênfase às paisagens naturais como na fotografia acima, de Cornell Capa. Nascido em uma família judaica em Budapeste, Cornell Capa iniciou sua carreira em 1937 na Agência Pix Photo, passando a trabalhar depois na câmara escura da revista Life. Se tornou fotógrafo da Life em 1946. Capa considerava que já havia muitos fotógrafos de guerra em sua família, como o famoso fotógrafo Robert Capa, então se dedicou a fotografar a paz.
    Na fotografia, o homem contemplando o mar aparenta estar relaxado. A paisagem ajuda a transmitir a sensação, mas as linhas horizontais na grade do píer, nas montanhas, nas nuvens e da própria linha do horizonte levam essa impressão ao máximo.
    As linhas verticais transmitem o oposto das linhas horizontais: força, poder e grandiosidade. Na imagem abaixo, a mensagem de guerra e potência passada pelos mísseis é completada com o fato deles estarem dispostos verticalmente e de haver, no fundo, um amontoado de árvores, também linhas verticais.
    Fotografia de misseis em frente a uma floresta.
    Cornell Capa – The 69th Tactical Missile Squadron (O 69º Esquadrão Tático de Mísseis), Near Hahn, Alemanha Ocidental.
    As linhas mais inusuais são as linhas diagonais e é exatamente isso que elas transmitem: inovação, modernidade e dinamismo. Já falamos aqui no blog sobre uso das diagonais e como elas podem evitar que sua fotografia fique monótona e dar destaque a objetos descentralizados.
    A fotografia abaixo, por exemplo, poderia ser entediante caso a linha que corta o casal fosse vertical ou se não houvesse linha, mas a presença da linha diagonal produz uma quebra de expectativas e dinamiza a imagem.
    Fotografia da rainha Elizabete e do príncipe Charles. Elizabeth e Charles estão de costas, sentados em cadeiras distantes e olhando um para o outro. Entre eles é possível ver a faixa da rua a frente deles.
    Cornell Capa – Queen Elizabeth and Prince Phillip during the Queen’s visit to the United States (Rainha Elizabeth e Príncipe Phillip durante a visita da rainha aos Estados Unidos), cidade de Nova Iorque, EUA, 1957.

    As linhas diagonais também são importantes para criar a sensação de profundidade que constitui um elemento de composição muito importante, o ponto de fuga.
    Se as linhas guiam o olhar do leitor pela imagem, é necessário lembrar que na nossa cultura lemos da esquerda para direita, de cima para baixo. Leve este fato em consideração ao dispor os objetos em uma composição com linhas. Como na fotografia abaixo, em que vemos primeiro os pés da esquerda e em seguida os acompanhamos ao centro até o fundo da fotografia. Isto cria um ritmo que é quebrado apenas pelo garoto, que nos devolve o olhar. Se esta foto tivesse sido feita com os pés começando pela direita e indo em direção ao centro, não teria o mesmo efeito rítmico.

    Fotografia de uma rua comprida, na calçada pode-se ver uma fileira de pés.
    Cornell Capa – The Funeral of William “Bojangles” Robinson (O funeral de William Bojangles Robinson), Nove Iorque, 1948.

    Para mais dicas, acesse a postagem sobre linhas. Lá falamos por exemplo da combinação de direção das linhas e orientação da fotografia.
    Agora que você sabe o significado de cada tipo de linha, faça duas fotografias para cada uma. Tire a primeira fotografia focando apenas nas linhas verticais, já a segunda tente combinar com a mensagem que ela passa. Depois, repita o processo utilizando linhas horizontais e, por último, linhas diagonais. Veja a diferença entre as fotos e compartilhe as suas observações no nosso instagram.

    Referências

    • EXCELL, Laurie. Composição, de simples fotos a grandes imagens. Rio de Janeiro: Alta books, 2012.
    • Lightroom
  • Amnésia

    Em Amnésia, o protagonista precisa desvendar o assassinato de sua esposa. Entretanto, na noite do crime, ele sofreu uma pancada na cabeça que afetou sua capacidade de guardar novas memórias. Sua câmera se torna então sua maior aliada.

    Uma foto de Polaroid mostra o protagonista, o nome do filme e os atores. Dentro da foto, há outra personagem
    Poster Oficial

    Amnésia é um filme de suspense lançado em 2000. Nele, Leonard Shelby (Guy Pearce) está a procura do assassino de sua esposa. Na noite do crime, ele sofreu um golpe na cabeça que o torna incapaz de fazer novas memórias por mais de 15 minutos. Para resolver o caso, ele tatua informações cruciais em seu corpo, além de carregar uma câmera Polaroid 690 por onde vai. Suas fotos são uma forma rápida de entender sobre os lugares em que está ou as pessoas que o cercam.

    O personagem principal no momento em que tira uma foto, utilizando um terno bege e camisa azul, em frente a plantas com flores vermelhas.
    Captura de tela | Autor desconhecido

    O filme foi lançado em 2000 e é daqueles que não dá para assistir apenas uma vez. Isso porque o diretor Christopher Nolan pensou numa narrativa diferente. A história é contada de trás para frente, o que nos coloca um pouco na pele do personagem principal: sabemos o que ocorre no presente, sem saber ainda o que levou ele àquele lugar ou àquela situação. Para ficar mais claro, o início de cada cena é o final da cena seguinte.
    Apesar de já sabermos o final da história logo no início, o “spoiler” não tira a emoção do longa-metragem. Fiquei ansioso e angustiado, igual ao personagem, como se fosse eu quem precisasse solucionar o quebra-cabeça. A única ressalva que faço sobre o filme é bem pessoal. Acho que exige muita concentração do espectador.  Assisti-o duas vezes e, em ambas, fiquei confuso em certo momento pois, a cada cena, precisava rebobinar a história na minha cabeça.

    O personagem principal veste um terno bege e camisa azul. Ele está segurando sua câmera em frente a um estacionamento cheio de veículos brancos.
    Captura de tela | Autor desconhecido

    É interessante observamos a importância das fotos para Leonard. Muito mais que simples imagens, elas são registros de sua memória e de sua vida. Imagino que seria muito mais difícil para ele se precisasse trabalhar apenas com anotações e sem o aspecto visual. Devido à sua condição, elas se tornaram suas melhores amigas.
    Penso que fotos têm mesmo esse papel histórico, por gravarem para sempre um acontecimento, um lugar, uma pessoa, em um determinado momento. Não precisa ser necessariamente algo histórico e grandioso. Por meio delas, por exemplo, eu posso saber como era minha cidade 70 anos atrás. No futuro, meus netos poderão ver como eu era durante minha juventude. Eu posso me lembrar de um romance que vivi ou uma viagem que fiz. Tudo é eternizado a partir de um simples clique.

    Referências

    Site oficial de Amnésia
  • Quadros dentro de quadros

    Utilizar elementos da paisagem como molduras interiores pode criar composições mais interessantes. Para entender melhor, confira o post!

    A técnica do quadro dentro do quadro é uma forma muito simples de tornar suas fotos visualmente mais atraentes. Consiste em enquadrar o objeto da foto dentro de uma moldura, usando um elemento da paisagem como uma janela ou uma porta.
    Através de uma janela, se vê uma mulher em um ambiente que parece um bar ou restaurante.
    Jasper Tejano
    Descrição: uma mulher é vista através de uma janela em um ambiente que se parece com um restaurante.

    Mesmo sendo uma ideia muito simples, ela acrescenta muito à composição, permitindo brincar com o formato da foto, normalmente quadrado ou retangular, como por exemplo usando um buraco na parede como moldura. O quadro dentro do quadro também adiciona camadas à fotografia, criando mais profundidade. Outra vantagem é que a moldura guia o olhar de quem visualiza ao objeto da foto, mesmo que este não esteja centralizado.
    Jasper Tejano é um fotógrafo de rua e suas fotos já foram expostas em diversos lugares pelo mundo, segundo seu próprio site, de Kuala Lumpur até Paris. Seu perfil no instagram é citado em diversas listas do Brasil, EUA, entre outros, como um dos melhores perfis de fotógrafos para seguir na rede social. Através de suas lentes, ele registra diversas cenas do cotidiano, e uma das técnicas que aparecem com frequência em seus registros são as molduras interiores.
    Três homens aparecem destacados contra a luz do farol de um carro que parece entrar em um galpão ou garagem.
    Jasper Tejano
    Descrição: três silhuetas de pessoas são vistas no que se parece um túnel ou uma garagem, com uma luz forte dos faróis de um carro atrás deles iluminando o local escuro.
    Na foto acima, por exemplo, as pessoas estão enquadradas dentro da abertura do que parece um galpão ou garagem, criando senso de profundidade, e, juntamente com a contraluz, um senso de intriga, o que torna a foto visualmente chamativa.
    A técnica de quadro dentro de quadro é extremamente simples, porém agrega em muitos sentidos à fotografia, exigindo apenas um olhar mais apurado ao ambiente.
    Observe o ambiente e utilize os elementos simples ao seu redor. Fotografe através de portas e janelas, e compartilha sua experiência com a gente nos comentários!

    Links, Referências e Créditos

    • O novo manual da fotografia de John Hedgecoe

  • Cidade de Deus

    Um clássico brasileiro, Cidade de Deus, é um filme que vale a pena ser visto e revisto. Te convido a assisti-lo pelo ângulo da fotografia, vamos?

    Atrás um muro pichado. Buscapé, o personagem, segura uma câmera.
    Cena do filme: Cidade de Deus
    “Em uma tacada, eu descolei uma câmera e uma chance de virar fotógrafo” (Busacapé).

    De fato, “Cidade de Deus” é um clássico brasileiro. Muitos já assistiram ou pelo menos ouviram falar. Mas te convido a velo-lo sobre uma nova perspectiva: a fotografia.

    Ambientado, no bairro Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, em decorrência de um processo de remoção de favelas situadas na zona sul da cidade, o filme retrata o desenvolvimento do crime organizado no período entre o final dos anos 60 e o começo dos 80. 
    A narrativa é constituída sob a perspectiva do jovem narrador e protagonista Buscapé, Alexandre Rodrigues, que em meio ao ambiente de crime e tráfico no qual estava inserido, encontra uma oportunidade, quase acidental, de virar fotógrafo. (Digo, se não fosse também pelo seu sonho de ser fotógrafo.)

    A história relaciona o contexto de vida na favela: o conflito entre policiais, criminosos e a população que se tornava vítima desta violência. Essa relação é  evidenciada em cenas que mostram, de um modo geral, o descaso do Estado quanto a população. Na trama, as várias histórias se fundem, e dentre as quais a de ascensão e queda de  um dos traficantes mais perigosos da  Cidade de Deus, que quando criança era conhecido como Dadinho e após alguns anos passou a ser Zé Pequeno (Leandro Firmino).
    Pôster: Cidade de Deus

    Vale ressaltar que a obra está inserida em um contexto de redemocratização do audiovisual brasileiro (pós ditadura), no qual, temas como violência e  tráfico nas favelas eram mostrados exaustivamente. A construção do filme é posta, entre os momentos de ação, drama e as cenas de humor ácido. A crítica social é evocada em toda narrativa, trazendo a tona  imaginários sobre a pobreza e violência no Brasil, o que dá margem para estigmatização social, racial, sobre violência nas comunidades brasileiras. 
    Sobretudo,  Cidade de Deus se tornou um clássico do cinema nacional, evoca questões latentes em nossa sociedade, principalmente no que diz respeito à políticas falhas do Estado. Ainda hoje, no Brasil a concentração de renda nas mãos de um pequeno grupo, reforça sistemas desiguais de oportunidades para muitos jovens. No enredo, Buscapé, encontra uma possibilidade (quase acidental) de escapar, desse sistema imperfeito, pela fotografia. O filme te trará muitas sensações e poderá levantar questões até mesmo sobre o nosso papel de luta por novas políticas justas e igualitárias. Agora, se tratando de imagens, pode ser que em meio a tantas dificuldades, a fotografia pode vir a ser um escape para novas realidades seja como instrumento de  ação, denúncia ou resistência. 
    Cidade de Deus é uma produção de 2002, baseado no romance homônimo do escritor Paulo Lins. Com direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund, e roteiro de Bráulio Mantovani.

    “Uma fotografia podia mudar a minha vida, mas na Cidade de Deus, se correr o bicho pega, e se ficar, o bicho come.”  (Buscapé)

    Confira o trailer!

     E aí, o que achou do #dicadefilme dessa semana? Compartilhe em nossas redes e nos conte sua experiência, no nosso Instagram
    Um clássico brasileiro, Cidade de Deus, é um filme que vale a pena ser visto e revisto. Te convido a assisti-lo pelo ângulo da fotografia, vamos? 
  • Usando a potência do flash

    Usando a potência do flash

    Na continuação da série sobre o flash, vamos entender sobre a potência e sua influência na iluminação das trabalhos fotográficos.

    Usar um flash externo pode parecer algo complicado e desafiador, mas desde que haja familiaridade com as suas funções e um olhar atento para as situações em que será utilizado pode-se obter resultados muito bons. Na continuação da série sobre o flash, vamos nos concentrar em uma dessas configurações: a potência.

    Usar um flash externo pode parecer algo complicado e desafiador, mas desde que haja familiaridade com as suas funções e um olhar atento para as situações em que será utilizado pode-se obter resultados muito bons. Na continuação da série sobre o flash, vamos nos concentrar em uma dessas configurações: a potência.

    Um homem negro é visto no primeiro plano olhando diretamente para  a câmera. Está iluminado por um flash do lado esquerdo da imagem. Aparece trajando uma blusa branca e pulseiras no braço direito. Ao redor do pescoço há um tecido verde  esvoaçando-se  ao lado direito do corpo do homem e cobrindo o ombro esquerdo. O fundo é escuro, tornado difícil a visão da pessoa e do veículo ao fundo.
    Bárbara Wagner. Sem título I (da série Jogo de Classe), 2013

    A potência do flash é indicada por uma numeração conhecida como “número-guia” que indica a distância máxima que a luz produzida por aquele flash irá alcançar. Devemos ter em mente que o que irá determinar diversas características da foto, inclusive o quão longe essa luz irá alcançar, não dependerá apenas do flash e sua potência, mas dos demais fatores que deverão ser pensados e ajustados. A abertura do diafragma da lente da câmera e a velocidade do disparo do flash são extremamente importantes para isso, como mostram os exemplos mostrados neste artigo.

    É importante lembrar que, quando usado no modo automático, a velocidade do disparo do flash será suficiente para iluminar apenas o primeiro plano da foto e não o fundo. Dificilmente um flash, por maior que seja a sua potência e por mais que se façam demais ajustes consegue iluminar objetos a grandes distâncias. Na tentativa de fazer isso no modo manual, o que pode acabar acontecendo é uma superexposição do primeiro plano, aparecendo como costumamos dizer, “estourado”.

    Para obter um resultado em que ambos os planos apareçam de forma harmoniosa, é necessário usar os controles do diafragma para que haja uma maior captação de luz pela lente da câmera, já que assim será garantida a iluminação dos planos posteriores pela luz ambiente. Além disso, a velocidade do disparo do flash também influencia na captação da luz, sendo importante ajustá-la para conciliar essa captação de luz ambiente com a luz do flash.

    Caso contrário, o primeiro plano aparecerá totalmente iluminado e até mesmo superexposto e o segundo plano, excessivamente escuro, quando não totalmente anulado. Isso acontece porque o tempo de disparo irá definir até onde a luz irá alcançar, de forma que com um flash muito rápido (como 1/40.000 segundos) apenas o primeiro plano será iluminado, enquanto, tendo em mãos um flash com grande potência e um tempo de disparo mais longo (como 1/1.000 segundos), os demais planos poderão também ser iluminados.

    A imagem que abre esse #fotografetododia, assim como as demais apresentadas abaixo, são de autoria de Bárbara Wagner, fotógrafa brasileira original de Brasília que vive e trabalha em Recife e tem uma obra voltada principalmente à cultura popular e tradicional, participou de diversos projetos e bienais ao redor do mundo, tendo inclusive obras no acervo permanente dos museus MASP e MAM em São Paulo.

    Analisando a primeira imagem, aparentemente tirada no período noturno, percebemos que a luz é dura e lateral, o que indica que um flash externo foi usado, localizado ao lado esquerdo da imagem. Sabemos que a combinação de flash com alta potência e diafragma aberto resulta em uma iluminação de grande alcance, o que não é o caso da foto em questão em que temos um primeiro plano bastante destacado do segundo.

    Apesar de não ter como saber ao certo o quão potente é o flash utilizado, podemos observar que sombras duras são projetadas do lado oposto ao que é iluminado, cobrindo metade do rosto do modelo enquanto o segundo plano aparece muito escuro (subexposto) a ponto de não revelar quase nada dos demais elementos – uma pessoa parada, sem que seja possível identificar identidade ou gênero, e um veículo. Essas características podem indicar um tempo de disparo do flash mais rápido, iluminado com grande incidência apenas o primeiro plano.

    É interessante notar também que os riscos luminosos ao canto inferior direito na imagem indicam que houve uma longa exposição do registro da lente, logo, o modelo foi congelado na foto pelo flash em velocidade de disparo alta. Nada disso, no entanto, indica falha ou má escolha por parte da fotógrafa, uma vez que tais características trazem dramaticidade ao registro, sendo este justamente o objetivo do ensaio chamado “Jogo de Classe”, que busca uma teatralidade de cena, representando visualmente as classes sociais a que os fotografados pertencem.

    Nas imagens a seguir, temos mais uma fotografia para análise. Desta vez a imagem é fruto do projeto Offside Brazil em que fotógrafos estrangeiros e brasileiros buscaram registrar as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, realizada no país, revelando os entornos do evento marcado por manifestações e desigualdades sociais e assim, fazendo uma cobertura paralela às atenções voltadas aos jogos.

    Uma mulher negra de pele clara é vista em pé com um bebê ao colo, olhando diretamente para a câmera com uma expressão séria. Ambos estão iluminados por flash direto. A mulher está descalça e traja shorts, uma camiseta laranja e uma touca rosa na cabeça. Segura o bebê enrolado em uma manta com o braço esquerdo e um guarda-sol com o braço direito. O chão é de terra; há um cão preto parcialmente ao lado esquerdo da imagem e  há vegetação e cabos de energia elétrica ao fundo.
    Bárbara Wagner. Quilombo Castainho, Brasil. Offside Brazil, 2014

    Enquanto a primeira imagem mostrada, do ensaio “Jogo de Classe”, traz um flash iluminando o personagem de forma intensa e com um segundo plano praticamente nulo, a segunda apresenta um uso muito mais sutil. Tirada no Quilombo Castainho, visivelmente durante o dia e a céu aberto, o uso do flash dá destaque à mãe e à criança fotografada, sendo perceptível o seu uso pelas sombras que se projetam de forma dura/marcada no corpo da mulher, diferente das sombras muito mais suaves/difusas a seus pés, provenientes da luz natural. Aqui, talvez coubesse o uso de um flash com potência menor ou um tempo de disparo da luz reduzido para suavizar a formação das sombras, mas não podemos deixar de levar em consideração a potência discursiva das escolhas, que tem muito a ver com revelar uma realidade que muitos não veem ou não conhecem.

    Assim, chegamos ao fim de mais um #fotografetododia , segundo da série sobre flash, aprendendo mais sobre a potência e seus usos. É importante lembrar que quanto mais potente for o flash, maior a área que poderá ser iluminada, mas também, mais marcadas serão as sombras e maior será a diferença entre os planos. Daí a importância de equilibrar não apenas as configurações da velocidade de disparo do flash, mas também as da câmera, como a abertura do diafragma, a velocidade do obturador e o ISO, a fim de controlar até onde esta luz irá incidir e quanto da luz ambiente será registrada pela lente nos planos secundários.

    Está gostando da série de #fotografetododia sobre flash? Não deixe de compartilhar com todo mundo que gosta de fotografia! Ah! E se tiver alguma dúvida ou dica, mande lá no nosso grupo de discussão no Facebook! Até semana que vem!

    Dificuldade 4: Você vai precisar de uma boa câmera e alguns conhecimentos.

    Referências:

    HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia. 2ª ed. São paulo: Editora Senac, 2005. p. 168-169.

    CUNHA, Juliana. Bárbara Wagner entre Deus e Estelita: dois ensaios para o OFFSIDE BRAZIL. Revista ZUM. Disponível em<https://revistazum.com.br/offsidebrazil/barbara-wagner/> Acesso em 28 de abr. de 2020

    Links:

    Site de Bárbara Wagner
    Tumblr do Projeto Offside Brazil

    Na continuação da série sobre o flash, vamos entender sobre a potência e sua influência nos resultados na iluminação das trabalhos fotográficos.
  • Reflexos

    Usar reflexos nas fotos é uma técnica relativamente simples e traz resultados surpreendentes.

    O uso de superfícies reflexivas  pode ser muito útil na hora de compor a fotografia, elas permitem enquadrar pessoas e locais de maneiras diferentes, além de serem muito usadas na criação de fotografias abstratas criando padrões geométricos ou deformando objetos fotografados.

    Pescador Pirarucu
    Araquém Alcântara, Pescador Pirarucu

    Uma das maneiras mais comuns de fazer fotografias com reflexo é usando um espelho plano, já que ele reflete nitidamente a luz, e isso é bom para compor fotos com objetos iguais em duas posições diferentes do enquadramento que conversam entre si. É possível usar espelhos de várias outras maneiras, espelhos quebrados por exemplo podem dar composições interessantes.

    A água também é muito utilizada para esse tipo de fotografia. Sair de casa para fotografar depois de chuvas, quando existem muitas poças d’água espalhadas, pode proporcionar fotos inovadoras dos mesmos locais que você já viu várias vezes. Lembrando que a água não precisa estar parada ou ser límpida, a ondulação da água e sua turbidez pode funcionar muito bem para criar fotografias abstratas por exemplo.

    Existem incontáveis outra superfícies reflexivas. Quando você sair para fotografar busque ter um olhar atento a elas, carros por exemplo proporcionam várias superfícies diferentes que podem resultar em uma boa foto, espelhos retrovisores, rodas e parachoques cromados, vidros escuros e até mesmo a própria pintura, que na maioria dos carros é brilhante e reflete bem a luz, além de que os diferente formatos dos carros produzem várias deformações diferentes nas imagens.

    A técnica do reflexo aparece muito nas obras de Araquém Alcântara, fotógrafo Brasileiro conhecido por ser um dos precursores da fotografia ecológica no Brasil.  Um de seus principais trabalhos foi seu ensaio sobre os ecossistemas e as unidades de conservação brasileira, que ele demorou 22 anos para concluir. Em abril de 2019 ele em conjunto com o fotógrafo Sebastião Salgado produziu uma exposição sobre o pantanal, um ecossistema repleto de corpos d’água que permitiram fotos incríveis com o uso dos reflexos.

    Serra do Amolar
    Araquém Alcântara; Serra do Amolar

    Essa é uma das fotos desta exposição. Ela foi tirada na serra do Amolar, e é um bom exemplo de fotografia com reflexo. A linha que divide a imagem real e a refletida é bem nítida colocada na foto de maneira horizontal e respeitando a regra dos terços. Mesmo que o reflexo seja turvo, o resultado cria várias formas diferentes o que fica visualmente interessante e complementa muito a composição.

    Agora é sua vez! Pegue a câmera ou o celular e saia procurando ver os mesmos lugares de perspectivas diferentes! E não se esqueça de mostrar os resultados no nosso grupo do Facebook!

  • A better camera

    A Better Camera promete deixar a câmera do seu celular com características de câmera profissional. Será que dá certo?

    A Better Camera promete deixar a câmera do seu celular com características de câmera profissional. Será que dá certo?
    Imagem promocional que mostra o aplicativo sendo rodado em um smartphone e todas as funções que ele oferece.
    Foto promocional. Créditos: A Better Camera.
    Apesar de adorar fotografia, eu preciso ser sincera: eu nunca compraria um celular baseado em sua câmera. Na minha opinião, grande parte da graça das fotografias mobile é usar a criatividade para superar as desvantagens da câmera do celular em relação as DRLS e colocar a composição em evidência. Mas às vezes eu gostaria que a câmera do meu celular tivesse algumas funções a mais. Por isso, resolvi testar o aplicativo “A Better Camera” e comparar as fotos tiradas com ele com as da câmera do meu celular sem utilizar nenhum aplicativo.

    A Better Camera

    A Better Camera é um aplicativo somente para Android que, como a tradução do seu nome diz, te oferece “uma câmera melhor”. O aplicativo é grátis, mas certos recursos são pagos e os preços variam de R$ 0,99 a R$ 3,99. Sua versão grátis possui:
    • 4 modos de medição de luz (automático, matrix, balanceado ou pontual);
    • 8 tipos de balanço de branco (automático, incandescente, fluorescente, fluorescente quente, luz do dia, dia nublado, crepúsculo e sombra);
    • 5 modos de foco (automático, infinito, macro, contínuo e trava de foco);
    • 3 tipos de flash (auto, manual, tocha);
    • 8 efeitos de cor (monocromático, negativo, ensolarado, sépia, posterização, whiteboard, blackboard e água);
    • compensação de exposição;
    • ISO até 1600;
    • DRO;
    • ferramenta de grid;
    • ferramenta de histograma;
    • ferramenta de nivelamento;
    • modo noturno;
    • best shot;
    Além disso, na versão grátis é possível tirar uma quantidade limitada de fotos utilizando os modos HDR, panorama e multidisparo inteligente. Dentro do multidisparo inteligente existem as opções remoção de objetos, foto de grupo e sequência.
    A câmera do meu celular tem ISO (se não sabe o que é, descubra aqui) máximo 800, controle de exposição, três modos de medição (centro ponderado, matricial e ponto) e cinco tipos de balanço de branco (auto, luz do dia, nublado, incandescente e fluorescente).

    Primeiras impressões

    Confesso que a interface me deixou um pouco confusa. O menu (que fica na parte de cima) possui uma seta para baixo paa acessar as configurações, porém, em determinado momento, o grid e o histograma saíram da tela e eu só descobri que para colocá-los de volta eu deveria deslizar a tela para o lado dias depois (e por acaso). Esse aspecto do aplicativo é pouco intuitivo.
    A primeira coisa que resolvi testar foi uma comparação do modo automático do meu celular e do aplicativo. E, como você pode ver abaixo, não há diferença entre o modo automático de um e de outro.
    Fotos tiradas com todas as configurações no automático: à esquerda foto da câmera do meu celular; à direita, do aplicativo.
    Duas fotografias de uma capela branca à noite. As fotografias parecem iguais.
    Fotos tiradas com todas as configurações no automático: à esquerda foto da câmera do meu celular; à direita, do aplicativo.

    Foco

    O que mais me impressionou foram os focos. Meu celular só consegue focar objetos que estão a aproximadamente 20 centímetros de distância da câmera. Utilizando o aplicativo e configurando o foco para o modo macro eu consegui focar objetos a um mínimo de 6 centímetros de distância.
    Fotografia de uma flor cor-de-rosa.
    Fotografia com foco macro.
    O foco infinito não fez nada de especial. Na verdade, em algumas fotos utilizando o foco infinito, a imagem nem parece estar focada. O modo contínuo e a trava de foco, porém, funcionam muito bem.
    A razão pela qual eu gostei tanto dos focos é que, independente de qual eu escolhesse, os focos reduzem a profundidade de campo, deixando apenas um plano em foco e resto embaçado. A profundidade não é reduzida drasticamente, mas é mais do que já consegui fazer com a câmera do meu celular. Gosto de como o efeito enfatiza aspecto do que está sendo fotografado como a textura.
    Fotografia de algo que parece grades ou metais amarelos paralelos ao chão, que está ligeiramente desfocado.
    Fotografia utilizando trava de foco para reduzir ligeiramente a profundidade de campo.
    Foto utilizando trava de foco para reduzir ligeiramente a profundidade de campo.

    DRO, HDR e Best Shot

    As funções mais interessantes do aplicativo me pareciam ser o DRO, Dynamic Range Optimization (Otimização do Alcance Dinâmico), e o HDR, High Dynamic Range (Altíssimo Alcance Dinâmico). Ambos são tecnologias para ajustar a exposição quando uma parte da fotografia possui muita sombra e a outra muita luz. A diferença entre os dois é que o DRO faz o balanço diretamente na foto, enquanto o HDR tira duas fotos com exposição calculada para áreas diferentes e as junta em uma única foto. Além disso, no aplicativo, o DRO é grátis, enquanto o HDR é limitado a cinco fotografias.
    Minha experiência com ambos, porém foi insatisfatória. O DRO baixava a qualidade da fotografia, a deixando granulada. O HDR, por sua vez, dava a aparência de uma pintura às fotos, o que pode ser legal quando proposital, mas não era a minha intenção.
    Além desses dois elementos, o aplicativo possui um terceiro muito parecido: o “Best Shot”. Essa configuração faz várias fotos após o obturador ser pressionado, mas processa apenas a que tiver o melhor foco e nitidez. Para mim, o recurso cumpriu a mesma função do automático, porém demorando mais tempo para processar a imagem e impossibilitando que outras fotos fossem tiradas até lá.

    Considerações finais

    Ainda que o aplicativo tenha muitas configurações que a câmera do meu celular não oferece, a maioria delas não é necessária na maior parte do tempo ou não funcionam, se mostrando um excesso de funções. Elas servem para chamar atenção para o aplicativo, mas, na prática, poucas seriam usadas.
    Para uma pessoa que busca apenas deixar fotografias mais nítidas ou corrigir problemas de exposição, as funções úteis se tornam ainda mais escassas, já que o DRO e HDR não funcionam bem. O aplicativo também pode ser difícil para alguém que não conhece termos como ISO ou exposição, porque o aplicativo só oferece manual para as funções originais.
    Eu, porém, gostei muito da experiência criativa que o aplicativo proporciona. Mesmo utilizando poucas funções, as opções de balanço de branco, foco e flash aumentaram imensamente as minhas opções criativas para produzir uma foto.
  • Uso de fotos em preto e branco

    Neste post você saberá um pouco mais sobre o uso da foto em preto e branco, técnica antiga mas amplamente utilizada no mercado fotográfico moderno. 
    Foto em preto e branco. A foto mostra um homem de costas, não se vê a cabeça. O enquadramento está até a cintura. O homem apoia dois peixes em suas costas.
    Homem com dois peixes nas costas, 1992


    De placas de prata a sensores eletrônicos, passando pelos filmes, a tecnologia fotográfica, ao longo de sua história, desenvolveu-se continuamente. E hoje, podemos apontar questões, como: Qual é a diferença entre uma fotografia colorida e outra preto-e-branco? Bom, aparentemente a pergunta é simples, no entanto demanda uma resposta um pouco completa e neste texto, trataremos sobre a escolha do gênero fotográfico preto-e-branco. 

    Sabemos que a fotografia é o registro do momento, feito por um suporte físico, onde uma única cena, permite obter diferentes “retratos” se evidenciarmos bem as gradações de cores ou os contrastes de preto e branco. De certo, na fotografia, cor e luz desempenham funções diversificadas. Enquanto a cor se manifesta por matizes complementares e distintas. A luz evidencia padrões opostos: escuridão e claridade. A foto em preto-e-branco, cria um efeito de estranhamento que direciona o imaginário para a essência do real. Em contrapartida, as imagens coloridas reproduzem a aparência em sua forma mais precisa, como um retrato objetivo e neutro da realidade. 

    No ensaio “Filosofia da caixa preta”, o filósofo Vilém Flusser, escreve, sobre o assunto supracitado, e para ele, o preto-e-branco opera em uma imagem como uma abstração do mundo, e assim, ele aponta: “As fotografias preto e branco são a magia do pensamento teórico, conceitual, e é precisamente nisso que reside seu fascínio. Revelam a beleza do pensamento conceitual abstrato. Muitos fotógrafos preferem fotografar em preto e branco porque tais fotografias mostram o verdadeiro significado dos símbolos fotográficos: o universo dos conceitos”.

    As composições em preto e branco possibilitam não só uma qualidade estética, mas também permite uma ampliação dos sentidos, caracterizando-as também como atemporal e contrastantes. Uma vez que elas salientam a estrutura formal da cena, orientada pela lógica dos opostos, ao passo que, as fotos com cor, destacam a matéria do objeto, obtendo características de algo mais concreto. 

    No que diz respeito à composição, fotos em tons cinzas, viabiliza que o fotógrafo se concentre, no abstrato: na  forma, textura, e padrão, realçando assim qualidades que, em geral, se perdem com a fotografia colorida. Ao escolher  utilizar o preto-e-branco será importante voltar sua atenção a iluminação, pois o balanceamento de contrastes, tons claros e escuros, permitirá  enfatizar tais aspectos. De modo geral, uma dica importante para composição preto e branco é criar sombras, seja frontais ou laterais no objeto, assim reforçará as abstrações pretendidas, dando vida a imagem. 

    A escolha pela fotografia em tom cinza deve ser pautada pelo objetivo que você deseja alcançar com a imagem. O artista visual, Mario Cravo Neto (Salvador BA 1947 – 2009), cuja obra transitou pelo imaginário religioso e místico, foi adepto ao uso da fotografia em preto-e-branco. Ele expressa sua sensibilidade ao utilizar jogos de luz e sombra, que trazem uma sensação tátil, nas composições. Em muitas de suas obras, ele recorreu ao recurso de baixa luz, a enquadramentos fechados e explorou diferentes texturas com um foco crítico, dando ênfase ao volume.

    Criança negra, segura um ganço branco pelo bico. O posicionamento está apenas na cabeça do menino, O olho da ave posicionasse na  frente dao olho da criança.
    Odé, 1989


    Na composição “Odé” de 1989, Cravo Neto, enfoca em um enquadramento fechado a imagem de uma menino segurando uma ave pelo bico, repare o realce dado a ela pelo jogo de luz. O foco da imagem se dá na associação do fragmento do corpo do menino (olho) com o posicionamento do olhar da ave. A fotografia além de evocar aspectos ritualísticos, causa uma certa sensação de estranhamento, dada pela relação inesperada de oposição entre o corpo e o animal.

    E aí, como você utiliza o formato  preto e branco em suas fotos? Conte-nos a suas experiências, deixe seus comentários. E faça o exercício de escolher um ambiente com luzes fortes e sombras para fazer fotos incríveis.


    Referências

    _____, John. O novo manual de fotografia: guia completo para todos os formatos. Assef Nagib Kfouri et al. (trad). São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2005. 
    FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro, RJ: Relume Dumará, 2002.
    MARIO Cravo Neto. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2620/mario-cravo-neto>. Acesso em: 21 de Jun. 2020. Verbete da Enciclopédia.
    ISBN: 978-85-7979-060-7