Categoria: Fotógrafas e Fotógrafos

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  • Um clique que eternizou o ódio

    Através das lentes de Alfred Eisenstaedt, somos impactados pelo ódio que sustentou o período mais sombrio do século XX.

    A ideologia nazista serviu de base para o governo totalitário de Adolf Hitler que iniciou um dos conflitos mais importantes de toda a História: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entretanto, muito antes da guerra começar, com a invasão dos alemães à Polônia, o ódio contra as minorias que fugiam do padrão ariano “ideal” de Hitler já reverberavam fortemente entre os membros de seu governo. O registro de Joseph Goebbles, feito pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt para a revista LIFE em 1933, é a prova que temos dessa ojeriza propagada pelo regime nazista. Já que a foto foi tirada no exato momento em que o ministro da propaganda de Hitler descobre que estava sendo fotografado por um judeu.
    Foto em preto e branco do nazista Joseph Goebbles sentado numa cadeira com as duas mãos apoiadas nos braços do assento. Ele veste terno e olha para a câmera com um olhar que transita entre a raiva, o desconforto e o ódio.  À sua direita, um homem está curvado para mostrar a ele o que parece ser um documento. Ainda, atrás de Joseph, vemos um homem com a cabeça baixa, olhando para o papel. O ambiente é um gramado e percebe-se uma construção ao fundo com uma pessoa observando a reunião pela janela, além de outros homens conversando ao fundo. Por fim, há arbustos e alguns pinheiros ao fundo.
    Alfred Eisenstaedt

    A fotografia foi tirada durante a conferência da Liga das Nações, antecessora das Nações Unidas, na Suíça. O fotojornalista judeu estava cobrindo as notícias e tirando fotos da conferência quando registrou o membro do Terceiro Reich. 
    Sobre o acontecido ele contou em seu livro “Eisenstaedt on Eisenstaedt: A Self-Portrait” de 1985, “Em 1933, eu viajei de Lausanne para Genebra para a décima quinta sessão da Liga das Nações. Lá, sentado no jardim do hotel estava Dr. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Ele sorriu, mas não para mim. Ele estava olhando para alguém à minha esquerda… De repente, ele me encontrou e eu o encarei. Sua expressão mudou. Aqueles eram os olhos do ódio. Eu era um inimigo? Atrás dele estava seu secretário pessoal, Walter Naumann, com um cavanhaque e o intérprete de Hitler, Dr. Paul Schmidt… Eu devo ter sido perguntado como me senti fotografando esses homens. Naturalmente, não tão bem, mas quando eu tenho minha câmera em minhas mãos eu não tenho medo.”
    Analisando essa foto nos dias de hoje, noto como toda a minha atenção se direciona para o rosto de Goebbles que está justamente no centro da imagem. Seu olhar me passa um misto de sensações, sendo o medo a mais marcante. Naquele momento, a forma como ele encara Eisendat é cortante, direta e maligna na essência da palavra. É como se lhe perguntasse “Por que você existe?”
    Ainda, sinto que qualquer pessoa que olhe para a foto se colocará no lugar do fotógrafo, como se esse ódio de Joseph fosse direcionado para nós. Pois essa é a expressão pura e simples do que é negar o outro como seu semelhante.
    Além disso, o momento rouba toda a atenção do ministro de Hitler: ele não foca no intérprete do Fuher ao seu lado, e sim direciona toda a sua energia na aversão ao judeu. Outro ponto que torna tudo ainda mais triste nesta análise é pensar que anos depois o mundo iria descobrir a forma do governo alemão lidar com aqueles “inferiores à raça pura”. Alfred, felizmente, não foi capturado e mandado para um campo de concentração, mas muitos de seus irmãos não tiveram o mesmo destino. Sentindo em seus corpos toda a energia maligna que estes olhos carregavam através de torturas e assassinatos, entre tantas outras barbáries que ainda assombram a história contemporânea.
    Por isso, creio na grande importância de mantermos essa parte da História viva em nossa memória. Afinal, ainda há pessoas que defendem, mundo afora, as mesmas ideias apoiadas por Joseph Goebbles. Portanto, posso dizer que Alfred Eisenstaedt conseguiu eternizar em um clique a maior mensagem da concretização do ódio que assombrou a humanidade e que merece ser deixado no passado; porém, jamais esquecido. 

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  • Diane Arbus

    Diane Arbus

    Fotógrafa que retrata pessoas marginalizadas na sociedade

     

    Nascida em Nova York, Diane Arbus foi uma fotógrafa e escritora norte-americana que procurava mostrar, por meio de suas imagens em preto e branco, aquilo que era considerado feio e não era exposto nas galerias de arte.

    Diane Arbus segurando uma câmera, despojada olha fixamente para a câmera. Ela tem o cabelo curto e veste uma blusa bonita. Aparentemente está  numa praça pública
    Diane Arbus

    Seu trabalho tinha como foco registrar os indivíduos excluídos socialmente: travestis, homossexuais, pessoas portadoras de alguma deficiência ou qualquer outro grupo à margem. Trabalho que pode ser considerado uma forma de revolução, visto que traz à tona a imagem de cidadãos que devem ser devidamente respeitados.
     
    A profissional temia ter que desviar o foco de sua arte para ser mais valorizada financeiramente. Essa situação agravou seu quadro depressivo e, então, infelizmente, Arbus cometeu suicídio em 26 de julho de 1971, aos 48 anos. Após o ocorrido, suas obras ganharam bastante destaque popular e, por isso, a fotógrafa foi a primeira norte-americana a ter seu seu trabalho exposto na Bienal de Veneza. 

    Travesti negro e maquiado com bobbies no cabelo. Ele segura um cigarro e está com os olhos arregalados em direção à câmera.
    Diane Arbus
    Descrição: Casal lésbico se abraçando com ternura. Ambas olham fixamente para a câmera e têm o cabelo curto. Elas estão cobertas de manchas pretas, que simbolizam luta, dor e sofrimento.
    Diane Arbus
    Descrição: Há três pessoas na cena: um homem muito alto e, possivelmente, seus pais. Eles estão em um cenário que parece ser a sala de uma casa.
    Diane Arbus

    #galeria é uma coluna de caráter informativo, com periodicidade semanal. É publicada toda segunda-feira pela manhã. Trata-se de uma série de postagens que apresenta um recorte da obra de uma fotógrafa ou fotógrafo de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica, acompanhadas por uma breve biografia sua. Quer conhecer melhor a coluna #galeria? É só seguir este link.

    Como citar esta postagem

    Soares, Maria Clara. Diane Arbus. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em: <https://culturafotografica.com.br/diane-arbus>. Publicado em: 6 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • O Grande Vizinho, o colosso siderúrgico de Ipatinga

    Fotolivro de Rodrigo Zeferino, artista visual ipatinguense, mostra a paisagem industrial da cidade.

    A Usiminas é uma das maiores usinas siderúrgicas do mundo e está localizada exatamente no centro do município de Ipatinga, em Minas Gerais. Foi fundada em 1960, quatro anos antes da fundação da cidade, em um projeto do então presidente Juscelino Kubitschek.


    A imagem mostra um cemitério com um grande gramado com várias placas distribuídas sob a grama, elas se localizam em cima de túmulos. Ao fundo, é possível ver as chaminés da usina e algumas residências. O céu está em tons de roxo e laranja, e suas cores se mesclam com a fumaça das chaminés.
    Rodrigo Zeferino

    A fotografia acima foi feita num cemitério da cidade de Ipatinga, mesmo lugar onde meu avô foi enterrado há 18 anos. Escolhi essa imagem justamente por ter um grande significado para mim. 

    É engraçado que, antes de ver essa fotografia, nunca fui capaz de notar que era possível ver parte do complexo industrial da Usiminas de lá. Talvez por estar tão imersa no ambiente, eu não fosse capaz de percebê-lo. Mas, agora que estou em outra cidade, ver essa imagem chega a ser um pouco assustador.

    A cidade foi construída em torno da usina siderúrgica e, a maioria dos bairros, de alguma forma, depende dela. Esse lugar carrega muitas histórias, muitas vidas dependem dela e outras muitas já foram perdidas por conta dela também. 

    Em entrevista com Rodrigo, ele me contou sua intenção ao construir esse projeto: “Em ‘O Grande Vizinho’ tratei de criar uma narrativa que discorre sobre as relações da cidade de Ipatinga com a usina siderúrgica que ocupa seu centro geográfico. A proximidade absurda entre zona urbana e arquitetura industrial produz imagens de alto teor distópico, algo ficcional, de um realismo fantástico. Dediquei-me a explorar essas propriedades inerentes à paisagem local e trazer à tona o estranhamento que jaz inerte no olhar do ipatinguense nativo.”

    A indústria cresce ao seu redor e você, como um pequeno ipatinguense, cresce junto dela. Lembro-me de que em 2019 e 2020, estudei em uma escola que ficava bem ao lado da Usiminas. Foi nesse período que senti na pele a coexistência do grande vizinho – era bem comum sentir pequenas partículas de minério frio caindo na pele logo pela manhã e meus tênis tinham que ser lavados semanalmente por conta do pó.

    Essa imagem é capaz de mostrar não somente o óbvio, mas também que muitas das pessoas que residem em Ipatinga, dependem da Usiminas. Em muitos desses túmulos, jazem trabalhadores e trabalhadoras siderúrgicas, como meu avô fora um dia. Com muito sangue, suor e lágrimas, todos ajudaram a construir a cidade, a construir uma história, a construir nosso Grande Vizinho.


    A imagem mostra o telhado de uma casa. Ao fundo, é possível ver o complexo industrial da Usiminas, um céu alaranjado com uma grande nuvem de fumaça proveniente da usina da cidade.
    Rodrigo Zeferino

    A imagem parte da prefeitura municipal da cidade de Ipatinga, assim como o pátio e outros prédios. Ao fundo, é possível ver grandes chaminés da Usiminas.
    Rodrigo Zeferino
    A imagem mostra um complexo residencial cinza escuro. Ao fundo, é possível ver o céu roxo com grandes nuvens de fumaça proveniente da usina da cidade e grandes chaminés.
    Rodrigo Zeferino

    A imagem mostra parte da Usiminas vista de cima de um morro. É possível ver um garoto observando a paisagem. Ao fundo, no complexo, vê-se fogo, fumaça e muitas luzes.
    Rodrigo Zeferino

    A imagem mostra um complexo residencial cinza escuro. Ao fundo, é possível ver o céu alaranjado com uma grande nuvem de fumaça proveniente da usina da cidade.
    Rodrigo Zeferino

    Ao ver todas essas fotografias incríveis, é possível concluir que a Usiminas não é apenas uma usina siderúrgica, mas sim, um onipotente e onipresente Grande Vizinho. O que o fotojornalista, Rodrigo Zeferino, captou com suas objetivas é de fazer cair o queixo e, com certeza, mudou minha forma de ver Ipatinga. 

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.


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    CARVALHIDO, Sofia. O Grande Vizinho: o colosso siderúrgico de Ipatinga. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/blog-post.html>. Publicado em: 1 de dez. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Sally Mann

    Premiada artista conhecida por imagens de sua família

    Nascida em Lexington, VA, em 1951, Sally Mann é uma das mais renomadas fotógrafas norte-americanas ainda vivas. A artista é conhecida por suas fotografias de paisagens e pelos retratos íntimos que produziu com seus três filhos e marido.

    A fotografia em preto e branco mostra uma menina com os braços acima da cabeça, ela está nua e seus longos cabelos formam um desenho na lateral esquerda do seu corpo. Ao fundo podemos ver um lago e sua orla de areia, local onde a menina está de pé.
    Sally Mann

    Em sua página, Mann comentou ter recebido diversos prêmios como o do NEA (National Education Association), NEH (National Endowment for the Humanities) e uma bolsa da Guggenheim Foundation (Fundação Guggenheim).

    Além de prêmios, Sally é autora de diversos livros, separados pelas temáticas de suas fotografias, seu livro mais conhecido é Sally Mann: A Thousand Crossings. Em 2001, Sally foi nomeada melhor fotógrafa americana pela revista Times.

    Como a maioria dos artistas que fotografam modelos nus, Mann gerou controvérsias e recebeu duras críticas após a publicação dos ensaios com sua família. As fotos em questão mostram seus três filhos, que na época possuíam menos de 10 anos, posando nus para a mãe.


    A foto em preto e branco retrata três crianças do quadril para cima, as três sem camisa e de fisionomia séria. A menina à esquerda, mais nova que os outros dois, está com as mãos na lateral do corpo e cabelo solto. No centro temos um menino que parece ser o mais velho, e à direita há outra menina, com os braços cruzados e a frente do cabelo preso.
    Sally Mann

    Outro ensaio famoso da artista é o “At Twelve: Portraits of Young Women”, produzido em 1988, onde a artista retrata meninas de 12 anos de sua cidade natal.


    A imagem mostra duas mulheres, a mais velha à esquerda está grávida e possui uma fisionomia de dor, ela se apoia numa pia branca. A segunda, mais jovem, está abraçada e com a cabeça e braços apoiados na primeira. Ambas estão descalças e parecem estar num quintal, pois ao fundo, desfocado, podemos ver árvores e folhas.
    Sally Mann


    Atualmente a artista possui obras e coleções em museus como o MoMA (Museu de Arte Moderna em Nova Iorque), no Instituto de Arte de Chicago, na Galeria Nacional de Arte em Washington e no Museu de Arte de Los Angeles.

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    COUTO, Sarah. Sally Mann. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/sally-mann.html>. Publicado em: 29 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].COUTO, Sarah. Sally Mann. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/sally-mann.html>. Publicado em: 29 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data]

  • O Vestido Branco Esvoaçante

    O Vestido Branco Esvoaçante

    A personalidade forte de Marilyn Monroe através das lentes de Sam Shaw.

    Uma jovem loira, em pé sobre uma grade de ventilação no metrô de Nova York, usando um vestido branco cujo o ar está empurrando para cima. Essa é a descrição da fotografia mais famosa da grande estrela de Hollywood, Marilyn Monroe, que foi tirada em 15 de setembro de 1954 pelo fotógrafo Sam Shaw no set do filme Seven Year Itch e reimpressa milhões de vezes no mundo.
    Sam Shaw

    A famosa fotografia da atriz, modelo e cantora norte-americana poderia ser apenas o retrato de uma mulher comum segurando um vestido branco esvoaçante, mas o fato é que há muito mais por trás dessa imagem.

    Nessa fotografia, Marilyn Monroe foi imortalizada pelos seus cabelos loiros, sua sensualidade e feminilidade. De forma espontânea,  ela acabou se tornando um símbolo da indústria cinematográfica, representando perfeitamente o padrão de beleza imposto como ideal às mulheres nos anos 60. 

    No entanto, por se tratar de uma foto bastante sensual, ela também simboliza o oposto do que os costumes da época, afinal de contas, as  mulheres deviam se portar de forma mais recatada. 

    O vestido voando enquanto ela o segura e o seu olhar de “ironia” geram uma provocação a todas essas regras morais ditadas por homens em uma sociedade patriarcal. Ela desafia os olhares julgadores e parece se divertir com isso. 

    Sam Shaw não registrou apenas uma estrela do cinema hollywoodiano ou uma modelo famosa, mas sim uma grande personalidade cujo qual não pôde ser escondida das lentes da câmera e nem tinha a pretensão de se esconder.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quinta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    IASMIN, Jade. O Vestido Branco Esvoaçante. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/o-vestido-branco-esvoacante/>. Publicado em: 24 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].
  • Rodrigo Zeferino

    O trabalho do fotógrafo foi reconhecido em importantes prêmios de fotografia nos últimos 10 anos.

    Nascido na cidade de Ipatinga, leste de Minas Gerais, em 1979, Rodrigo Zeferino tem graduação em Comunicação e é pós-graduação em Artes Plásticas e Contemporaneidade. O fotógrafo está na profissão desde 2005 e realizou trabalhos que trazem à tona questões da sociedade e do indivíduo,  como “O Grande Vizinho” e “Aqui de perto você me vê melhor”. 

     

    A imagem mostra um menino, sem camisa e usando uma bermuda cinza. Em seu braço direito existe uma pulseira feita com dois elásticos amarelos.
    Rodrigo Zeferino
    Em todos os seus projetos, o autor procura colocar em evidência alguma questão pouco pensada pela sociedade, seja ela social, sentimental ou espacial. Rodrigo, através das objetivas, captura não somente o essencial, mas também pequeníssimos detalhes que trazem um certo aconchego aos olhos daqueles que veem suas obras.
     
     
    Rodrigo Zeferino
    Rodrigo Zeferino
    A imagem mostra dois homens de costas encontrados em uma mureta, eles estão observando a paisagem residencial e industrial da cidade de Ipatinga.
    Rodrigo Zeferino
     
    A imagem mostra uma mulher amamentando uma garotinha.
    Rodrigo Zeferino
    A imagem mostra uma ponte de madeira, no meio dessa ponte, é possível ver uma luz muito forte. O céu está amarelado.
    Rodrigo Zeferino

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    CARVALHIDO, Sofia. Rodrigo Zeferino. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/08/rodrigo-zeferino.html>. Publicado em: 22 de nov. de 2022Acessado em: [informar data].

  • A dura fragilidade da mente e a máscara da felicidade

    Como a depressão e a angústia podem ser maquiadas com um singelo e sereno sorriso enquanto corroem a mente

    O fotógrafo Edward Honaker, diagnosticado com ansiedade e depressão, encontrou em seus equipamentos fotográficos uma forma de retratar como as doenças mentais acabam silenciosamente com o ser humano.

    A imagem mostra um homem de terno com o rosto graficamente desconfigurado.
    Edward Honaker

    Aos 21 anos de idade (2015), ele lançou um trabalho recheado de autorretratos que representam suas experiências pessoais com a depressão e a ansiedade, doenças com as quais fora diagnosticado dois anos antes. Através das objetivas, ele mostra como é a realidade de quem lida diariamente com a doença. Sua finalidade ao fazer o projeto é que as pessoas começassem a falar sobre transtornos mentais e se aceitassem como portadoras, para que pudessem realizar o tratamento correto.

    De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem de depressão. Isso mostra o quão importante é trazer o tópico “saúde mental” para a sociedade, também de acordo com a OPAS, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos – números alarmantes para que fechem-se os olhos. 

    Através da imagem, é possível perceber o que a depressão faz com uma pessoa. Você se perde de si mesmo, não se reconhece mais e quem está a sua volta também deixa de te reconhecer. Nome? CPF? Endereço? Tudo deixa de existir e você passa a ser só mais um no meio da multidão.

    A depressão é uma das principais causas de incapacidade no mundo e suas causas são diversas – desde uma predisposição genética até a síndrome de Burnout (que se caracteriza pelo esgotamento mental, mas também físico, advindo de grandes períodos de estresse). Falta ou excesso de apetite, padrão que também se aplica ao sono, desânimo, medo e/ou raiva constantes estão presentes em quadros depressivos. Entretanto, para se ter um diagnóstico concreto, deve-se procurar um profissional da área da saúde mental – psicólogos e psiquiatras.

    Não existe uma forma de descrever melhor  como é lidar com a depressão senão da forma como o fotógrafo trouxe. Posso dizer – por experiência própria – que é uma angústia diária que te impede de comer, de realizar hábitos comuns como tomar banho ou colocar o lixo do lado de fora e, principalmente, de sair do quarto. Sua cama vira seu mundo e você está a mercê dos seus pensamentos, refém de si mesmo.

    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    CARVALHIDO, Sofia. A dura fragilidade da mente. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotografica.com.br/a-dura-fragilidade-da-mente-e-a-mascara-da-felicidade/>. Publicado em: 17 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].

  • Maureen Bisilliat e sua fotografia literária

    O olhar antropológico e poético de Maureen Bisilliat

    Sheila Maureen Bisilliat nasceu no dia 16 de fevereiro de 1931 em Englefield, no condado não metropolitano – entidade ao nível do condado na Inglaterra com cerca de 300 000 a 1,4 milhões de habitantes – de Surrey, na Inglaterra. Foi apenas em 1957 que Maureen se mudou para o Brasil e produziu um dos mais sólidos trabalhos de investigação fotográfica do país.
    Maureen Bisilliat

    Antes de se mudar para o Brasil, Maureen foi para Paris estudar artes plásticas com André Lhote no ano de 1955 e, logo em 1957, ela foi para Nova Iorque, onde passou a estudar no Art Student’s League. Neste mesmo ano, ela fez uma viagem para o Brasil e fixou residência em São Paulo. Assim, em 1962, ela substitui as artes plásticas pela fotografia e começa a trabalhar na Editora Abril entre 1964 e 1972, na revista Realidade. 

    Com a sua trajetória artística, Bisilliat tinha a preocupação de fazer da fotografia um elemento narrativo, cujo os temas pudessem sugerir sequência, história e ritmo. Dessa forma, ela tentava fazer a combinação de textos literários com imagens. A partir da década de 1960, portanto, ela se tornou autora de livros de fotografia inspirados em obras de escritores relevantes da época, bem como João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Euclides da Cunha e entre outros grandes nomes da literatura brasileira. 

    Seu primeiro trabalho desse projeto foi “A  João Guimarães Rosa” (1966). Após a fotógrafa ler “Grande Sertão: Veredas”, Guimarães Rosa sugeriu a ela que fizesse uma viagem pelo interior do Brasil em busca do cenário onde se passa a história do livro. Como resultado, as legendas das imagens são substituídas por trechos do livro, traçando não apenas paralelos entre a escrita de Guimarães e as fotografias de Maureen, mas também se torna uma releitura poético-visual de “Grande Sertão: Veredas”.

    Em 1968, Maureen demonstra o seu interesse em registrar os sertões e o Nordeste do país através de seu ensaio fotojornalístico “Caranguejeiras”, no qual fotografou o trabalho de mulheres que coletam caranguejos mergulhando na lama em um mangue de Pernambuco. Por meio de suas fotos, Bisilliat mostra os gestos e movimentos dessas mulheres como uma dança a partir de um ponto de vista bastante antropológico, respeitoso e poético. 

    Mesmo após abandonar o fotojornalismo, Maureen continuou preocupada em registrar essa parte do Brasil,essa curiosidade e vontade de conhecer e mostrar mais sobre esse país desconhecido seguiu norteando o seu trabalho. Por volta de 1970, Bisilliat viaja para o Parque Indígena do Xingu a convite dos irmãos Orlando Villas-Bôas e Cláudio Villas-Bôas e produz uma série de registros fotográficos, tendo como resultado o livro “Xingu Território Tribal”, combinação de suas fotografias com textos dos irmãos sertanistas Villas-Bôas. Também teve como resultado a produção do longa-metragem “Xingu/Terra”, feito por ela, os irmãos Villas-Bôas e o diretor Lúcio Kodato, onde mostram o cotidiano e os hábitos do povo Mehinaku, localizados no Alto Xingu. A partir dessa experiência, Bisilliat passa a se expressar através do vídeo e imprime, da mesma forma que imprimia isso na fotografia, a sua visão poética por meio de seus documentários.

    Em 1985, Maureen expõe na 18° Bienal Internacional de São Paulo um ensaio fotográfico inspirado no livro “O Turista Aprendiz” escrito por Mário de Andrade e em 1988, ela, Jacques Bisilliat e seu sócio, Antônio Marcos Silva, foram convidados pelo antropólogo Darcy Ribeiro a levantar um acervo de arte popular latino-americano para a Fundação Memorial da América Latina. Deste modo, para fazer o levantamento, eles viajaram para o México, Guatemala, Equador, Peru e Paraguai recolhendo peças para a coleção permanente do Pavilhão da Criatividade, cujo qual ela dirigiu de 1989 até 2010.


    Maureen Bisilliat

    Maureen Bisilliat

    Maureen Bisilliat

    Maureen Bisilliat

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    IASMIN DA SILVA, Jade. Maureen Bisilliat e sua fotografia literária. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/maureen-bisilliat-e-sua-fotografia.html>. Publicado em: 15 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data]. 
  • A tradição e o moderno

    Luisa Dorr registrou a fusão do urbano e do Chola Cochabambina


    A foto abaixo mostra as Imilla, garotas indígenas bolivianas da cidade de Cochabamba que promovem o skate para o público feminino. Mesmo com a marginalização sofrida pelos indígenas Aymara e Quechua Cholitas durante séculos, nas últimas décadas, essas comunidades vêm recuperando seu orgulho e uma forma das Imilla mostrarem isso é vestindo suas roupas tradicionais, fugindo do visual ocidentalizado que era aceito como o justo para a assimilação cultural. 


    Luisa Dorr

    Esta fotografia da Luisa Dorr, demonstra perfeitamente como o urbano e o moderno podem se fundir à tradição sem prejudicar um ao outro, mas sim se complementando. Ao olhar para essa imagem, é possível visualizar quatro mulheres de tranças no cabelo, usando saias coloridas, tênis de skatista, blusas brancas e chapéus. Suas roupas aparentemente são parte de um costume cultural e é notável que é latino americano, devido às características das vestimentas.  Fora isso, também é possível ver que a rua na qual elas estão andando de skate é bem arborizada. 

    O que mais se destaca neste registro feito por Luisa: mulheres com roupas tradicionais de sua cultura andando de skate. Isso pode parecer simples e cotidiano em alguns lugares, mas é importante viver e honrar as próprias raízes, receber o novo e esse grupo de mulheres indígenas skatistas demonstra que é possível fazer os dois ao mesmo tempo através desta imagem e também através do próprio coletivo de skate. 

    “Imilla”, o nome deste coletivo de skate, é uma palavra Aymara e Quechua que significa meninas. Elas são uma referência cultural e uma fusão entre o urbano e o Chola Cochabambina – vestimenta no estilo tradicional Chola de pessoas que vivem no departamento de Cochabamba – e tem como objetivo, além de popularizar o skate na Bolívia, gerar empoderamento feminino às meninas que se interessarem pelo esporte, mostrando que elas não são diferentes dos homens em capacidade e em direitos. Além disso, elas também tem o intuito de fazer um chamado a toda a sociedade para conciliar diferenças culturais e estereótipos centenários de mulheres, a fim de mudar perspectivas machistas e retrógradas a partir de um esporte que antigamente era considerado como masculino. 

    Nessa foto, especificamente, elas estão na entrada do Parque Pairumani, um dos lugares preferidos das meninas para andar de skate por conta da beleza do local. É uma pequena descida localizada em Quillacollo, nos arredores de Cochabamba. A ImillaSkate quis partilhar lugares que representassem a sua cidade e a natureza que está sempre presente. A estrada está repleta de árvores emblemáticas da flora de Cochabamba e é também área de plantações, responsáveis ​​por muitos locais de trabalho agrícolas para pessoas da comunidade. Logo, esse lugar também é um pedaço da cultura dessas jovens skatistas. 

    Em suma, essa foto representa a mistura cultural entre a cultura tradicional e a cultura moderna, sendo também a quebra e a manutenção, pois não é 100% moderno e nem 100% tradicional. Ela mostra como o tempo pode ser enriquecedor e acrescentar coisas novas no que já existia,  gerando mudanças funcionais e significativas para as pessoas. No caso da Imilla, o skate veio para fortalecer e empoderar essas mulheres, gerando um avanço na independência delas e na igualdade de gênero no lugar onde elas moram. 


    #leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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    IASMIN, Jade. A tradição e o moderno. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/11/a-tradicao-e-o-moderno.html>. Publicado em: 10 de nov. de 2022. Acessado em: [informar data].