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  • Retratos de Uma Obsessão

    Nessa história, acompanhamos Seymour Parrish (Robin Williams), um homem pacato, que trabalha no guichê de revelação fotográfica de um supermercado. O filme é contado em uma narrativa em flashback, onde conhecemos a história da família Yorkin que foi alvo da obsessão de Sy.

    O filme retrata a vida solitária de Seymour Parrish, um revelador de fotos, que se torna obcecado por uma família que revela fotos em sua loja.

    Vemos um homem com uma câmera vermelha em direção ao rosto no centro da imagem, com o nome do filme logo embaixo e um homem de costas.
    Capa do filme Retratos de Uma Obsessão

    Através dos filmes que os Yorkins levam para serem revelados, Sy se torna obcecado pela família e passa a acompanhar bem de perto a vida deles. Essa família sequer imagina que Sy conhece os principais momentos registrados na vida deles. Ele revela fotos a anos e conhece várias pessoas pelas imagens, mas é no material da família Yorkin que ele projeta seus desejos diante de uma vida chata. É através dessas fotos que ele cria em sua cabeça uma história por trás do que está retratado, criando uma ideia de que tudo é perfeito.

    A família perfeita e o indivíduo solitário são os elementos usados pelo diretor Mark Romanek para criar esse drama. A Iluminação serve para enfatizar a diferença entre os três mundos mostrados na tela, o da imaginação de Sy e os da vida real. A loja Savmart tem um colorido quase hiper-realista. Sua casa é toda branca, fria. E a casa dos Yorkins é cheia de cores quentes, aconchegante.

    Cena do filme “Retratos de Uma Obsessão”

    No decorrer do filme, Sy observa a família amadurecer por meio das fotografias, mas como elas são suas únicas fontes de informação, ele acaba percebendo que aquelas pessoas não são exatamente quem ele imaginava. Depois de receber uma série de fotos que ele julga inapropriadas, sua obsessão ganha novos rumos, e vai se tornando cada vez mais perigosa. Na minha opinião, o filme cria um grande paralelo com a nossa vida atual, onde a gente acompanha a vida de muitas pessoas pelas redes sociais e se baseia só nisso quando diz que a vida de alguém é perfeita.

    Tem uma hora no filme que Sy fala que “Ninguém tira fotos das pequenas coisas, mas são elas que fazem a vida”. No final, nós espectadores somos lembrados disso de um modo devastador.

    Durante todo o filme, Sy mantém uma relação profunda com a fotografia, uma relação de respeito, afeto e admiração. O que é uma coisa muito compreensível se olharmos como sua vida é, porque ele se apega na ideia de que somente registramos momentos felizes, que não queremos esquecer.

    Agora é a sua vez, assista ao filme Retratos de uma obsessão e conta pra gente qual a sua opinião sobre Sy e a maneira como ele leva sua vida.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

     

    Links, Referências e Créditos

    Como citar essa postagem

    COSTA, Clara. Retratos de uma obsessão. Cultura Fotográfica. Publicado em: 9 de out. de 2020. Disponível em: https://culturafotografica.com.br/retratos-de-uma-obsessao/. Acessado em: [informar data].

  • A estética fine art de “O ano passado em Marienbad”

    Já ouviram falar em  Fine art? O filme “O ano passado em Marienbad” é referência conceitual e estética dessa técnica.

    Resultado de um impulso artístico e estético, pautado nas abordagens pessoais do autor, que reflete seus desejos, ou inquietações em um formato fantasioso ou crítico. A fotografia “Fine Art” ou “arte fina”, em tradução literal, é um recurso amplamente usado no mundo fotográfico, que abrange diferentes aspectos do processo fotográfico. 
    Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela

    Para compreender a fotografia fine art é necessário levar em consideração, aspectos referentes ao objetivo da criação, assunto, e as técnicas utilizadas durante o  processo. Entende-se que este recurso deve-se ser pautado no simples objetivo de se criar uma obra de arte, ou seja transpor a aparência literal da cena ou do assunto escolhido. Em outras palavras constituir uma imagem que partilhe uma visão própria, uma representação metafórica da imagem.  Vale ressaltar, que este modo de fotografar surge com um discurso de enaltecimento do único e do original. Desse modo, a fotografia composta sob tais características será um produto exclusivo, e de luxo. Como consequência o uso o rótulo “fine art” está intrinsecamente ligado a valorização financeira do trabalho produzido. 
    Para esse tipo de fotografia, não basta a fotografia ser considerada bonita, deve-se levar em conta o conteúdo emocional da fotografia. Para esse fim, o assunto da imagem deve ser uma resposta da expressão emocional do artista que deverá se manifestar através da composição da cena,  escolha do ângulo, exposição, enquadramento, o uso de curvas, linhas, elementos visuais, entre outros. 
    O foco de uma fotografia “fine art” é qualitativo e não quantitativo. Desse modo é importante destacar que não se trata de uma produção de viés publicitário ou comercial, mas sim, de viés artístico. Vale ressaltar a existência de um processo de impressão “fine art”, no entanto, apenas a utilização desse processo não garante a configuração conceitual da fotografia “fine art”. 
    No longa metragem “O ano passado em Marienbad” (1961) o diretor de fotografia  Sacha Vierny, realizou belas composições em “fine art”. Elucida-se que a cinematografia ou fotografia no cinema é recurso que diz respeito a captação das imagens, à impressão do que será visto pelo espectador. Em que se transforma o texto em imagem. Nesse panorama, nasce o projeto conceitual do filme considerado um clássico do cinema francês. 
    Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de telaAdicionar legenda

    A fotografia, em tons preto e branco permitem uma abstração do real. A linha vertical traçada à partir do horizonte, remete ao perspectivismo italiano,  a partir da ideia de ponto de fuga, uma técnica bastante utilizada na pintura, constroi-se um cenário retilinio, que remete a ideia de  um tabuleiro de jogo, com peças espalhadas.   

    Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela
     


     Além de belos cenários, o filme é torneado por um exagero estético. A protagonista exibe um luxuoso vestido feito com penas negras, e no rosto carrega uma expressão atordoada.

    Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela

    Nessa cena, temos uma fotografia construída em um jogo de luz e sombra, sob um cenário de escadaria, levando a um ar de abstração. Destaque para as sombras. 

    Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela

    Enquadramento sobreposto. Jogo de reflexos, composição intimista. 

    Cena do filme “O ano passado em Marienbad”| Captura de tela

    Uso de poses, novamente uma composição intimista, escapam a imagem a estética do belo, do luxuoso.
    “O ano passado em Marienbad” aborda de modo ímpar e não convencional questões relativas a tempo e memória. Sob a história de um amor extraconjugal que se prescreve a partir de um diálogo por lembranças com a outra parte que mostra-se não lembrar da história. Neste panorama a significância emocional criada pela fotografia está no uso de planos com poses e olhares bem marcados, a escolha de extremos de iluminação, claro e escuro. Em tons preto e branco que delineiam a abstração proposta no filme. 

     O que acharam desse conteúdo? O fine art, é estética bastante utilizada no universo fotográfico. Deixe seu comentário, nos siga no instagram e se quiser ficar por dentro de todo nosso conteúdo, assine nossa newsletter. 

    Referências

    • Portal Intercom. ALMEIDA, Alves. M. Fotografia fine art (belas artes) – conceituação, linguagens e processos de produção. 2018. 15. Universidade Paranaense, Cascavel, XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel – PR. 2018. 
    • Cinema em cena.
    • HACER.
     Já ouviram falar em  Fine art? O filme “O ano passado em Marienbad” é referência conceitual e estética dessa técnica.
  • O Grande Hotel Budapeste (2014)

    O Grande Hotel Budapeste, de 2014, é uma comédia ingênua que, pode não parecer, mas ensina muito sobre fotografia.

    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Há um homem jovem com características indo-arábicas, utlizando um uniforme de mensageiro na cor roxa e um chapéu da mesma cor com as palavras "Lobby Boy" bordadas. Em seu rosto há um bigode pintado. Ele está na frente de um luxuoso hotel.

    O Grande Hotel Budapeste, de 2014, é uma comédia ingênua que, pode não parecer, mas ensina muito sobre fotografia.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Há um homem jovem com características indo-arábicas, utlizando um uniforme de mensageiro na cor roxa e um chapéu da mesma cor com as palavras "Lobby Boy" bordadas. Em seu rosto há um bigode pintado. Ele está na frente de um luxuoso hotel.
    Zero Mustafa, personagem de “O Grande Hotel Budapeste”.
    Descrição: Cena de “O Grande Hotel Budapeste” que mostra um homem jovem utilizando um uniforme de mensageiro na cor roxa e um chapéu da mesma cor com as palavras “Lobby Boy” bordadas. Em seu rosto há um bigode pintado. Ele está na frente de um luxuoso hotel.
    Baseado em dois livros do escritor austríaco Stefan Zweig (“Coração Impaciente” e “Êxtase da Tirania”) e dirigido por Wes Anderson, “O Grande Hotel Budapeste”, de 2014, narra como Zero Mustafa, um refugiado apátrida na fictícia República de Zubrowka, ex-mensageiro do hotel Grande Budapeste, se torna o seu proprietário ao se envolver no roubo de um quadro em 1932.
    Não são novas na literatura e no cinema as narrativas cujos protagonistas são os próprios locais em que a história se passa. São lugares cujas paredes ouviram muitas histórias e, agora, as contam. O Grande Budapeste, eu diria, conta os seus dias de glória. Desde a primeira aparição do hotel, o filme deseja nos mostrar que aquele lugar já foi palco de grande luxo e sofisticação. Contudo, como paredes não falam, a história do hotel é apresentada por dois intermediários, o Autor, personagem inspirado em Stefan Zweig, que, por sua vez, a conhece através de Zero Mustafa, que em 1968 é o proprietário do hotel já em decadência.
    A época de glória de ambos, de Zero e do Budapeste, acontece em 1932, quando Zero começa a trabalhar como mensageiro no hotel, que, naquela época, era muito bem gerido por seu concierge, o Monsieur Gustave, um homem francês muito vaidoso que tem muito orgulho do Budapeste. A República de Zubrowka é assolada por uma guerra iminente e o governo perceptivelmente é ditatorial, mas Monsieur Gustave é responsável por manter o fausto do hotel, como se uma redoma protegesse o local de perigos externos.
    O tal do “governo perceptivelmente ditatorial” se assemelha a uma fusão de vários governos europeus da Primeira à Segunda Guerra, mas o filme nunca dá nome aos bois. A situação política é evidenciada, principalmente, através de metáforas visuais que nos remetem ao repertório que muitos de nós possuímos acerca desses governos.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Há uma construção cor-de-rosa luxuosa. Nela há bandeiras pretas com um síbolo vermelho e branco que se assemelha a duas letras "Z". Há tanques de exercícito com militares armados na sua frente.
    Militares e um símbolo característico indicam o começo de uma guerra. Alguma semelhança com a realidade? – Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
    Descrição: Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. Mostra uma construção cor-de-rosa luxuosa. Nela há bandeiras pretas com um símbolo vermelho e branco que se assemelha a duas letras “Z”. Há tanques de exército com militares armados na sua frente.
    Aliás, é a partir de metáforas visuais que os aspectos mais importantes desse filme são construídos, como o protagonismo do hotel e o humor absurdista. A construção do hotel, por exemplo, serve para definir, na obra, o que é luxuoso e o que é simples, o que é seguro e o que é perigoso. Para isso, o filme utiliza alguns princípios compositivos da fotografia que nós bem conhecemos, como proporção, pontos de vista e regra dos terços.

    Arte e visual

    A direção de fotografia do filme não é de todo inusitada para quem já assistiu outros filmes de Wes Anderson. Sua parceria com Robert Yeoman, diretor de fotografia, já soma mais de dez filmes. O abuso na centralização dos elementos e da simetria, o uso de ângulos inusuais (e às vezes absurdos) para efeito cômico e o enquadramento que sempre enfatiza o ambiente como um aspecto relevante para a ação são marcas dos filmes do diretor, mas que podem ser ditas como uma construção em conjunto com Yeoman.
    Cena de "O Grande Hotel Budapeste". Um homem de meia idade está pendurado em um penhasco coberto de neve. Ele se segura apenas com as mãos.
    Pontos de vista são usados no filme para gerar o efeito de surpresa e comicidade, além de construir referências visuais com obras de comédia clássicas. – Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
    Descrição: Cena de “O Grande Hotel Budapeste”. Mostra um homem de meia idade pendurado em um penhasco coberto de neve. Ele se segura apenas com as mãos.
    Ao assistir aos filmes de Wes Anderson a impressão que tenho é que ele deseja usar todos os princípios de composição ao mesmo tempo, sem se importar de que sejam perceptíveis ao espectador ou pouco natural. “O Grande Hotel Budapeste”, porém, me parece sua obra mais convincente. Seus outros filmes geralmente me transmitem a sensação de que o diretor sabia o que queria, mas que o resto da equipe não conseguiu acompanhar. É o caso de “Os Excêntricos Tenenbaums”, filme do diretor que fica sempre entre a fantasia, que é a intenção, e o ridículo, que é o resultado de uma arte que não se leva a sério. A obra também não consegue ser tão esteticamente aprazível quanto O Grande Hotel Budapeste, que, não à toa, mesmo tendo perdido o Oscar de Melhor Fotografia, levou os Oscars de Melhor Produção de Arte, de Melhor Figurino e de Melhor Maquiagem e Penteados, atestando que toda a equipe artística estava comprometida com o visual do filme.
    Por esses motivos, “O Grande Hotel Budapeste” é um ótimo filme para observar os princípios compositivos da fotografia, como os que são ensinados na nossa coluna #fotografetododia.
    Cena do filme "O Grande Hotel Budapeste". Há uma luxuosa construção, à noite, com luzes acesas em todos passando por todas as suas janelas.
    As maquetes do hotel e a decoração das cenas internas foram concebidas por Adam Stockhausen, que ganhou o Oscar de Melhor Direção de Arte. – Cena de “O Grande Hotel Budapeste”.
    Descrição: Cena do filme “O Grande Hotel Budapeste”. Mostra uma luxuosa construção, à noite, com luzes acesas em  todas as suas janelas.

    Considerações

    “O Grande Hotel Budapeste” tem um visual marcante e uma fotografia que consegue utilizar os princípios de composição já conhecidos para criar cenas novas e inusitadas. Entretanto, mais do que um filme para observar aspectos da fotografia, “O Grande Hotel Budapeste” tem uma história que se sustenta e que diverte, com cenas que remetem ao clichê das comédias pastelão, mas que funciona como uma comédia madura, porque o filme se leva a sério e acredita em si. Dentro daquele mundo específico, o ridículo se torna o normal. Ademais, o seu visual de conto de fadas adulto é um alívio nesta quarentena e o filme nos faz acreditar nas palavras de Mounsier Gustave quando ele diz que “ainda resta uma centelha fraca de civilização neste matadouro selvagem que já foi conhecido como humanidade”.
    Se você gostou desta postagem, temos também um #fotografetodia sobre o filme. Confira aqui! Para receber postagens como essa no seu email, assine a nossa newsletter.
  • Usando o zoom do flash

    Usando o zoom do flash

    Na continuação da série, vamos conhecer as possibilidades de utilização do zoom dos flashes externos.

    Se você já usou um flash externo, talvez tenha se perguntado para que serve o tubo dentro do qual está o dispositivo de disparo da luz. Este post foi feito exatamente para explicar a função daquilo que chamamos de zoom do flash, trazendo como de costume, exemplos para que a explicação se torne mais clara.

    A imagem apresenta um homem branco com cabelo, barba e bigode castanhos, vestindo uma camisa de botão azul estampada aberta até próximo ao umbigo e headphones preto, com glitter prateado em seu rosto, peito e barriga. O  ambiente parece ser a sala de uma residência. Seu olhar está baixo em direção a uma mesa de som que ele controla. O zoom do flash é fechado, formando um círculo de luz sobre o homem enquanto o entorno surge bastante escuro.
    Derek Mangabeira. Baile do Encanto. 2020.

    O zoom é uma configuração presente em flashes externos que pode ser utilizado para um maior controle na dispersão da luz utilizada. Sabendo que o flash é formado basicamente por um elemento que dispara a luz e um  tubo, dentro do qual este elemento se encontra, a configuração do zoom permite escolher o quão distante a luz estará da extremidade do flash. Quanto mais próximo ela estiver da extremidade do tubo, maior será a abrangência da luz, ou seja, maior será o campo que será iluminado, tornado-se um flash aberto. Já quanto mais ao fundo do tubo ele estiver, mais fechado o flash se tornará e portanto, menor será o campo iluminado, podendo-se focar em iluminar apenas uma parte desejada da pessoa ou objeto que será fotografado.

    I Hate Flash é uma empresa de fotografia fundada em São Paulo por Fernando Schlaepfer. Seu início ocorreu de forma despretensiosa quando Schlaepfer e seu grupo de amigos passaram a fazer registros da vida noturna que frequentavam. Com o tempo, cresceram e passaram a fazer a cobertura de grandes eventos como o Rock in Rio e o Lollapalooza, além de trabalhos no ramo da publicidade e da moda. O time de fotógrafos que trabalha no I Hate Flash ficou conhecido pelo estilo espontâneo e divertido de suas fotografias, sendo que em muitas ocasiões costumam se divertir enquanto trabalham, o que torna a experiência muito mais prazerosa.

    Na imagem que abre esse texto, feita pelo fotógrafo Derek Mangabeira durante o evento Baile do Encanto, é provável que tenha sido escolhido o uso de um zoom fechado ao configurar o flash, criando um círculo de luz sobre o fotografado enquanto que o entorno surge bastante obscurecido. Aliado às informações presentes no próprio fotografado, como sua vestimenta, uso de glitter, o uso de um headphone e a manipulação de uma mesa de som e mixagem que ajudam a identificá-lo como um DJ, conseguimos identificar essa como uma fotografia de festa noturna, em que a iluminação ambiente costuma ser baixa, predominando os jogos de luz neon e lasers.

    Já nesta outra imagem, feita por Diego Padilha em um evento chamado Brewing Friends Festival, a presença do flash é notada pela diferença na intensidade da iluminação sobre o grupo de pessoas visto e o fundo. Por ser um registro de um grande grupo de pessoas, provavelmente optou-se por um zoom aberto do flash, sendo possível portanto iluminar todos que posaram para o clique.

    Na imagem, é visto um grupo grande de pessoas vestindo roupas informais, sorrindo e acenando para a câmera diante de um prédio com bandeiras coloridas e um banner onde lê-se Brewing Friends Festival. O ambiente é aberto e ao fundo é visto, do lado esquerdo, uma estrutura metálica comumente usada em eventos com música ao vivo e ao lado direito, uma casa com janelas.  Optou-se por um zoom aberto do flash, sendo possível portanto iluminar todos que posaram para a foto.
    Diego Padilha. Brewing Friends Festival. 2020

    Vimos que o zoom pode não apenas ser usado para iluminar de forma diferente os ambientes e pessoas fotografados, mas também ser pensado como parte do sentido daquele registro. O zoom fechado dá destaque a um elemento específico, podendo ser direcionado para um objeto, pessoa, ou parte do corpo desejado e, como no exemplo citado, ajudou a preservar a atmosfera  do evento, sendo possível tanto visualizar o DJ fotografado, quanto identificar tratar-se de uma festa noturna, realizada em ambiente fechado, onde a iluminação costuma ser reduzida. Já o zoom aberto permite iluminar uma área maior, ideal para uma grande quantidade de informação em cena, como no exemplo, tratando-se de um registro de um grupo grande de pessoas em um ambiente aberto.

    Está gostando da nossa série sobre o flash? Temos um grupo no Facebook perfeito para compartilhar as suas impressões, experimentos e dicas! Participe, será legal nos ver você por por lá! Segue esse link aqui: /https://www.facebook.com/groups/projetoculturafotografica/

    Referência:

    MYRRAH, Camila. Como usar flash: Os controles (potência e zoom) | FOTO DICAS. 2016. (3m25s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GjDaQ_J6kF4https://www.youtube.com/watch?v=GjDaQ_J6kF4>. Acesso em: 06 de Abr. de 2020.

  • Perfil “Humans of New York”

    Conhece Humans of New York? O projeto reúne diferentes histórias sobre pessoas de todo o mundo.

    (mais…)

  • Luzes e Sombras

    A sombras podem ser apenas a consequência da existência da luz, podem ser um problema quando escurecem a fotografia ou podem ser o seu tema principal.
    Coluna

    A sombras podem ser apenas a consequência da existência da luz, podem ser um problema quando escurecem a fotografia ou podem ser o seu tema principal.
    Coluna
    Brassaï – Paris de Nuit (Paris à Noite)
    Descrição: Fotografia de uma coluna de concreto encostada a um muro, onde sua sombra se reflete.
    A mera existência de uma fotografia implica na existência de luz. Até em seu nome ela está presente, já que segundo o Dicionário Etimológico “fotografia” vem do grego “phosgraphein” que significa “registrar luz”. Sendo a luz a base da fotografia, é evidente a importância de planejar a iluminação, como a posição, a qualidade e a cor da luz. Não parece ser tão notória, porém, a relevância das sombras dentro dessa relação. A sombra é literalmente uma região de ausência de luz e, se vamos nos atentar para a posição da iluminação ou para clarear certas regiões escurecidas, porque não aproveitar para manipular as sombras como um complemento da luz na fotografia?
    A sombra pode ser um problema quando escurece o motivo ou pode estar na imagem como um mero resquício da luz, ou seja, uma particularidade que não se pode evitar. Por isso, falaremos apenas da sombra como um detalhe premeditado ou como o tema principal da fotografia, isto é, a sombra como parte da composição. É o caso das fotografias surrealistas de Brassaï, fotógrafo húngaro conhecido por retratar Paris, em seu livro Paris à Noite. O ensaio não é apenas um registro histórico da arquitetura da cidade e dos seus hábitos noturnos, mas uma revolução artística no modo de produzir fotografias, ao passo que fotografava à noite sem luz externa. Ele sempre carregava consigo suas fotografias para provar que era possível fotografar à noite. Em “Paris de Nuit” as sombras não são a consequência da luz, mas o que permite que a luz se destaque, com seus cenários de escuridão em que postes e faróis projetam uma aura em torno das noites de Paris.
    Rua
    Brassaï – Paris de Nuit
    Descrição: Fotografia de uma rua sinuosa com árvores e postes. O chão está molhado.
    As luzes e as sombras se tornam, neste caso, ora um realçador das formas das ruas e da arquitetura, assim como da vida noturna, ou seja, o que caracteriza as fotografias como surrealistas, ora o próprio tema da fotografia, o que descreve a sensação de estar em uma rua parisiense no século XX. Observe como na fotografia acima as sombras nos espaços entre os ladrilhos coloca a sua forma em destaque e como a variação de luz e sombra transparece a textura de chão molhado. Isso acontece porque a sombra é um indício de luz e, de certa forma, também é um indício da presença do objeto, podendo, portanto, sinalizar a continuação deste em um ponto cego da fotografia ou exibir o formato de um objeto fora da composição, como na fotografia do início do post. Desta forma, as sombras oferecem mais informações sobre o que está sendo fotografado do que a própria coisa.
    Calçada
    Brassaï – Paris de Nuit
    Descrição: Fotografia de uma calçada onde, ao lado direito, árvores seguem a sua extensão e, ao lado esquerdo, há um muro em que as sombras das árvores se projetam.
    As sombras de pessoas e objetos podem ser transformadas em guias visuais, como linhas que guiam o olhar do leitor pela ação, ou retratar o ambiente de forma espelhada, conceito parecido com a fotografia de reflexos, criando um mundo alternativo, que pode ser simétrico ou não e fiel ou não ao mundo real. É o exemplo acima das sombras das árvores no muro. É como se houvesse árvores dos dois lados, sendo um lado o real e o outro um lado de fantasia.
    Aliás, as sombras casam bem com a ideia de mistério e podem ser utilizadas para criar esse clima, mas se o objetivo é uma fotografia mais descontraída, as sombras podem ser usadas como caricatura, ou seja criando uma versão burlesca da cenas. Apenas atente-se ao utilizar as sombras em rostos. Em um tema dramático, as sombras podem servir de auxílio, mas tome cuidado ao obscurecer a expressão dos fotografados. Em retratos, por exemplo, o ideal é que os olhos estejam nítidos.
    Casal
    Brassaï – Paris de Nuit
    Descrição: Fotografia de um casal entre uma parede e um poste. Eles se encaram com intimidade e apenas a luz do poste ilumina seus rostos.
    Exercite! Fotografe de dia e busque nas sombras o tema de sua fotografia. Depois, fotografe à noite e utilize a luz apenas como complemento para produzir sombras. Compartilhe os resultados nos marcando (@d76_cultfoto) em sua postagem do instagram.

    Referências

    • FHOX
    • HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. São Paulo: Senac, 2005.
    • Photo Stories
  • The Journey Is The Destination

    The Journey Is The Destination

    The Journey is the Destination é um filme baseado em uma história real, dirigido por Bronwen Hughes, que conta a história do fotógrafo Dan Eldon.

    Do início ao fim, o filme prende nossa atenção de uma forma inexplicável. Não apenas pelo seu roteiro, mas pelo uso da fotografia que o compõem, usando cores de tons fortes e chamativos para destacar algumas cenas mais descontraídas, os tons frios para momentos sérios e a utilização de tons terrosos nas cenas de conflitos, além de espetaculares recortes e ângulos.

    Cartaz de divulgação do filme

    Descrição: A foto mostra o personagem principal, um homem caucasiano, olhando diretamente para a frente, com uma câmera nas mãos. Ele se encontra do lado esquerdo da imagem. Do lado direito vemos uma estrada de terra, com um veículo muito utilizado em safáris.

    The Journey is the Destination é um filme baseado em uma história real, dirigido por Bronwen Hughes, lançado em 2016, que conta a história do fotógrafo Dan Eldon. Está disponível na plataforma Netflix, mas pode ser encontrado facilmente de forma gratuita na internet.

    Nascido em Londres em 1970, com sua família, mudou-se para o Quênia, na África oriental, em 1977. Embora sua vida tenha sido curta, pois tinha apenas 22 anos quando foi perseguido e morto por uma multidão enfurecida na Somália, Eldon era um dos mais jovens fotógrafos do Continente Africano. Seu trabalho jornalístico, publicado na Revista Time, mostrava apenas uma pequena parte de todo seu talento. Destacou-se também como artista em suas colagens, que combinavam suas fotografias de toda África com tintas, imagens da cultura pop, anúncios e documentos oficiais.

    O filme inicia-se com Eldon em uma beira de estrada pedindo carona. Ao ver que não conseguiria uma, o personagem senta-se na beira da estrada e continua escrevendo em seu álbum de fotografias e colagens, que possui o mesmo título do filme. Já no início podemos ver Dan Eldon fazendo uma das coisas que mais amava, que era fotografar pessoas do continente africano em suas diferentes culturas.

    Cena do Filme

    Descrição: O personagem principal se encontra no centro da imagem, apontando com seu braço direito para algo que está a sua frente. Atrás dele vemos várias crianças negras, e ao fundo já desfocado, adultos.

    Após as cenas iniciais, o filme volta alguns meses antes, na formatura de Dan Elton. Logo após, juntamente com amigos, o personagem sai em um safari. Lá, ele começa a fotografar, e logo surge um dos primeiros conflitos em que deu cobertura. Logo após, podemos ver seu trabalho como designer gráfico para a Revista Mademoiselle. Centenas de pessoas morriam todos os dias na Somália, mas isso não era registrado na mídia internacional. Foi aí que a aventura de nosso personagem principal inicia-se. Eldon estava disposto a tentar se destacar como um jovem fotógrafo, registrando todo o conflito da Somália e mostrando ao mundo através de seu trabalho, toda fome que assolava o país. Juntamente com o trabalho na revista, o personagem vive seus anos com grande paixão liderando uma missão de ajuda humanitária, sendo muito bem retratada no filme.

    Ao final do filme, vemos as cenas de acontecimentos que levaram o fotógrafo a sua trágica e inesperada morte, aos 22 anos.

    Cena do Filme

    Descrição: o personagem principal se encontra no centro da imagem, olhando fixamente para a frente, segurando a câmera com a mão direita. O fundo da imagem se encontra desfocado, em um tom amarelo terroso.

    Assistindo o filme, percebi que houve uma tentativa muito realista de mostrar todo o acontecimento, com imagens até mesmo muito pesadas de conflitos, com corpos mutilados, introdução de cenas reais das imagens de pessoas desnutridas passando fome. Não é um tipo de filme que você deva assistir como apenas um passatempo. Ele traz variadas reflexões acerca sobre a vida, sobre ter dignidade frente a alguns acontecimentos e sobre essencialmente ser humano com relação aos outros. Nos faz enxergar o outro muito além da sua imagem. Podemos sempre lembrar que o fato que a fotografia pode ajudar outras pessoas, ao expor grandes tragédias, como tornou-se para Dan Eldon um trabalho mais urgente.

    Assista o filme e nos diga sua opinião!

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    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

    Links, referências e créditos

  • Panning

    Um objeto nítido em meio a um cenário borrado causa um efeito de movimento, como podemos ver em carros de corrida. Essa técnica é chamada de panning.

    O panning é um recurso muito utilizado para fotografia de esportes. Por meio dessa técnica, é possível congelar atletas, carros ou outros objetos em atividade e ao mesmo tempo sugerir a ação que estavam realizando. A ideia é que o assunto principal da foto fique nítido, enquanto o restante do cenário, borrado. Essa combinação causa um efeito de movimento, devido à justaposição de objetos contrastantes: um nítido e outro borrado.
    Max Verstappen of Netherlands and Aston Martin Red Bull Racing drives his RB14 during the Austrian Formula 1 Grand Prix at Red Bull Raing on July 01, 2018 in Spielberg, Austria | Vladimir Rys
    Para conseguir esse efeito, é necessário uma velocidade de obturador mais lenta que a normalmente aconselhável. Se for rápida, vai acabar congelando tudo e, portanto, o resultado não será o esperado. Vale ressaltar que a velocidade exata vai depender do assunto principal da imagem. Já falamos mais sobre o tema aqui.
    Além da velocidade adequada, o panning exige uma tomada panorâmica. Em outras palavras, a câmera precisa se movimentar para seguir a ação, deslocando-se por um eixo imaginário, da mesma forma que se faz em uma fotografia panorâmica.
    Já deu para notar que o panning exige treino e trata-se de uma situação de tentativa e erro. A captura nítida do objeto principal e o movimento suave da câmera precisam ser dominados para um bom resultado.
    Vladimir Rys é um fotógrafo tcheco que já trabalhou para diversas revistas esportivas. Desde 2005, sua principal área de atuação é a Formula 1. Em seu vasto portfólio na categoria, podemos ver vários exemplos de panning.
    Romain Grosjean of France and Haas F1 Team drives his VF18 during practice for the Chinese Formula 1 Grand Prix at Shanghai International Circuit on April 13, in Shanghai, China | Vladimir Rys
    Na foto acima, vemos um veículo da Haas durante um treino para o GP da China de 2018. A técnica do panning foi muito bem feita. Vemos o carro com muita clareza e o fundo está totalmente borrado, sendo até impossível descrever o cenário. Dessa forma, a impressão que se tem é que o carro está em altíssima velocidade, como, de fato, está.
    Que tal praticar? Pegue sua câmera, treine com carros na rua ou qualquer outra coisa em movimento! Compartilhe suas fotos com a gente, usando a tag #fotografetododia!

    Referências

    • HEDGECOE, John. O Novo Manual de Fotografia – O Guia Completo Para Todos Os Formatos. 4ª ed. São Paulo: Senac, 2013.
  • O Abutre

    O filme de 2014 faz um comentário sobre a produção de imagens violentas e a relação do público com elas.

    O Abutre, escrito e dirigido por Dan Gilroy, conta a história de Lou Bloom, um homem com problemas financeiros, que desenvolve uma carreira muito lucrativa filmando imagens de crimes e situações violentas e vendendo-as para um telejornal sensacionalista. 
    Pôster do filme
    Descrição: um homem aparece na frente de um carro vermelho em uma rua escura e aparentemente deserta. Por cima da foto, informações sobre o filme, como título, elenco e data de lançamento estão escritas.
    Do ponto de vista puramente cinematográfico, o filme já é excelente. O ator principal Jake Gyllenhaal, que interpreta Lou, dá uma ótima interpretação, fazendo o público torcer por ele, e no momento seguinte ter completo asco de suas atitudes. O resto do elenco, que tem nomes como Rene Russo e Riz Ahmed, também brilha em seus personagens coadjuvantes. 
    Mas o filme vai além desses aspectos. O roteiro nos proporciona uma reflexão muito relevante nos dias atuais. Até que ponto as imagens de violência extrema são usadas para conscientizar as pessoas e até que ponto elas se tornaram quase um entretenimento?
    As filmagens que Lou entrega ao jornal são amadoras e exploram o sofrimento das vítimas desumanizando-as, e isso ajuda a audiência do telejornal apresentado pela personagem de Russo a crescer cada vez mais. A mídia retratada no filme está sempre buscando sangue, o que não está tão distante assim da realidade. Aqui mesmo no Brasil, podemos nos lembrar de programas que exploram a violência e a morte, supostamente para informar e conscientizar o público desses horrores.
    Cena do filme O Abutre (2014)
    Descrição: em uma sala, um homem filma bem de perto uma mulher que parece estar sentada em um sofá, mas como tem sangue em sua blusa, podemos assumir que ela está morta.
    Boa parte do sucesso de Lou é porque suas filmagens parecem muito realistas, embora ao longo do filme vejamos que isso não é bem a verdade. O público mostrado no filme quer que essas imagens de violência sejam reais, em uma relação quase voyeurística, de prazer e entretenimento diante da violência.
    Mais um ponto interessante do filme são os momentos em que Lou interfere nas cenas de crime para obter filmagens mais cruas e chocantes, se assemelhando a um diretor que posiciona seus atores e objetos no cenário. Podemos ver ecos disso em alguns “telejornais” da atualidade. Programas como Cidade Alerta apresentam a violência como uma cena de filme de ação, banalizando a morte para transformá-la em entretenimento.
    Cena do filme O Abutre (2014)
    Descrição: um homem sobre uma escada enquanto filma algo no topo com o olhar vidrado. A escada está suja de sangue em alguns pontos.
    Assistir ao filme praticamente logo após minha leitura de Sobre Fotografia intensificou minha reflexão sobre as imagens que consumimos no dia a dia. Em meio a milhares de fotos em redes sociais, propagandas nas ruas, as imagens violentas dos telejornais realmente nos impactam? Ou simplesmente passamos para o próximo tópico? As tão aclamadas imagens de guerra, que mostram corpos pelas ruas e escombros não se tornaram quase cotidianas? A violência mostrada nessas imagens se torna quase banal. Por quê nos esquecemos tão rápido dessas fotos, mas nos lembramos de fotos tão sutis como a do jovem com uma flor diante de um tanque de guerra? Mostrar a violência parece não ser mais o melhor jeito de conscientizar sobre ela, mas sim de saciar a curiosidade das pessoas. 
    O Abutre é um filme excelente, que além de possuir todos os elementos que os cinéfilos amam, atuações, roteiro e direção incríveis, ainda proporciona um debate muito interessante sobre a nossa relação com imagens de violência e como ela está (ou não) relacionada a nossa empatia em relação ao outro.  
    Assista ao filme e compartilhe suas reflexões com a gente nos comentários!

    Links, Referências e Créditos

    • O próprio filme